O final da louca
Acordamos e mais parecia um sonho, Rafael ali do meu lado sorrindo e me dando um beijo de bom dia! Naquele momento eu pensei que podíamos ser sim uma bela família, por que não seríamos?
Tomamos um banho juntos, nossos corpos nus, a mão dele percorrendo o meu corpo, a minha boca fazendo uma trilha de beijos até chegar na boca dele, aquele sorriso dele, o meu sorriso. Foi um dos poucos momentos em que me senti realmente feliz. Ele foi tudo que eu sempre quis!
Descemos a escada e a Luísa estava brincando com as suas bonequinhas.
" Posso saber se a menininha mais linda já tomou café da manhã?"
"Tiaaaaa" Luísa fala sorridente e muito surpresa por eu estar lá ainda! Largou as bonecas e correu com os bracinhos abertos para me dar um abraço! Abaixei para que ela pudesse me abraçar e fui surpreendida com um doce beijo. Aquilo foi o que faltava para o meu dia ser perfeito!
" Seu Rafael, hoje a Luísa não quis comer. Estava te esperando!" Disse a babá.
Rafael sorriu e disse: " Estou com ciúmes porque você deu um beijo na tia, mas não deu no seu papai! Vamos papar?"
Luísa deu um beijo nele e disse: "Te amo, papai!"
Sentamos na mesa e a Luísa ao invés de sentar na sua cadeirinha, sentou no meu colo sem ao menos pedir! Não fez nenhuma cerimônia! Menina abusada! Não resisti e a enchi de beijos! Dei o bolo de laranja na boca dela primeiro e depois comi o meu.
Quando terminamos Rafael disse : "Vamos, Alice?"
Fui com ele até a porta e disse baixinho : " Rafael, se não se importa eu prefiro ficar uns 5 minutinhos aqui. Não quero chegar com você na empresa. Não quero que percebam que estamos juntos, sou muito discreta."
" Me acompanha até o carro?". Ele disse.
"Sim". Eu respondi.
" Você tem razão: discrição é tudo. Vou para lá sozinho, então! Só peço para que não se atrase muito. Mas me responde só uma coisa que não compreendi bem quando me disse: O que você quis dizer com - estamos juntos - ? "
Fiz cara de quem estava surpresa ou até mesmo um pouco ofendida e respondi com outra pergunta : " Não estamos?" (Será que realmente eu me senti assim?).
Ele apenas sorriu e me deu um selinho, entrou no carro e saiu. Fiquei parada olhando até o momento em que o carro saiu da minha linha de visão.
Voltei. " Olha quem voltou!" Disse para a Luísa.
" Tiaaa" Luísa falou toda sorridente!
" Ela gosta mesmo de você. Luísa é uma menina muito sozinha, só brinca com os amiguinhos quando está na escola. " Disse a babá.
Eu sei que ela disse isso para que eu ficasse de vez naquela família, mas eu devia? Apenas sorri em resposta e comecei a brincar um pouco com a Luísa e enquanto eu brincava eu pensava se deveria fazer o que eu estava prestes a fazer ou não. Afinal eu poderia comprometer o futuro dela e ela não tem nada a ver com isso. Eu só queria atingir o Rafael, mas com o que eu faria seria impossível não atingi- la. Eu a amava como se fosse minha!
- Deveria desistir da minha vingança por ela? - Era tudo que eu pensava.
Olhei no meu relógio e vi que tinha perdido a noção do tempo. Há quanto tempo que eu não chegava atrasada no trabalho? Luísa e as preocupações me fizeram esquecer pela primeira vez da responsabilidade. Me despedi dela e da babá e fui trabalhar.
Mal cheguei no trabalho e Matheus disparou: " Alice, você está atrasada! Rafael odeia atrasos, ainda mais hoje que é o dia da papelada. Eu te liguei ontem de tarde avisando que seria hoje. Ele já veio aqui me dar bom dia e viu que você não estava, ele vai te dar um esporro daqueles!"
" Bom dia para você também, Matheus!" Eu disse enquanto sentava e ligava o meu computador.
Ele sorriu, me deu um beijo e disse :
" Bom dia,meu amor! O que aconteceu?"
Pausei por um instante e menti: "Trânsito." É sério que ele me chamou de "meu amor?" Foi a primeira vez que ele me chamou assim.
As horas passaram e as papeladas estavam prontas. Tirei da bolsa um papel, era um documento que transferia a mim a posse do jornal O Globo, bem como o cargo do Rafael. Ou seja, se ele assinasse ele não seria mais o dono e estaria desempregado, a menos que eu o empregasse em algo. Quem sabe ajudando o Matheus? Mas não, não teria tanta graça assim. Todo o dinheiro que ele tem vem do jornal. Ele teria que começar do zero se assinasse, caso eu não o empregasse.
