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Seja feita a Sua vontade

Eles correram, ele preocupado em pegar o primeiro táxi que passasse, e ele em como os defenderia das 5 bestas que os perseguiam. Por sorte o carro chegou antes das feras.

— O que está havendo? — Ariel perguntou assim que a máquina entrou em movimento, era rápida, barulhenta, fedorenta e apertada. Arfava devido a corrida e isso era estranho, não devia se cansar assim tão fácil, fora a sensação de ardência nos membros. Havia algo de errado com ele.

— Minha mãe — pontuou. — Desmaiou de repente no trabalho e não conseguem acordá-la.

O desespero estava lá, na voz de Ângelo, e ainda sim Ariel o viu tirar um terço velho da sacola que carregava e começar a rezá-lo.

A prece ressoou em seu âmago e alimentou sua alma, o cansaço e desconforto desapareceram. A fé humana promovia milagres, fortalecia a si e a seus irmãos, forjava escudos, reforçava a guarda, mas, aparentemente, eles nunca tiveram fé o suficiente. Esperava que o Pai também o estivesse ouvindo, aquela família não merecia mais sofrimento.

O carro parou em frente ao complexo do Hospital Municipal e, em dez minutos, Ângelo o arrastou pelos corredores labirínticos até a ala de sua mãe.

— Ângelo! — gritou uma enfermeira, amiga de Marta, que vinha correndo pelo saguão. — Graças a Deus que chegou! Não sabemos o que houve. Ela estava bem até há pouco, disse algumas coisas desconexas, teve uma convulsão e apagou.

— Onde ela está? — perguntou, aflito.

— Vem, eu te levo — disse, arrastando-o por uma porta.

Nessa comoção, Ariel foi esquecido. Calculava poucos minutos até que as bestas os alcançassem, mas havia outro problema. Aquele lugar... o que era ele? Andou pelo corredor vendo as pessoas mutiladas, doentes e moribundas, ao lado dos familiares que choravam e lamentavam. O ar era pesado e fedia a enxofre. Havia demônios ali, por que não podia vê-los? Um grito chamou sua atenção, vinha da porta onde Ângelo havia entrado. Correu até ela. Na sala havia equipamentos diversos, que emitiam bipes estridentes, ligados a uma pequena cama de metal e sobre ela estava Marta. Os humanos se moviam como formigas pelo local, gritavam nomes estranhos e tentavam, em vão, afastar Ângelo que estava agarrado à mão da mãe.

O homem gritava, clamava ao Pai por piedade, compaixão e proteção. Era isso que Marta havia ensinado a ele, devia funcionar, tinha que funcionar. Ela dizia para nunca perder a fé, mas estava tão difícil. Ele caiu de joelhos e cruzou as mãos, rogando, implorando.

Onde estava o Pai? Onde estava Ele quando seu filho necessitava? Aquela cena fez mais um pedaço do coração de Ariel se partir.

Ângelo era um homem bom. Passara pouco tempo no mundo mortal para fazer tal julgamento, mas o fazia em vista das ações dele: ele acolhera uma estranha em sua casa, dividira o pouco que tinha, dera-lhe atenção e carinho. Sofreu toda a vida, porém não se amargurou, seguiu acreditando, confiando, tendo fé no Pai, no destino escolhido para os abençoados. Era isso que ele merecia, mais dor? Era isso que mereciam seus irmãos? Não...

O cheiro de enxofre se acentuou enquanto o corpo de Marta sacudia-se com os choques na maca.

Andou até o lado de Ângelo, podia sentir seu espírito pulsar.

— Homem — chamou, mas ele não pareceu ouvir. — Ângelo! — Sua voz potente reverberou no quarto e ele lhe olhou em meio às lágrimas. — O Pai não vai escutar e sua mãe perecerá.

— Não! Eu tenho fé, eu... — Ele gritou, depois a voz morreu e passou a balbuciar, misturando as palavras.

— Não perca sua fé, mas a deposite em mim! Preciso que confie se quiser salvar sua mãe e a nós — disse e estendeu a mão, os demônios respiravam em seu pescoço.

