Entrevistada pelo inimigo
Como o meu submisso gostoso foi embora eu não tinha mais com o que me distrair, eu ficava olhando para a televisão do meu quarto observando cada passo deles, estava verdadeiramente obcecada nisso. Erick ficou com tudo, menos com as câmeras, disse que eu não queria mais invadir a casa deles e que iria contar para ela que era só uma brincadeirinha de amiga e pedir para que ela mesma retirasse as micro câmeras de sua casa. Ele anuiu sempre assentia com tudo que eu dizia. Eu era a senhora dele. Em qualquer ambiente eu era a senhora dele e ele me devia respeito e obediência (ele era um completo cachorro muito bem adestrado).
Rafael definitivamente trocou o quarto pela sala e eu ficava admirando aquele homem com nome de anjo, sobrenome infernal e corpo escultural deitado no sofá. Ele tinha o costume de dormir só de boxer e eu criei o costume de me masturbar toda a noite (por que será, né?). Ahhh, Rafael por que você fez isso comigo, com a gente? Era a pergunta que rondava os meus pensamentos e que ainda ronda. Se nada daquilo tivesse acontecido, seríamos felizes?
Escutei uma conversa dele com um homem, era funcionário dele. Naquele exato momento eu não sabia de quem se tratava, mas era de Matheus, alguém que de certa forma, virou especial em minha vida. Na conversa estavam falando sobre conseguir algum ajudante para ele, pois ele estava com excesso de trabalho e o Rafael disse que iria anunciar a vaga para contratar alguém.
Rafael se formou em administração, mas disse que não queria fazer porque simplesmente não gostava daquilo, mas ele não sabia o que queria fazer da vida, nunca soube. O pai decidiu isso para ele. Rafael precisava se formar em administração para poder gerir o negócio da família: o jornal O Globo. Quando Rafael fez 21 anos o pai dele passou o jornal para o nome dele, como presente de formatura. A partir daí o seu pai de aposentou e ele virou o dono e o diretor do jornal. Eu sou jornalista, mas naquela época da vingança eu viraria faxineira só para estar ao lado dele naquele jornal.
Nunca quis trabalhar em jornal, nunca me imaginei trabalhando em qualquer outro lugar que não fosse a Vogue, mas eu precisava daquilo. Não pensei duas vezes e tirei a carteira de trabalho brasileira que eu nunca pensei que faria e muito menos que seria assinada por ele. Logo eu que amo mandar, recebendo ordens dele. Fora o cargo: secretária bilíngue. Mas eu caí para depois subir. E foi pensando nessa ascensão que eu fiz o que fiz.
Coloquei um vestido preto social, mostrando o decote (nada muito vulgar), salto alto e batom vermelho sangue e a minha cruz que me protege sempre. Me vesti para a guerra,me vesti para ele ver o que ele perdeu,me vesti para vencer e foi com esse espírito que fui para lá.
Relutei um pouco para sair do carro, era como se todo aquele espírito de menina aventureira e destemida tivesse simplesmente ido embora, eu estava com medo. Como seria a reação dele ao me ver? O que será que aconteceria? Dava meia volta ou seguia em frente? Queria chorar, queria gritar, queria quebrar tudo. Mas é o presente me colocando frente a frente com o meu passado de novo. Era como se resolver o que ficou para trás fosse imprescindível para poder finalmente olhar para frente sem mágoas e nenhum tipo de arrependimento.
Desci do carro e fiquei ali parada com o carro já na vaga admirando aquele prédio todo espelhado, respirei fundo e entrei. Ele trabalhava no vigésimo andar, então eu dispensei prontamente a escada e peguei o elevador. O tempo todo em que entrei no elevador fiquei segurando aquela cruz e rezando, depositando boas energias para que tudo desse certo. Eu não poderia me machucar de novo.
Sai do elevador e abri a porta. A maioria estava conversando, trocando ideia sobre matéria ou então a escrevendo no computador. Quando eu entrei fizeram um silêncio quase que fúnebre. A maioria dos homens me olhavam e todas as mulheres me invejavam. Continuei andando como se nada tivesse acontecido, mas estava mais confiante para falar com o Rafael porque eu queria causar aquele mesmo impacto nele. Ele precisava saber o que perdeu.
O espaço era dividido em pequenos nichos, eles não tinham sala própria justamente para permitir uma maior interação entre eles. Apenas Matheus e Rafael tinham sala. Quando eu me aproximei da sala do Matheus para ser anunciada, ele abriu a porta antes mesmo que eu pudesse bater. Acho que deve ter estranhado aquele silêncio repentino do lugar.
Ele me olhava como se nunca tivesse visto uma mulher antes na vida,como se fosse um idiota que nunca comeu uma boceta antes, ou como um tarado pronto para meter, como se fosse um bicho. E eu lá, vendo ele me comer com os olhos, esperando ele acordar do filme pornô que ele criou na cabeça dele e voltar para a realidade.
