Pai nosso que estas no Céu
Era mais uma manhã agitada e frustrante na Cidade de Prata. Pelos grandes portões entravam grupos depauperados, feridos e sangrando, apoiados uns nos outros. Suas vestes, antes imaculadas, estavam rasgadas, suas espadas partidas. Pareciam despidos de toda graça e divindade. E para quê isso? Toda noite, seus irmãos partiam para a esfera mortal, digladiavam-se com as hostes demoníacas a fim de proteger as poucas almas que ainda mereciam, porém, com o passar dos séculos, diminuíam aqueles de fé verdadeira e aumentava o número de bestas. Humanos! Bando de criaturas egoístas e mimadas. Viviam suas vidas como se nada importasse, nada além de seu próprio sucesso e conquistas, e o Grande Pai ainda os apoiava com tanto amor.
— Isso é um total absurdo — murmurou encostada na pilastra central do Primeiro Templo.
— O que é absurdo, Ariel? — Uma voz suave interrompeu o monólogo do anjo.
Ariel nunca era escalado(a) para a defesa dos homens, o que encarava como sorte, afinal, muitos que iam não voltavam. Então rompia as manhãs ali, à frente dos portões principais, esperando os grupos que chegariam, torcendo para que chegassem, contando as baixas com o coração apertado e percebendo que, com seu crescimento progressivo, um dia ninguém retornaria.
— Olá, Lamechial, é cedo para estar aqui. — Cumprimentou com a cabeça, sem desviar os olhos das tropas que não paravam de chegar.
— Não acho. — O grande anjo dividiu o espaço na pilastra de mármore, encostando-se ao lado de Ariel. — Se sou necessário(a) agora, como pode estar cedo para minha chegada? — Sorriu e seu sorriso quase aqueceu o peito do(a) outro(a).
— Realmente, amigo, nesse caso temo em dizer que chegou tarde. — A última dupla havia entrado e os portões foram fechados. 35 anjos haviam retornado, mas 70 haviam ido. Ariel baixou a cabeça e deixou seus cabelos acobreados lhe tamparem as faces, duas lágrimas cintilantes escorreram.
Lamechial conhecia Ariel há milhares de séculos, era impetuoso(a) e tempestivo(a), animava-se com a mesma velocidade que se frustrava. O cerne do(a) amigo(a) era sua compaixão, seu amor, mas não pela humanidade. Tinha na fraternidade a sua base. Ariel nunca tivera muito contato com os mortais e isso não fora deixado na mão do acaso, o Grande Pai tinha um plano para cada criatura e, por algum motivo, esse era o de Ariel.
Esticou a mão e acarinhou os cachos.
— Também não, meu amigo(a). Não fique assim. Sabe que nossos irmãos têm suas missões para cumprir e o fazem com felicidade, não deve lamentar por eles.
— Não consigo mais engolir isso, Lame, não dá. — Levantou a cabeça e voltou a encarar os portões. — Por que o Grande Pai trancou os portões? Por que deixa nossos irmãos morrerem feito vermes pelas hordas negras? Se Ele os ama tanto, tanto a mais que nós, por que não interfere se vê que não podemos mais? — Sua voz se elevou e notou a mão que lhe consolava se deter. — Por que Ele se esconde, Lame? — Virou o rosto e encarou fundo os olhos azuis-marinhos, olhos que encerravam mais frieza do que aparentavam.
Lamechial respirou fundo, Ariel estava piorando. Lentamente a dúvida crescia nele, podia ver a revolta e descrença girando em seu espírito. Isso não terminaria bem. Baixou a mão dos cabelos cheios e a pousou no ombro do anjo.
— Está enganad(a), Ariel. Não nascemos para compreender o Criador, estamos aqui para nos certificar de que Seus desígnios aconteçam e que Seus filhos estejam seguros.
— Não vê o que está dizendo, Lame?! E o que acha que somos? — Indignada(o), consertou o corpo e desencostou da pilastra, saindo do alcance do(a) amigo(a). Antes que ele pudesse responder, continuou. — E não me venha com aquela ladainha de que 'somos soldados'. NÃO SOMOS! — seu grito reverberou, chamando atenção dos que passavam.
