Entrando na toca do coelho
Chegou o momento de contar a vocês como a Alice deixou de ser Alice e se tornou eu. Por muitas razões eu acho essa a melhor parte do livro. Ou quem sabe a pior?
É a parte que deixo o meu país das maravilhas direto para o país da realidade. É a parte que eu caio do paraíso diretamente para o inferno. É a parte em que eu descubro o significado real da expressão “lágrimas de sangue”.
E sim, pode se dizer que eu chorei lágrimas de sangue nesse e em vários dias. Hoje já não mais. Lavei a minha alma após a minha vingança.
Quase dois meses se passaram desde que ele me tocou pela primeira vez, eu estava me sentindo mais mulher, mais confiante e muito mais feliz!
Estava me sentindo preenchida por ele. A cada vez que íamos para cama progredíamos mais e eu tinha certeza de que iríamos nos casar, ter filhos, uma vida juntos. Eu estava no país das maravilhas mais do que nunca!
Uma semana antes do aniversário de 18 anos do meu eterno amado Rafael Devil, aconteceu algo que acho que nem se eu sofresse de mal de Alzheimer esqueceria...
Era meia noite e estava na minha cama escutando música e pensando no que eu faria no aniversário dele, queria fazê – lo feliz. Ele faria 18 anos e seria a primeira vez que eu passaria com ele. O primeiro de muitos, pelo menos era o que eu pensava. Queria que esse dia fosse especial, marcante para ele. Mal sabia que, na verdade, seria para mim.
Até que adormeci e tive um pesadelo, minha mãe disse que isso já fazia parte do meu delírio, já que enquanto tinha o pesadelo, ardia em febre e segundo os meus pais eu chorava e gritava o nome do Rafael pedindo para que ele não me deixasse.
Comecei vendo uma cruz enorme prata, estava bem de longe e aos poucos ela foi se aproximando e quando chegou bem perto de mim o seu contorno estava em chamas, mas a cruz não se queimou. Ouvi então a voz de um homem desconhecido que repetiu diversas vezes a mesma frase: “Seu último dia”Era um aviso, tenho certeza que era!
Acordei com ele ao meu lado, sentado em minha cama e segurando a minha mão e os meus pais bastante apreensivos em pé me olhando no meu quarto.
Antes mesmo que eu pudesse perguntar o que estava havendo, os meus pais ao perceberem que eu parei de delirar sorriram e o Rafael me encheu de beijos e disse : “Te amo, Alice, te amo! Eu nunca te deixarei!”. Ele estava com os olhos marejados. Hipócrita.
Estava na véspera do seu aniversário e decidi o que iria fazer. Estava com vontade de passar só com ele, mas esse ano foi o primeiro ano em que ele não estudava na minha escola.
Estava fazendo faculdade de administração para poder gerir a empresa da família futuramente, mas estava fazendo obrigado. Ele nunca quis isso, embora não soubesse exatamente o que gostaria de fazer.
Então eu pensei em chamar os amigos dele que estudaram com ele na nossa escola para fazer uma festa surpresa para ele, afinal ele se afastou de muita gente esse ano.
Os pais dele não estavam em casa, o que ajudaria em muito. Comprei roupas novas e uma lingerie porque por mais que eu estivesse preparando uma festa surpresa, o melhor presente eu teria dado em sua cama de noite... teria dado.
Liguei para ele e inventei que os meus pais iam viajar para Búzios e eu teria que ir junto e que infelizmente não poderia passar o dia do aniversário dele com ele
Ele me disse que sem mim não teria graça e que não sairia para comemorar. Iria ficar em casa o dia todo. Como de fato eu sabia que ficaria. Homens são realmente muito previsíveis.
Senti que ele ficou um pouco triste, mas menos do que eu gostaria. Naquela época tinha até ficado um pouco desapontada por conta disso, mas depois consegui entender a sua reação.
