▋ EPÍLOGO.
─────── EPÍLOGO
desconhecer o ordinário.
CASPIAN E ERIS casaram-se não uma, não duas, mas quatro vezes — isso apenas na vida que tiveram em Nárnia.
A justificativa do Grande Rei para continuar se casando com a própria esposa era simples: como a primeira cerimônia fora durante uma batalha contra um monstro marinho, nem todo mundo prestou atenção no momento em que ela lhe disse eu aceito, e ele simplesmente adorava ouvir aquelas palavras saindo da boca da feiticeira — ela as dizia tão pouco.
Além disso, existia algo realmente mágico em pedi-la em casamento. Talvez fosse porque ela demorara tanto para dizer sim, talvez porque existia certo romance em pedir o amor da sua vida em casamento, mesmo já estando casado com ele.
Então casaram-se quatro vezes: a primeira vez fora no Peregrino da Alvorada, a segunda, na ilha de Coriakin, na viagem de volta à Nárnia, e a terceira fora um ano depois de retornarem ao antigo castelo de Telmar, e fora a cerimônia mais cheia que o reino tivera desde a coroação dos dois.
A cerimônia ocorrera na praça de Beruna, celebrada pelo centauro Glenstorm, e contava com a presença de amigos queridos, como Cornelius — que havia se tornado o Erudito Real de Nárnia, o anão Trumpkin — membro do Conselho de Guerra, o capitão Drinian, Caça-Trufas, as criadas do castelo, incluindo a chefe delas, Martha, e a família do fauno Magnus, além de um imenso grupo de súditos de diferentes espécies.
Fora um evento simples, sem a exigência de joias, coroas ou banquetes luxuosos. Caspian esperou pela rainha no topo da praça, diante da majestosa árvore que um dia levara os irmãos Pevensie de volta aos seus mundos, e Eris foi levada até ele por Cornelius.
Daquela vez, a artesã não usava um vestido luxuoso, como que ganhara no dia de sua coroação, ou os trajes encharcados de água marinha, como em seu primeiro casamento. Eris vestia um antigo vestido, que há muito tempo fora de sua mãe. Era o mesmo que usara tantos anos antes, quando ela e seu amado telmarino dançaram juntos em um dos esconderijos narnianos, quando comemoravam sua primeira vitória de guerra.
Era um belo vestido de veludo verde-musgo, com bordados dourados desenhando flores e folhas da floresta nas barras de sua saia. Caspian não conseguiu evitar o sorriso ao ver a noiva — e, bem, esposa — caminhando em sua direção com aquele traje, porque foi quando ele a viu com aquele vestido pela primeira vez que teve certeza absoluta: casaria-se com aquela garota.
Então Cornelius a deixou no altar com os olhos cheios de lágrimas, e o Grande Rei estendeu o braço para a Rainha Artesã.
— Mestre-espiã. — cumprimentou ele em um sussurro, quando Eris envolveu seu braço em torno do dele.
— Príncipe Caspian. — devolveu ela no mesmo volume. E acrescentou: — Não acredito que você me convenceu de fazer isso pela terceira vez, seu patife...
Caspian gargalhou, uma gargalhada de felicidade pura, um som que Eris guardaria consigo para sempre, e Glenstorm começou a cerimônia, sem a pressa de lorde Drinian ou a leviandade de Coriakin. Falou cada uma de suas palavras com o floreio e sabedoria que apenas ele tinha, e foi tudo tão belo que arrancou lágrimas dos olhos de algumas damas — e de alguns cavalheiros também, incluindo o Grande Rei de Nárnia.
— Eris, você aceita este homem como seu legítimo marido, na glória e na pequenez, até que as estrelas caiam do céu? — o centauro perguntou ao fim da cerimônia.
Foi quando a Rainha Artesã falou as palavras favoritas de Caspian:
— Eu aceito.
A multidão suspirou, como se aquele fosse o primeiro casamento dos dois, como se aquilo fosse mais importante que o dia de sua coroação.
— E você, Caspian, você aceita esta mulher como sua legítima esposa, na glória e na pequenez, até que as estrelas caiam do céu?
Caspian sorriu: — Eu aceito.
— Que vocês permaneçam unidos por seu amor neste mundo e em todos os outros, e que ele ressoe por todas as suas vidas. — declarou o centauro. — Caspian, você pode beijar a noiva.
E o rei beijou. Com tanto ardor que sequer parecia que ele tivera a oportunidade de beijá-la antes.
A festa de que seguiu foi lendária. Durou uma semana, e Eris e Caspian mal dormiram, envolvidos em banquetes populares, fogos de artifícios, danças e tantas outras coisas.
