VIII
Faz tempo, mas aqui estamos...
***
Henry saiu do elevador com Eta grudada ao redor de seu corpo, os braços finos estavam enrolados em torno da sua cintura e ela dava pequenos passos rápidos para conseguir acompanhá-lo. Charlotte praticamente correu para encontrar Schwoz, todos tinham muito o que conversar e, quando se juntaram na sala de controle, a confusão de vozes foi instaurada.
Estava tentando entender a discussão que sua amiga travava com o cientista quando sentiu os braços de Eta se apertarem ainda mais forte ao redor dele. Ao olhar para baixo a encontrou com o rosto escondido em sua blusa e abaixou a voz para que somente ela ouvisse.
- Você quer ir lá pra dentro? - olhos castanhos ansiosos o encontraram. - Pelo menos até termos organizado algo, prometo que te chamo se precisarmos.
Ela assentiu apressada e praticamente voou para fora da sala quando as vozes de Piper e Jasper se juntaram à confusão.
- Certo! Já chega!
O grito impaciente de Charlotte cortou o ar com rapidez, todos se calaram quando a viram se colocar à frente dos monitores.
- Schowz descobriu a identidade do homem misterioso. - sinalizou para que o amigo falasse.
- Consegui concretizar um programa que me permitiu...
- Argh! Será que dá pra pular logo pra parte que fala quem ele é? - Piper resmungou entediada, apoiando a cabeça no encosto do sofá.
Schwoz abriu a boca para retrucar indignado, mas desistiu diante do olhar de Charlotte. Henry a entendia, também estava cansado e só queria levar as crianças para casa em segurança e esquecer que os últimos dias aconteceram.
- Bem, ele agora tem a idade de vocês. O nome dele é Élio, sim, como o gás, e é membro de uma gangue de rua.
- Mas por que alguém como ele iria querer acabar com suas filhas? - a pergunta de Jasper era completamente válida, mas Henry desistiu de dar razão ao amigo quando ele prosseguiu. - Quem em sã consciência iria querer deixar Chenry triste?!
- Respira, Charlotte. Respira e não mata um homem.
O Hart fingiu uma tosse quando não conseguiu controlar a risada ao ver a Page respirar profundamente, então tentou manter o tom neutro ao perguntar:
- Você conseguiu mais alguma coisa, Schwoz?
O cientista pulou para ficar em frente aos monitores, então a foto de um garoto apareceu. Charlotte e Henry trocaram um olhar assustado quando reconheceram o garoto que havia saído do banheiro onde encontraram Eta.
- Foi ele quem atacou a Eta agora. - o Hart informou, passando a mão pelo rosto em exasperação. - Nós podíamos ter capturado ele!
- E nós vamos. - Charlotte declarou firme, o olhar se voltando para onde Eta havia sumido. - Vou ver como ela está. Qualquer nova informação você me fala, Schwoz.
- Vou com você. - Henry a seguiu, mas parou quando notou a atenção de todos sobre eles. - O que foi agora?
- Nada não. - Jasper disse, tentando controlar um sorriso.
Ray o encarava analítico enquanto Schwoz compartilhava do mesmo sorriso do Dunlop.
- Vocês são tão casalzinho. - Piper declarou, rindo quando ele revirou os olhos e os deu às costas.
- A Alia está no berço!
Foi a última coisa que escutou antes de virar no corredor dos quartos. A porta do quarto de hóspedes estava aberta, se aproximou devagar encontrando Eta sentada no chão, com a cabeça apoiada nas pernas de Charlotte que estava sentada na cama. Adentrou o cômodo com calma, a garota estava de olhos fechados enquanto Charlotte passava a mão em suas costas em um gesto carinhoso.
A Page o lançou um olhar preocupado, a compreendia muito bem, aquela situação toda era assustadora. Quando a Piper do futuro veio, uma guerra robô era assustadora, mas comparado a ter duas crianças suas correndo o perigo de vida... balançou a cabeça para clarear seus pensamentos, inclinando-se no berço para pegar Alia no colo. A bebê abriu um sorriso alegre para ele, alheia a toda a confusão, sorria como se o mundo fosse todo azul.
- O que eu faço?
A voz embargada de Eta chamou a atenção dos dois, Henry se aproximou para sentar ao lado de Charlotte. A Hart mais nova levantou a cabeça do colo da mãe, os olhos vermelhos e inchados, ela parecia tão perdida e assustada. Henry só queria tirar a sombra que a envolvia, nenhuma criança daquela idade deveria viver assim.