Comecei a olhar para os lados me sentindo um pouco incomodada com a situação e mais ainda porque ele tinha algo que os outros homens não têm, só não sabia definir na época exatamente o que seria. Mas não adiantou muito desviar o olhar dele, todos estavam olhando para mim como se eu fosse um alienígena descendo as escadinhas de sua nave espacial. Todos mudos, reparando em cada detalhe meu. Me comendo com os olhos. Foi ai que resolvi quebrar o silêncio:
"Oi, tudo bem? O Rafael está?"
"Estou bem e a senhora? Está sim, gostaria que eu a anunciasse?"
Pausei por um instante para respirar fundo e digerir o que ele estava dizendo, era como se tivesse caindo a ficha de que estava ali para ver o Rafael. Tive vontade de sair correndo e chamar a mamãe, mas não. Não iria voltar atrás, iria com isso até o fim. E respondi: "Estou bem também. Sim, por favor".
"A quem devo anunciar?" Me lançou um sorriso maldoso, como se saber o meu nome fosse o suficiente para me levar para cama na mesma hora. Não sou uma puta. Ou então como se saber o fizesse ganhar o dia. Eu não conseguia saber se ele era o lobo ou o cordeiro naquele momento. Só conseguia perceber que ele era enigmático, não conseguia adivinhar os seus pensamentos promíscuos, mas sabia que todos eles me envolviam.
De novo pausei antes de responder. Falaria o meu nome? E se ele não quisesse me receber? Não perderia essa chance, não teria uma nova. Como eu poderia conversar com ele sem ser em seu ambiente de trabalho? Se ele não está no trabalho, está em casa. Ele está na seca, não fode tem muito tempo, mas uma coisa eu tenho que admitir: ele é fiel, se toca religiosamente todos os dias no banheiro para aliviar a tensão e nesse ponto eu o admirava. Respondi: "Diga, por gentileza, que sou uma velha amiga dele. Quero lhe fazer uma surpresa! Tem muito tempo que não o vejo!!"
Ele sorriu e respondeu: "Tudo bem" e entrou na sala me deixando do lado de fora, enquanto fazia uma ligação para o chefe. Nesse momento eu pude ver o pingente do cordão que ele estava usando porque antes estava escondido embaixo da camisa que ele estava. Era uma cruz. Era o mesmo que eu estava usando. Mas como se custava uma fortuna? Será que ele era rico ou será que era uma réplica muito bem feita? Só sei que de novo ouvi alguém dizer: "Seu ultimo dia" e sempre quando escuto isso não é bom sinal!
Ele sorriu novamente e disse: "Por favor, queira me acompanhar. É por ali". (indicou com a mão o caminho a ser seguido), abriu a porta e se retirou. Estava na sala de Rafael Devil!
Fiquei parada em frente à porta, não conseguia me mover, só conseguia assistir aquele belo homem lendo uma pilha de documentos, assinando os que consideravam coerentes e fazendo umas ressalvas em outros. Meu coração estava disparando, a minha mão estava gelada e eu estava lutando contra mim mesma porque a minha vontade era de beija-lo e de dizer o quanto eu o amava, mas me contive e caminhei lentamente até parar numa cadeira de couro preta. Eu devia sentar, mas não conseguia. Estava nervosa. Resolvi arriscar e falar com ele:
"Rafael"
Ele tirou os olhos das pilhas de papel, olhou para mim com os olhos arregalados ao ouvir o som da minha voz e gritou: "Alice, o que você está fazendo dentro da minha sala?" Ele levantou e deu um soco forte na mesa, como se fosse uma ameaça. As vozes dos jornalistas se calaram mais uma vez. Eles ouviram o grito e eu me senti uma garotinha levando esporro do professor na frente de todos. Mas fingi naturalidade.
"Rafael, isso lá é jeito de tratar uma velha amiga sua?" Ri meio sem graça.
Ele fechou a cara e disse seriamente: "O que te trouxe aqui?".
Toquei levemente na mão dele, mas assim que sentiu o meu toque retirou a mão, fugindo da minha. "Quero uma reaproximação. O que tivemos juntos foi lindo,foi intenso e eu não quero que o fim seja aquela cena deplorável de 11 anos atrás. Se eu não pude te ter como homem,quero ao menos te ter como amigo. Não te odeio pelo o que fez comigo,passou. Também não odeio a Luana e também pretendo me reaproximar dela,ainda mais agora.... "
Ele me interrompeu quando percebeu a minha cruzada de pernas. Sim, ele ainda me deseja: "Ainda mais agora o que?".
"Que eu resolvi ficar no Brasil, me senti tão culpada por não ter ficado perto dos meus pais que eu resolvi abandonar os Estados Unidos de vez e eu também preciso de um favorzinho seu. Você sabe que eu nunca gostei da vida de dondoca, né? Eu gosto de trabalhar e eu queria muito que me arrumasse um emprego. Pode ser de qualquer coisa, não me importo muito." Olhei para ele com a carinha do gato do Shrek.
Ele sorriu, mas disse friamente "Trouxe o currículo?".
