Quarenta e três
Todos ainda me encaram, papai vê em meus olhos o que eu quero fazer. Christopher vem em minha direção e segura os meus dois braços.
- Meu amor, por favor -- ele pede, o interrompo.
- Não pode permitir que o meu pai entre naquela guerra! -- digo e vejo que estou alterada.
Christopher suspira e murmura algo que não entendo.
- Querida, não se envolva nisso, não quero que surte -- pede em tom baixo - Seu pai é um bom guerreiro, ele só vai comandar, não vai correr risco algum.
O meu medo inicial voltou, estamos em guerra com Petrália e agora estamos enfrentando uma guerra civil. Papai estaria salvo com o nosso representante pago em Matriz, mas agora não estará com Cristália em caos.
- Querida, não me envergonhe na frente do conselho -- diz papai.
- Fique aqui, no palácio -- diz meu noivo - Segura com todos os outros -- fala.
- Christopher! -- sou interrompida com o seu beijo, urgente mas respeitável, estamos na frente do conselho, precisamos nos comportar.
Sinto raiva por não conseguir odia-lo enquanto me beija. Vejo o tremor em minhas mãos ceder e me agarro a sensação do seu beijo.
- Vai ficar tudo bem, eu amo você -- diz enquanto se afasta - Me prometa que ficará aqui, me dê a felicidade de voltar e te ver segura -- soa quase como um imploro.
- Eu vou ficar -- digo e talvez seja uma mentira.
Me retiro da li. Tenho que fazer algo, vejo atrás de mim o conselho e Christopher se retirando, vão entrar em cena. Vão perder, não temos soldados, eles estão em Matriz. Soube que estávamos ganhando essa guerra, mas essa batalha iríamos perder feio. Subo as escadas e entro no salão da rainha, vejo mamãe sentada no sofá me esperando.
- Filha! -- ela fala me abraçando.
- Papai vai para o ataque -- digo retribuindo o abraço.
- Eu sei querida, tentei impedir, mas sabe como o seu pai é -- ela fala enquanto me sento ao seu lado - Não conversarmos direito depois do que houve.
Depois do que tudo aconteceu, não conversei direito com nenhum dos dois.
- Como sabe, contei tudo a Christopher, não queria esconder nada dele -- digo - Fiz bem?.
Mamãe agita a cabeça dizendo que sim freneticamente e segura as minhas mãos.
- Fez muito bem, desculpa por ter te envolvido em tudo isso querida.
- Tudo bem mamãe.
- Como tá sua relação com ele? -- ela pergunta, dessa vez sem soar interesseira.
- Está ótima mamãe, Christopher é maravilhoso -- digo e vejo ela sorrindo - Eu o amo muito, não dava mais para ficar nisso.
Mamãe parece entender.
- Seu pai está pilhas comigo -- ela diz.
- Sinto muito -- digo tentando consola-la - Tenho que fazer algo mamãe, não posso deixar ele ir para o ataque.
Quando eu levanto para fazer o que não sei bem, Christopher entra no salão com um uniforme de guerra deslumbrante. Faz um cumprimento com a cabeça para mamãe e me toma em seus braços, roubando-me um beijo.
- Pensei que já tivesse ido.
- Não ia sem outro beijo seu.
- Por favor, tira o meu pai disso -- peço.
- Ma reine, ele se ofereceu e não vou recusar ajuda -- diz -- Agora eu tenho que ir, se comporte.
Ele sai, olho para mamãe e vejo ela dizer que sente muito.
- Querida -- ela fala se levantando - Se não se importe, estou indo para os meus aposentos -- fala, sinalizo dizendo que está tudo bem.
Tobias e Samara invadem o salão as pressas, mamãe e eu nos viramos rápido.
- Rose, precisa vir para o escritório agora -- ele fala.
- Lady Opala está na linha -- Samara diz.
