Vinte e sete
Entramos no carro, dessa vez Dixan dirige. Samara faz questão de ir no banco passageiro comigo.
- Você não pode me seguir de novo -- peço a ela baixinho, de um modo que Dixan não nos escute - Vamos invadir o palácio amanhã -- comento e ela levanta a sobrancelha me fazendo lembrar Christopher.
Expulso o pensamento o mais rápido possível. Os olhos verdes de Nathew aparecem e tento conter as lágrimas. Para minha felicidade consigo.
- O quê? -- pergunta.
- Ninguém vai se ferir, vamos apenas fazer com que o rei renuncie o assustando. -- minto. - Quero que dê passagem a eles pelo túnel subterrâneo -- peço - Não pode contar a ninguém, sobre nada -- falo e ela concorda.
- Pela minha Pedra! -- Samara exclama me fazendo ri mesmo com a dor.
- Sério? -- pergunto.
- Tá bom, pela nossa amizade -- ela fala.
- Melhor -- digo.
Paramos em frente ao meu Palacete, como antes, mamãe está nos esperando atrás dos portões. Quando saio do carro corro para seus braços, afundo o rosto em seu pescoço perfumado. Quero ficar aqui mesmo e chorar por Nathew.
- Vamos querida -- ela fala me levando para o jardim.
O meu jardim, com rosas vermelhas e cheiro de grama fresca. Samara espera dentro do carro enquanto eu e mamãe passamos pela porta escondida nos muros do Palacete. Passamos pelas mesmas ruas, o mesmo caminho até chegar a casa abandonada.
- Eu vi a sua entrevista -- ela fala em frente a porta me dando um leve beliscão no braço.
- Me controlei o máximo mamãe -- falo passando a mão pela pele beliscada - Isso doeu -- digo enquanto ela bate na porta.
- Soube de Nathew querida -- ela comenta - Eu sinto muito -- fala acariciando meu braço.
Abro para ela um sorriso mínimo.
- Eu sei -- falo - Tenho que ser mais forte que isso -- comento.
- É nescessário que seja -- ela fala e eu concordo.
O mesmo homem abre um trechinho da porta e nos espiona com os olhos.
- A senha? -- ele pergunta com sua voz grave que ainda faz eu me tremer todinha.
- Estrelinha. -- mamãe fala sem se abalar, pelo ao contrário. Mamãe sempre aparenta superioridade.
O homem abre com um sorriso forçado, mas discreto. Entramos e somos conduzidas por ele para o porão. É uma espécie de sala de reuniões.
- Onde fica a Cidade Sul? -- pergunto num sussurro a mamãe.
Ela e o homem ri severamente.
- Oh minha cara -- ela fala me empurrando devagar.
Saori está em pé, com toda a mesa cheia de novo. Vejo Melinda, não esperava vê-la, não nessa ocasião. Sento-me ao seu lado junto com mamãe.
- Ele está morto. -- Melinda diz com uma voz tristonha graças ao luto.
- Eu sei. -- falo pegando a mão dela.
Ela me encara com os olhos cheio de lágrimas.
- Nem deu tempo de salvá-lo. -- ela fala me lembrando do triste plano.
E agora por minha culpa ele está morto. Culpa de Christopher principalmente. Se eu tinha um coração ele morreu na guerra, ao lado de Nathew.
- Não deu tempo para muita coisa -- falo.
Saori chama a atenção de todos com uma pequena colher.
- O ataque ao palácio é amanhã. -- ela fala - Será rápido e mortal -- diz.
- Entraram pela parte de trás do palácio, uma guarda de minha confiança irá abrir a passagem subterrânea. -- falo ainda segurando a mão de Melinda.
Saori me encara com curiosidade.
- E como podemos confiar nessa guarda?.
- Um garota renegada pela própria Pedra, que trabalha para o palácio por pena. -- zombo. - Ela acha que vamos fazer o rei renunciar -- conto.
- Você contou? -- Saori pergunta e todos me encaram.
- Ela descobriu -- falo. - Não tudo pelo visto -- termino. - Uma ajuda a mais não faz diferença -- falo e Saori recua.
- Muitos morreram no primeiro ataque -- ela fala. - Milhares de Poeiras mortos, nenhum deles queriam ir para guerra -- ela fala - Não iremos deixar que isso aconteça mais, precisamos de uma pessoa que nos represente -- diz - E espero que seja você Rose.