O olhar de incompreensão e pena que recebeu de Lamechial foi o suficiente para querer sacudir o(a) anjo, mas eram amigos, então somente lhe virou as costas e marchou para longe dali. Ouviu seu nome ser chamado algumas vezes, mas não parou. Passou pela Praça da Libertação e viu Mikhail combinando os detalhes para próxima noite, para o próximo massacre. Trancou os dentes e correu.
Não compareceu à reunião da tarde.
~*~
Quando o portão foi aberto, na hora de Maria, estava lá, novamente, testemunhando a partida de guerreiros valorosos, seus irmãos, que iam se sacrificar por uma causa, se não perdida, sem valor.
— Hei, Ariel! — Cumprimentou o(a) amigo(a) e se postou à sua frente. — Que está fazendo encolhido(a) aqui? Desse jeito acabo saindo sem me despedir. — Deu seu melhor 'sorrisão' e apoiou a mão no quadril, adorava aquele ali.
Uma tapa nas costas havia tirado toda a concentração de Ariel e seu equilíbrio. Descobriu qual animal descontrolado tinha trombado consigo antes mesmo de ver. Aquela voz animada e jovial era inconfundível.
— Nossa, Rahatiel, desse jeito vai me arrancar os pulmões. — Sorriu junto, rodando os ombros para endireitar os ossos.
— Ah, o que é isso. Até parece que você é algum fragilzinho(a), Ariel. — Riu e o(a) abraçou. Não via um sorriso de verdade naquela boca havia tempo. Ele era mesmo demais. — Por que não foi à reunião hoje? Mikhail percebeu, viu? — Seu tom foi zombeteiro. O 'chefe' era esquentado, não gostava de insubordinações e Ariel sempre se metia em algumas boas, não que ele próprio ficasse atrás.
— Deixe que perceba. — Deu de ombros. — Estou mesmo precisando ter uma conversa com ele. — Olhou novamente a tropa que partia e seu peito deu um nó, sacudiu a cabeça e desviou o olhar. — Escute, o que acha de irmos ao Monte da Visão? Tem tempo que não 'ajudamos' os Tronos com suas músicas. — Gargalhou.
Rahatiel acompanhou a risada, realmente a última vez que foram, havia sido antes da páscoa e era quase natal já. Mas teria que ficar para uma próxima e Ariel pôde ler o que estava escrito em sua testa.
— Você não vai. — Agarrou o pulso do(a) anjo e foi categórico(a). Quando percebeu a negação em sua expressão, foi que se deu conta de suas vestes. Trajava a armadura dourada, a espada no flanco esquerdo e a corneta no direito. Rahatiel inteiro brilhava e seu estômago afundou, todo o pesar que vinha sentindo se transformou em desespero.
— Sabe que vou. — Sorriu perante a palidez de Ariel. Ele(a) abriu a boca, mas não se chamava Rahatiel à toa. — E não é somente porque tenho de ir, conheço seu discurso, ok? — Riu, novamente, quando os ombros do(a) amigo(a) arriaram e ele(a) fechou a boca. — Vou porque quero, Ariel, porque amo o que faço. Eu os amo, Ariel — disse e esperou o ataque que viria.
— Não pode estar falando sério!! Você os ama, por quê? Pelo o quê? Não há nada neles para se amar! Eles são covardes, fracos, mesquinhos, baixos, mentirosos, só espalham dor e sofrimento!! — Algo queimou em seu interior, não aguentava mais ouvir declarações de amor àquelas criaturas miseráveis, não perderia o amigo por causa delas. Não soltara de seu pulso em nenhum momento.
— Uau, hein?! — gargalhou. — Pode dizer que você decorou isso. — A cara amarrada que ele(a) lhe deu, junto das pequenas lágrimas no canto de seus olhos, o fizeram suspirar. — Ariel, nada vai acontecer comigo. Tenha um pouco mais de fé. — Virou-se para ele(a) e segurou a mão gelada que agarrava seu pulso.