Ângelo a encarou, ela estava diferente, parecia cintilar. Podia ser efeito dos olhos molhados, mas algo naquela visão o inspirou, era uma corda de salvação. Agarrou a mão estendida.

— Ariel, você é esquisita, mas tenho fé em você. Não sei porque, mas tenho. — Seu peito se encheu de ternura quando pronunciou essas palavras, teve esperança.

Ariel deixou a onda poderosa lhe varrer, a força da crença dele preencheu seus músculos e espírito. Fechou os olhos, sentindo o corpo expandir e quando os abriu, chamas flamejavam em suas pupilas, então pode ver todos os 7 cães no cômodo, rosnando e cacarejando.

                                                                               "You're not alone

Voce não está sozinho

                                                                              Together we stand

Juntos nós resistimos

                                                                               I'll be by your side

Eu vou estar do seu lado

                                                                  You know I'll take your hand"

Você sabe que eu vou te dar a mão

Sem soltar a mão de Ângelo, ergueu-o do chão e se aproximou da mulher. Os outros humanos pararam de se mexer em volta dela, retiravam suas máscaras e um bipe contínuo soava ao fundo. Estendeu a mão sobre a testa feminina e uma tênue luz dourada emanou, envolvendo o corpo de Marta.

— Esta alma não pertence a vocês, cães! Eu os comando que vão, em nome do Pai! — disse arrogante e raivoso, entoando a prece sagrada ao final. As bestas debandaram, correndo do quarto em dor, guinchando sua fúria.

Ângelo observou tudo aquilo espantado, quem era Ariel? Havia um cheiro terrível no ar. O que foi a luz? Todos a olhavam pasmos, talvez decidindo se chamavam a segurança ou a psiquiatria, quando o bip contínuo foi quebrado e se tornou novamente intermitente. Ariel puxou o homem do cômodo em meio a exclamações de "milagre".

— Ariel, o que foi? Eu preciso voltar lá e o que foi aquilo?! — Ângelo se debateu, resistiu, sua mãe estava viva! Não sairia de perto dela agora, mas precisava saber o que era aquilo tudo.

— Ângelo, sua mãe não vai acordar, não ainda. O que fizeram foi além dos meus poderes atuais, estou fraca, porém ganhei mais tempo. Isso é maior do que imagina, maior do que você e sua mãe. — Enquanto falava, raios de luz entravam pelas janelas. — Temos que sair daqui. Corra! — disse, puxando-o pelo corredor.

— Como é? Quem fez o quê? Do que você está falando? Onde a gente tá indo?! — Que loucura era aquela?!

— Não faça perguntas, só corra! — Passou escorregando por algumas salas, o lugar tinha muitas portas e corredores iguais, acabou perdido num beco sem saída. — Droga.

— Será que você pode me explicar o qu- — Puxou o pulso da mão da garota quando ela parou. Tentou aproveitar a chance para interrogá-la, mas foi interrompido por uma rajada de vento que passou entre eles, a centímetros do seu nariz, e se chocou contra a janela do corredor, espatifando-a. — Meu Deus! — Olhou para o corredor, procurando a origem daquele troço e viu quando um foco brilhante se formou no ar e veio na direção do peito de Ariel. Antes que pudesse pensar a respeito, passou os braços por sobre os dela, a puxou com violência para si, apertando-a contra o peito, e pulou da janela.

Ariel percebeu seu movimento e no momento do salto tentou libertar suas asas, mas elas não responderam.

Caíram na piscina lateral do Hospital. Ângelo sabia que ali ficava a estação de recuperação dos internados, passou o final da infância brincando por ali, e torceu para que a piscina fosse mesmo onde lembrava. Graças a Deus era. Afundaram na água gelada. Na queda, Ângelo havia girado o corpo a fim de que fossem suas costas a chocar-se com a água, elas agora doíam como o inferno, afinal, estavam no quinto andar. Mas já era uma baita sorte estar vivo e sentindo as pernas.

