25 - Bola de neve
"Só para constar, eu sempre irei te amar
Nós nunca iremos desaparecer como um grafite no viaduto
E sei que o tempo pode mudar a forma como você pensa sobre nós
Mas eu irei lembrar do jeito que éramos, você foi o primeiro ponto final
Amor que nunca irá desaparecer
Querida, você nunca se perderá em mim"
-Overpass Graffiti
Ed Sheeran
Depois que Nick foi embora, passei o que restava da tarde e praticamente a noite inteira trancada no meu quarto me escondendo debaixo do edredom e pensando no quão idiota estou sendo com ele. A cada instante, seu olhar triste me atormenta e sinto vontade de gritar.
Sei que minha maneira de agir não é justa e me sinto ainda mais estúpida por isso. E o pior de tudo, é que eu mesma me coloquei nessa situação e a cada dia que passa, fica mais difícil sair dessa enorme bola de neve que criei.
Meu corpo inteiro está dormente e um calor infernal começa a se alastrar pelo quarto, me obrigando a me levantar e abrir a janela para que entre um pouco do vento primaveral. E é nesse momento que percebo que estava chorando ao sentir o frio nas minhas bochechas onde as lágrimas escaparam sem a minha permissão.
Me debruço no peitoril e observo o cenário que floresce bem diante dos nossos olhos desatentos. Famílias passeando, pessoas apressadas para chegar em casa provavelmente depois de um dia estressante de trabalho, alguns casais apaixonados e crianças brincando em um parque próximo ao condomínio. Cenas tão cotidianas, mas que significam tudo para cada um deles.
De repente, me pego imaginando eu e Nick fazendo exatamente a mesma coisa, passeando de mãos dadas, nos beijando intensamente como se nossas vidas dependessem disso, nossas peles se arrepiando com os toques e os corações batendo acelerados pela paixão crescente.
Uma risada amarga escapa pelos meus lábios ao perceber que, graças a mim mesma, isso não será possível por um bom tempo.
Perco uma boa quantidade de minutos observando a vida alheia e pensando em tantas coisas ao mesmo tempo que começo a ficar zonza até que batidinhas na minha porta chamam minha atenção e caminho devagar respirando fundo antes de ver quem é.
— Olá querida, está tudo bem? Não saiu do quarto até agora... -Mamãe reclama atenta à minha resposta.
— Estava vendo um filme e acabei pegando no sono. -Minto já acostumada com toda essa merda.
Ela inclina a cabeça para o lado e levanta uma sobrancelha enquanto me observa por vários minutos. Meu coração começa a pular desgovernado dentro do peito e respiro fundo tentando não parecer culpada. Como cheguei a ser tão burra?
— Ok. -Suspira negando para si mesma. — Vim apenas te desejar boa noite. Seu irmão ainda não chegou, espero que ele não volte tarde. -Continua preocupada e me puxa para um abraço apertado.
O seu perfume cítrico entra pelas minhas narinas e uma vontade insana de chorar me invade. Engulo o nó na minha garganta e mais uma vez finjo que não está acontecendo nada. Estou ficando muito boa em fingir pelo visto.
— Vou ficar acordada até mais tarde, quando ele chegar eu vou dar uma bronca nele. -Brinco com os olhos vidrados em algum ponto que não seja ela, para que não acabe desabando bem na sua frente.
Ficamos em silêncio por mais alguns minutos e seus dedos acariciam meu rosto ao mesmo tempo em que um sorriso carinhoso se forma nos lábios e pisco lentamente me lembrando de como eram bons os seus afagos quando era criança e ficava triste por qualquer motivo.
— Filha, se algo estiver acontecendo, sabe que pode contar com a gente, não é mesmo? -Mamãe solta de repente e meu coração quase para. Sei que eles perceberam que há algo de errado comigo e ela está me dando a chance de me abrir, mas simplesmente não consigo. O medo que sinto nesse momento me paralisa e não me deixa sequer pensar em nada coerente.
— E-eu estou bem, mãe. Não precisa se preocupar. -Murmuro e vejo em câmera lenta como a decepção toma conta do seu rosto angelical.
Idiota. Idiota. Idiota!
— Durma bem, meu amor. -Se despede finalmente e volta para o seu quarto me deixando sozinha com a minha estupidez.
Volto para a cama e me jogo no colchão com uma vontade enorme de gritar.
O dia de hoje foi uma tortura e Nick inventando uma desculpa qualquer para ir embora foi a cereja do bolo. Ele estava claramente chateado com a minha conduta e não o culpo. Se fosse comigo, eu não sei como reagiria.
Preciso dar um jeito na minha vida. Tenho a impressão de que sua paciência não vai ser eterna e que uma hora ou outra ele vai se cansar de toda essa palhaçada e procurar alguém que não tenha medo de assumir o relacionamento para os próprios pais.
Se isso chegar a acontecer, a culpa vai ser completamente minha e saber disso é o que me faz me odiar nesse instante.
Depois de tanto me afogar na autocompaixão, acabo pegando no sono com a imagem de Nick triste ainda rondando meus pensamentos.