— Fé? Rahatiel, eu... — gaguejou. Não sabia se ainda podia lançar mão de sua fé, ela não era mais inabalável.
— Shiiu! — Livrou seu pulso e abarcou o rosto delicado com ambas as mãos. — Eu sei de seus pensamentos, mas tenha fé em mim, ao menos. Eu não estou lutando por uma causa perdida, Ariel. Quando os conhecer vai entender porque lutamos, porque os amamos. — Encostou sua testa na dele(a) e procurou no fundo dos olhos verdes algum reconhecimento, algum sinal de que o que dissera entrara naquela cabeça dura. Não encontrou.
Ariel engoliu o bolo em sua garganta.
— Não vou, Rahatiel, mas tem razão em uma coisa: Eu tenho fé em você e vou levar em conta suas palavras se chegar o momento que espero. — Seu sorriso de despedida foi triste. — Vá, estão lhe esperando para fechar os portões.
Rahatiel o(a) largou e se endireitou.
— Vai estar aqui para me receber, não vai? — disse animado(a).
— É claro que sim, não demore mais do que o necessário.
— Eu nunca demoro, Ariel, minha querida. Eu sou 'aquele que corre', não esqueça. — Piscou feliz e para enfatizar, correu até o portão. — Á Deus!!! — gritou de lá, antes que trancassem.
— Á Deus...
Assim que o estrondo do fechamento cessou, Ariel ergueu os olhos para a Morada de Elohim, a torre se erguia infinita no Primeiro céu. "Á Deus"... rezaria para que o amigo retornasse junto com seus irmãos, rezaria mais uma vez, talvez a última vez.
~*~
Quando a aurora chegou, Ariel ainda aguardava em seu posto, guardava no peito seu último sorriso e as últimas lágrimas, o Grande Pai escolheria qual deles iria usar.
O portão abriu e Mikhail veio, como de costume, receber os guerreiros. Ariel esperou e contou, quando o último passou pelo portal e este foi fechado, ela baixou a cabeça. O Grande Pai escolhera, dos 50 combatentes, 28 haviam voltado e Rahatiel não estava entre eles.
O Arcanjo Ariel ofereceu suas últimas lágrimas ao amigo-irmão(a) que caíra em batalha, às suas crenças, à fé que ele nutria e que um dia ela tivera, a todo o futuro que podia ter sido e a todos aqueles que ainda iriam morrer. Quando acabou, seu rosto estava seco, sua alma estava pronta, chamas queimavam em seus olhos e nada mais poderia mudar a decisão que tomara. Deu as costas ao grupo ferido e marchou para o seio da cidade.
~*~
Durante semanas, ele(a) buscou quem compartilhasse de suas ideias e foi com espanto que descobriu muitos partidários(a) dentre as Virtudes e Potestades, na verdade, com exceção dos Anjos, havia 'rebeldes' em toda a hierarquia. Não foi difícil juntar um número significativo, um exército. E no final do ciclo lunar já estava pronta para enfrentar Mikhail, tinha um plano, tinha um objetivo.
Era noite e o portão acabara de ser aberto para que as tropas passassem, mas a rotina estava para ser quebrada. Mikhail estava de pé na praça principal à frente da "A Glória de Deus", um enorme monumento representando a chegada dos hebreus à terra prometida, sua salvação, enquanto anjos lutavam, e morriam, contra as hostes demoníacas a fim de que conseguissem. Essa era a primeira e última visão que seus irmãos(a) tinham da Cidade de Prata antes de irem se matar. Um maldito ciclo que iria terminar.
Ariel andou até Mikhail e se postou ao seu lado, trajava sua armadura completa.
— Príncipe Mikhail. — Reverenciou suavemente.
— Ariel! Que surpresa vê-lo(a) aqui, já que há tempos está esquivo(a). — O arcanjo avaliou a figura à sua frente. — Por que está vestido(a) assim?
Ariel se ergueu e se afastou dois passos.
— Porque vou à guerra.