Saíram às pressas da água e, dessa vez, foi Ângelo quem rebocou Ariel pelas ruas vazias. Era meio da madrugada ainda. Não sabia se as coisas que lançaram aquilo estavam atrás deles (porque alguém tinha que ter lançado aquele troço), deduzia que sim e que era a eles a quem Ariel tinha se referido, então, por garantia, queria se distanciar.

Durante a corrida, o chão explodiu duas vezes momentos depois de passarem. Pois é, isso confirmava sua teoria. Mais à frente era o Mercado Público, conhecia-o como ninguém, conseguiria se esconder lá se conseguisse chegar, pois a última explosão havia pego seu pé esquerdo. Correu para a entrada e derrubou uma tenda de laranjas ao passar, esperava que os atrasasse, seja lá o que fossem. Dez minutos depois, estavam enfiados sob o balcão de propagandas.

(Sussurros)

— Que tal você começar a me explicar agora? — disse Ângelo, encolhido e agarrado aos próprios joelhos. O espaço era muito apertado e ainda estavam molhados.

Ariel respirou fundo e encarou o homem, ele acreditaria? Como era o pensamento humano sobre os anjos? Em seus momentos de diversão, nunca fora ter com os Anjos da Guarda, estavam sempre cansados e eram otimistas demais para se pregar peças, acabavam como alvo de piadas ou de pena. Eles viviam desde sempre o que estava vivendo aquela noite, se compadecia, agora.

— Sou um anjo do Pai e estou sendo perseguido por ter me rebelado contra Mikhail, A Espada de Deus. — A verdade era sempre o melhor caminho a se tomar, mas a cara de Ângelo quase o fez duvidar.

— ... — Aquela mulher era mesmo lunática. Anjo? Mikhail? Oi?

— Que bom que entendeu. Agora temos que-

— Como assim entendi, você está louca? Por acaso tinha fugido de um hospício quando te encontrei? — Ele procurou nela indícios de brincadeira, por mais que aquele fosse um péssimo momento para isso, mas não encontrou.

— Não sou louca. Sou um anjo, já disse, Mikhail e suas tropas estão atrás de mim e se não sairmos daqui logo, vão nos pegar.

Ângelo ainda estava em choque, seu queixo devia estar no chão. Ou aquilo era verdade ou ela acreditava que era, porque seu rosto era inexpressivo. Coisas estranhas aconteceram desde que a havia encontrado, seu comportamento inusitado, quase como se fosse de outro mundo, mas daí a ela ser um anjo? Forçado. Anjos existem mesmo? Olhou bem para o rosto, ao mesmo tempo delicado e forte, os cachos cobre pingavam e, mesmo no escuro daquele lugar sujo, ela irradiava uma luz dourada-clara. Era impressão sua? Se concentrou nos olhos, algo fluía dentro deles, girava, eles queimavam sua alma como brasas, vasculhavam seu coração e lhe diziam que tudo ficaria bem, que ele estava seguro e suas feridas cicatrizariam. Ok, digamos que acreditasse nisso, onde estavam as asas? Se sentiu uma criança tentando enxergar Papai Noel nas nuvens, no dia 25 de dezembro, sem árvore na sala e sem ceia na mesa.

— Está bem, Ariel. Vamos supor que isso que me disse é sério, e que você não seja uma doida, então o que faremos? — Apertou mais os joelhos de encontro ao peito pois persistia a sensação, agora da criança confabulando contra os pais.

— Não faremos nada. Você vai continuar aqui e eu vou sair, não precisa se envolver — disse, começando a se esgueirar para fora do palco.

— Mas é claro que não! — Seu tom se alterou e os dois congelaram. Agarrou o pulso feminino. — Você não vai a lugar nenhum sem mim.

— Ângelo... — Por que o humano insistia nisso? Talvez por sua mãe? Ou seria solidão, medo da morte? Não teria entendido o perigo que passava?

— Sem essa de 'Ângelo', não vou te deixar sozinha nessa — foi enfático e irredutível. — Agora, me diga o que precisamos fazer.

"Por quê?" Era tudo que passava pela cabeça de Ariel. Por que aquele humano fazia isso por ele? A humanidade era egoísta em sua essência. Antes que chegasse à uma conclusão, o palco voou de cima de suas cabeças e se quebrou contra a parede no fundo do galpão.