- O que você pode fazer?
Charlotte perguntou calmamente, passando a mão pelos fios acobreados de Eta. A mais nova soltou o ar trêmulamente, como se estivesse se preparando para uma desistência. Olhou para baixo, sua mão esfregando a calça de tecido com força.
- Ele disse que quer que eu entregue a Alia até amanhã. - informou, baixando ainda mais a cabeça, fazendo com que seus fios lisos cobrissem seu rosto como uma cortina. - Disse que se eu quiser ver a minha... mãe de novo, eu preciso entregar ela.
Sentiu a mão de Alia querer agarrar sua orelha, o que o fez virar para o lado e encontrar Charlotte encarando Eta em um claro conflito. Por fim ela fechou os olhos momentaneamente, coçando uma das sobrancelhas.
- O garoto que atacou você é a versão passada do homem que está perseguindo vocês.
Eta encarou Charlotte após sua fala, seus olhos brilhando novamente pelas lágrimas. Henry apertou seu ombro em um gesto de conforto, nunca fora bom com as palavras em momentos como aquele.
- Eu nunca vou entregar a Alia, eu nunca faria isso, mãe.
- Eu sei, querida. Eu sei. - a Page se apressou em tranquiliza-la, afagando seu rosto quando a viu ficar agitada. - Nós dois sabemos disso.
- Mas a minha... aquela mulher. - se corrigiu secamente. - Aquela mulher pode estar em perigo. Mas e se for você em vez dela?
- Nós vamos dar um jeito. - Henry afirmou, passando Alia para Charlotte enquanto sentava no chão em frente à Eta. - Mas primeiro precisamos saber de algumas coisas. A Clair. - o bufo de Charlotte não o impediu de continuar, mas o claro desconforto de Eta sim. - O que aconteceu entre vocês?
- Entre nós duas nada. A gente nem se conhece. - confessou, a voz quase em um resmungo.
- Mas ela não é sua mãe? - perguntou confuso.
Eta se afastou minimamente dele, seus olhos vagando pelo chão quando respondeu receosa:
- Não.
Olhou para Charlotte que a encarava em busca de uma explicação, voltou sua atenção para a garota quando indagou lentamente.
- Então, por que você disse que era?
- Eu nunca disse. - respondeu rápida, mordendo a almofada do dedão em claro nervosismo.
- Ontem, quando você me pediu para não falar com ela. - a Page iniciou como se estivesse juntando as peças lentamente, peças que Henry não fazia ideia de quais eram. - Você não estava falando da Clair, estava?
Eta negou com a cabeça, finas lágrimas descendo por suas bochechas avermelhadas.
- Então de quem você estava falando?
Ela não respondeu à pergunta de Henry, mas para Charlotte não foi preciso, o nome escapou de sua boca sem que o Hart estivesse preparado.
- Piper.
- O quê? - voltou-se assustado para ela.
- A Piper. - repetiu novamente, não desviando o olhar de Eta, que ainda não os encarava.
- Urgh! Não! - Henry estremeceu quando entendeu quase tudo. - Não! Não!
- Não! - Eta gritou enojada, Charlotte observava os dois descrente. - Não. - repetiu firme, fitando Henry com os olhos arregalados. - Ela me abandonou.
A última frase veio em uma voz quebrada. O Hart não sabia o que pensar, Piper não seria capaz de algo assim, ou seria?
- Mas por...
- Talvez tenha se cansado de mim. - O interrompeu, abrindo um sorriso depreciativo, as lágrimas descendo mais rapidamente por seu rosto a medida que ela torcia as mãos uma na outra. - Ta-talvez não me quisesse. Talvez... nunca tenha realmente me amado.
O Hart a puxou para os seus braços em automático, seu corpo balançando aos soluços de Eta. Ela escondeu o rosto na curva de seu pescoço, suas mãos se fechando em torno do tecido de sua blusa como se precisasse de uma âncora. Charlotte desceu da cama, Alia parecia saber que algo estava errado já que se encontrava quieta com a cabeça encostada no ombro da Bolton. Ela sentou ao seu lado, sua mão percorrendo as costas da garota como fizera mais cedo.
Os dois não sabiam o que fazer, estavam perdidos com toda aquela responsabilidade que aparecera de repente, eles só tinham 17 anos e precisavam impedir um louco de acabar com a vida de duas crianças que seriam suas filhas. Naquela instante, uma trégua silenciosa se firmou entre eles com um olhar cúmplice e determinado, estavam prontos para dar um fim em qualquer plano que Élio tivesse preparado.
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