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» Capítulo Único - Lâminas de Gelo «

O silêncio pesado e opressivo fez Felicia sentir-se subitamente sem ar.

Andrei parecia corroído pela mesma inquietação. Alexander, pálido, ainda tentava digerir o que o pai pedira aos dois detetives, enquanto Arne parecia ter envelhecido dez anos naquele breve período.

― Me prometa que, pelo menos, vão tentar.

― Não podemos garantir que funcione. Mesmo os mais experientes não controlam muito bem. ― Odiou-se por precisar dizer aquilo, mas alguém tinha que chamá-lo à razão: ― E já se passaram vinte anos, Arne.

A dor que inundou os olhos de seu ex-sogro a fez se arrepender daquelas palavras.

― Vinte anos sem saber o que aconteceu com a minha filha! Eu a deixei ir viva e bem, e a recebi morta depois de dias sem saber onde ela estava!

― Pai, por favor... ― Alexander tentou argumentar. ― Isso não vai nos levar a lugar nenhum.

Felicia não sabia se ele se referia à proposta ou ao início de discussão.

Arne prosseguiu:

― Você não usaria todos os meios disponíveis se fosse a Katterina no lugar da Astrid?

Arne tinha ido direto em seu ponto fraco.

Depois que Katterina fora raptada no último Natal e apenas por uma ação rápida e uma ajuda sobrenatural o pior não acontecera, Felicia tinha outro ponto de vista sobre casos do tipo.

Se fosse Katterina no lugar de Astrid, poderiam ter se passado 70 anos.

Porém as palavras os afetaram de forma diferente. Ela permanecera em silêncio, encarando-o atônita pela coragem e, ao mesmo tempo, furiosa pela lembrança. Alexander, por outro lado, pareceu desistir de argumentar e levantou-se bruscamente, caminhando em direção à varanda.

Desperta de seu choque, Felicia interveio ao ver Arne fazer menção de seguir o filho:

― Tudo bem, eu vou atrás dele.

Não ficou para ouvir a resposta.

O vento frio a recebeu quando abriu a porta de vidro, fechando-a logo depois.

Na extremidade direita, Alexander estava parado com os olhos perdidos no horizonte. Anos podiam ter se passado, mas ela o viu como o mesmo rapaz que conhecera, por quem se apaixonara inevitavelmente já no primeiro contato. Parecia tão solitário como quando o encontrara por acaso no pátio da faculdade e, talvez, fosse pelo mesmo motivo. Também podiam estar separados há algum tempo, mas ela o conhecia bem para saber que não estava incomodado apenas por ser tão cético.

Quando Astrid primeiro sumira e, então, aparecera morta, Alexander tinha dezesseis anos, o único dos quatro filhos de Arne e Helga capaz de entender o que se passava. Urick e Birgitta eram pequenos e pouco foram abalados na época, apenas conforme cresciam foram percebendo os efeitos da ausência da mais velha. Mas ele não. Estivera presente em cada busca, em cada ida dos pais às autoridades atrás de respostas. Era muito próximo dela apesar das diferenças.

Ao olhá-lo mais de perto, Felicia percebeu: estavam tocando em uma ferida que ainda sangrava, revirando um passado doloroso sem sua autorização. A lembrança de que a filha poderia ter seguido o mesmo caminho pareceu cruel demais, sobretudo para alguém que conhecia o caso.

Antes que pudesse se controlar, avançou e cobriu a mão dele, que repousava sobre a amurada, com a sua e tentou controlar o tremor na voz ao começar:

― Quer conversar?

Ele apertou seus dedos gentilmente, sem olhá-la. Estavam gelados, e ela duvidava que fosse apenas pelo frio persistente.

― Eu não queria ter saído assim, mas... ― A voz morreu, como se ele não soubesse com o terminar.

― Mas ainda dói, eu sei.

Ele ainda mantinha os olhos presos na paisagem ao continuar, pouco mais tarde:

― Ela perguntou se eu queria ir com ela. O caminho era longo até o centro e estava escurecendo, mas recusei porque estava muito frio. Ela foi e nunca mais a vi.

― Alex, não foi culpa sua.

― Isso não muda o fato de que ela estaria viva se eu tivesse ido com ela naquele dia, Fe ― ele murmurou e, como se sua pele formigasse para fazer aquilo, ela o abraçou.

A princípio, ele permaneceu rígido sob seu toque. Por fim, relaxou.

