Os gemidos na minha frente estavam ficando tão altos que começaram a passar por cima da música que tocava no meu fone de ouvido. Eu poderia aumentar a musica e tentar ignorar o casal na minha frente, mas minha vista já pulsava com o começo de uma dor de cabeça e eu não queria piora-la.

Não gostava muito de voltar para casa usando o ônibus escolar, mas como o motorista não chegou no horário, acabei entrando no ônibus sem pensar muito.

Não achei que fosse sentar bem atrás de um casal que estava no auge do acasalamento.

Triss, minha colega de classe, continuou cavalgando seu namorado e a única coisa que eu conseguia ver eram seus longos cabelos loiros e como a mesma apertava com força a poltrona do ônibus.

Mais gemidos.

Talvez o motorista pudesse interromper o pequeno show do casal, mas ele era tão pervertido quanto qualquer um desse ônibus. Assim como todo mundo dessa maldita cidade.

Foi então que eu senti.

Que eu a senti.

Seu perfume era doce, mas não de um jeito enjoativo. Fazia minha pele formigar e eu quase me sentia anestesiado. Ela cheirava como a porra de um campo florído. Tão puro.

Entretanto, todo mundo sabia que ela não tinha nada de puro.

Quando seu corpo indesejável sentou ao meu lado, continuei encarando a janela com o objetivo de ignora-la.

Mas, Emma não é o tipo de garota que gostava de ser ignorada. Ela desejava total atenção. De tudo, e de todos.

- Olha Kai, eu sempre te achei um pouco esquisito, mas não achava que era um completo pervertido também. - disse, em um tom suave.

Tentei focar mais na música que tocava no meu fone, só que ele foi arrancado da minha orelha sem nenhuma paciência.

Como falei: total atenção.

Me virei em sua direção encontrando seus brilhantes olhos claros.

Como esse demônio tinha um olhar tão inocente quando era a verdadeira reencarnação do capeta?

Lucifer pode descansar. Seu legado estava em boas mãos.

- Por que você não vai encher o saco de outro? - perguntei, quando ela se negou a me devolver meus fones.

Eu não tinha medo dela ou coisa do tipo. Mas já estava cansado desse mesmo joguinho que ela fazia todos os dias.

Ela sorriu e encarou o casalzinho na nossa frente que ainda se esfregavam sem parar.

- Sua namorada faz isso em você ou ela é tímida demais até para tocar no seu pau? - continuou, voltando sua atenção pra mim.

Engoli em seco quando meu coração começou a bater mais rápido. Era isso que eu mais odiava nela. Como fazia meu corpo reagir mesmo contra a minha vontade.

- Aurora não merece ser mencionada por alguém tão nojenta quando você. - exclamei, sem paciência.

Ela até tentou parecer ofendida.

- Credo, eu só estava brincando. - disse. - Mas, sejamos sinceros, né? Aquela sua coisinha fofa não teria coragem de fazer algo tão depravado.

Ouvindo um movimento atrás, não demorou muito para um de seus melhores amigos entrar na conversa.

- Não sei, Em, acho que é nosso amigo aqui que não dá conta dela. Se você quiser, Kai, eu posso te fazer esse favor.

Apertei meus punhos tentando não deixar eles me irritarem. Esse era o propósito. Ela sempre quis saber meu limite. Até onde eu iria.

Não conseguindo uma reação, Emma bufou e jogou meu fone de volta.

- Encher o saco de outro, né? - disse, e se levantou. - Como quiser.

Parando no meio do corredor, ela ficou de frente para o casal no cio. Não demorou para ligar a lanterna do celular e começar a gravar os dois. Simplesmente porque deu vontade.

- Ah, por favor, não parem... - Emma disse ainda gravando. - Pensando bem, estou surpresa de você ainda estar duro Mark, o jeito que sua namorada rebola é constrangedor.

Escutei risos em volta.

- Que porra, Foucher. - Mark, disse usando seu sobrenome. - Desliga essa merda.

Mas ela continuou.

- Você está nos fazendo ouvir sua puta gemer o caminho todo e agora está com medo de uma gravação? Que merda em. - disse, divertida. - Vamos fazer o seguinte, eu vou dar 2 mil dólares para ela se conseguir fazer você gozar em um minuto. Mas tem que ser um minuto.

2 mil dólares é brincadeira de criança para quem comanda essa cidade inteira. Não duvido que ela tenha essa quantia em sua bolsa só porque podia.

- Se fod...

Tiss calou seu namorado deixando Emma satisfeita. Claro que ela não recusaria esse dinheiro. Mark vinha de uma família rica, mas a mãe dela trabalha na cantina da escola.

Quando os dois comecaram a acelerar seus movimentos, Emma deixou o celular com seus amigos e sentou novamente ao meu lado.

- Me fala, Petrov. - pediu, em um tom baixo. - Você gostaria de me ver fazendo isso em você? Aposto que se sua namorada visse ela ficaria tão escandalizada que rezaria Três Ave Marias. - riu.

Quando o ônibus finalmente parou em frente a rua da minha casa, não pensei duas vezes antes de passar por ela e ir em direção a porta.

- Pode correr, Kai, nosso vez ainda vai chegar.

Não lhe dando mais atenção, desci do ônibus deixando para trás sua risada. Deixando seu olhar malicioso e como ela conseguia fazer aquele ônibus queimar como o inferno mesmo em um tempo tão frio.