23 - Um almoço em família
"Eu poderia ficar acordado só para ouvir você respirar
Ver o seu rosto sorrindo enquanto você dorme
Enquanto você está longe e sonhando
Eu poderia passar minha vida nessa doce redenção
Eu poderia me perder neste momento para sempre
Todo momento que eu passo com você
É um momento precioso"
-I don't want to miss a thing
Aerosmith
Não me preocupo em tomar um banho rápido. Uso esse tempo para pensar no que vou fazer para que meus pais não descubram que estou namorando com Nick e por consequência, que não estou indo para a faculdade. Me sinto tão idiota e burra por me colocar nessa situação, mas agora não há volta atrás. Eu deveria ter contado tudo para eles desde um início, me aberto ao cem por cento, só que por conta desse medo ridículo de que eles não me dariam o crédito necessário, me afundei cada vez mais nessa mentira que me consome pouco a pouco.
E o pior de tudo, é que sei que Nick ficou chateado por não poder contar aos dois que estamos juntos. Nunca pensei que ele fosse tão sentimental e me surpreendeu ver como seu rosto adquiriu uma expressão de tristeza quando lhe pedi um tempo para me organizar. Geralmente os garotos com que estava acostumada a sair, praticamente corriam de compromisso sério e acho que acabei me adaptando a isso e pensando que essa atitude era a normal.
É incrível como às vezes nos auto sabotamos sem nem ao menos perceber...
Depois que quase meia hora debaixo do chuveiro, minha pele começa a ficar enrugada e a água, agora morna, golpeia meu corpo me fazendo lembrar dos banhos com Nick regados a sexo.
— Eu sou uma enorme estúpida. -Murmuro para o meu reflexo deforme no espelho embaçado pelo vapor.
Me seco sem pressa e coloco uma roupa confortável para o possível massacre que será esse almoço.
Enquanto termino de me vestir, envio uma mensagem para Debby perguntando se está tudo bem com ela. Como prometido, Pedro avisou Nick assim que chegaram na casa dela. Ele até mandou uma foto da minha amiga deitada na cama com o edredom cobrindo-a até o pescoço e tenho quase certeza que depois disso eles ficaram completamente pelados.
Porque por mais que ela não queira admitir, está cedendo pouco a pouco às suas investidas.
Ao chegar na sala, meus olhos procuram Nick e franzo o cenho ao não encontrá-lo em lugar nenhum.
Oh não.
Jhonny descansa no sofá atento a algum filme que passa na televisão e mamãe prepara o balcão para começar a fazer a massa. Percebo tarde demais, que meu pai também não está e um frio percorre minha espinha me deixando em alerta.
Me jogo ao lado do meu irmão e encaro seu rosto com uma mistura de medo e curiosidade.
— Onde eles foram? -Pergunto baixinho e um sorriso zombeteiro se forma nos lábios carnudos.
— Está preocupada com o seu namoradinho, é? Papai vai trazer ele inteiro de volta, pode ficar tranquila. -Provoca e dou um soco no seu braço arrancando um gemido do garoto.
— Quer fazer o favor de falar mais alto? Acho que os vizinhos do primeiro andar não escutaram! -Ralho nervosa e Jhonny abre um sorriso ainda maior do que o anterior.
— Eles foram até o mercado, Liv. -Diz esfregando o braço dolorido. — Parece que faltava algum ingrediente para a pizza e Nick se ofereceu para ir com o nosso pai.
— E por que diabos você não foi junto? -Minha voz é apenas um sussurro esganiçado e meu irmão dá de ombros antes de responder.
— Porque eu não quis.
— Você é um babaca às vezes, sabia? -Cruzo os braços e encosto no sofá.
Meu rosto fica quente em uma rapidez impressionante e arrisco uma olhadela para a cozinha para ver se mamãe não nos escutou.
Pelo menos o volume do filme deu para encobrir um pouco a nossa conversa.
