Quatorze
Dou passos furiosos pelo corredor. Torço para não encontrar Dominique, também não quero ver Tobias. Não quero ver ninguém e muito menos que sintam pena de mim.
Por sorte vou direto para o meu quarto, bato a porta com força. Minhas criadas me perguntam se preciso de algo. Peço para que preparem um banho quente, elas obedecem e depois as dispenso.
Minha cabeça dói tanto que simplesmente apago.
Olha que engraçado, quando penso que iria pelo menos dormir em paz, tenho lindos pesadelos.
Sonho com o nosso encontro na sala de música e quando o beijo ele se transforma em Nathew. Me assusto quando abro os olhos, Nathew acaricia meu rosto.
"Foge comigo?" diz em meu sonho, não o respondo e ele sangra ali mesmo. Um tiro.
Eu acordo como louca, repito para mim mesma que Nathew está vivo, ele ainda não foi para Matriz.
Já amanheceu, na verdade já são oito horas. Madalena entra no quarto com uma bandeja. Ela trouxe o meu café da manhã na cama.
- Senhora? -- chama ela se aproximando - O príncipe mandou que eu trouxesse seu café na cama.
- Ordens do príncipe? -- pergunto e ela confirma.
Ótimo ele agora quer se redimir.
- Ele me ordenou ontem assim que saímos do quarto -- disse ela.
- Claro que sim -- digo.
Ela coloca a bandeja em meu colo. Ovos, torradas e bacon com suco de laranja natural e sem açúcar. Ou ele quer se redimir ou só quer que eu fique rica em vitamina C. Devoro tudo em um piscar de olhos.
Cássia entra no quarto com um balde de água, ela despeja na banheira nos pés da minha cama.
- Bom dia Rose -- diz ela.
- Bom dia Cássia -- respondo.
Ambas estão sorridentes, como se quisessem me contar algo. Espero que não seja que o minha professora de etiqueta tenha chegado. Já tive esse tipo de aula, mas terei que ter novamente pelo fato de que eu poderia ser a futura princesa de Cristália. Poderia.
- Está pronto senhora -- diz ela.
Elas me ajudam a retirar a camisola.
- Onde está Diana? -- pergunto notando a ausência do trio.
- O guarda Nolan pediu a ajuda dela para alguma coisa -- diz Madalena.
Nolan, o sobrenome de Tobias.
- Ah -- digo entrando na banheira.
Saio do banho e visto um vestido vermelho escuro com mangas folgadas de tecido transparente avermelhado que vão até meus pulsos.
O vestido cobre minha clavícula com detalhes floridos em cada ombro e nos pulsos. Um lindo sinto ainda mais escuro envolve minha cintura. Gosto da visibilidade dos meus braços através do vestido.
No meu cabelo Cássia faz um coque frouxo com uma faixa florida com rosas brancas e vermelhas. O pano cintila lindamente.
Saio do quarto parando no salão da rainha, tem um piano alí. Ele é branco, provavelmente feito de mármore e com detalhes avermelhados.
Tem um bilhete em cima. Pego rapidamente olhando para a porta do quarto de Dominique. Ela ainda está lá dentro.
"Desculpe-me, quero conversar contigo Rose..."
Christopher tenta me comprar com um piano. Deve ser sempre fácil assim, deve usar isso com todos que ele machuca.
Levanto a tampa do piano e deslizo os dedos nas teclas. Mancho uma delas de vermelho, tinha limpado o batom borrado com o dedo. Não me preocupo em limpar o piano.
Diana aparece de repente, ela tem uma carta em mãos. Espero que não seja outro bilhetinho de Christopher.
Ela para em frente a mim, me mostrando o envelope branco.
- Tobias mandou entregar a senhora -- diz ela.
- Obrigada -- digo pegando.
Sem hesitar abro a carta. O cheiro do perfume de Nathew me envolve com força e por um momento quero ficar abraçada com a carta. Não posso ler agora, é muito arriscado. Fecho a carta de Nathew e entrego novamente a Diana.
Ela me olha preocupada, como se me perguntasse se tinha feito algo de errado.
- Coloque no baú do meu quarto por favor -- digo e ela obedece.
Fico sentada no sofá esperando a senhora Cobre aparecer. Minhas aulas de etiqueta ia se atrasar um pouco.
Lord Ouro entra na sala, as vezes esqueço que ele é o mordomo do palácio por uma dívida com a Pedra de Cristal anos atrás.
- Lady Rubi ? -- chama ele.
- Lord Ouro -- respondo levantando.
- Siga-me -- ordena ele.
Gelo por inteira, se eu estiver encrencada posso ser expulsa do palácio, ainda mais depois de ter gritado com o príncipe.
O mordomo me conduz até uma sala de porta branca e me deixa ali. A brisa primaveril me atinge de uma forma arrepiante. Bato na porta dando leves murrinhos.