Coloquei o documento no meio dos outros. Matheus não viu que fiz isso, estava muito ocupado me beijando para ver o que eu fiz.
Decidi que ia me vingar, não queria que a Luísa sofresse, mas iria me vingar.Eu precisava disso. Ele precisava pagar.
Matheus levantou- se e disse: " vou levar os documentos para que ele assine." E pegou o telefone para perguntar para o Rafael se ele poderia ir lá.
Eu levantei e coloquei o telefone no gancho antes que ele discasse o ramal do Rafael e disse: " Deixa que eu vou, gato."
Quando coloquei a mão para abrir a porta e sair da sala ele me segurou pelo braço e disse visivelmente alterado, tentando não falar alto : " Por que você sempre vai sem se anunciar antes? Nunca vi você discar a porra do ramal para falar com o Rafael! Se eu ou qualquer outro funcionário faz isso ele dá esporro, se chegamos atrasados ele dá esporro, mas parece que você está imune a essa merda toda! Me diz o motivo, Alice! Por que?? E outra coisa, por que você quer entregar isso para ele?
Parecia que o meu mundo tinha congelado naquele instante. Queria me enfiar em um buraco e ficar lá por um bom tempo. Eu não tinha noção do que eu responderia para ele. Fiquei completamente sem reação olhando para a mão dele no meu braço que me apertava cada vez mais forte! E respondi: " Somos amigos e mesmo que não fossemos, o que você tem a ver com isso? Nós estamos ficando, não somos namorados! Você está com ciúmes por que? E faça o favor de largar o meu braço agora! Está me machucando! Vou entregar para te ajudar! Você está cheio de trabalho hoje."
Ele me largou completamente sem graça e respondeu: " Desculpa, eu não tive a intenção de te machucar. Eu jamais te machucaria. Eu te amo. Eu não posso sentir ciúmes e nem te exigir nada. Só estamos ficando, você tem razão".
Não sei porque, mas aquilo me tocou verdadeiramente e o beijei com todo o meu coração. Talvez eu quisesse acreditar que seria possível me relacionar com alguém sem que eu saísse ferida. " Te amo!" Ele disse. Sorri e saí da sala.
Quando saí da sala observei a marca dos dedos dele no meu braço, isso é o mal de ser branquinha. Tudo que eu queria naquele momento era que o Rafael não reparasse nisso, pelo menos não antes de assinar o documento, depois disso nada mais me importaria!
Entrei na sala dele, sentei no colo dele e o dei um beijo avassalador, como se fosse o último que o daria. E deveria ter sido.
Quando o beijo terminou fiquei em pé e disse: " Desculpas pela demora hoje, acho que nunca cheguei atrasada na minha vida no trabalho, mas é que a sua filha mexe tanto comigo que eu perdi a noção do tempo."
Ele sorriu. " Alice, não precisa me pedir desculpas. Fico contente que goste da minha filha. Quando alguém que tem um filho pequeno para tomar conta resolve ter um relacionamento com outra pessoa é imprescindível que o parceiro escolhido goste da criança. E dá para ver o quanto você me ama e ama a minha filha."
Sorri. Ouvir ele me falar aquilo me fez me sentir a mulher mais feliz do mundo, mas eu queria ouvir só mais uma coisa para que a minha felicidade se tornasse completa e então eu disse com uma voz baixa, como se eu não quisesse que ele ouvisse. Tinha medo da resposta: " E você, Rafael me ama?"
Ele infelizmente escutou, sorriu e me pegou pela cintura e me de um um beijo intenso.
"Posso considerar isso como sim?" Ele apenas sorriu como resposta.
Como eu queria escutar isso dele, talvez se ele tivesse me dito eu poderia ter mudado de idéia.
" O que você tem aí na mão? São os documentos que eu estou pensando?" Rafael perguntou me tirando do meu transe.
" Ah, sim são." Respondi com o coração disparando, tentando não tremer a mão para que ele não percebesse o meu nervosismo.
Ele pegou os documentos da minha mão e sentou na cadeira para lê- los. O analisei lendo o primeiro documento e de fato percebi que o Matheus tinha razão: Ele analisa minuciosamente todo o conteúdo e eu resolvi agir antes que fosse tarde. Fui em direção a ele e me abaixei para abrir o zíper da calça dele. Ele me deu um sorriso cheio de malícia e então eu comecei a chupá- lo.