*
Passo a manhã do outro dia na cama, chorando por Nathew. Voltei para o palácio antes do amanhecer novamente, não fui ver Christopher, mesmo ele exigindo. Tobias bate na porta o tempo todo, cartas e bilhetes vem e vão com minhas criadas. Todas elas do príncipe, jogo-as no chão.
- Rose... -- Tobias chama do outro lado da porta - O príncipe deseja a sua presença no café da manhã -- ele fala.
Me remexo entre os meus cobertores e chamo Diana com as mãos. Ela se aproxima rapidamente ficando ao meu lado.
- Por favor peça ao seu namorado para me deixar em paz -- falo.
- O príncipe que a sua presença Rose -- ela fala - Se ele mandou até carta pode ser importante -- diz.
Solto uma gargalhada fria.
- Ele só quer se desculpar como sempre -- falo ainda rindo.
Tobias ainda bate a porta.
- Diana, deixe-me entrar -- ele pede - Sou o melhor amigo dela -- ele fala.
A encaro com toda força que ainda me resta.
- Nem pense -- falo e ela concorda.
Cássia e Madalena fazem a costura do meu vestido para o baile de máscaras.
- A senhora precisa se animar para o baile -- Madalena fala com o vestido vermelho no colo.
- Quer que eu traga algo para comer? -- Cássia pergunta levantando seu nariz rebitado.
Levanto da cama sem vontade.
- Preciso sair deste quarto -- falo e Diana vai pegar a minha toalha para o banho - Avise a Tobias para me encontrar no corredor -- digo a ela.
A água está fria, talvez seja porque ficou aguardando a minha boa vontade de entrar na banheira. Diana só trouxe os sais e minha toalha novamente. Pedi para todas elas saírem, precisava da companhia da solidão.
Observo ainda dentro da banheira o meu vestido, como eu pedi ele tem um tecido de cor vermelha quase preto. Estou de luto, Nathew merece toda a minha dor.
Quando saio do banho, visto um de cor parecida, só que curto quase acima do joelho. Pano grosso e mangas compridas ombro a ombro, deixando minha clavícula e minhas costas nuas graças ao decote. Ele tem um lindo cinto envolta da cintura, coloco um broche no cabelo para combinar. O rabo de cavalo nunca me desanima.
Saio do meu quarto e encontro Tobias.
- Nossa, nunca te vi de maquiagem preta -- ele comenta - Ficou linda -- fala.
Tinha passado uma sombra preta com delineado comprido. Meu batom do mesmo tom do vestido, eu mesma que me maquiei.
- Obrigada -- digo.
Vamos até o corredor, está um dia quente e me arrependo de ter vestido uma roupa de manga.
- Soube que o príncipe de Outrora está no palácio -- ele fala.
- Para o baile de máscaras? -- pergunto virando para a sala de jantar.
Já está na hora do almoço.
- Provavelmente -- ele fala se retirando.
Entro na sala, todos estão presentes inclusive o príncipe Ônix. O rei está em uma ponta com Christopher em sua direita e a rainha em sua esquerda. Gregório está ao lado de Christopher, Dominique ao lado da rainha Andara. Sento me com elas, enquanto o rei tagarela algo.
- Perdoe-me o atraso majestades -- falo.
Christopher me encara preocupado, não consigo olhar para ele. Não depois do que fez, mandou Nathew para linha de frente, ele queria matá-lo e conseguiu.
- Não se preocupe com isso -- ele fala.
- É falta de educação nos deixar esperando, ainda mais com a visita honorável de príncipe Ônix -- Andar diz me olhando com fúria.
Abaixo a cabeça como reverência e Gregório faz o mesmo. Sua aparência séria me deixa tensa.
- Estou acostumado a esperar as pessoas no almoço -- ele fala e o rei ri.
Acho que era para ser engraçado.
- Tão engraçado quanto seu pai -- o rei Christian fala - Uma pena que ele não veio nos prestigiar com sua presença -- termina.
- Meu pai tem assuntos urgentes para resolver em Outrora -- explica - A guerra contra Petrália tem deixado muitas Pedras apreensiva -- fala.
Dominique sorri para ele, lembro-me muito bem do acordo. Ela quer o príncipe Ônix em troca de seu silêncio.
- Soube sobre Outrora, Dominique me atualizou das notícias reais -- minto e ele a encara.
- Sempre gostei muito de política, seu reino me interessa bastante, o modo que é governado a anos por sua Pedra é impressionante -- ela fala e ele sorri.