Ângelo encarou o vazio à sua frente, perdido. Ariel o viu estremecer e procurar os atacantes no ar, ele não podia ver os dois guerreiros à frente.

Arcanjo Ariel, viemos em nome do Príncipe. Você está preso e será condenado, entregue-se em paz. — Os dois disseram em uníssono.

— Sinto muito, irmãos, sei de sua missão, mas eu não irei. — disse e girou o corpo, na tentativa de agarrar a espada na bainha de um deles, mas foi afastada com um safanão que lhe arremessou nos escombros do palco, na outra quina da sala.

— Entregue-se, Arcanjo, ou o levaremos à força. — dito isso, eles marcharam em direção a ele.

Ângelo não pode enxergar com quem Ariel falava, mas a viu ser arremessada na parede oposta e ouviu a madeira se quebrando quando 'a coisa' se aproximou dela. Iam matá-la! Seu coração apertou no peito. Por quê? Mal a conhecia... mas a luz que irradiava dela, seus olhos e feições haviam ficado impressos em sua alma, e achava que nada disso tinha a ver com o fato dela ser um anjo ou uma louca. Se estava começando a amá-la, a estranha desacordada e maltrapilha que salvara, não a perderia, fosse para o que fosse.

Levantou-se do chão e correu na direção de Ariel, cobrindo-a com o corpo, a madeira parou de estalar no mesmo instante, 'a coisa' havia parado.

— Ariel, eu vou te tirar daqui, aguenta firme. — Ela ainda estava estirada no chão e o lado da cabeça sangrava. Agarrou-a com um dos braços, bem apertado e rezou novamente, se Deus era mesmo tudo aquilo que sua mãe falava dele, então devia ajudar agora, afinal ela era um anjo! Os filhos preferidos de Deus!

'A coisa' continuava sem se mexer, mas ainda estava ali, podia sentir. Foi quando ouviu rosnados encherem a sala, nem pensou no que seriam, traçou uma reta para o corredor oposto e correu. Suas costas doíam demais, devido a queda, e não conseguia velocidade o suficiente, antes que saísse do Mercado, algo o atingiu por trás, lançando-os para a praça. Ariel rolou para mais longe, tentou se erguer antes de outro ataque, mas as costas agora ardiam demais, havia uma imensa queimadura nela da qual vertia sangue. Ouviu o cascalho da rua estalar atrás de si e os rosnados aumentarem, olhou para a face inconsciente de Ariel, queria tanto protegê-la... A raiva cresceu dentro de si, por sua impotência, pelos desígnios de Deus, pela vida miserável que havia levado. Ergueu-se nos joelhos, com dificuldade e encarou o vazio repleto de rosnados, era uma noite escura e o céu estava pesado de nuvens. Rezar não estava funcionando.

— Saiam daqui! Quem quer que sejam! Não permitirei que a lev- — Em meio a seu discurso inflamado, seus olhos rolaram e apagou, sufocado com o enxofre.

~*~

Ariel acordou tossindo, sua cabeça e ombro doíam demais, sentia cheiro de fuligem e putrefação, ainda estavam no Mercado, não fora levado, mas também havia um odor fétido de enxofre.

— Arcanjo? — Uma voz ríspida e gutural a chamou.

Ariel abriu os olhos e ergueu o tronco, se viu rodeado de bestas, demônios e um caído. Sua mão voou até a espada perdida e a frustração voltou. Estava indefeso. Lembrou-se de Ângelo e girou a cabeça, procurando, o encontrou caído a alguns metros, estava ferido, mas vivo. Levantou-se, seu lado sangrava e o ar era irrespirável. Os corpos dos 2 anjos que os perseguiram, jaziam no chão, a distância, apagados de sua essência, mortos e desmembrados. Era bárbaro e nojento. O pesar e o alívio dividiam espaço em seu peito.

— Arcanjo, não ferimos o humano e não queremos batalhar, apenas conversar, pois essa é uma oportunidade que jamais acreditamos que teríamos, baixe a guarda.