― A gente vai resolver isso, Alex, prometo. Mas eu não posso entrar naquele avião sem saber que você concorda.

Lágrimas contidas brilharam no fundo dos olhos claros quando eles se afastaram e ele permaneceu em silêncio por um longo tempo, mas, por fim, respondeu:

― Nós precisamos saber, Fe. ― O sorriso triste que ele deu em seguida quase a fez abraçá-lo de novo. ― Descubra e o faça pagar.

― Olha a língua! ― Felicia fingiu ralhar com Andrei, disfarçando o riso.

A torrente de palavrões fez se virarem dois vizinhos ― para quem Felicia acenou ao reconhecê-los, divertindo-se também com a expressão de surpresa de Bjorn e Thorsten.

Eles acenaram de volta, divertidos, mas Andrei continuava mal-humorado desde que se lembrara da quantidade de neve que caía no país naquela época do ano.

― Não dava pra ter vindo no verão, não?

― Estamos trabalhando, não passando férias. ― Ele soltou um muxoxo, mas permaneceu em silêncio. Logo chegaram diante da antiga casa dos Soreborg e ela tirou uma chave da bolsa. ― Chegamos!

Foi como abrir uma caixa de memórias.

Há dez anos estivera ali com Alexander quando ainda namoravam. Mais tarde, quando a família se mudara em definitivo para Estocolmo, Arne deixara a casa em Umeå para o casal ― onde moraram até Felicia querer voltar para perto da família na América e convencer o então marido a acompanhá-la.

Na bagagem, trouxera sonhos realizado, poderes mais despertos e Katterina, que ainda nem sabia que estava lá.

Sorriu ante a lembrança, largando a mala no chão.

― Vamos, não temos tempo a perder.

Como se estivesse ansioso em abandonar logo aquela solidão gelada, Andrei se pôs a trabalhar junto com ela e, algumas horas mais tarde, já tinham tudo pronto. Afastaram para os cantos os móveis que ainda restavam, limparam a poeira acumulada, acenderam a lareira e começaram a trabalhar na preparação do ritual que usariam para tentar encontrar Astrid.

Felicia sempre sentia um arrepio estranho na espinha ao se lembrar do que era capaz. Era uma sensação boa e aterrorizante ao mesmo tempo.

Com tudo pronto, ocuparam seus lugares no chão, um de frente para o outro. Logo as vozes estavam unidas em um único pedido: que uma passagem se abrisse entre os dois planos e Astrid viesse contar o que tinha acontecido naquela noite trágica

Pouco depois, a temperatura caiu como se a lareira tivesse se apagado e a luz vacilou, mas quando deram as mãos, tudo ficou ainda mais estranho. Lá fora, um trovão explodiu e o vento sibilou, abrindo a porta de entrada com violência. Um poderoso calafrio sacudiu Felicia da base da coluna até o pescoço.

Tinha funcionado.

Pelo que sabia do caso, já imaginava que não seria fácil vê-la. Astrid fora assassinada com um corte profundo na garganta e largada em um lago parcialmente congelado a poucos quilômetros da casa. No entanto nada a preparou para ver a figura parada na soleira da porta.

A pele era de um tom branco azulado coberta por um vestido branco encharcado, bem como os cabelos de um loiro claríssimo. A cabeça pendia para o lado direito em um ângulo estranho devido ao corte grosseiro no pescoço. Os passos avançaram vacilantes, os pingos ― de água e sangue ― marcando o ritmo, e ela parou a poucos passos deles.

― Astrid ― Felicia começou, lutando para manter a voz firme. ― Você não me conhece, mas eu conheço você.

Os olhos azulados a encaravam sem brilho, fazendo seu coração apertar.

― Estamos aqui para descobrir o que aconteceu ― Andrei explicou, e a mulher tentou falar, sem emitir qualquer som.

Antes que pudesse evitar, Felicia disparou:

― Pode nos mostrar o que aconteceu, se preferir.

Astrid selou os lábios, ainda a encarando por entre os cílios longos e mechas bagunçadas. Então seus olhos desviaram dos dela. Recomeçou o lento caminhar e já tinha sumido de seu campo de visão quando Felicia alcançou a entrada do corredor, mas no meio dele, à esquerda, a luz da rua incidia por uma abertura retangular, passando através da porta deixada aberta.

Felicia seguiu em passos cautelosos, por fim alcançando o que um dia fora o quarto da ex-cunhada. Ali, havia apenas um guarda-roupa e uma cômoda, ambos também cobertos. A fantasma a encarava, e tê-la ainda mais perto fez Felicia ofegar discretamente, em expectativa.

