05 - O Passado de Lara

Eu só queria amar e ser amada, eu não merecia passar por isto. Agora ressoa cada palavra da minha mãe: "Lara você é um milagre de Deus aceite a promessa que fiz e entregue-se a sua vocação".

— Fale-se agora ou cale-se para sempre.

— Eu não aceito este casamento! Amo o Jorge! Falava com a maior cara deslavada a minha até então amiga Camile. Ela olhou eu plantada na frente do padre, e pegou na mão dele, até então agarrada ao meu braço, e puxou-o, foi uma violência animal, eu no fundo, tinha certeza, mas não acreditava, os olhares o constrangimento ao citar o nome Camile, pensava ser um momento, uma aventura e atração. Pensava que o casório e o dia a dia faria esquecer. O que nunca imaginava era ouvir a minha até então amiga, roubar meu futuro marido em um momento inoportuno.

— Desculpe Lara, amo o Jorge e ele me ama, olhava para o Jorge, já me encontrava caída no centro daquela igreja. Só conseguia pronunciar a palavra: - N-ã-o!

— Você também tem a sua vocação Lara-disse deste modo Camile. Minha mãe agora atentava para a cena. Siga o seu caminho Cristão, faça o que a sua mãe determinou.

Jorge ficava quieto, já observei a escolha que ele fez.

O padre Atônito, falou: - Haverá casamento?

Minha mãe, meio que me resgatando do caos, pegou-me nos braços e falou:

— Não padre. Não haverá. O Show já terminou.

Dias de silêncio em um quarto, foi isto que me restou disto tudo, minha mãe insistiu tanto que comecei a me alimentar.

Falava para mim mesma em meio ao caos.

— Lara, ame a Deus acima de todas as coisas...

Depois de semanas, saí na rua e observei que morar em uma cidade pequena tem destas coisas:

— Coitada, tão jovem, tão bela, não merecia passar estas coisas.

Escutava a maldade alheia dos cochichos coletivos.

Um dia ouvi uma tia distante comentar:

— Se fosse comigo, me matava, coisa mais humilhante, passar por isto, em pleno casamento.

Decidimos mudar de cidade, a minha mãe me administrou, deixei a ela a incumbência de me reerguer.

— Filha a males que vem para o bem você deve seguir o seu destino.

Na nova cidade havia o convento, e havia também o comodismo de ter deixado o passado para trás, resolvi voltar as minhas preces, nunca mais quis saber do Robson e da Camile.

※※※

A febre passou, olhei para a cama e vi a Amélia. Ela disse: - Delirastes. Falastes sem parar a palavra. Não. O que aconteceu?

— Estou com sede. E veio a água, e depois a sopa, e logo adiante um severo pedido.

— A madre superiora quer falar com você com urgência.

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