Trinta e oito
Ando pelos corredores a procura de Tobias. Nada do meu amigo, ele deve está em seus aposentos junto com os outros guardas do palácio.
Mudo meu rumo, quando menos percebo estou no andar real. Encaro a porta de Christopher, os guardas não vigiam a uma hora dessas. Cristália sempre foi muito tranquila para ataques noturnos.
Bato a porta, não escuto passos e acabo batendo novamente. Será que ele já está dormindo? Como consegue dormir depois do que aconteceu no jardim?.
- Saia daqui! -- Christopher grita quando me ver atrás de porta.
Ele veste uma camiseta folgada que dá uma boa visão para o seu tronco.
- Você precisa sair daqui.
Ele me ignora.
- Primeiro você beija outro homem, me acusa de assassinar ele, participa de uma rebelião, mata o meu pai, esconde suas origens, rouba a minha coroa... -- ele não termina, esfrega o rosto com as mãos.
- E agora estou tentando te salvar Christopher, muitas pessoas morreram e eu estava envolvida nisso, mas... -- falo dando uma pausa para puxar todo ar que preciso - Melinda pretende nos denunciar amanhã, a Cidade Sul vai atacar antes que ela chegue aqui, eles querem matar você -- digo - Querem me colocar no trono para que eu consiga o território de Andiz e represente todos os Poeiras -- falo ainda com o meu coração batendo que nem um louco.
Christopher me encara com fúria, preciso alcançar novamente o seu coração. Desta vez não se trata de uma coroa, se trata da vida do homem que amo.
- Vamos fugir pela passagem secreta, preciso que desative o alarme -- digo - Lá fora uns amigos meus vão nos dar carona até um local longe daqui.
Estou praticamente implorando.
- Como posso acreditar em você Rose? -- ele pergunta balançando a cabeça.
- Porque eu te amo e é você que eu quero -- falo - Não desejo mais a coroa, só preciso que você fique vivo.
Nunca me declarei a ninguém que não fosse Christopher. Nunca fui tão sincera em minha vida, não escondo mais nada dele. Sou transparente que nem um cristal, que nem a sua Pedra. Consigo tocar o seu coração e sua feição muda completamente.
- Não posso fugir -- ele fala e percebo que estou dentro de seu quarto - Não posso deixar o meu palácio vazio.
- Você precisa -- imploro.
Meu noivo corre até uma escrivaninha e aperta um botão, o som é horrívelmente alto, quase me deixando surda. Christopher corre até mim e agarra o meu punho, saímos do quarto depressa. Dezenas de guardas aparecem no corredor, todos agitados fazendo reverências exageradas.
- Vamos ser atacados, preciso que vocês cerquem todo o palácio -- fala am um tom alto - Mandem todos os funcionários para a sala de pânico e vigiem, preciso fugir imediatamente e nescessito que desativem o alarme da escapatória subterrânea.
Nem acredito que ele me escutou, vai fugir comigo depois de tudo o que fiz.
- Tobias está no comando, informe a ele que minha noiva também teve que partir comigo -- ele fala e suspiro aliviada - Avisem a Samara que eu ordenei que ela também permaneça na sala de pânico. Voltarei quando tiver notícias de que tudo está sob controle.
Todos começam seus trabalhos, alguns guardas nos cercam nós levando até o jardim. Corremos até a passagem secreta, Christopher ainda segura meu punho com força, chega doer, mas não reclamo.
- O alarme foi desativado majestade -- o guarda barbudo diz e adentramos o túnel secreto.
Está frio e diminuímos o ritmo, Christopher fica mais perto de mim com a intenção de me aquecer. Saimos, a lua brilha lá no céu, quase nem acredito que consegui tirar o rei novato do palácio. Pensei que ele nunca iria me perdoar.
- Jack! -- grito quando vejo duas motos vindo em nossa direção.
Eles param e tiram os capacetes.
- Quem são eles? -- Christopher pergunta me cutucando.
- Esse é o Jack e ela se chama Texas.
- Majestade -- falam em uníssono com uma referência simples.
- Texas? Como o estado dos Antigos EUA?
- Sim, é melhor vocês subirem -- ela fala jogando uma jaqueta e um óculos para meu noivo.
Ótimo, ninguém pode reconhecer o rei de Cristália pelas ruas, não sem uma enorme agonia.
- Nisso? -- Christopher pergunta vestindo a jaqueta e apontando para o veículo a sua frente.
- Não é tão ruim assim -- digo subindo na garupa da moto de Jack.
Christopher faz o mesmo na de Texas me olhando de uma forma esquisita enquanto Jack me ajuda com o capacete.
- Vamos? -- Jack pergunta enquanto Christopher coloca o seu capacete.
- Segura aí majestade -- Texas diz acelerando.
Abraço a cintura de Jack enquanto ele acelera. Gosto da sensação de liberdade desse veículo, preciso aprender a pilotar um desses. Saímos da capital o mais rápido possível, olho Christopher e vejo que ele está irreconhecível, digo, não diria que é o rei em cima dessa moto com óculos escuros que escondem os seus olhos de cristais.