Com um gesto lento, Astrid apontou para sua esquerda e Felicia acompanhou o movimento em direção ao roupeiro. Retirou o lençol e arrepiou-se ao ver o reflexo logo atrás de si no espelho. Abriu uma das portas e Astrid tocou a base do compartimento.

A detetive não demorou a entender. As mãos treinadas logo encontraram um esconderijo secreto, que só conseguiu abrir ao custo de quase quebrar as unhas.

Seus olhos se arregalaram ao ver um grosso caderno de capa florida.

― É o seu diário? ― perguntou e, sem saber como já que não se virara para olhar, soube que Astrid havia assentido. Mas para a próxima pergunta, achou melhor perguntar diretamente, engolindo o desconforto, e se virou: ― Podemos ler tudo? ― A cabeça se moveu de forma bizarra em concordância e ela se esforçou para sorrir: ― Prometo que faremos justiça.

O medo escalou suas pernas com uma pegada gelada ao ver a moça sorrir de leve e, em seguida um vento forte soprou, vindo de lugar nenhum. Pequenos flocos de neve e fragmentos de gelo, misteriosamente, voejaram pelo ar, forçando Felicia a fechar os olhos.

A temperatura despencou de súbito e todo seu corpo tremeu com violência por alguns segundos. Então a fúria da ventania aplainou, o frio arrefeceu e ela pode observar melhor o ambiente ao redor.

Poderia jurar que acordara de um pesadelo se não fosse o diário em suas mãos e uma poça de água e sangue no chão a poucos passos dela.

Quando Felicia retornou, Andrei ainda tentava se recuperar do choque.

Não tinha aprendido direito a lidar com aquilo e o medo ainda era um espinho a rasgar a carne de tempos em tempos, mas perceber que podia usar as habilidades sobrenaturais ― com as quais fora presenteado sem pedir ― para fazer o bem e punir criminosos o movia para frente em seus estudos do oculto.

Fechou a porta e voltou para a sala, os olhos presos no caderno que Felicia depositou no sofá ao se sentar.

― Ela te deu?

― Pelo que entendi... ― ela começou após assentir. ― Há respostas aqui.

Ele sentou-se ao lado dela e ela abriu o caderno. A primeira coisa que viram foi uma foto dos quatro irmãos.

Astrid era linda, com um sorriso radiante e olhos que brilhavam de expectativa para o que o futuro poderia reservá-la. Ao lado, estava Alexander e, no colo dela, uma menininha de, no máximo, três anos. Diante deles, um garotinho também sorria.

Andrei sentiu um aperto no peito inexplicável.

Quem tivera coragem de encerrar uma vida daquela forma? E por quê?

Os registros começavam no ano anterior ao trágico evento. Nas páginas, escritos em uma letra caprichada dividiam espaço com desenhos e fotos da moça com amigos, com os pais ou sozinha.

Felicia leu para si por algum tempo, o que ele deu espaço, entendendo que algumas coisas meninas podiam querer manter apenas entre si. Porém logo ela o chamou e ele se curvou ao lado dela para ler o trecho.

"Estava tudo indo bem na festa, até ele chegar. Ele sempre me incomodou, mas ultimamente tem piorado. Fica me encarando esquisito e já me seguiu uma vez. Menti pro Alex que estava me sentindo mal e voltamos pra casa".

Não havia nomes que ele pudesse ver, mas era um trecho bem revelador.

Outras passagens semelhantes apareciam em outros dias.

"Hoje ele inventou uma desculpa qualquer pra me acompanhar da faculdade até em casa" em um dia. "Ele insistiu em me dar uma carona hoje, mas recusei", em outro. Por fim, o prenúncio de algo ruim "ele apertou meu braço e me puxou para um beijo".

Felicia fechou o diário com um baque. Ele a encarou.

― Você sabe? ― Ela assentiu e ele perguntou: ― Ela disse aí?

― Algumas páginas atrás.

― E aonde você vai? ― ele perguntou ao vê-la alcançar a porta.

― Vamos passear. ― Ela ergueu o diário, ainda em suas mãos. ― E conseguir mais provas.

Ele sabia o que ela ia fazer. Já a tinha visto fazer pesquisas naquele sentido inúmeras vezes desde que haviam começado a estudar o sobrenatural juntos, mas precisava admitir que ver acontecer era, ao mesmo tempo, fascinante e terrível.