— Bom dia Debby. -Passo pela porta do estúdio com o coração apertado e uma ansiedade imensa por ver certa pessoa.
— Bom dia querida, como está hoje? -Seus olhos se iluminam ao me ver e sou recebida com um enorme sorriso. Levanto uma sobrancelha desconfiada e me sinto tentada a perguntar o motivo de tanta felicidade, se bem que provavelmente a razão seja o dono de uma boate cujo nome começa com D.
— Nick ainda não chegou, então podemos aproveitar para conversar um pouco. -Sussurra como se alguém pudesse nos ouvir, sendo que para todos os feitos estamos sozinhas.
— Muito bem, desembucha. Como foi a noite com Pedro? -Deixo minha bolsa no lugar de sempre e me sento em uma das cadeiras perto do seu balcão para escutar a fofoca.
Debby conta tudo com uma animação digna de uma garota apaixonada e me sinto extremamente feliz por ela. Segundo minha amiga, Pedro é super carinhoso e a tratou como uma princesa. Fico sabendo de cada detalhe da sua aventura sexual e em um determinado momento me impressiono com o desempenho do amigo do meu namorado. Como prometeu, ele não se afastou dela um segundo sequer depois de que eu e Nick fomos embora e quando a levou para casa, foi ela quem tomou a iniciativa já que por ele, ambos teriam apenas dormido sem fazer nada. Pedro ficou receoso de transar com ela porque pensou que estava bêbada e Debby precisou andar em linha reta e até fazer o número quatro com a perna para provar que estava sóbria o suficiente. Me divirto tanto com sua história que dou gargalhadas com a maneira que ela conta tudo e quando termina, resumo a minha própria noite e ela faz um biquinho emocionado quando digo que Nick admitiu que me amava assim como eu a ele.
— Sabia que ele era louco por você. Seus olhos não te deixam um segundo sequer quando está por perto e o cara só falta babar. -Revela e balanço a cabeça para um lado e para o outro.
— Isso não é verdade, Debby. Além do mais, eu estou morrendo de medo de acabar estragando tudo. -Murmuro com a voz trêmula e ela sai do seu posto rodeando o balcão e parando do meu lado com as mãos na cintura de uma forma dramática como só ela consegue fazer.
— Que história é essa, Liv? O que andou aprontando?
— Não aprontei nada, é só que... -Paro de falar ao escutar o barulho do sininho que fica na porta de entrada.
Giro meu corpo para o lado e dou de cara com a visão de Nick entrando no estúdio com o cenho franzido enquanto observa algo na tela do celular. Ele parece muito bravo e demora alguns segundos para perceber nossa presença. Quando finalmente levanta o rosto e nos vê, seus lábios se curvam imediatamente e ele caminha decidido até parar bem na minha frente.
— Bom dia chefinho, eu vou... preciso usar o banheiro, adeus. -Debby escapa sem nem esperar por uma resposta e me levanto ficando praticamente na sua altura.
— Oi... -Sussurro tocando seu rosto com a ponta dos dedos.
— Oi. -Ele devolve no mesmo tom ainda sorrindo para mim.
Seus braços me puxam para um abraço apertado e os lábios são colados nos meus em um beijo que me deixa com as pernas bambas. Aproveito para matar a saudade dele e deslizo as mãos por todo o seu corpo musculoso sem me preocupar com o fato de que um cliente pode entrar a qualquer momento.
— O mecânico já arrumou seu carro. Espero que Jhonny tenha te dado uma carona ou vou lhe dar uns tapas. -Diz quando nos separamos para respirar.
— Obrigada, Nick. E eu vim de táxi, meu irmão teve que sair cedo e não me disse onde tinha que ir... -Explico divertida com a sua reação. — Depois me passa o valor do conserto para que possa te pagar. -Beijo seu queixo com vontade, no entanto, ele me afasta com suavidade e encaro seu rosto sem entender nada.
— Não precisa, eu já me encarreguei disso.
— Nick...
— É sério Liv, eu já paguei tudo, ok? -Insiste e sorrio resignada.
— Ok, mas nesse caso, vou ter que te pagar de outro jeito. -Provoco deslizando a língua pelos lábios e mordendo o lábio inferior descaradamente.
— Você não presta, amor. -Sorri safado. — Se for assim, saiba que eu vou cobrar com juros. -Sussurra no meu ouvido e respiro fundo desejando que o dia acabe logo para que possamos passar algumas horas trancados no seu apartamento.
— Mal posso esperar por isso. -Beijo sua boca uma última vez, me afastando bem a tempo de escutar novamente o sininho da porta indicando a entrada de um provável cliente.
Debby aparece quase correndo e vai atender a garota que para bem na frente do seu balcão. Ela veio há um tempo atrás e tatuou uma flor de lótus na mão que agora que está curada, é possível apreciar cada detalhe do traço de Nick. Ela gostou tanto do trabalho que voltou várias vezes para fazer mais tatuagens e cada uma representa algo importante para ela, o que pessoalmente acho muito legal. Existem pessoas que tatuam qualquer coisa por diversão apenas para ter algum desenho marcado na pele, e não há nada de errado nisso, cada um sabe o que faz com o próprio corpo, mas quando aparece alguém como ela que apreciam a nossa arte e escolhem um desenho que mais além do físico, possui um significado sentimental, é como uma prova de que nós fazemos a diferença na sua vida.