- Fico feliz em saber que Outrora é muito bem dita -- Gregório diz.
Christopher não tira os olhos de mim, seus lábios se movimentam tentando me dizer algo. Não consigo entender e não me importo.
- Espero que não saia de repente do baile hoje -- Gregório fala e Christopher sorri.
- Não, dessa vez vou fazer questão de aproveitar cada momento -- ele fala.
Hoje irá acontecer o ataque da Cidade Sul, espero encontrar Samara para garantir que o plano dê certo. Saori tem que ser rápida, matar o rei não deve ser nada fácil, mas terá que ser.
Infelizmente terei que garantir que Christopher me escolha, tenho que fingir ainda está bem com ele, mesmo depois de ter feito o que fez. Talvez uma coroa me faça esquecer o tipo de homem que ele é, senão fizer o título de rainha em si já ajuda um pouco. Nathew gostaria que eu fosse feliz, então serei. Quem não é feliz com uma coroa?.
- Todos nós vamos aproveitar, será uma baile incrível assim como o de talentos -- falo forçando um sorriso.
Christopher me ler por inteira, não sei se causei a impressão certa a ele, mas terá que ser.
*
A noite chegou, para minha felicidade encontrei Samara e o combinado ainda está de pé. Me arrumo com ajuda de minhas criadas. Meu vestido vermelho escuro é cravejado de pedras preciosas, até o meio das coxas, com uma alça no ombro esquerdo. Abaixo da coxa vem uma uma penagem de vermelho mais claro, minha máscara segue o mesmo estilo, toda em brilho e penas decorativas.
O vestido é deslumbrante e pesado, as penas ajudam um pouco na movimentação, quebrando o peso das pedras. Meu cabelo é feito em um coque quase solto e decorado com rubis do meu Palacete, minhas criadas teve toda a atenção no mínimo dos detalhes.
O anel de noivado cintila em meus dedos, me fazendo lembrar do assassino que teria como marido. Um assassino com uma coroa.
Diana não está, dispensei ela para se arrumar. Não queria levá-la sabendo que terá um ataque, mas as noivas reais precisam de uma dama de companhia.
Quando saio do quarto e adentro os corredores do palácio de Cristal, a encontro ao lado de Tobias. Me aproximo deles, Tobias está com o uniforme novo, cinza e uma máscara branca qualquer, provavelmente o rei deve ter dado a todos os guardas.
Dominique veste um vestido simples e elegante, seu vermelho é quase um rosa. Nada de brilho, apenas o broche com o símbolo da Pedra da minha família.
- Está linda -- Tobias me elogia como sempre.
- Diga isso a Diana, nunca vi a tão bonita -- falo e ela sorri.
Tobias concorda dando um beijo em sua bochecha.
- Vamos? -- ele pergunta.
Respiro fundo.
- Vamos -- falo andando em frente.
Tobias e Diana me seguem logo atrás, não demoramos nem um pouco para chegar ao salão que vai ocorrer o baile de máscaras. Estão todos lá, vejo a Pedra de Nathew logo, sinto uma dor profunda no peito. Procuro por Melinda, ela deve estar aqui, ninguém pode suspeitar de nada.
- Tobias -- chamo ainda na porta do salão.
Ele se aproxima, faço um gesto para que Diana nos deixe a sós.
- O que foi Rose? -- ele pergunta.
- Não quero que fique no salão -- digo.
E ele me entreolha.
- Por quê? -- pergunta.
Porque eu vou fazer um ataque mortal aqui e não quero que corra risco de morte. Não posso dizer isso mesmo querendo.
- Preciso inspecione a cozinha -- digo e ele me encara curioso - Observe se ninguém vai colocar algo na bebida ou na comida -- falo.
- Por quê Rose? -- Tobias sussurra.
- Não confio em Dominique, ela está sendo muito gentil comigo esses dias -- falo.
- Se ela quisesse te envenenar ela faria aqui mesmo e não na cozinha -- ele fala.
Ah Tobias é muito esperto.
- Faça o que mandei Tobias -- falo um pouco alto demais e ele se afasta.
- Desculpe, eu já vou -- ele fala levantando as mãos.
- Vai logo -- falo rindo.
Tobias sai do salão. Não iria arriscar a vida dele. Não me preocupo com mamãe e papai, não com mamãe na aliança com a Cidade Sul. A Pedra Esmeralda também estará segura graças a Melinda. Encontro mamãe e papai logo de cara, a cor inconfundível me guia.
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