"Sim, vou pegar" Tirei o papel da minha bolsa e o entreguei, tocando as mãos dele (aproveitando bem a oportunidade dada), olhando fixamente nos olhos e mordendo os lábios discretamente de um modo bem sexy. Sim, eu ainda conseguia o afetar. Ele estava visivelmente transtornado, eu estava visivelmente transtornada. Mas eu ainda conseguia raciocinar e todos os sinais que eu dei foram para saber o que realmente ele sente porque eu tinha certeza que ele iria vestir um escudo para se proteger de mim e me atacar com tudo.
Ele leu. "Eu estou impressionado com o seu currículo! Ele é um dos melhores que eu já vi! Não comente com ninguém, mas acho que ele é até melhor que o meu! Quem trabalhou como diretora da Vogue não vai aceitar o único cargo que eu tenho em aberto." Jamais pediria demissão da minha revista que eu tanto amo para voltar a morar no Brasil,só ele para acreditar mesmo.
"Rafael, eu não quero ficar sem trabalhar e eu quero trabalhar em comunicação que eu amo! Admito que nunca me imaginei trabalhando num jornal,mas o Globo é um jornal conceituado só vai fazer é agregar valor a minha experiência de vida e ao meu currículo! Como eu disse,eu aceito qualquer coisa."
Ele disse meio sem jeito. "Não tenho como jornalista, só tenho uma vaga como secretária bilíngue. Te interessa? Se tiver já está contratada".
"Aceito" Nos levantamos e nos demos as mãos formalmente.
Sentamos novamente. "Com relação a você falar com a Luana, eu sugiro que não fale com ela agora. Ela está passando por uns momentos meio difíceis e não pode sentir emoções fortes e nem tão pouco se estressar. Assim que essa fase passar eu mesmo te comunico e você conversa com ela. Nesse momento não é nem bom ela saber que você voltou" Como se eu não soubesse que era exatamente isso que ele iria me falar!!
"Tudo bem. Rafael me desculpa a indiscrição, mas o que está acontecendo com ela? É algo grave? Fiquei muito preocupada agora!"
Antes que ele pudesse me responder Matheus invadiu a sala do chefe sem a menor cerimônia.
"Matheus, o que houve?" Rafael disse em tão ríspido tentando se controlar para não dar um esporro nele na minha frente.
"Desculpa ter entrado assim na sua sala, mas é que o assunto é realmente grave."
"O que houve?" Rafael perguntou agora já mais calmo depois do pedido de desculpas.
"É sobre a sua mulher" Os olhos do Rafael se arregalaram e dava para ver que o coração dele estava saindo pela boca.
"O que tem ela?" Matheus me olhou e olhou para o Rafael como quem pergunta se pode contar na minha frente ou não.
"Pode falar! Alice é de confiança!" Ele disse sem paciência para etiqueta.
"Uma vizinha sua ligou para cá e disse que é para que o senhor vá a sua casa agora porque a sua esposa enlouqueceu".
"Como assim ela enlouqueceu?" Ele perguntou.
"Parece que ela está em surto. Vai para a casa. É melhor" Matheus respondeu.
"Tudo bem, eu vou. Aproveitando a oportunidade, Matheus, essa aqui é a Alice e será ela quem vai te ajudar com o seu trabalho. Ela vai dividir a sala com você."
"Ela que vai me ajudar?" perguntou Matheus gaguejando.
"Sim" Rafael respondeu muito puto, visivelmente puto ao perceber os interesses do Matheus. E isso é porque ele não viu que o Matheus não foi o único.
"Prazer em te conhecer" disse sorrindo e apertando a mão do Matheus.
Rafael interrompeu o nosso momento "paquera" (simmm, ele estava com ciúmes) e me perguntou: "Alice, pode começar amanhã?".
Sorri. "Claro, posso sim" respondi. Ele sorriu de volta. Um sorriso até meio bobo, eu diria.
"Matheus, organiza a sua mesa, arruma uma cadeira para a Alice e coloca na sua sala. Prepara também um documento de admissão para ela assinar."
"Pode deixar" Matheus respondeu.
"Alice, está com a carteira de trabalho?" Rafael me perguntou.
"sim" respondi. E ele esticou o braço, como se tivesse me pedindo. Entreguei.
"Matheus, entrega também no RH". Rafael disse entregando a minha carteira para ele.
"Ok" ele respondeu.
"Rafael, posso ir com você?".
"Não acho uma boa".
"Por favor".
"Está de carro?" ele me perguntou.
"Sim"
"Vá no seu carro e fique de longe e em hipótese alguma se aproxime dela"
"Tudo bem, disse".
Matheus estava ali parado esperando para ver se tinha mais alguma ordem do chefe. "A Alice vai assinar o documento amanhã. Está dispensado, pode ir. Tem muito para fazer". Ele saiu.
"Alice, toma esse cartão caso tenha que me ligar. E esse aqui é o endereço novo da minha casa, caso perca o meu carro de vista." Ele anotou num pedaço de papel e me deu.
"Vamos?" sorri e saímos de lá para ver o que a louca da Luana estava aprontando.
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