Durante todas as noites das festividades, bardos cantaram histórias sobre os dois: uma canção falava sobre um jovem casal correndo no escuro da floresta, outra, sobre uma garota se transformando em coruja para salvar o seu amado, outra ainda, sobre dois amantes se casando sobre as águas mais inquietas do oceano.
Todas as canções tinham algo em comum: amor insuperável.
Então, os anos se passaram, e Nárnia prosperou sob o reinado dos dois. Caspian se tornou um guerreiro cada vez mais habilidoso e um rei tão sábio quanto seu pai, e Eris desvendou todos os segredos do Livro de Feitiços, até que pôde criar seus próprios encantos, feitos de palavras que ela mesma criara, para qualquer fim.
Com o tempo, Eris descobriu um segredo mais poderoso que qualquer feitiço: que não precisava ser forte o tempo inteiro, e se permitiu chorar quando quisesse e se deixar ser protegida quando precisasse.
Foi mais tarde, quando seu nome já era conhecido pelos quatros cantos de Nárnia como o da maior feiticeira da história que eles começaram a se revelar: os Artesãos. Sob a forma de aves pequeninas ou grandiosas, faunos jovens ou velhos, castores, ursos, esquilos e texugos: um a um, os Artesãos se revelaram diante da Rainha de Nárnia, e ensinaram-lhe todos os segredos que conheciam sobre a magia do Mundo Imperfeito.
Mas, naquele ponto, Eris sabia que havia coisas mais importantes do que dominar os segredos artesãos, como a família que a cercava e o reino que se estendia diante de seus olhos, o que a tornou uma aprendiz ainda melhor.
Juntos, Caspian e Eris tiveram filhos tão bonitos, corajosos e inteligentes quanto eles mesmos.
A primogênita fora nomeada Vivian, aquela terminação, ian, típica de todos os primeiros filhos da linhagem de Telmar. O segundo era um menino, e recebeu o nome Magnus, o nome do fauno que protegera Eris durante alguns anos de sua infância. A última criança era uma menina, e seu nome era Edme, uma homenagem ao amigo mais querido de sua mãe.
Vivian, Magnus e Edme de comum não tinham nada, se não os pais.
Vivian era calma como a brisa, inteligente e observadora. Adorava ler, mapear as estrelas e passear sozinha pelos jardins do castelo, e sua atividade favorita envolvia passar o tempo sob a forma de um pardal, pousada sobre os galhos mais altos das árvores, de olho em tudo.
Magnus era uma criança absolutamente doce, mas cansava qualquer um que precisasse cuidar dele. Era enérgico, engraçado e carinhoso, e passava metade de seu tempo com os seres da floresta. Não havia um ser que não o olhasse sem imediatamente pensar em seu pai, Caspian Décimo: o garotinho era a imagem exata do pai, quando ele era uma criança de Telmar.
Edme, por sua vez, era um furacão. Por Aslam, aquela menina ainda causaria problemas aos pais, mas nenhum dos dois parecia temer aquilo. Era engraçada e tinha um humor peculiar, que lembrava muito o da própria mãe. Vez ou outra, causava certa confusão nos jardins do palácio, transformando quem a irritasse em lagartos medonhos, mas logo aprendeu que aquilo era algo muito feio de se fazer, e começou a transformar pessoas só de vez em quando.
Que infância formidável tivera aquele trio. As três crianças mágicas cresceram embarcando em aventuras fantásticas, transformando-se nos mais incríveis seres de seu mundo e ouvindo as histórias épicas de seus pais.
Ouviram histórias sobre um leão cujos rugidos eram capazes de parar guerras, invocar deuses e quebrar maldições. Ouviram histórias sobre um reino humano que não existia mais, sobre batalhas épicas, árvores que andavam sobre a terra e navios que navegavam até o fim do mundo. Ouviram uma história sobre o dia do primeiro casamento de seus pais — e não acreditaram nela —, e sobre quando seu pai escolhera ficar em Nárnia a adentrar o maravilhoso País de Aslam.
Ouviram histórias que aconteceram mil anos antes: sobre quatro crianças que, através de um guarda-roupa, foram de um mundo a outro. Sobre postes de luz, feiticeiras gélidas e Anos de Ouro.
Ouviram coisas tão maravilhosas, tão incríveis, que simplesmente desconheceram o ordinário.
E um dia, ouviram seu pai dizer à sua mãe:
— Quer se casar comigo, feiticeira?
Ela disse sim, e aquele foi o quarto casamento dos dois.
𝐅𝐈𝐌.
©︎DEVILEVIE, 2022.
────── evie.
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