O caído que lhe falava tinha um grande porte, enormes asas de couro negro cobertas de escamas e uma túnica azul royal, cruzada. Sua voz sibilava e sua aura era manchada de tons púrpura, os olhos eram preto piche, mas fora isso, era como um de seus irmãos. Uma espada em forma de serpente estava presa ao cinto e longos cabelos negros lhe cobriam o peito.

— Não desejo conversar, quero que libertem a mulher que gerou o humano e partam. — sua cabeça doía intensamente, o sangue coagulado colava em seus cabelos, olhou para o céu, tinha pressa.

— Vencemos seus algozes, ganhamos tempo para você e salvamos a vida do humano, merecemos sua boa vontade. Sobre a mulher, sua alma não está cativa. — Havia um suave sibiliar ao fim das palavras

— Vis! Como não! Eu presenciei sua ação! — disse, indignado. Não seria envolvido com as perfídias do demônio. — Sou o Arcanjo Ariel e não me enganarás, se apresente!

— Arcanjo, acalme-se. O que sabe está errado — ele gesticulava, demonstrando submissão — Nós fomos banidos porque, como você, fomos contra as regras da Cidade de Prata e Mikhail nos puniu. Apoiamos Samael com a esperança de mudar algo. Quando nos precipitaram no abismo, nos sentimos traídos, abandonados pelo Pai, rejeitados como seus filhos, descartáveis. Com o tempo, Lúcifer descobriu que, assim como os anjos, podíamos interagir com os humanos, mas os odiávamos, os filhos preferidos do Pai! Até que vimos que eles eram como nós. — Apontou o humano caído. — Veja seu companheiro, que sofreu toda a vida sem qualquer auxílio, acreditando no Pai e em sua misericórdia. Ele também o ignorou, Ele também os ignora, Arcanjo Ariel. Essa é a verdade. Eu vivo essa verdade há milhares de anos.

Ariel estava atônito.

— Quem é você demônio?

— Sou um dos 7 Principes do Inferno, já fui um irmão, sou Astaroh. — ele respondeu e sua voz transbordava poder e pesar.

Ariel o conhecia, o demônio da ira e das armas dos homens, era poderoso demais para se dar ao trabalho de ir ali apenas para conversar.

Um poderoso trovão ribombou no céu, raios cruzaram as nuvens, iluminando a cidade, eles estavam vindo.

— Mas e quanto a tudo que sabemos, nossos irmãos mortos pelas hordas, a mulher...

— Você precisa de respostas, mas não há tempo para todas elas. — apertou o cabo da espada, na cintura — Basta que saiba que não estamos em extremidades opostas, Ariel. Tudo o que fizemos foi atender ao desejo da mulher que há muito era ignorada pelo Pai. É o que fazemos, Arcanjo, auxiliamos aqueles que não mais esperam no Pai, que, como nós, aceitaram a verdade.

— Mas as hordas... — tudo era confuso, a mulher tinha fé verdadeira, ela acreditava, devia estar protegida de qualquer influência, mas fora deixada sozinha. Não deveria ouvir.

— As hordas são constituídas por aqueles que afundaram em seus pecados. As bestas são almas corrompidas, deformadas pela tristeza e agonia, pela incompreensão e solidão. Encheram-se de ódio por seu destino, alimentam-se dos vícios humanos e atacam quando são acuados, como animais. São violentos e quase irracionais, e elas crescem mais e mais, mas nós podemos controlá-las, Ariel, e com a sua ajuda podemos mudar isso! Podemos conseguir a atenção do Pai! Fazê-lo ver!

Aqueles seres imundos não eram animais, suas peles eram pútridas, pedaços de couro e pelo se soltavam, dependurados, bolhas purulentas cobriam o pescoço e de suas bocarras pingava saliva, seus olhos eram cruéis; o Arcanjo guardava o comando da Natureza, ela podia ser brutal, mas nunca pérfida. Correu os olhos do céu, partido pelos raios, para os demônios à sua frente, o caído lhe encarava e a ideia brilhou na mente de Ariel, a possibilidade, mas se aliaria àquelas coisas? e as baixas seriam muitas, tanto sangue derramado, ... deveria acreditar que o Pai não se importava a ponto de permitir tal massacre?