Ele me disse com sorriso de safado estampado no rosto : " Alice, desse jeito eu não consigo me concentrar!" E essa era justamente a intenção! Continuei sem dar a menor importância para o que ele disse.
O telefone tocou, Rafael olhou para ver quem era enquanto eu continuava o meu trabalho. " Matheus, o que houve?"
" Posso ir aí? Problemas sérios." Matheus respondeu.
Rafael fez uma breve pausa, fez um carinho em meu rosto e disse muito contrariado. "Pode".
Subi o zíper da calça dele e sentei na cadeira. Rafael continuou lendo o documento e Matheus entrou e disse : " Rafael, telefonaram da clínica. Dona Luana fugiu!"
Rafael levantou- se rapidamente dando um soco na mesa e perguntou, mesmo sabendo que não obteria resposta: " Mas como fugiu? Incompetentes!"
" Eles disseram que colocaram uma equipe de busca para pegá- la de volta, senhor!. Disseram que quando achá- la o senhor será avisado."
Rafael saiu de trás da mesa e foi andando apressadamente em minha direção, levantei quando percebi que ele iria falar comigo. Ele fez carinho no meu rosto e me disse olhando nos meus olhos : " Alice, vamos comigo? Eu preciso de você! "
" Eu vou, é claro que eu vou! Mas antes você precisa assinar os documentos, Rafael. São para hoje! Ou você pretende voltar mais tarde? "
" O senhor vai liberar a Alice? Hoje é o dia em que temos mais trabalho!" Matheus respondeu puto da vida.
Rafael disse em um tom bem seco e firme: " Antes da Alice trabalhar aqui quem te ajudava? NINGUÉM! Então você fará o trabalho SOZINHO. Ah, e aproveita e cancela toda a minha agenda também! Viu só? Mais coisa para você fazer SOZINHO."
Matheus engoliu seco, nunca tinha feito algo parecido com o patrão e não sabia o que deveria fazer (sair, pedir desculpas) então preferiu ficar ali parado.
" Alice, você leu os documentos? Eu posso dar o meu aval?" Rafael perguntou com um leve sorriso.
Eu olhei para o Matheus, não tinha lido nada. E ele fez que sim com a cabeça. Então eu respondi: " Li sim. Pode assinar. Está tudo ok." Óbvio que eu não poderia dizer que os documentos estavam uma merda e que ele não poderia assinar porque isso iria acabar com o meu plano, mas olhei discretamente para o Matheus para que ele não falasse nada que eu não tinha lido. Se não tudo estaria perdido.
Rafael pegou a caneta e começou a assinar sem ler e enquanto isso o Matheus não se conteve e perguntou: " O senhor vai assinar sem ler?" Eu não acreditei quando ouvi a pergunta dele. O meu coração ficou na mão!
Rafael sem paciência alguma respondeu : " Vou, algum problema? Eu confio plenamente na Alice!"
Matheus não falou mais nada e o Rafael voltou a assinar mostrando estar com raiva do Matheus e ele por sua vez não sabia se ia ou se ficava. Rafael finalizou o procedimento e jogou a caneta com força na mesa.
Veio até mim e sorriu : " Vamos?". Me deu um beijo no rosto e colocou as mãos na minha cintura e olhou para o Matheus como provocação. Matheus percebeu, mas olhou para baixo na mesma hora e fechou a mão como se quisesse dar um murro no Rafael e colocou a mesma para trás. Como se quisesse não, ele queria e como queria!!!
" Rafael, eu vou no banheiro e daqui a pouco eu desço."
" Eu já vou. Pega o seu carro e procura ela ao redor da clínica. Se ela não está dirigindo ou se não se enfiou em algum carro deve estar próxima. Me liga quando entrar no carro." Rafael respondeu.
" Pode deixar". Respondi. Ele beijou a minha testa e me abraçou em seguida.
" Matheus, encaminha os documentos para o RH. Tchau." Ele disse, enquanto apontava para os documentos que estavam em cima da mesa. E saiu da sala.
" Alice, mas que porra foi aquela? Quando o Rafael deu um murro na mesa ele estava ereto! Excitado com a notícia que não foi! Fora o jeito que vocês dois estavam se olhando, o jeito que ele me olhou quando te deu um beijo e colocou aquelas mãos nojentas na sua cintura! Ele disse que precisava de você, faltou dizer que você era dele! Ele nunca assinou um documento sem ler, sempre os leu minuciosamente e ainda colocava algum tipo de ressalva. ME EXPLICA!"
Arregalei os olhos e disse: " Odeio homens ciumentos. Eu não tenho nada com você." Retirei o documento e guardei na bolsa.
" Pensei que gostasse de mim. Está guardando esse documento por que? Eu não tenho que levar para o RH?"
" Mas eu gosto. Esse não. Rafael me disse antes de você entrar na sala que esse tem um prazo especial. Estou indo." O dei um longo beijo, dei os outros documentos na mão dele e saí.
" O banheiro feminino é para o outro lado." Matheus disse.
" Banheiro?"
" Você não disse que iria?"
" Ah, menti. Queria te dar um beijo antes de sair. Me desculpa por sair justamente no dia em que temos mais trabalho."
" Tudo bem. Me desculpa pelos ciúmes. Tchau."
Sorri. " Tchau."
Quando entrei no elevador comecei a pensar porque eu iria fazer o que o Rafael estava me pedindo, já que eu já era dona do jornal e ele não era mais nada ali. Só faltava mais uma parte para a minha vingança finalizar, de qualquer modo, eu poderia ter esfregado o documento na cara dele na sala. Mas por que eu não fiz isso? Acho que foi falta de coragem, ou foi amor, ou os dois juntos. Não sei.
Preferi não pensar no que eu estava prestes a fazer e liguei para o Rafael:
" Oi, amor. Já estou no carro e você?"
"Bem próximo da clínica. Vocês eram amigas, aonde ela poderia ter ido?"
" É sério que você está me perguntando isso? Nós ÉRAMOS amigas. Tem 11 anos que não somos mais! Você é marido dela, você é quem deveria ser o primeiro a saber!"
" Desculpa, Alice. Não deveria ter falado isso, mas tenta pensar em algo, por favor."
Sabe quando você morre de vontade de mandar alguém para aquele lugar? Eu estava assim naquela hora, eu quase dei ré com o carro para ir para casa, mas respirei fundo e pensei no desespero do Rafael e tentei pensar em algo para ajudar e uns cinco minutos depois eu falei com ele:
" Rafael, você sabe que eu fui muito no psicólogo devido a tudo aquilo que aconteceu. Aprendi um pouco de psicologia devido a essas minhas idas lá. Certa vez o doutor Aluízio me disse que quando estamos em processo de surto, vulgo loucura, nós voltamos a nossa mente para a raiz do nosso problema. Ou seja, se ela se tornou louca por ter abortado, ela está pensando na criança. A área do cérebro dela que está ativada é a da infância e como ela está triste, eu presumo que ela esteja na pracinha. A pé deve dar uns 30 minutos da clínica. Ela sempre ia para lá quando estava triste e queria ficar sozinha quando éramos amigas. Conhece a pracinha?"
" Conheço. Ela já levou a Luísa lá. Eu vou fazer o contorno e estou indo para a praça. Me avisa quando chegar lá."
" Rafael, eu acabei de chegar na praça."
" E aí, está vendo ela?"
" Não... Quer dizer, estou, estou. Agora eu estou. Cadê você?
" Saí do carro, tenta segurar ela. Daqui a dois minutos eu estou chegando na praça."
" Rafael, eu não posso. Você sabe. E se ela surtar mais ainda?"
"Ok, Alice. Qualquer problema me avisa."
"Ok."
Tinha colocado o meu carro no acostamento, o sinal abriu e a Luana ia atravessar! Ela não estava maluca quando foi internada, mas naquele momento eu tinha certeza que a clínica fez com que ela ficasse. Ela estava num mundo só dela, segurando um urso sem um olho. Torci para que ela fosse atropelada, mas senti pena, meu coração doeu e me passou um flash de tudo que vivemos juntas até aquele fatídico dia do sexo.
" Rafael, cadê você? Ela vai atravessar a rua!" Disse muito nervosa.
Rafael não me respondeu, mas eu o vi abandonando o carro no meio da rua com o sinal aberto e os motoristas que estavam atrás dele buzinando freneticamente. Uns o xingavam, outros o chamavam de maluco. O vi desesperado tentando salvá- la, a vi olhando para ele com medo e justamente por ela ter visto ele que ela resolveu que iria atravessar de qualquer modo. Ela certamente não queria voltar para a clínica. Ela atravessou. Os carros que estavam na frente do Rafael estavam saindo de lá normalmente e ele não conseguiu evitar. Rafael ajoelhou no chão e chorou como uma criança, eu saí do carro e corri para abraçá-lo, choramos juntos. Luana estava morta.
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E um dos capítulos mais esperados foi postado!!! ( a morte da Luana!) E aí, gostaram???
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