Os telefones não são bem aceitos na sociedade, a tecnologia nos destruiu, mas ela também nos salvou. Tais aparelhos são permitidos somente para a monarquia, com utilização só para emergências. Então só pode significar que Dominique está ligando diretamente de Outrora e que com certeza é algo de extrema importância.
- Chame Christopher, pode ser assuntos reais -- digo.
- Se fosse seria o príncipe Ônix a ligar e Lady Opala deixou bem claro com quem desejava falar -- Samara diz.
Os acompanho até o escritório de Christopher. Samara agora faz parte do conselho, fora o fato de ser a melhor amiga do Christopher, por isso os guardas não nos impedem de entrar. Vejo o telefone virado para cima esperando ser usado. Pego e coloco em meu ouvido. Vejo Samara se retirando, Tobias permanece atrás de mim e coloco no vivo a voz.
- Dominique ? -- pergunto e escuto a voz dela.
- Por todas as Pedras, finalmente! --.ela fala na linha - Você está viva!.
- Por que ligou? -- pergunto querendo chegar logo ao ponto.
Dominique faz uma pausa.
- Estamos em Outrora, no palácio para ser mais específica -- fala - Soubemos sobre o acidente assim que chegamos, que bom que estão bem -- diz e ignoro - O rei de Outrora morreu, Petrália aproveitou que o príncipe estava fora e atacou o palácio de Ônix. Deixaram escritas por todo o palácio, estão nos obrigando a nos aliarmos a eles para atacarmos Cristália, se Gregório não aceitar vão atacar novamente -- diz e vejo um tremor em sua voz - Aqui está um caos, eles sabem que Cristália está fragilizada por causa da rebelião, querem tomar o país.
Olho para meu amigo e vejo que ele me encara assustado.
Minha mente explode, meu coração ameaça parar, pensamentos correm que nem cavalos em uma corrida. O ataque, "Conquistamos Andiz, até termos mais", como eu não pensei nisso antes. A Montanha de Neve, sua sede fica no norte de Cristália, próximo ao Grande Mercado de Exportação de Peixes nas quais as iguarias são exportadas para Petrália. A Cidade Sul e Petrália são aliados, enquanto nosso avião caiu eles atacaram juntos, Petrália atacou Outrora, e a Cidade Sul atacou Cristália. O avião de Gregório não foi atacado por negociações futuras. Christopher está indo em direção as minas, junto com todos os integrantes do conselho e suas tropas. Aguardam a Cidade Sul e seu ataque, vão contra atacar.
- Eles são aliados!! -- digo e Tobias arregala os olhos.
- Quê? -- Dominique pergunta da linha.
- A Cidade Sul e Petrália, eles são aliados, o ataque ao palácio daqui e do de Outrora foram ao mesmo tempo e só o meu avião caiu -- digo e Dominique parece entender.
Samara entra correndo na sala, Tobias e eu nos viramos ao mesmo tempo vizualizando o que ela tinha em mãos.
- Eles sabem que vamos contra atacar -- diz apontando para a esculta - Colocaram isso em embaixo da mesa do conselho.
- E o que fazemos? -- Tobias pergunta me olhando como se eu fosse a dona das ideias boas.
A janela em nosso lado se estilharça, meu amigo se joga por cima de mim, jogo o telefone para longe e percebo que ele quebra, vejo Samara também abaixada segurando uma arma que estava em seu quadril. Tobias faz o mesmo e escuto os passos ao nosso redor. Eles invadiram o palácio, podemos todos morrer e vai ser tarde demais. É o nosso fim.
- É melhor vocês levantarem, não dá para salvar o país se escondendo -- diz a voz inconfundível.
Tento me levantar para confirmar a minha suspeita, Tobias me impede. Texas fugiu, veio até nós, para nos salvar.
- Texas? -- pergunto.
- Demorou em? -- fala, me levanto rapidamente, vejo Samara e Tobias fazerem o mesmo - Eles tem uma escuta.
Samara revira os olhos.
- Sabemos -- diz.