— Pense nisso, Arcanjo, pois em breve será uma de nós e há alguém que a espera ansioso. — A figura deu um sorriso triste e desapareceu junto das bestas.

Assim que a tropa se retirou, Ariel andou em direção a Ângelo, ele estava muito ferido e sangrara demais. Sentou-se ao seu lado e pôs a cabeça dele em seu colo. O cheiro que antecede a chuva permeava o ar.

                                                                              "When it gets cold

Quando ficar frio

                                                                         And it feels like the end

E parecer que é o fim

                                                                          There's no place to go

Que não há para onde ir

                                                                       You know I won't give in

Você sabe que eu não vou desistir

                                                                           No, I won't give in"

Não, eu não vou desistir

— Hei... acorde — disse, suavemente, e estendeu a mão sobre o rosto pálido, emanando uma fraca luz dourada. Seus poderes não estavam restabelecidos.

Ângelo ouviu seu nome ser chamado e, na escuridão que lhe engolfava, um ponto de luz lhe atraiu. Abriu os olhos, lentamente.

— Olá — sorriu e sussurrou, a cabeça doía, mas sentia um gostoso bem estar. — A coisa foi embora?

— Ainda não, mas temos um tempo. — Não, não tinham, nem um plano. Sorriu também, pela primeira vez desde que tudo começara. Aquele simples humano a havia salvado mais vezes que pudera contar.

— Que bom... — Suspirou e subiu a mão para acariciar o rosto da mulher. — Eu sei que 'to um trapo e devo parecer patético, mas você é tão linda... é a coisa mais perfeita que já vi.

O sorriso de Ariel foi triste.

— Os anjos são a perfeição divina. — permitiu o carinho. A mão de Ângelo era áspera do trabalho, mas gentil e sua aura multifacetada tinha muitos pontos negros, contudo, agora, as cores vivas brilhavam radiantes.

— Não, não só desse jeito. Você parece mesmo uma daquelas pinturas de museu, mas... — respirou fundo, a dor arrefecera um pouco — sua determinação e coragem, a inocência na sua voz, e essa sua luz... tudo em você a faz perfeita. — Enrolou os dedos nos cachos cobre, sentido a maciez, queria fazer aquilo desde que a encontrara. — E eu sou só um cara, um dos mais idiotas... — riu, engasgado. — porque acredito que me apaixonei por uma doida.

Ariel não soube o que falar. A vida toda tinha ouvido declarações de amor de seus irmãos pelos humanos e agora um deles se declarava a si. Seu peito esquentou, assim como suas bochechas e as pontas dos dedos, uma sensação gostosa e reconfortante se espalhou por seu corpo, nunca havia sentido aquilo. O sorriso foi involuntário.

— Você não é 'só' um cara, é humano... toda a vida eu o invejei por sua condição, e isso é muito tempo. — Acariciou sua testa com a mão livre, vendo o sorriso masculino aumentar. — Mas também o odiei por seu livre arbítrio e pelas escolhas que faziam... eu sinto muito tê-lo colocado no meio disso.

Ariel ouviu uma trombeta soar, a hora havia chegado, não iria mais fugir.

— Você ficará aqui, eu já volto. — Levantou-se e o recostou junto ao chafariz da praça.

— Mas, Ariel... — Tentou reclamar e segurar seu braço, mas os seus estavam levemente dormentes, não conseguiu.

— Shiiu, está tudo bem, eu ficarei bem e virei te ajudar — disse, segurando sua mão. — É o que fazemos, é minha missão, proteger você. — Sorriu uma última vez, entendendo, finalmente, as palavras de Rahatiel e Lamechial.

— Sei disso — sorriu. — Tenho mesmo fé em você.

Ariel sabia que venceria, Mikhail ou o Diabo, ele venceria. Deixou Ângelo e andou até o fim da praça para encontrar aqueles que viriam buscá-lo, quando um forte clarão a cegou. Algo agarrou sua mão e puxou.

3801 palavras

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