— Não foi escalado(a) Ariel, volte para seus afazeres. — Foi condescendente. Sabia da perda recente dele(a).
— Não.
Mikhail estreitou os olhos, ele(a) o(a) estava desafiando?
— IRMÃOS! PAREM! — bradou e a tropa que atravessava o portão estacou.
— O que você está fazendo? — Mikhail rosnou. Não estava gostando daquele show.
— O que eu deveria ter feito há muito tempo. — Encarou os olhos vermelhos de Mikhail e sua mão apoiou no cabo da espada. Virou-se para os anjos que se aglomeravam em torno da praça.
— Diga-me Mikhail, por que fazemos isso?! Por que nos lançamos às garras de nossos inimigos, dia após dia, por essas criaturas tão mesquinhas?! Explique-me o motivo de erigirmos monumentos que mostram nossos irmãos morrendo de forma tão cruel e inútil! — Sua voz saiu alta e clara. Toda a dor e desespero se transformaram em raiva e fogo, e agora ele iria alastrar.
— Pare com isso, Ariel! Que direitos acha que tem para questioná-Lo?! Fomos criados com este fim, você em especial, Arcanjo! Coloque-se em seu lugar! — Mikhail bradou em resposta.
— Não vou parar! — rosnou a última sílaba e se virou para ele. — NÃO VOU PARAR!! Não somos carne para sermos dispostos desta forma! A humanidade é podre! Que direitos acho que tenho? TODOS! — Abriu o braço livre e girou, olhando em cada rosto. — Nossos irmãos(a) estão caindo, Mikhail, e nosso Pai nada faz!! Pois não somos seus filhos, também? E Ele nos sacrifica em troca de uma humanidade doente e corrupta!!
Um burburinho começou a correr a multidão, muitos lhe acusavam, mas alguns começaram a se questionar.
— Ariel, nosso Pai nos ama! Pare com isso! Você será punido(a) por insubordinação, mas pode ser perdoado(a). — Mikhail deu um passo à frente.
— Perdoado(a)? — A raiva borbulhou em seu interior. — Eu NÃO QUERO SER PERDOADO(A)! Nada fiz de errado, Mikhail! Não sou Lúcifer! Não quero o posto do Pai! Não quero ser como Ele! Quero que Ele veja que seus amados filhos merecem menos de seu amor que os insetos que rastejam na esfera mortal! É Ele quem deve ser perdoado, Mikhail!! — Um clamor se ergueu na praça. —
— ARIEL!! — Gritou, Lamechial, da multidão.
Mikhail trancou os dentes, ele(a) passara dos limites.
— O Pai nos deu a vida, mas não nos deu escolha! Ainda assim, O servimos e O amamos sobre todas as coisas, e até hoje nada nos foi oferecido a não ser dor e sacrifício!! E os humanos, Mikhail?! Você passa sua eternidade pensando em como protegê-los do mal que eles perseguem!! Envia-nos para batalhas que a humanidade não quer vencer!! A humanidade teve escolha e ela NÃO ESCOLHEU A DEUS!!!!
— JÁ CHEGA!! — Já tinha ouvido demais, tais blasfêmias não seriam ditas na Cidade em sua presença. A mão de Mikhail voou até a espada e ela foi sacada, seu resplendor azul cegou os mais próximos. — Arcanjo Ariel, você será preso(a) e condenado(a) por traição à Deus!
— Não estou traindo o Pai, Mikhail, estou traindo o plano que ele tinha para mim, para todos nós! Estou traindo a humanidade! Sua fé lhe cega, mas a minha não mais o faz! — Ariel sacou sua espada e ela acendeu-se em fogo, o tilintar de centenas de espadas se fez ouvir em conjunto com a sua. — Nos recusamos a continuar o sacrifício pela humanidade quando ela não o merece, nem o quer; nos recusamos a continuar aceitando ordens de um Pai ausente! Eu me recuso a obedecer, Mikhail. — Completou seu discurso apontando a espada para a imponente figura do General das hordas angélicas, a Espada de Deus, seu príncipe.