- Quando vocês fugiram vieram me atacar, Saori estava voltando para a sede -- comenta - Foi ela que me pediu para projetar isso que está em suas mãos -- diz olhando para a escultar nas mãos de Samara - Para a sorte de vocês eu coloquei uma na sala de reunião deles antes de escapar. Os planos mudaram, eles querem que Christopher entregue o país e a única forma de atrai-lo para o palácio é capturando você.
Todos me olham, sinto meu coração acelerar, sinto que a temperatura aumenta e começo a suar frio.
- Desculpa Rose, mas a Cidade Sul também está me ameaçando -- ela fala se aproximando, Tobias segura minha mão me protegendo com seu corpo.
Samara aponta a arma e Texas tira uma debaixo da blusa.
- Eu tenho que fazer isso -- ela diz e outros estrondos das janelas surgem.
Mulheres e homens armados pulam para dentro do escritório, apontam as armas para nós. Um homem segura um outro que está encapuzado, começo a tremer só em pensar que pode ser Christopher ali embaixo.
- Não se preocupe, o reizinho está seguro, por enquanto... -- ela diz.
Dois homens se aproximam de Samara e apontam uma arma em sua cabeça fazendo com que ela abaixe a sua. Uma mulher tira o capuz da cabeça do rapaz e me deparo com a última pessoa que imaginei que veria. Melinda respira fundo tentando controlar os soluços de medo, Tobias ainda segura minha mão e sinto que ele aperta cadê vez mais com tensão da sala.
- Ela é apenas uma das pessoas, meu irmão está entre eles -- fala.
Jack. Como ela pode está ao lado das pessoas que ameaçam o próprio irmão?.
- É melhor vir conosco, senão todos eles morreram -- fala - Não gostaria de ser a culpada pela morte de seus pais adotivos e da rainha não é? -- pede e o sangue sobe para o meu rosto me deixando vermelha de raiva - Entregue-se por favor, eu não desejo ver o meu irmão morrer.
- Ela não vai a lugar nenhum -- Tobias diz e uma mulher põe uma arma em sua cabeça.
Melinda, Jack, a rainha Andara e meus pais, não posso deixar eles morrerem, posso ter todos os meus defeitos mas não vou deixar que os meus pais morram. Não vou deixar Melinda morrer, mesmo ela já tendo ameaçado me delatar, não vou deixar Jack morrer, não sou do tipo que deixa os amigo para trás e não quero me responsabilizar pela perda de outro membro da família de Christopher.
Arrisco um passo para frente, olho para Samara e depois para Tobias ambos ainda com armas apontadas para suas cabeças, não quero ver os gatilhos serem apertados. Sei que se eu for com eles, serei só uma armadilha para atrair Christopher, mata-lo e provavelmente matarem a mim também, mais são duas vidas contra cinco. Duas mortes para cinco vidas.
- Rose! -- Tobias diz me encarando.
- Por todos eles -- digo dando uma passo a frente.
Tobias solta minha mão bem devagar, ando em direção a Texas e vejo lágrimas escorrerem nos olhos dela. Talvez de alívio pela vida do irmão, talvez de tristeza pelo que ela vai ter que fazer. Um homem puxa as minhas mãos e as amarram. Caminhamos para fora do escritório, deixando meus amigos para trás.
No corredor vejo guardas desmaiados, noto uma bomba de cheiro explodida e entendo o motivo que todos estão jogados no chão. Bombas de cheiro foram usada na Quarta Guerra Mundial, foram elas que marcaram o seu fim e deram início a Quinta. Depois disso quase nem existiam terras, cientistas se viraram com os minérios que resistiram ao caos. Salvaram o máximo de pessoas com eles, uma nova civilização surgiu e as condições de vidas melhoraram, permitindo que até os Poeiras como eu, pessoas sem a introdução de minérios no DNA sobrevivessem. Até hoje é considerado o maior e o último avanço da tecnologia, extinguindo-a e poupando para coisas que são realmente essenciais usá-la.
