Uma semana se passou. Nada mudou por enquanto, eu e Christopher continuamos a pintar o meu retrato.

  O baile de talentos estava próximo, iria tocar piano. Pratiquei bastante para impressionar, não Christopher, mas sim o povo de Cristália, o rei, a rainha e os meus pais. Nathew estaria lá, vou reve-lo e não sei se estou pronta para isso.

  Por enquanto eu e o príncipe estamos muito bem, alguns encontros românticos e muitos beijos. Percebi o quanto meu coração está dividido, duas metades nada encaixáveis.

  Tobias e Diana estão praticamente namorando, fico feliz por meu amigo e por minha criada.

  Dominique pensa estar empatada comigo, pelo menos é isso que Christopher quer que ela pense.

  Nesse momento estamos na sala em que ele pinta. Ainda está cheia de livro que agora costumo ler. Estamos deitados no chão admirando o teto.

- Estou tensa com o baile de talentos -- comento depois de um período em silêncio.

  Christopher se levanta e fica sentado me encarando.

- Você vai se sair bem Rose -- ele fala - Aposto que todos irão amar sua apresentação -- ele termina.

- Nunca fui de ficar tão tensa assim -- admito - Não quero falhar -- falo.

- E quem disse que vai? -- ele pergunta e eu me levanto.

- Dominique vai apresentar uma peça de ballet -- comento - Ela está treinando muito -- falo.

  É verdade, Dominique tem madrugado. Do meu quarto mesmo baixo dá para escutar o som de ballet clássico.

- Não se preocupe meu amor -- Christopher fala acariciando meu rosto

  Meu amor, Christopher tinha começado a me chamar por esse apelido. Não tenho coragem de chamar ele assim, não com os meus sentimentos por Nathew.

  Deito-me novamente e ele faz o mesmo. Coloco o rosto em seu peito e ele continua um cafuné em minha nuca.

- Tudo vai ocorrer bem -- ele sussurra - Eu amo você Rose -- ele fala me dando um beijo na testa.

- Eu também -- falo.

  Ele desliza os dedos de minha testa a minha orelha. Gosto do carinho de Christopher. Seria tudo mais fácil se eu simplesmente podesse eliminar meus sentimentos por Nathew.

- Tenho que ir -- ele se levanta e ajeita o cabelo.

  O ajudo passando as mãos nas mechas loiras. Ele segura o meu rosto e me beija. Retribuo, não quero que ele vá, mas entendo que ele tem deveres da corte.

- Tenho que fazer um pronuciamento do meu novo projeto -- ele fala.

   Christopher seguiu a minha ideia de demonstrar que é diferente. Ele lançou um projeto de por clínicas com remédios gratuitos e escolas.

O destino de um Poeira ou é servir, ou é lutar como um soldado. No pronunciamento Christopher vai declarar que quando ele subir no poder iria governar pela igualdade, ele não pediu para o pai a coroa. Teve medo, por enquanto ele amacia o povo com suas ideias. Acalmando uma rebelião.

- Estou orgulhosa de você -- falo com sinceridade - Vai ser um excelente rei -- digo.

  Christopher cora um pouco e sorri, diferente de mim ele não tem vergonha de demonstrar os sentimentos e nem a pele corada. 

- Queria ficar aqui, fazendo nada contigo -- ele comenta.

- Você tem deveres Chris --- falo - E eu tenho que treinar -- completo.

   Ele me ajuda a levantar envolvendo os braços em minha cintura. Da porta dá para ouvir os passos de Tobias, ele espera lá fora.

  Esses dias ele tem virado o meu cão de guarda, nunca permite que eu e Christopher fiquemos sozinhos por muito tempo. Sei que ele não faz por mal, Tobias não confia no principe, acha que ele pode me magoar ou algo do gênero.

- Tchau meu amor -- ele se despede de mim me dando um beijo.

  Me deixa sozinha na sala como o combinado. Tobias entra no mesmo instante em que Christopher sai. Ele se aproxima de mim com um sorriso largo.

- Vamos alteza? -- ele brinca fazendo até uma reverência.

  Eu não aguento e riu ele faz o mesmo.

- Fico feliz que seu relacionamento com príncipe esteja indo bem -- Tobias gesticula para que eu vá em direção a porta.

   Faço isso e ele vem logo atrás. Vamos  para o salão da rainha. Estou usando o piano que Christopher me presenteou, Dominique treina geralmente no jardim, então fico bem longe das provocações dela.

Sento no banco acolchoado e começo a tocar.

Diana e Tobias gostam de escutar minha música e de alguma forma isso me ajuda.

- Está linda -- Tobias comenta deixando Diana envergonhada.

- Obrigada -- ela fala constrangida.

- É a mulher mais bela que já conheci em toda a minha vida -- ele fala.

   Não resisto ao impulso de virar e encará-lo.