O Arcanjo olhou em volta, vários anjos haviam aderido à revolta. Aquilo não podia estar acontecendo novamente. Mikhail ergueu sua espada, imediatamente milhares de outras foram sacadas e na multidão os grupos se separaram.
— Você ergueu um exército contra Deus e, como você, eles serão punidos. Agradeço ao Pai por Rahatiel não estar aqui e presenciar isso. — A voz de Mikhail foi cortante e fria.
— Não há motivo para sua gratidão, Mikhail, Rahatiel morreu acreditando em um Pai que nunca veio! — Um vento gelado jogou seus cabelos para trás e fez seus olhos arderem, mas não havia mais pranto, somente a dor em seu espírito.
A tensão crescia entre os anjos e muitos ainda não haviam decidido a que lado se juntar. A espada de Mikhail irradiava ondas de um azul puro e glorioso.
— Você não tem fé, Ariel, sua espada é fraca! Vai lamentar por seus atos! — disse Mikhail, antes de abrir seus pares de asas e se impulsionar na direção da rebelde, sendo seguido por outros.
— Eu já lamento por cada irmão(a) que tombará aqui! E eu tenho fé Mikhail, não em você, não mais no Pai, mas em MIM!!!! — Ariel gritou e se jogou na direção do(a) Arcanjo, chocando as espadas num retinir que perpassou toda a Cidade de Prata e ele(a) torcia para que tivesse alcançado a Torre e atrapalhado o sono de Deus, ainda que só um pouco.
~*~
Quando a batalha começou, Lamechial correu e se escondeu. Não sabia o que fazer. Viu o estado de Ariel se deteriorar, mas não imaginava que ele(a) realmente fosse começar uma guerra. Não lutaria contra ele(a), contudo não podia apoiá-lo(a). Nessas horas, também se perguntava onde estava o Pai.
Havia entrado em uma casa e se trancado, pensou em dar tempo para que tudo acabasse, o pequeno exército de Ariel não duraria muito nas mãos do Grande Mikhail. Não conseguiu fechar os olhos em um único momento, pois a imagem de Ariel morto(a) vinha lhe assombrar.
Horas depois o clamor ainda não havia passado. Com cuidado, abriu a porta e saiu. O cenário era aterrador: A praça principal e os arredores estavam destruídos, o céu trovejava e raios atingiam as construções, abrindo enormes rombos, no ar anjos cruzavam armas, corpos enfeitavam o chão e as pedras do calçamento, antes brancas, estavam pintadas de vermelho. Lamechial chorou.
— Senhor, é essa sua vontade? São esses os desígnios que eu, como Virtude, devo fazer cumprir?
Andou sem rumo pelo campo de batalha no qual a Cidade havia se transmutado, mais anjos se juntavam à revolta, mais sangue era derramado. Parado, onde Mikhail antes estivera, viu a aurora começar a romper. Hoje nenhum irmão(a) voltaria pelos portões. Hoje os humanos tinham ficado desguarnecidos. Olhou para cima, para os anjos batalhando, e temeu pela humanidade. Até quando ela ficaria sozinha? Quanto tempo resistiria? Uma forte explosão lhe chamou a atenção e olhou a tempo de ver um raio atingir o ombro de Ariel, em meio à luta com Mikhail, e arremessá-lo(a) contra os portões. Seu grito de dor ecoou na alma de Lamechial e, com desespero, o viu despencar na neblina atrás dos portões e desaparecer.
Correu até o limiar da passagem que separava a Cidade de Prata dos outros círculos, não havia pista de Ariel além da fúnebre mancha de sangue que escorria e maculava o portão de prata, pingando na neblina. Um grito de alerta lhe fez tomar a decisão. Alguém viria fechar os portões, em algum momento, e poderia acabar preso(a) no mundo mortal, mas já havia falhado uma vez, não o faria de novo. Era Lamechial, 'Aquele(a) que desfaz os enganos', e desfaria aquele, nem que fosse a última coisa que fizesse. Ariel estava enganado(a). Antes que o dono do grito lhe alcançasse, ele(a) saltou no nada.
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