Colocam-me em um carro, não vejo quem dirige, não me permito chorar. Se irei morrer, irei de forma digna, todos lembraram o meu nome, todos saberem o que fiz. Não serei rainha, não terei a coroa e muito menos Christopher. Serei só uma Poeira que fingia ser uma Pedra, que fingia ser uma Rubi, que traiu a monarquia participando de uma rebelião e que irá morrer por causa de suas péssimas decisões. O caos se espalha nas ruas, então houve um combate. Não sei para aonde me levam, vejo casas de Poeiras fechadas e passamos por uma fonte. Estamos indo para a praça principal, onde todas as Pedras podem ver, onde todos os Poeiras podem ouvir. Soldados da Cidade Sul formam um circula ao redor dela, dão passagem para o carro a prova balas que me encontro.
- Vem! -- Uma mulher me agarra pelo braço me tirando do veículo.
Ando até o meio da praça, vejo Saori lá, me encarando com um olhar triunfal. Ela segura um auto-falante, seu uniforme completamente preto dá um ar de poder. Me aproximo sendo praticamente arrastada, o nó em meus punhos fazem o meu braço inteiro penicar e percebo que estou tendo uma reação alérgica a o material da corda.
Saori segura o meu braço com força e me olha com satisfação. Curvo o meu corpo tentando livrar-me se suas garras.
- É bom revê-la novamente Lady Rubi -- ela diz zombando do meu título - Quando achei que ajudaria a rebelião estava certa, você é bem valiosa mocinha.
Tenho um pouco de vergonha da minha reação, que é cuspir miseravelmente, o cuspe cai no chão sem nem acertar o seu sapato. Saori ri, sádica com o meu desespero.
- Vejo que abandonou seu comportamento de dama -- ela diz e me luto na tentativa de me libertar.
Saori traz o auto-falante para perto da boca, sinto meu coração explodir em batidas descontroladas. Procuro me acalmar, uma vítima assustada é só uma presa nas garras do seu caçador. Erga a cabeça Rose, endireite os ombros e se dê o direito de enfrentar o que for preciso. É isso o que faço, posso perder tudo mas o meu nome e quem sou estarão intactos.
- Povo de Cristália! -- ela vocifera.
Sinto a morte sussurrar em meu ouvido, como uma criança me chamando para brincar.
- Querido rei, espero que esteja escutando -- Saori ri no aparelho que deixa sua voz umas dez vezes mais alta - Sei que está muito ocupado lutando, mas acho que uma mina de minério é bem menos importante do que sua amada -- fala - Ah sim, estamos com ela.
Ela coloca o auto-falante próximo a minha boca. Sei o que ela quer, que eu fale para chamar a atenção de Christopher. Não faço isso, não sou uma idiota.
- O gato comeu sua língua Rose? -- ela pergunta tirando uma adaga e fazendo um corte rápido em meu braço.
Seguro a dor o máximo possível, vejo a sangue pingar o chão da praça. Ela não vai me fazer falar.
- Você se acha mesmo uma heroína não é? -- Saori faz outro corte em meu braço, logo abaixo do último e dessa mais fundo.
Mordo o meu lábio inferior para conter a dor do corte, mas acabo deixando escapar um gemido abafado. O suficiente para fazer com que ela ria.
- Então a condição é o seguinte -- diz no auto-falante - Ou você entrega Cristália nas mãos da Cidade Sul, nas mãos de todos os Poeiras, ou sua queridinha morre e vou fazer questão de que escute tudo -- fala enquanto tento me soltar.
Ela é forte demais.
- Tem até o fim da tarde para aparecer na praça principal sem nenhum guarda e desarmado -- Saori fala - Senão irei ter que resolver minhas contas com ela.
Eu sou a rainha desse tabuleiro, a peça mais poderosa, mas para vencer o jogo, tem que dá o xeque-mate no rei.
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