- Entre por favor -- diz uma voz que eu bem conheço.
Christopher está lá dentro.
Penso em não entrar, penso em voltar e me trancar no quarto. Meus tempos de criança acabaram, não posso mais fugir dos meus problemas.
Empurro a porta e entro na sala. Não é grande, mas bem clara, com livros espalhados por todo lado e um cavalete.
Christopher está pintando, sentando em um banco acolchoado ele retrata um vaso de flores vermelhas. Está mal vestido para um príncipe, não usa coroa e muito menos terno. Ele está com uma blusa social branca suja de tinta e calças folgadas jeans. Seu cabelo loiro bagunçado e sujo.
- O que deseja? -- pergunto.
Ele se vira para me observar, seu rosto tem alguns respingo de tinta azul e branca.
- Quero conversar -- diz ele.
- Não temos nada para conversar -- digo fechando a porta.
- Disse que não queria o coração de um príncipe -- ele me lembra - Disse que queria a coroa, não estou com ela no momento e agora sou apenas um simples pintor -- completa.
Não falo nada, não consigo dizer nada.
- Dominique me beijou -- diz ele.
- Não precisa me dizer isso -- digo.
Ele se levanta e aproxima de mim. Não fica muito perto, mas o bastante para eu sentir o cheiro da tinta em sua camisa.
- Você me beijou e depois eu beijei você -- diz ele me deixando brava - Tem uma grande diferença nisso sabia? -- ele pergunta arqueando a sobrancelha.
Minha vontade é de arranca-la da cara dele.
- Sente-se usada, mas não imagina como devo me sentir -- diz ele.
Ainda não encontrei palavras para dizer a ele.
- Eu escolhi beijar você, você escolheu me beijar -- ele fala - Dominique me agarrou, retribui, não queria que ela achasse que estou caidinho por você -- completa.
Suas palavras me incomodam e finalmente sei o que dizer.
- Não ligo pra isso -- digo.
- Quero que isso dure o tempo que for, para que eu possa te conhecer melhor -- diz ele - Quero saber como lidar contigo, aprender como te agradar e como deixá-la feliz -- completa.
- Então devo dizer que me comprar com um piano não funcionou -- digo ainda irritada.
- Não sou um príncipe nesse momento -- ele fala andando pela sala - Não sou de Cristália, não sou do reino, muito menos do povo -- continua - Sou apenas um cara pintando um quadro e tentando fazer as passes com sua amada.
Não vou cair nessa mesmo que seja tentador. Christopher é realmente bonito, ainda mais sujo de tinta.
- Soube desde o momento em que a vi no baile que era a dona do meu coração -- diz ele.
- Não acredito em amor a primeira vista -- digo.
- Posso acreditar por nós dois -- ele para de circular pela sala e me encara - Não exigo que me ame, mas ao menos deixe eu te amar -- Christopher estende a mão para pegar a minha.
Lembro das palavras de minha mãe, me imagino como princesa e depois como rainha. A coroa cai muito bem em mim. Pego a mão de Christopher e ele sorri me puxando gentilmente para mais perto.
- Obrigado -- ele sussurra.
O príncipe passa a mão em meu rosto fazendo com que eu olhe em seus olhos. Quando percebo que ele vai tentar me beijar recuo.
- Uma coisa de cada vez -- digo alargando ainda mais o sorriso de Christopher.
Ele é realmente muito bonito.
- Claro -- ele fala me conduzindo para perto da pintura.
Sento me ao lado dele que continua, pincelando cada detalhe da flor com vermelho escuro como o sangue. O observo pintar e terminar a obra, assinando com o apelido dele.
Chris é o que ele escreve no cantinho do quadro.
- O que acha? -- pergunta ele se referindo ao quadro.
- Bonito -- digo e realmente é verdade.
Ele retira o quadro do cavalete e o deixa em um canto da sala. Quando Christopher se levanta percebo que ele usa uma jardineira com as alças caídas em vez de um jeans comum. Ele volta com uma nova tela em branco e coloca no cavalete.
- Podemos? -- pergunta.
- Quer que eu pinte contigo? -- pergunto.
- Sim -- ele fala me dando um pincel.
- O que iremos pintar? -- pergunto.
- A obra de arte mais linda que eu já vi -- diz ele melando meu nariz com tinta vermelha.
Coro ficando quase igual a tinta.
Christopher se diverte me vendo sem graça. Ele começa um desenho do meu rosto, fazendo traços para começar uma estrutura.
- Ao invés de pintar posso posar para você -- digo fazendo umas poses.
Christopher ri, sua risada é um som tão agradável que desejo tê-la só para mim.
Ficamos ali pintando um retrato meu, não temos tempo de terminar. Christopher me leva até o salão real, com passos calmos ao meu lado. Ele não me ofereceu o braço e nem a mão, pelo menos respeita o meu espaço.
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