Liguei para os seus amigos mais chegados e alguns disseram que podiam comparecer e outros que não. Liguei também para as minhas amigas e elas confirmaram! Menos Luana: por algum motivo ela não atendia as minhas ligações, liguei tanto que se não fosse pelo aniversário do Rafael teria ido até à casa dela porque aquilo me preocupou verdadeiramente, mas depois eu entendi o quanto ela estava ocupada naquele momento.
Eu tinha uma copia da chave da casa dele já que eu era a sua namorada e vivia lá, então após reunir todo o pessoal e abrir a porta de sua casa, pude ver a cena que nem nos meus piores pesadelos poderia um dia imaginar: Rafael nu no sofá de sua sala com outra mulher que estava gemendo em seu ouvido enquanto ele a penetrava.
O bolo caiu no chão, juntamente com a chave, a minha pressão e as minhas lágrimas. Eu queria ir embora, mas estava fraca e não conseguia sair dali, era como se algo ou alguém estivesse me segurando ali.
Eu senti como se eu tivesse perdido o meu chão, mas se perdi o que então me segurava? Seriam as almas perdidas do inferno me segurando na terra e ao mesmo tempo me puxando para um mergulho nas profundezas do inferno? Definitivamente não conseguia acreditar no que estava vendo. Como o homem da minha vida poderia fazer isso comigo? Mas de fato ele estava.
As minhas amigas me abraçaram. “Não fica assim!” Elas disseram em coro. Foi nessa hora que me liguei que todos estavam vendo o meu chifre.
Olhei para os meninos e percebi que alguns deles me olhavam com pena e outros estavam segurando o riso.
Pareceu que passaram horas, mas devem ter passado uns dois minutos apenas. Para mim durou a minha vida toda. A minha pressão já estava voltando ao normal e ele já havia se sentado no sofá e estava me olhando, eu me aproximei, queria saber quem estava com ele.
“Buuuu.” Luana disse em tom de deboche, seguida de uma maligna gargalhada
“Vo.... você?” disse quase sem voz ao ver quem era
“Sim, não conhece mais a voz da sua melhor amiga? Ah sim, eu estava gemendo. Está perdoada pela gafe, amiga! Por hoje passa. Aliás, sempre quis te dizer isso: ele tem um pau delicioso!”
Caí em lágrimas novamente. “Como você pode fazer isso comigo?” Perguntei.
“Como eu pude?, isso é sério mesmo? Te fiz um favor! Ele ficou com você porque eu fiquei com pena de você! Uma menina que estava acostumada a ter tudo o que deseja tinha que ter tudo. E se você ficasse aí tipo nesse estado que você está por não conseguir o que queria, quem teria que te aguentar? Eu! Está triste? Poderia desabafar só para o seu diário, mas não, fazia questão de desabafar comigo também! Eu nunca te suportei! Sempre foi interesse para levar, por tabela, a mesma vida que você levava e isso foi fácil porque você só vivia no país das maravilhas! Como é descer do salto Alice? Me diz, como é? Dói, né? Se deparar com toda a verdade.... ele sempre foi meu, sempre esteve comigo!”
Olhei para o Rafael e ele estava sorrindo, debochando de mim. Pensei que aquilo fosse um pesadelo, uma piada de mal gosto, mas era verdade!
Olhei a minha volta e não tinha mais ninguém lá. Somente eu e a minha triste realidade. As minhas amigas também me abandonaram. Quer dizer... amigas? Será que um dia eu tive?
Resolvi embora, precisava sair de lá. Quando fui correndo em direção a porta escuto a voz de Luana Snake : “Querida, vê se fecha a porta, Ok?" e gargalhadas ao fundo.
Bati a porta com toda a minha força, mas não a fechei. Deveria ter fechado? Esquecer ele para sempre, talvez fosse necessário!
Cheguei em casa, fui no meu quarto e peguei todas as coisas que ele e que ela me deram, peguei também o meu amado diário e num golpe de fúria e de dor os levei até o jardim, onde os queimei. Mas nunca consegui apagar da minha memória e muito menos do meu coração.
Se acham que isso foi tudo o que me aconteceu, estão enganados. Não parou por ai, mas isso é papo para um outro capítulo!
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