Ela tinha hora marcada e uma vez que assina todos os papéis, termos de responsabilidade e demais documentos, procedemos a realizar o seu pedido. Nick me permite tatuá-la e observa como faço meu trabalho em silêncio, os braços cruzados e uma expressão que oscila entre um olhar técnico e orgulhoso ao mesmo tempo.
Hoje ela escolheu uma âncora e por alguma razão, resolvo não perguntar o motivo dessa vez. A morena de olhos castanhos está quieta, os olhos marejados e perdidos, como se apenas seu corpo estivesse aqui e sua mente estivesse a quilômetros de distância.
Ela está tão distraída, que nem percebe quando termino e preciso chamar a sua atenção para explicar os cuidados de sempre.
Recito os passos para a limpeza da tatuagem e ela assente desanimada. Seus olhos focam no desenho com um sorriso triste nos lábios pintados com um batom nude quase da cor da sua pele.
— Está tudo bem, Ava? -Aperto seus dedos com cuidado e quando ela levanta a cabeça noto algumas lágrimas escorrendo pelas bochechas rosadas.
— E-eu... me desculpe por isso. Hã... obrigada pela tatuagem, Liv, ficou linda como sempre. -Ela se levanta e praticamente escapa até a entrada para pagar pelo serviço.
Nick me lança um olhar tão surpreso quanto o meu e dou de ombros. Limpo tudo e quando termino, jogo as luvas usadas no lixo sem deixar de pensar em Ava. Ela parecia tão triste e de alguma maneira, foi como se pudesse compartilhar a sua dor.
Estranho.
— Você está cada vez melhor, amor. Estou muito orgulhoso. -Sou abraçada por trás e me arrepio ao sentir o toque dos lábios de Nick contra a minha pele.
Me viro para ficar de frente para ele e levo as mãos até a sua nuca e penteio os cabelos castanhos ridiculamente macios com os dedos.
— Sério? -Sussurro perplexa.
— Arram. -Seus olhos nunca deixam os meus e posso ver que ele está falando a verdade e não apenas tentando me agradar.
Saber que ele pensa isso me deixa feliz de uma forma que não consigo explicar. Ter a aprovação de Nick para algo que amo é como tirar nota máxima em uma prova super difícil. E nem é pelo fato dele ser meu namorado e sim porque o cara é literalmente um dos melhores tatuadores dessa cidade e um profissional de mão cheia.
— Agora vamos voltar ao trabalho antes que eu não resista e termine fazendo uma loucura como tirar sua roupa bem aqui. -Diz sério e arregalo os olhos pega de surpresa, mas me recupero rapidamente.
— Pois saiba que eu não direi nada se você também não disser. -Pisco um olho e recebo um tapa na bunda como penitência. Deixamos a sala rindo e cada um pega um rumo diferente ao passar pela porta. Nick vai até o depósito para pegar os materiais esterilizados para o próximo cliente e eu procuro Debby para ver quantos clientes temos para o dia de hoje.
Estou tão acostumada com esse ritmo de trabalho que nem vejo o dia passando. Atendemos várias pessoas, cada uma com uma história diferente, algumas tristes e outras felizes o que deixa tudo ainda mais interessante e me faz entender que nós agimos por conta dessas emoções e nossa vida literalmente gira em torno delas.
Independentemente se serão boas ou não.
Tudo gira em torno do que estamos sentindo e cada vez que olho para Nick e vejo o quão apaixonado ele é pelo que faz, meu peito infla de felicidade e amor.
Porque porra, eu o amo. Cada parte dele.
Os olhos que me observam com carinho, as mãos ágeis que me mostram o quanto ele também me ama sempre que me toca, os lábios carnudos que me beijam em qualquer oportunidade e o seu enorme coração que por mais que tenha sido tratado tão mal, decidiu me ajudar mesmo assim.
Nick me conquistou de um jeito que jamais pensei que seria possível e agora simplesmente não consigo imaginar uma realidade em que ele não esteja ao meu lado.
Um sorriso involuntário se forma no meu rosto e suspiro ao pensar em como, de uma maneira ou de outra, eu sou completamente dele, assim como espero que ele seja meu.
NOTA DO AUTOR
Hello amores, como estão nessa quarta feira abençoada? kkkk
Espero que tudo ótimo!
O capítulo hoje saiu cedo para a nossa alegria kkkkkk
Na vdd ele ia sair ontem, mas não deu tempo de revisar, então só
lamento por vocês hahahah
Ah, quem estiver no grupo de whatsapp BICO CALADO com relação a
já sabem quem kkkkkkkkkkk
Não se esqueçam de votar e comentar,
nos vemos na sexta!
Amo vcs!🥰
Bjinhosssss BF 🖤🖤🖤
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