02 - Novas perspectivas
"Nós podemos ir logo ao que interessa?
Espere um pouco me deixe corrigir isto
Eu quero viver a vida de uma nova perspectiva"
-New Perspective
Panic! At The Disco
— Então, o que ele disse? -Pergunto nervosa mordendo o canto da unha enquanto espero pela resposta.
— Nick aceitou ser seu mentor, mas você precisa estar às oito em ponto no seu estúdio, senão pode esquecer. -Jhonatan diz do outro lado da linha e afasto o celular do meu ouvido para ver que horas são.
— Por que não me ligou antes, Jhonny? Faltam apenas vinte minutos! Como acha que vou chegar a tempo? -Berro desesperada.
— Isso já não é problema meu, Liv. Minha parte eu já fiz e se eu fosse você, já estaria a caminho, sabe que Nick odeia atrasos.
— Obrigada irmão! E tchau! -Desligo o telefone na sua cara e termino de me arrumar na velocidade da luz.
Por sorte o estúdio de Nick não é tão longe do nosso apartamento, mas como o trânsito a essa hora começa a ficar caótico, preciso me apressar.
Escovo os dentes, passo um perfume e desodorante antes de pegar minha mochila, chaves do carro e correr até a porta.
— Onde vai com tanta pressa, filha? -Paro no mesmo instante ao escutar a voz do meu pai da cozinha.
Me viro devagar e coloco um sorriso mais falso que a bunda da Nicki Minaj no rosto.
— Estou atrasada para a faculdade... -Sussurro rezando para que ele acredite.
— É mesmo? Pensei que as aulas começassem a partir das nove. -Papai murmura colocando uma boa quantidade de café na sua xícara.
— Então, tem esse professor, o... Felix, ele resolveu adiantar a aula e vai me colocar falta se eu não chegar a tempo! Tchau pai, te amo! -Escapo porta afora me sentindo péssima por mentir para ele.
Embora eu saiba que tanto meu pai quanto minha mãe provavelmente me apoiariam nessa jornada, depois de me dar um longo sermão, é claro, uma das razões pelas quais não quero lhes contar da minha maluquice por enquanto, é que se eu falhar, quero dizer, se eu não conseguir atingir meu objetivo, pelo menos não vou decepcionar as duas pessoas que mais amo nessa vida.
Eu confio no meu potencial e na minha capacidade de fazer o que me propor, contudo, não consigo evitar sentir medo.
Estou me jogando em um quarto escuro sem saber se vou encontrar uma luz no meio do caminho e isso me deixa aterrorizada.
Só de pensar que existe a possibilidade de dar tudo errado, meu coração quase para e um calafrio percorre meu corpo dos pés até a cabeça.
— Vai dar tudo certo. -Murmuro para mim mesma enquanto dirijo como louca pelas ruas da cidade.
Recebo alguns xingamentos pelo caminho e aproveito para acrescentá-los ao meu repertório.
Estaciono na frente do Bad Blood faltando milagrosos cinco minutos para as oito e corro até a entrada do estúdio de tatuagens de Nick.
Empurro a porta pesada e uma brisa produzida pelo ar condicionado golpeia minha pele cálida por conta da correria.
— Olá querida, em que posso ajudá-la? Tem hora para alguma tatuagem? -Uma garota pergunta por trás de um balcão. Sua voz é doce e combina perfeitamente com seu estilo pin-up.
— Hã... na verdade eu devo me reunir com Nick. -Digo nervosa de repente.
A loira me olha por inteiro antes de um enorme sorriso enfeitar seus lábios pintados com um batom vermelho.
— Você deve ser a Olívia. -Assume e balanço a cabeça em concordância. — Ufa, ainda bem que chegou a tempo. Hunter odeia atrasos. -Sussurra com cumplicidade e sorrio animada.
— Então, ele está por aqui, ou...? -Me sento em uma das cadeiras na pequena salinha de espera e a garota sai detrás do seu posto de trabalho e caminha até uma porta que sequer tinha notado.
Agora que paro para pensar, a última vez que vim aqui foi há um tempão. Tenho que admitir que Nick deu uma repaginada no lugar e ficou ótimo.
— Nick está terminando de tatuar um cliente, em alguns minutos ele vai te chamar para que entre, ok?
— Oh, ok. Obrigada... hã...
— Meu nome é Débora, querida, mas pode me chamar Debby.
— É um prazer, Debby. Obrigada.
— O prazer é meu. -Sorri amável. — Quer beber algo enquanto espera? Um café, chá... -Oferece e escolho o café. Preciso estar alerta para enfrentar Nick.
Debby desaparece até o que parece ser uma pequena cozinha e volta minutos depois com uma xícara fumegante.
— Sinto muito, mas aqui só há adoçante. Espero que não se importe. -Explica e nego com a cabeça.
A secretária é tão fofa que depois de apenas alguns minutos de conversa, já viramos amigas.
Ela é amante de tudo o que é antigo, ou como ela chama, vintage e para ser sincera, o estilo combina perfeitamente com a loira cujo corpo curvilíneo está coberto por um vestido vermelho que se ajusta a todas as suas curvas.
Os braços são quase cobertos por várias tatuagens de pessoas e personagens dos tempos passados e uma de Marilyn Monroe chama a minha atenção.
— Ela é minha musa. Uma mulher muito à frente do seu tempo e com uma inteligência inigualável. É incrível como Nick conseguiu capturar toda a sua essência. -Suspira admirando a obra de arte no próprio corpo.
— Então essa é dele... -Murmuro intrigada.
— Sim. Não tenho coragem de me tatuar com outra pessoa. Só confio no meu chefe mal humorado. -Explica baixinho e solto uma risadinha divertida.
— Nisso tenho que concordar com você, o cara deve comer limão puro no café da manhã para andar com aquela carranca o dia inteiro. -Sussurro e ela arregala os olhos mirando em algo atrás de mim.
— Arram... -Alguém pigarreia e sinto meu corpo inteiro estremecer.
Giro minha cabeça lentamente, dando de cara com Nick que só falta lançar raios laser pelos olhos azuis.
— Não deveria ficar distraindo minha secretária, Olívia. -Censura com a voz rouca e Debby praticamente corre de volta para o seu lugar.
— Não há mais ninguém aqui, Nick. Só estávamos conversando enquanto te esperava. -Respondo seca.
— Que seja, vamos. -Ele aponta para o seu escritório com a cabeça antes de caminhar me deixando para trás.
Faço um sinal passando meu dedo pela garganta e Debby se esforça para não cair na risada.
Alcanço-o em poucos segundos e passo pela porta aberta com o coração batendo tão rápido que é bem provável que saia daqui direto para o hospital.
Nick se senta em uma enorme cadeira atrás de uma mesa de madeira e indica a outra cadeira sinalizando para que me sente.
Me deixo cair no móvel confortável e observo em silêncio sua expressão séria como sempre.
Esfrego as mãos uma contra a outra para tentar me tranquilizar e avisto um sorrisinho nos seus lábios, um movimento quase imperceptível.
— Antes de mais nada, quero que saiba que eu só aceitei te ajudar porque o seu irmão não parou de encher o meu saco até que concordasse com essa loucura. -Diz de repente com sua típica voz rouca.
— Hum...obrigada? -Franzo o cenho sem saber que caralhos responder diante dessa afirmação.
Seus olhos se apertam e a boca forma uma linha fina.
— É sério, Olívia. Eu sei que é a sua vida e você tem direito de decidir o que vai fazer dela, mas trancar a faculdade desse jeito e ainda por cima sem seus pais saberem, é uma estupidez até mesmo para você. -Continua e cruzo os braços começando a ficar chateada com o rumo dessa conversa.
— Escuta Nick, eu não pedi seu conselho e muito menos um coach motivacional. Além do mais, que eu bem me lembre, você fez exatamente o mesmo e a julgar pelo seu estúdio e pela quantidade de pessoas que fazem fila para tatuar aqui, você se saiu muito bem.
— São casos diferentes... -Murmura sombrio.
Sei bem que ele começou com essa história de ser tatuador apenas para irritar o babaca do seu pai, mas mesmo assim, o cara tem talento e isso é o que importa.
— Pode até ser, só que eu... droga. -Suspiro angustiada. — Eu sonho com isso desde que era uma criança. E só para que saiba, eu não quero dizer nada aos meus pais por agora porque não pretendo correr o risco de desapontá-los caso as coisas não deem certo. Mas pode ficar tranquilo que eu vou contar tudo uma vez que esteja confiante o suficiente para fazer isso. -Explico e seu olhar se suaviza minimamente.
Ele cruza os dedos por cima da mesa ao mesmo tempo em que aproxima o corpo do meu.
Seus olhos azuis estão presos nas minhas íris castanhas, como se ele estivesse buscando algo. Talvez algum indício de que estou realmente motivada a me jogar de cabeça.
— Ok. -Diz depois de alguns minutos e solto uma longa respiração. — Mas aqui no meu estúdio, você terá que seguir as minhas regras.
O sorriso convencido no seu rosto me tira do sério. Quem esse cara acha que é?
O mais engraçado, é que quando éramos crianças, Nick, Jhonny e eu éramos inseparáveis. Estávamos sempre juntos embora eu e ele sempre estávamos brigando, mas isso não era tão significante. Tudo mudou depois que viramos adolescentes e ele...
Balanço a cabeça sem querer lembrar desse momento em específico.
— Por acaso virou o Christian Grey agora? Só falta você me aparecer com um contrato de confidencialidade. -Brinco com os braços cruzados.
— Quem diabos é esse cara? E por que eu faria um contrato de confidencialidade com você?
Solto uma gargalhada. Em que mundo Nick Hunter vive?
— Não importa realmente. Enfim, quais são essas regras? -Indago curiosa.
Para a minha surpresa, ele retira um caderno de uma das gavetas e pega uma caneta qualquer de um porta canetas em forma de caveira.
Levanto uma sobrancelha sem acreditar no que estou vendo.
— Existe algo chamado celular e tablet, sabia? -Provoco segurando o queixo com uma mão enquanto a outra descansa em cima do meu estômago.
Nick não diz nada, apenas me lança um olhar tão mortal que tenho certeza que me explodiria em pedacinhos se ele tivesse poderes.
Ele começa a escrever várias coisas no papel e arregalo os olhos ao ver como sua letra é bonita.
Quase cinco minutos se passam e ele continua escrevendo.
Suspiro entediada e pego meu celular para jogar enquanto ele termina o seu texto.
Nesse exato momento, Nick para de escrever e nega com a cabeça sorrindo presunçosamente.
— Você é impaciente, Olívia. E mal humorada. -Debocha atraindo a minha atenção.
— Eu, mal humorada? Olha só quem fala... -Coloco o celular em cima da mesa.
— Escute, para ser tatuador, deve ter paciência. Existem artes tão complexas que precisam ser concluídas em até quatro sessões de pelo menos duas horas cada uma.
Você se cansou de me ver escrevendo pelo quê? Dois minutos? -Olho no relógio.
— Foram cinco.
— Está vendo?
— Argh... quais são essas benditas regras? -Repito me controlando ao máximo. Sei muito bem que ele está fazendo isso apenas para me tirar do sério. Mas não vou lhe dar esse gostinho. Se eu estou aqui, me submetendo a toda essa humilhação, é porque isso é realmente importante para mim.
— A primeira regra é: enquanto estivermos aqui dentro, você terá que me respeitar. -Diz apertando a mandíbula. — Não vou tolerar esse tipo de comportamento insubordinado.
— E-eu sequer... -Minha bochecha esquenta imediatamente e fico envergonhada.
— A segunda regra: não é porque te conheço da vida toda e que seja irmão do Jhonny, que eu vou facilitar as coisas para você. Aqui no estúdio, ambos vamos agir com profissionalismo e seriedade, afinal de contas, estou arriscando meu nome e prestígio para te ajudar.
— Está bem. Profissionalismo, anotado. -Faço um sinal de check com os dedos.
Ele roda seus olhos para mim. Muito profissional da sua parte, Nicholas Hunter.
— Terceiro: pontualidade. Já sabe que odeio atrasos e se chegar tarde em qualquer momento, pode esquecer de voltar. Quarto: você não vai tatuar ninguém até que eu decida que está preparada para isso. -Declara e agora é a minha vez de rodar os olhos para ele.
Já treinei em várias coisas como laranjas, pele artificial e em algumas pessoas da faculdade que gostaram do resultado, contudo, sei que nem adianta dizer isso a Nick porque não vai fazer nem diferença e não o julgo, ele não faz ideia se eu realmente sei ou não tatuar.
— Por último, se você vai mesmo largar a faculdade, o mínimo que espero é dedicação a cem por cento. Ser tatuador não é fácil, Liv. Mas não se preocupe, vai perceber isso conforme formos avançando. -Guarda o caderno de volta na gaveta e se levanta rodeando a mesa e indo até a porta.
— Que reconfortante... -Murmuro para mim mesma.