- Tobias, eu estou ouvindo -- brinco e ambos riem.

- A senhorita também é muito bela -- Diana fala achando que fiquei magoada - Tobias só quis ser fofo -- ela termina.

- Não se preocupe, ele me diz isto na cara -- falo - Você é o assunto predileto de meu amigo.

  Agora é a vez de Tobias corar. Diana dá um selinho perto da boca dele, Tobias não fica satisfeito e a envolve em seus braços e a beija com vontade.

  Já estou acostumada a ver essa cena melosa entre eles dois, assim como Tobias é obrigado a ver o príncipe e eu.

Continuo a minha partitura de piano. Não vou perder para Dominique, decidi tocar a música em que cantei com Christopher, provavelmente isso me renderá mais pontos.

   Não tenho escrito para Nathew ultimamente, a última carta foi dele, dizendo que entendia o meu aver. A dívida não é meu único motivo, entrei no jogo e me recuso sair sem uma coroa na cabeça.

  Meus sentimentos por Christopher são verdadeiros, mas isso não torna os que sinto por Nathew irreais. Amo os dois, admito que meu coração a maior parte é do par de olhos de Esmeralda, mas Christopher tem uma coroa, tem poder, isso é bem mais importante que qualquer sentimento ou um mero coração que já não é nem mais meu.

  Dominique entra no salão e liga a tv, Christopher vai dá um pronuncia-
mento, preciso ver.

  Ele aparece na tela, lindo como sempre. Seu terno branco e a coroa de cristal reluz no clarão da tarde.

  O rei não está, ele concordou mas não gostou da ideia, a rainha permanece quieta e séria ao lado do filho. O príncipe começa a falar calmamente e todos fazem silêncio.

- "Povo de Cristália, sei que a grande desigualdade entre os Poeiras e os Pedras impera ultimamente em nosso reino. Como vocês sabem, daqui a dois dias é o baile de talentos e se aproxima a escolha de uma princesa".

  Christopher sorri em suas últimas palavras, provavelmente pensa em mim, pois eu penso nele.

- "Quero que este casamento se torne o laço da igualdade, será a prova de que quando subir ao trono, o reino de Cristália não será o mesmo. Poeiras terão direito de ter títulos, sem precisar comprar uma Pedra, sem precisar fazer o procedimento. Iremos trabalhar nas escolas e clínicas com remédios gratuitos. Irá acabar com esse rótulo de que todos os Poeiras tenham que servi para sobreviver, não serão obrigados a entrar numa guerra. Quero que meu povo sirva o reino por vontade própria e não por necessidade. Assim que subir no trono, trabalharei para sermos o primeiro país em que os Poeiras e os Pedras vivam em igualdade e que tenham os mesmos direitos. Salve Cristália e toda sua nação" -- ele finaliza e é seguido por um monte de aplausos.

  Uma mulher com uma aparência oriental se levanta em meio a multidão. Sua voz alarma a todos e seus cabelos pretos que nem o ébano brincam com o vento. Ela está com um microfone que a faz parecer gritar.

- "E quem dirá que isso é mesmo verdade?" -- a mulher pergunta levantando uma multidão para vaiar o príncipe - "Muitos prometeram a igualdade, mas ela não veio, ela nunca vem. Como ter igualdade se ainda teremos que nos curva para um rei? Como teremos igualdade se você só irá dividir nós Poeiras entre classes altas e baixas, enquanto os Pedras serão todos uns mais ricos que os outros?" -- ela pergunta.

- "A mudança não acontece de um dia para outro, irei dá um direito aos Poeiras que nenhum rei prometeu. Isso é somente o que posso fazer no início do meu reinado, juntos faremos mais e daqui a alguns anos seremos um único povo. Tanto Pedras e Poeiras serão ricos e iguais." -- ele termina seu discurso e a moça se cala.
 
  A multidão que vaiva se cala em uníssono e é substituída por outra que grita e celebra. "Vida longa ao príncipe de Cristal, vida longa ao príncipe Christopher" é o que gritam abertamente.

  Dominique não esboça nenhuma emoção. Eu apenas me viro e volto ao que estava fazendo.

  Toco até entardecer, afinal o baile está batendo na porta, sei que o voto de Christopher já tá garantido, mas ainda tem outros dois a conquistar. É uma prova de garantia, se eu ganhar, mas Christopher não me escolher, vários duques, condes e burgueses brigariam pela minha mão.

  Talvez eu voltasse para Nathew, se ele achasse que valeria a pena brigar por mim. Minha dívida seria quitada se eu ganhar o show de talentos, realizaria o sonho de um principio.

Com Nathew, sem divida e feliz. Mesmo assim ele iria para guerra, iria lutar, sem nenhuma garantia que voltasse. E ainda tem o fato de eu querer a coroa, quero com todas as minhas forças.