— Não sou não. -Jhonny responde depois de alguns minutos e volto minha atenção para ele. — Além do mais, se não fosse por mim, você estaria muito ferrada.
— O que quer dizer com isso?
Arregalo os olhos enquanto ele se empertiga no sofá para ficar de frente para mim.
— Quando chegamos eu vi o carro do Nick estacionado e assumi que você estava com ele, então inventei uma desculpa para subir primeiro. Ainda bem, caso contrário, nossos pais também teriam visto o showzinho erótico que você e meu amigo estavam dando a plena luz do dia. -Resmunga a última frase e engulo em seco imaginando a cena.
— Jhonny e-eu...
— De nada, irmãzinha, você me deve uma. E Nick me paga por me obrigar a ver a minha irmã beijando um cara. -Seu corpo se estremece com a lembrança.
Massageio minhas têmporas para tentar dissipar essa imagem da minha cabeça e volto a focar no fato de que meu namorado e meu pai, um dos melhores lutadores de MMA, estão por aí sozinhos.
O pior de tudo é que não posso sequer dar bandeira para que eles não desconfiem de nada, então me limito a fingir que nada está acontecendo e resolvo ajudar mamãe com os ingredientes da massa.
Para a minha sorte ela não diz nada com relação a Nick e respiro aliviada.
Por fora pareço a mesma Liv confiante de sempre, mas por dentro estou uma pilha de nervos. Vários cenários catastróficos passam pela minha cabeça e em todos eles, eu termino da pior maneira possível.
Colocamos tudo o que será necessário para fazer a pizza em cima da mesa e do balcão depois de limpá-lo bem. Separamos a quantidade correta de farinha, fermento, óleo entre outras coisas e deposito toda a minha força e frustração ao sovar a massa.
Devo ter farinha até dentro do sutiã, mas não me importo. Para falar a verdade, até estou me divertindo com isso. Deixo a massa descansando dentro de uma vasilha pelo tempo indicado e aproveito para lavar minhas mãos no meu banheiro, já que a pia está ocupada.
Como a farinha está colada nos meus dedos, tenho certa dificuldade em tirar tudo e demoro mais do que o que tinha planejado.
Assim que termino, volto para a sala e dou de cara com meu pai e Nick passando pela porta com várias sacolas nas mãos.
— Por que demoraram tanto? -Jhonny pergunta irritado e faço uma careta para o meu irmão.
— Aproveitamos para passar em uma adega para comprar algo para beber. -Nick explica e não consigo evitar sorrir ao vê-lo. As borboletas no meu estômago dando piruetas sem parar. — Angel precisa conhecer o que é um vinho de verdade. -Brinca e meu pai nega com a cabeça.
— Sou mais do tipo que bebe cerveja... -Ele resmunga puxando mamãe para um abraço apertado.
— Dizem que um bom vinho abre o apetite, se é que me entende. -Todos ficamos boquiabertos com a informação aleatória e meu pai só falta lamber os lábios animado com a ideia.
— Ok, vocês dois querem fazer o favor de parar? -Meu irmão inquire com uma expressão enjoada.
— Como se você não fizesse coisa pior, filho. -Papai provoca e caio na risada.
Um erro que me custa caro demais.
— E você é toda uma santa, não é mesmo, Liv? -O olhar de Jhonny oscila entre eu e Nick e se eu pudesse estrangular seu pescoço com o poder da mente, com certeza o faria.
O mais engraçado de tudo, é a cara que meu pai faz ao constatar que sim, eu não sou mais sua menininha inocente.
Sinto muito, papai, mas eu eventualmente iria crescer uma hora ou outra.
Mesmo assim, minhas bochechas ficam vermelhas imediatamente e escapo para a cozinha com a desculpa de que preciso ver como anda a massa.
Durante todo o percurso, penso em uma maneira de parecer indiferente com a presença de Nick e ele não ajuda ao se aproximar tanto que sinto o cheiro do seu perfume invadindo minhas narinas.
— Acho que já podemos armar as pizzas. -Diz pairando em cima de mim aparentemente para ver a bendita vasilha. — A massa está ótima. E você está linda com a cara toda manchada de farinha. -Sussurra a última frase e sinto aquele frio na barriga que conheço muito bem.
— Nick... -Respiro fundo tentando não parecer afetada pela sua proximidade.
Meus pais conversam animados sobre como vão preparar o molho e dou graças aos céus por estarem distraídos.
— Meu pai te perguntou algo sobre nós dois? -Pergunto baixinho e ele nega com a cabeça.
— Não, Liv. Nós apenas fomos até o mercado e voltamos.
— Ok.
O alívio no meu rosto acaba deixando uma carranca no seu e sorrio divertida.
— Já já eles vão ficar sabendo e você vai ter que ir se preparando para o interrogatório de Angel Cross.
— Pois saiba que venho fazendo isso há um bom tempo.
Sua confissão me pega desprevenida e um enorme sorriso se alastra pelos meus lábios.
— Muito bem crianças, o molho está no fogo e agora só falta abrir a massa. -Dou um pulo com a voz grossa do meu pai e me afasto rapidamente.
Em questão de segundos estamos todos ao redor do balcão, cada um com uma tarefa diferente. Nick e meu pai abrem a massa enquanto eu e Jhonny colocamos o molho e mamãe os recheios.
No total, são quatro pizzas e assamos uma por uma no forno. O cheiro delicioso invadindo o apartamento e fazendo meu estômago roncar.
Uma vez que todas estão prontas, levamos tudo para a enorme mesa e nos sentamos para almoçar.
Papai faz uma breve oração para agradecer pela comida e assim que ele termina, nos servimos e solto um gemido de aprovação.
Está uma delícia.
Nick se sentou do meu lado direito, Jhonny do meu lado esquerdo e meus pais na nossa frente, como dois vigias para ver como nos comportamos.
Sei muito bem que eles devem estar desconfiados, no entanto, faço meu melhor esforço para dissimular como sinto meu corpo se incendiando quando Nick desliza os dedos pela minha perna por baixo da mesa uma e outra vez. Quase engasguei com a pizza ao sentir seu toque, porém me recuperei tão rápido que acho que ninguém percebeu esse pequeno deslize.
Fora isso, o almoço até que correu perfeitamente. Conversamos sobre tudo e fiquei aliviada ao não tocarem no tema faculdade, pois não faço ideia de como responderia.
Meu irmão quase não disse nada e passou uma boa parte do almoço grudado no celular. Preciso saber como estão as coisas entre ele e a garota que ele afirma não sentir nada, embora seus olhos se encham de lágrimas cada vez que ele parece lembrar dela.
Como pelo menos umas quatro porções de pizza e no momento em que sinto que não aguento mais, retiro meu prato e levo até a cozinha.
— Gostou do almoço, amor? -Duas mãos apertam minha cintura e ofego em surpresa.
— Nick, quer parar de fazer isso, por favor? Meus pais vão nos ver! -Ralho e ele ri contra o meu ouvido.
— Eles estão distraídos...
— Sim, mas podem vir aqui a qualquer momento. -Seus dedos apertam ainda mais a minha pele e gemo em resposta.
— Isso torna tudo ainda mais divertido, não acha? -Provoca mordendo minha orelha e suspiro pesadamente.
Junto forças do mais profundo do meu ser para me afastar sem dar o braço a torcer e praticamente fujo do seu toque sendo acompanhada pela sua risadinha rouca.
NOTA DO AUTOR
Sextou e apesar da notícia triste de hoje, aqui estamos com
mais um capítulo para vocês.
Espero que tenham gostado,
Não se esqueçam de votar e comentar!
Nos vemos segunda feira
Amo vcs, 🥰
Bjinhossss BF 🖤🖤🖤
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