Seguro os apoios da cadeira e aperto a madeira fria.
Que Deus me ajude e não me permita dar uns tapas nesse cara.
— Olívia? -Escuto sua voz abafada do outro lado do corredor. — Levante-se e me acompanhe que vou te mostrar onde fica tudo para ir se habituando.
Não consigo evitar fazer uma careta diante da sua voz autoritária.
Tenho certeza que Nick está adorando tudo isso.
Um dos seus principais passatempos é me provocar até que eu perca a paciência e exploda.
Mas ao contrário do que ele espera, vou provar que posso sim ser alguém tão boa quanto ele.
Me levanto e acompanho-o sem dizer uma só palavra.
Conforme avançamos pelo seu estúdio, percebo que o lugar é extremamente limpo e organizado.
Não é à toa que as pessoas fazem fila para tatuar aqui.
Nick me mostra duas salas com cadeiras daquelas parecidas às que os dentistas usam, só que na cor preta. As paredes estão pintadas também de preto e decoradas com vários quadros de tatuagens feitas em pessoas famosas.
Identifico meu pai em vários desses quadros e sorrio com carinho.
Se tem uma pessoa que apoia Nick mais do que tudo, esse é Angel Cross.
A relação dos dois é quase como a de um pai com um filho e eu sempre achei muito bonito o carinho que Nick tem com toda a minha família.
Menos comigo, é claro.
Embora saiba o nome de praticamente todos os instrumentos utilizados para tatuar, escuto calada enquanto Nick nomeia um por um.
Ele explica mais ou menos como funcionam as coisas no seu estúdio e anoto tudo no meu tablet. Horários em que ele trabalha, duração máxima de uma sessão, procedimento padrão de limpeza, recomendações para os cuidados das tatuagens...
Tenho que admitir que Nick sabe muito bem o que faz e é interessante vê-lo nomear cada agulha, biqueira, ou cada parte das máquinas de tatuar. O cara literalmente sabe tudo de cor. Até mesmo os códigos de identificação de cada cor das tintas.
— Aqui fica a autoclave para esterilização das peças, mas você está proibida de tocar nela. -Aponta para um objeto redondo que mais parece um micro-ondas futurista.
— Hum... não que eu vá fazer isso, mas qual o motivo da proibição? -Pergunto genuinamente curiosa.
— Porque ela é super cara e se você estragá-la, vai ter que me pagar outra. - Ele se aproxima lentamente de mim e sussurra com o rosto bem próximo ao meu me fazendo engolir em seco.
Respiro profundamente e me afasto procurando alguma coisa para me distrair do fato de que acabei de imaginar Nick de uma forma bem diferente da que estou acostumada.
— O que é isso? -Aponto para uma caixinha branca com a tampa transparente similar a uma mini máquina de lavar roupas.
— Isso é uma lavadora de ultrassom. -Explica e faço uma careta sem entender bulhufas. — Ela serve para retirar qualquer resíduo de tinta das agulhas. Primeiro se lava tudo nessa máquina e depois são esterilizados na autoclave. -Completa.
— Oh, agora sim faz sentido. -Levo os dedos até a tampa e acabo parando no meio do caminho ao ver Nick quase tendo um treco. — Pelo visto, essa é outra das coisas que não posso tocar, certo? -Confirmo e ele balança a cabeça positivamente.
Continuamos explorando suas tralhas por mais uns vinte minutos até que Debby coloca a cabeça para dentro da sala e faz um sinal para chamar a atenção de Nick.
— Billy está aqui para sua segunda sessão, digo a ele para esperar um pouquinho ou posso deixá-lo entrar? -Pergunta suavemente.
— Pode mandá-lo entrar, Debby. Obrigado. -Meu mentor pede e sorrio nervosa sentindo um frio na barriga.
— Posso ver como você tatua o tal Billy? -Meu estômago se contorce em expectativa.
Nick cruza os braços e me observa com os olhos semi abertos por um instante.
Ele parece pensar se deve ou não acatar à minha petição e estou quase saindo e deixando-o a sós com o cliente quando ele finalmente resolve responder.
— Ok.
NOTA DO AUTOR
Hellooooo seus tarados, como estão nessa segunda?
Espero que ótimos!
Espero que tenham gostado do capítulo,
não esqueçam de votar e comentar!
Nos vemos na quarta
Amo vcs, 😍
Bjinhosssss BF 🖤🖤🖤
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