Capítulo 19

Ao acordar, vejo que foi somente um pesadelo, o quarto onde estou todos estes dias para refletir sobre a minha vocação fez com que os meus pensamentos que gostaria de esquecer e tais viessem em forma de sonhos. Porém, fico feliz, foi somente mais um sonho, mas uma lembrança, passou. Levanto, vou ao banheiro depois arrumo o quarto e volto a fazer estas leituras que já me enfadam.

Agora sento na cama, observo o espelho e vejo o quanto estou descuidada. Vou ao banheiro novamente e escovo meus cabelos e passo uma água no rosto. — Lara seja forte, você precisa viver a sua nova vida. Repito constantemente a mim mesmo esta verdade.

A caixa com a cinta de penitência esta ali na escrivaninha. Consegui ser indiferente a ela, não me vejo culpada de algo. Passado? Todos tem, uns bons outros mal, preciso conviver com as minhas feridas e ser mais forte do que os meus sentimentos.

Se alguém espera que eu use aquilo, pode esperar sentado. Não acho necessário sentir dor para livrar de algo que machuca a alma.

Nem penso ser pecado o que me ocorreu. Foi uma infelicidade, sim isto foi, mas foi uma felicidade, pois hoje tenho esta perspectiva de ser uma freira.

Será que eu poderia amar novamente e ser amada? Aquele rapaz da janela? Ele me olhava com um modo sereno, a juventude dele, a inexperiência talvez? O que aquele rapaz poderia saber do amor? Ele olhava com um jeito que me desconcertava... Lara recomponha-se você entregou o seu amor a Cristo e a Ele você deve amor e apreço. Mas aquele rapaz? Bem que ele poderia me tirar deste quarto, me tirar destas paredes aprisionantes...

O que Lara menos espera acontecer, ocorre.

A porta se abre, vejo a luz do sol que vem adiante do corredor, a mesma freira que me enclausurou neste quarto é a mesma que abre a porta.

— Lara, arrume-se você esta liberada dos seus momentos de reflexão. Momento de reflexão? Assim que chamam castigo? Pensei, mas nunca que questionaria qualquer coisa. Precisava ser serena e calma para evitar ficar neste lugar de solidão.

— Obrigado, irmã, aprendi várias lições neste lugar.

— Organize seus pertences e ao terminar de se arrumar volte para o seu quarto que a Madre irá ter contigo. Aconselho você estar preparada, pois, é por padrão a irmã perguntar sobre as leituras e questionar alguma coisa que a incomodou para te colocar neste quarto, você deve saber disto, só estou reforçando.

— A propósito, tomei a liberdade de te trazer isto, a freira abriu a mão e colocou nas minhas mãos a correntinha com o pingente da minha mãe. Sinto muito irmã por ter que ser tão racional com você, é que este convento existem regras e precisamos seguir a risca as regras, entenda...

Entregando a correntinha a irmã saiu, coloquei-a no meu pescoço, a minha proteção estava novamente comigo, pensei na minha mãe, o fato dela estar longe e eu ter que aprender a me virar sozinha enfrentar as minhas dificuldades. Agora a porta estava aberta, era possível escutar o barulho dos pássaros, e o ar era mais quente, juntei todos os meus pertences estavam envolvidos num pano, olhei novamente aquela caixa, olhei para as escrivaninhas e olhei para o espelho, parecia que precisava olhar tudo para guardar aquele lugar, com a minha trouxa na mão sai do quarto e  fiz questão de não olhar para trás.

※ ※

A Madre Antônia sugeriu a Madre Superiora liberar a moça do 'castigo' informou que o que a menina tinha era namorico, não poderia ter, no entanto, tinha. Falou que se confrontasse a moça nunca ela admitiria tal namorico, e pegar uma desavergonhada deste modo é difícil, A Madre sugeriu dar corda para a noviça mesmo se entregar.

— Madre o seu convento tem um hábito muito estranho que já lhe acometeu o problema que esta enfrentando — disse a Madre Antônia para a superiora ambas caminhavam pelo jardim do convento.

Amada, nós como filhas de Deus e apreciadoras da religião devemos ser celibatas. No convento que administro, e preciso voltar quanto antes, não há este tipo de comportamento. Apontava para duas freiras que de longe conversavam entre si.

— O que tanto conversam? Às duas ali não deveriam reservar os seus pensamentos a Cristo e a religião?

Madre superiora, lembre-se bem dos ensinamentos de São Tiago?

— Como?

— Irmã no livro de Tiago mais precisamente em Tiago 3 lembra-se? Vou lhe citar um versículo

A língua É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal. Tiago 3:8

— A língua das irmãs deste convento, já demonstrou que podem criar citações e falatórios tempestuosos. E isto é um 'pecado coletivo. O fuxico, o mexerico e o diz que me disse, fez chegar nos meus ouvidos que neste convento existe uma noviça possuída por um espírito demoníaco Madre.

— Sim irmã concordo plenamente com a sua colocação e preciso agir para corrigir isto.

E a vistoria que fiz no quarto das irmãs. Noviças e freiras cheias de revistas seculares, conversas torpes e o pior até radio novelas elas escutam neste convento.

A Madre Superior escutava a constatação da irmã Antônia e teve que assim admitir: — Nunca fui tão enérgica com elas Madre.

Tu nunca foste e agora colhe as consequências. Imagine se não fossemos amigas. — E eu comprasse o que estão me vendendo sobre esta noviça? Certamente você seria excomungada e expulsa deste convento por negligência e deixar resquícios mundanos idealizar nas freiras e noviças que você cuida criarem raízes.

— Como você sugere que eu haja?

— Menos conversa e mais devoção.

Salvo esta noviça Lara, quero que a deixe a vontade, você precisa saber a quantas, anda o namorico dela.

Assim vou fazer...

RV100718984