- É isso aí princesa.
- É Lady! -- corrijo.
Jack ri.
- Para aonde vai nos levar? -- pergunto.
- Para algum lugar longe do palácio como a senhoria pediu -- ele responde.
- Nos levem para Doutrian -- Christopher grita - Ninguém nos procurará lá.
Lembro de Doutrian, Christopher me levou para almoçar num restaurante lá. Múmia Árabe, foi um dia maravilhoso, e um dos únicos momentos que ficamos completamente sós.
Não fica longe, só uma hora que se passa em um piscar de olhos. Paramos em frente a um hotel antigo, descemos da moto e Jack novamente me ajuda com o capacete.
- Ficaremos aqui, gostaria de pagar pelo silêncio de vocês -- Christopher fala se aproximando de mim e de Jack.
- Pode ser mil cristales -- Texas diz fazendo meu noivo tirar os olhos de nós.
- Mil cristales?
- Individualmente -- ela diz se aproximando do meu noivo.
- Não precisa me pagar, tenho a minha lealdade a Rose -- Jack fala me fazendo sorri.
Christopher se incomoda, mas disfarça muito bem.
- Feito, voltem ao palácio e quando obter notícias de que tudo estiver sobre o controle venha nos buscar -- ele fala - Diga que foi ordens minha.
Jack faz que sim com a cabeça.
- Obrigada -- digo abraçando Jack e fazendo um gesto com a cabeça como agradecimento a Texas.
- Por nada gatinha -- ele fala subindo da moto.
Jack e sua irmã somem com a poeira da estrada de Doutrian. Christopher me encara, ainda está com a jaqueta de coro e os óculos.
- Vamos alugar um quarto? -- pergunto.
- Por precaução -- reponde.
Conto todos os adereços de valor que tenho em mim, um broche de cabelo, brincos e pulseiras. Entramos no hotel que está mais para um cafofo, nada luxuoso, apenas apertado. Uma mulher que aparenta ter pelo menos uns 60 anos e parece ser meio cega, está sentada atrás de um computador pré-histórico.
- Um quarto de casal? -- a mulher da recepção pergunta.
Olho para Christopher um pouco envergonhada, ele mantém uma postura incrivelmente forte.
- Dois de solteiro -- meu noivo diz seco.
- Temos os quartos 07 e 08 disponíveis, ficam por quinhentas cristales ao total -- diz a moça.
Jogo o broche que papai me deu quando fiz quinze anos. Sinto uma dor no peito terrível por dá-lo assim de mão beijada.
- Isso paga?.
- Uau! Nunca vi um rubi tão grande!.
Grande? É do tamanho de um relógio de bolso antigo. Esse não chega nem perto dos que tem em meu Palacete.
- Paga sim! Aqui estão as chaves de seus quartos, bons sonhos querida -- a mulher deseja.
Christopher e eu subimos as escadas, sinto que não está nada resolvido entre nós. Nada é tão fácil assim Rose, não quando envolve uma coroa, um homem, uma rebelião e uma mulher maravilhosa como eu. Foi uma noite louca, tenho pelo menos o direito de me valorizar ao máximo.
- Onde conheceu aquele cara?.
Algo na voz de Christopher mudou, parece mais maduro e mais rígida. Não estou acostumada, mas achei que ficou apaixonante.
- Chris... -- falo olhando em seus olhos, o que é difícil graças aos óculos escuros - É melhor eu não te contar, sei que tem muita coisa acontecendo e não quero te deixar confuso - digo tentando pegar sua mão.
Christopher desce um degrau.
- Não precisa ficar enciumado, é melhor irmos dormir -- digo subindo o último degrau e entrando no meu quarto que é a direita do de Christopher.
Não sei se Christopher já entrou em seu quarto, mas sento na cama dura e abraço um travesseiro. Penso em tudo o que aconteceu ontem, lembro do meu sonho e da coroa em cima da poça de sangue que estava nele. Como queria está ao lado De Christopher, como queria que ele me abraçasse. Não choro, apenas abraço o travesseiro com força e me balanço repetidamente para frente e para trás. Não sei o que está acontecendo, mas começo a suar frio e sinto todo o meu corpo esquentar. Quero me levantar dessa cama e ir para o quarto dele, é isso que tenho que fazer. Quando mal noto já estou dando batidas em sua porta.
- O que faz aqui?.
- Por favor me deixa entrar.
Vou ao chão, não lembro de nada é como se tivesse dormido alí mesmo. Não sei como, não sei porquê.
Estou na cama de Christopher, ele está sentado nos pés da pequena cama de solteiro. Me encara preocupado, vejo meus pés em seu colo, estava fazendo massagem.
- Chris...
Isso bastou para que ele desse um pulo e se ajoelhasse ao meu lado.
- Pensei que teria que chamar um médico -- ele fala tocando meu rosto desesperadamente.
- O que aconteceu? -- pergunto me levantando e Christopher me impede.
- Não sei, você estava tremendo muito, como se tivesse agoniada ou com pressa -- diz - Aí depois você desmaiou, me deixou muito preocupado.