"Havia um caminho rápido para chegar ao centro", ela lhe explicara no caminho. "E o Alex me contou que era o que eles sempre seguiam quando saíam de casa sem carro. Naquela noite, foi esse o trajeto que ela fez. O último".

Astrid fora ao centro fazer algumas compras. Saiu sozinha seguindo um caminho alternativo que, apesar de conhecido, não era tão feito em noites frias. Não chegou ao destino. Não voltou para casa. Ninguém precisaria ser um gênio para entender que algo acontecera no percurso.

Mas para que não restasse nenhuma dúvida, Felicia estava disposta a dar um passo grande e perigoso, a exercitar seus poderes em plena capacidade.

― Acha que vai funcionar?

― Precisamos tentar ― ela respondeu após prender os cabelos em um coque alto na cabeça. Parada no meio de um círculo que desenhara na neve com a ponta da bota, abriu os braços para a noite.

― É preciso muita energia. Você pode se machucar.

Ela sabia, mas não retrocedeu, e Andrei recuou para dar espaço enquanto a via concentrar-se para o que iria fazer. Estavam parados no meio daquele atalho vazio e gélido, ladeado por árvores cobertas de neve na escuridão noturna.

Andrei agiu primeiro, cumprindo sua parte na ação.

Respirou fundo algumas vezes, concentrando mais e mais energia na mão esquerda até que uma aura escura a envolvesse. Não parou até que finos tentáculos de energia escura começassem a dançar ao redor da mão, esticando-se como serpentes quando abriu os dedos.

Alongaram-se e sumiram na curva em direção à estrada. O céu foi cortado por mais um relâmpago e o vento voltou a assobiar com força.

Não se atreveu a olhar para trás, mas a vibração no ar indicava que Felicia conseguira também.

Foi como ver duas realidades coexistindo juntas. Dois conjuntos de árvores se balançavam ao sabor do vento. Um deles, real. O outro, cobria o primeiro como um véu translúcido, e algumas delas nem estavam mais presentes no plano físico, arrancadas ou caídas muito tempo atrás.

Andrei prendeu a respiração ao ver o vulto translúcido de uma moça loira e jovem fazer a curva cantarolando uma música qualquer. Parecia feliz com algo e ele reconheceu o sorriso luminoso.

O espectro de Astrid se aproximou, tal como ocorrera há vinte anos, mas outra figura apareceu na curva. Como se combinado pelo destino, um vulto masculino dobrou o caminho que ela fizera antes, pouco antes de o próprio, em carne e osso, aparecer arrastado pelas sombras que o detetive conjurara.

Os dois gritaram ao mesmo tempo.

O primeiro, para chamar a moça, que parou de sorrir e tremeu na base ao ouvi-lo e o segundo, de terror ao ver o que estava acontecendo. Tentou fugir, mas Andrei cerrou o punho e o aperto sobrenatural ficou ainda mais forte.

Felicia apareceu ao seu lado se dirigindo ao recém-chegado:

― Nunca imaginei que você tivesse coragem pra isso.

O outro voltou a gritar.

No plano astral que acessavam, ele se aproximou de Astrid e a puxou pelo pulso. A moça tentou se afastar, sem sucesso.

― O que vocês são? ― Ele parecia transtornado.

Se por ser descoberto ou pelo inexplicável acontecendo bem diante de seus olhos, impossível dizer.

― Uma bruxa energética e um necromante ― Felicia respondeu sem se abalar. No espaço entre eles, Astrid era golpeada no rosto com violência, caindo desacordada sobre a neve. Depois, foi arrastada colina acima. ― Esquisito, mas é melhor do que ser um stalker assassino.

Era difícil assistir a cena, principalmente sabendo o que viria depois, mas Andrei se forçou a continuar firme.

Felicia voltou a se fazer ouvir:

― Você era amigo deles, como pode? Eram vizinhos, cresceram juntos. Por quê, Bjorn? ― Ele continuava tentando se soltar e Felicia ainda conseguiu reunir um pouco de sua magia para ajudar a mantê-lo parado. ― O que aconteceu depois? O que você fez?

― Ela ia embora. Nunca mais ia voltar ― ele respondeu por fim, desistindo de escapar ao perceber que não poderia vencê-los. ― Eu só tinha aquela noite. Fui com ela pro lago, tinha uma cabana abandonada lá e...

Andrei sentiu o estômago revirar. Não foi o único.

― Já basta! ― Felicia explodiu, incapaz de se conter. ― Meu Deus, você esteve no meu casamento! O Alexander tinha você como um irmão!

O silêncio do outro o irritou de forma incontrolável e, antes que pudesse perceber, a mão livre estava trabalhando em outra coisa.

― Eu gostava dela ― ele disse, após algum tempo.

― Eu posso ver o quanto ― cuspiu Felicia, enojada. Ela estremeceu quando a visão astral se desfez e Andrei achou que ela desmaiaria pelo esforço, mas ela aguentou, voltando a indagar: ― O que você fez depois do...?

Ela não completou, parecia incapaz de dizer a palavra. Andrei não a julgou. Bjorn continuou calado até ele apertar a pegada das sombras que o mantinham preso.

― Cortei a garganta, coloquei o corpo no carro, joguei no lago e limpei tudo. Ninguém viu, ninguém ficou sabendo.

A crueldade fria em suas palavras fez Andrei esquentar.

― Você fez isso naquele dia ― ele rosnou entredentes. ― E neste, você paga.

― Nenhum juiz vai acreditar nisso. Vocês não podem usar bruxaria contra mim. Não podem fazer nada.

Então Andrei sorriu, sombrio, revelando seu trunfo.

― Talvez, mas ela pode.

Satisfeito, ouviu o arfar de surpresa de Felicia e o grito de pânico de Bjorn ao sentir os dedos gelados em seus ombros, virando-o para encarar a face contorcida de ódio de Astrid.

Não pode ver o momento exato, mas ouviu o grito de dor de Bjorn enquanto se abaixava para amparar Felicia quando ela livrou o outro de sua magia, finalmente exausta pelo esforço e pelo choque da descoberta ― como se só então a ficha tivesse caído.

― Respire ― orientou, com delicadeza. ― E não olhe pra lá.

Ela o obedeceu e se permitiu ser sentada sobre a neve que cobria o chão enquanto recobrava o domínio sobre si.

Quando ela pareceu melhorar, Bjorn estava caído no chão, o peito dilacerado, Astrid permanecia imóvel próxima a linha das árvores com as mãos cobertas de sangue... E Thorstein estava parado no final da curva, lívido, olhos arregalados e trêmulo.

Não precisou de muito tempo para Andrei entender que, ainda que não tivessem prestado atenção, ele estivera lá há um bom tempo.

― Bom ― começou Andrei, com um sorrisinho zombeteiro. ― Pelo menos não vamos ter que explicar nada pra esse aí.

Felicia havia se certificado de que Katterina dormia antes de reunir todos na sala para contar as descobertas. Arne mantivera o tempo todo os olhos presos no diário da filha, fechado sobre seu colo, mas ela sabia que ele ouvira tudo atentamente.

Ela contara tudo o que haviam descoberto, mas poupara os detalhes mais sinistros, principalmente em respeito à dor do pai. Ao final do relato, seus olhos se encontraram com os dele, que assentiu em aprovação.

― Obrigado, vocês dois por isso. Nada apaga o que aconteceu, mas pelo menos ele não ficou impune.

Era a sensação que ela tinha. Justiça fora feita.

De forma incomum, mas fora feita.

― Posso ficar com ele? ― perguntou Arne, pegando o diário. Não sabia sobre a existência dele, mas era compreensível querer manter as boas memórias.

― Claro, o caso foi encerrado.

O silêncio a seguir foi estranho, mas não tão pesado quanto na primeira vez. Percebendo que o assunto já estava resolvido, Arne e Andrei se despediram e ganharam o corredor. Alexander os teria seguido se ela não o tivesse chamado.

― Posso falar com você?

― Espero lá embaixo ― declarou Arne, caminhando em direção ao elevador, ao ouvi-la.

Alexander voltou a se aproximar e antes que pudesse perguntar o que estava havendo, ela tirou da gaveta do aparador o que separara especialmente para ele.

Um sentimento bom invadiu seu coração ao vê-lo sorrir assim que entregou a fotografia. Os quatro irmãos juntos, sorrindo para a câmera.

Uma sombra de suspeição brilhou nos olhos dele.

― Você escondeu pra mim? ― Ele sorriu de leve ao vê-la dar também um sorriso travesso e cúmplice. ― O papai ficaria bravo se descobrisse.

O sorrisinho dela estava maior ao responder:

― É por isso que eu não vou contar.

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