- Eu estou bem -- digo afastando as mãos dele gentilmente do meu rosto - Chris, podemos conversar?.
Christopher se afasta e volta a ficar sentado nos pés da cama.
- É melhor você ir dormir, não quero que dê outro surto.
- É melhor eu ir para o meu quarto -- digo e ele me impede novamente.
- Fique aqui.
Abro um sorriso de total felicidade para Christopher, ele não retribui, apenas cobre os meus pés. E vai até um pequeno armário, pega um travesseiro e um lençol e se senta na poltrona.
- Ainda tem espaço aqui.
- Posso dormir aqui mesmo, não quero te apertar -- responde.
- No meu quarto tem uma cama também -- insisto.
- Rose, vai dormir!
Obedeço.
*
Acordei com uma leve dor de cabeça, Christopher já está de pé, vejo ele escovando os dentes no pequeno banheiro. Ele está com a mesma roupa, mas o cabelo molhado denuncia que tomou banho.
- Bom dia! -- digo levantando da minha cama.
- Eles não servem café da manhã, tem uma cafeteria aqui perto.
Arrumo o meu cabelo em um coque terrível, vou até ele e pego a outra escova de dente.
- Poderíamos conversar lá? -- pergunto e ele me encara.
- Temos muitas coisas para acertar.
Tomo um banho no meu quarto, tenho que vestir a mesma roupa. Christopher me espera no corredor, descemos as escadas e saímos do hotel. Andamos bem pouco, a cafeteria se chama Café Da Michele, o estabelecimento é uma gracinha, organizado e com tons de rosa bebê. Sentamos na mesa do fundo Christopher ainda usa óculos escuros para esconder os olhos que revelam ser não só um Pedra, mas o rei de toda Cristália.
- Pode começar -- Christopher diz me encarando.
- Minha Pedra estava entrando em falência, o primeiro baile era uma grande oportunidade de me casar contigo e pagar todas as dividas. Minha única preocupação era fazer você me amar, na minha mente não iria amar você pois era apaixonada por Nathew.
- O representante dos Esmeralda? -- ele pergunta.
Confirmo com a cabeça. Christopher está tão sério, como se nada que eu dissesse o abalasse.
- Ele pediu para fugir comigo ainda nesse primeiro baile, recusei pois tinha que salvar a minha Pedra, aí ele me deixou no meio do salão e você veio até mim, depois me escolheu e aí você já sabe. Competi com Dominique por sua atenção e estava na frente, comecei a pensar que um dia seria rainha e amei a idéia, então mamãe achou uma excelente oportunidade quando a Cidade Sul tinha declarado que queriam te colocar no trono o mais rápido possível, ou seja você me escolheria e eu teria não só a dívida paga como também seria rainha. Ia sempre as reuniões quando te dizia que ia até o meu Palacete. Teve o baile de talentos e eu beijei Nathew e te machuquei muito -- conto.
Christopher encara a mesa, não consegue nem olhar em meus olhos.
- Depois disso ele foi para a guerra, e morreu na linha de frente -- digo e sinto meus olhos lacrimejarem.
Agora ele me olha, como se tivesse com pena de mim.
- Eu acredito em você -- digo fazendo ele abri um minúsculo sorriso.
Tão lindo, Christopher é uma pessoa muito boa, não faria nada terrível desse jeito com ninguém.
- Muitos Poeiras morreram, e a líder da Cidade Sul queria vingança então começamos a planejar a morte do seu pai. Depois disso não aconteceu muita coisa, ficamos mais próximos e ocorreu o baile da escolhida. Aí a Lady Esmeralda decidiu nos denunciar com o pronunciamento da rainha, por interesse e por raiva de mim pois ela sabia do que realmente houve com Nathew e me culpava. Fui avisar a Cidade Sul na noite que assistimos filme, queriam matar você e a rainha, era o único jeito de todos eles não serem condenados a morte e acabarem com a família real, me colocando no trono para que eu devolva o território de Andiz.
Ele abaixa a cabeça.
- Não podia permitir que fizessem isso contigo então planejei te tirar do palácio.
Tirei um peso enorme em minhas costas, nunca me senti tão leve.
- Eu não podia perder você -- falo e vejo que estou chorando.
Christopher se levanta e se senta ao meu lado. Abraçando-me forte.
- Eu amo você Christopher, não te peço que me perdoe, mas volte a me amar por favor -- imploro.
- Eu nunca deixei de te amar Rose, desde do dia em que te vi no primeiro baile, até hoje ainda continuo te amando -- ele fala - Te amarei enquanto viver, você é o meu problema preferido.
Christopher tem o poder de fazer com que eu me sinta um pessoa melhor, uma pessoa amada. E eu amava isso nele.
- Desculpa pelo que disse no jardim, fui muito duro com você -- ele pede enxugando as minhas lágrimas com o dedo.
- Eu merecia.
- Vamos voltar para o palácio e se ainda quiser casa comigo... -- ele fala - Vai ter que ser sincera, não quero que esconda nada de mim.
Faço que sim com a cabeça.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro