10 - Caos & Sangue - Parte IV
— Magia, Calum. As Cinco Espirais do Tempo: o fogo, a água, a terra, o ar e o gelo. Um portador é capaz de manipular cada um desses elementos, trazendo tanto paz quanto desgraça. No entanto, as Cinco Espirais do Tempo podem, a qualquer momento, cobrar um preço por seu uso — disse a velha Morgana, sua voz rouca e fraca, entremeada por tosses. — Seu poder é algo novo, nunca antes visto. Você tem visões do passado, contato com seres mágicos e consegue, de alguma forma, dobrar tudo ao seu favor. Mas, no meio de tudo isso, há algo mais tenebroso. É como se sua vida estivesse interligada com o Caos. Cada parte do seu corpo carrega uma centelha de poder, e isso não é nada bom.
Calum e Morgana estavam do lado de fora da cabana, sentados em bancos de madeira rústica, tomando chá quente sob o céu nublado.
— Como assim, isso não é nada bom? — perguntou Calum, seu olhar preocupado fixo na velha feiticeira.
Morgana esboçou um sorriso tímido antes de voltar-se para o rapaz ao seu lado.
— O poder que você herdou é mais forte que qualquer magia neste mundo, Calum. É como se os deuses tivessem lhe agraciado e, ao mesmo tempo, sentenciado à morte. Essa magia cobra um preço alto ao ser usada. Ela esteve adormecida por muito tempo em seu corpo, até ser despertada na Floresta Sufocante — explicou Morgana, com uma voz que misturava compaixão e gravidade. — Mesmo que eu ensine você a controlá-la, chegará um momento em que ela se expelirá do seu corpo e destruirá tudo ao seu redor.
Calum engoliu em seco, o peso das palavras de Morgana o esmagando.
— E se eu não quiser? — perguntou ele, a voz trêmula.
— Você a reivindicou perante centauros, homens e outras criaturas. Não pode voltar atrás. Nem mesmo se Sangue & Sacrifício existisse. Você deve controlar o poder, e não o contrário. Eu posso ajudá-lo, mas com o tempo, você deve aprender quando e como usá-lo.
Calum balançou a cabeça, desesperado.
— Eu... eu não sei se consigo, Morgana. Não faço ideia de como usá-lo... de como despertá-lo. Eu sou um fiasco.
Morgana pousou a mão enrugada sobre a de Calum, seus olhos cheios de uma sabedoria antiga.
— Você não é um fiasco, Calum. Todo grande poder vem com grandes desafios. E é exatamente por isso que você deve acreditar em si mesmo. Vamos começar com pequenos passos. Cada dia, um pouco mais. E, eventualmente, você verá que pode controlar as Cinco Espirais do Tempo.
Calum respirou fundo, tentando encontrar alguma força nas palavras de Morgana. Ele sabia que o caminho à frente seria árduo, mas a presença da velha feiticeira lhe dava uma centelha de esperança. Ela levantou-se lentamente, indicando que a lição estava encerrada por agora.
— Vamos, jovem senhor. A jornada começa agora, e eu estarei ao seu lado em cada passo.
Era como em Noron, mas ao invés de árvores, grandes pedras formavam um círculo no meio de uma floresta sombria. O canto dos corvos parecia um prenúncio, e uma neblina escorria das montanhas, envolvendo todo o ambiente. O ar era sempre denso, as folhas e gravetos quebrando com o contato e a pressão que os pés de Calum adicionavam aos passos. Seus olhos azuis corriam sobre as relvas, troncos grossos e nos símbolos gravados nas pedras, tentando entendê-los. Porém, Morgana preferia deixar oculta parte da história, pois se Calum soubesse como aqueles selos foram gravados, iria se descontrolar.
— Como se chama? — ele quis saber. — Qual o nome deste lugar?
A velha Morgana apoiou-se no cajado, olhando para o chão e, depois, para os olhos intensos do rapaz.
— Clareira — disse ela. — Já esteve nela, não é? O sonho com as maçãs e a Deusa da Lua. Era aqui.
Calum sacudiu a cabeça.
— Não, não, o nome dela, da mulher brilhante com quem sonhei, se chamava Elara.
— Sim, eu sei. Elara é o nome de Eslandrill na língua dos elfos primitivos. Mas eles a conhecem como Yanna também.
— Como sabe que eu sonhei com ela?
— Estamos conectados pelo fio da magia, Calum. Sei de tudo — Morgana avisou. — A guerra se aproxima violenta e sangrenta das cidades do Sul. Você precisa equilibrar as Espirais, ou haverá declínio, Calum.
Calum suspirou, sentindo o peso da responsabilidade crescer em seus ombros. Ele olhou para o círculo de pedras mais uma vez, tentando absorver a sabedoria oculta ali. A clareira, com suas pedras ancestrais e símbolos misteriosos, parecia pulsar com uma energia antiga, quase tangível.
— Como eu faço isso? — perguntou, sua voz quase um sussurro. — Como eu equilibro as Espirais?
Morgana sorriu levemente, seu olhar suavizando-se.
— A resposta está dentro de você, Calum. As Espirais são uma extensão da sua própria essência. Você precisa se conectar com a terra, sentir suas pulsações, e encontrar o equilíbrio dentro de si mesmo. Somente então você será capaz de restaurar o equilíbrio que o mundo necessita.
Calum fechou os olhos, tentando sentir essa conexão profunda com a terra. Ele respirou fundo, buscando a calma dentro de si. Enquanto isso, Morgana continuava a observar, seus olhos cheios de conhecimento e paciência. Ela sabia que o caminho de Calum seria difícil, mas também sabia que ele tinha o potencial de se tornar um grande mago, capaz de mudar o destino do mundo. Calum se concentrou, sentindo a energia da terra sob seus pés. O som dos corvos ao longe e o sussurro do vento entre as árvores criavam uma melodia antiga, quase hipnótica. Aos poucos, ele começou a sentir uma leve pulsação, uma batida rítmica que parecia sincronizar com seu próprio coração. Era como se a terra estivesse viva, sussurrando segredos em uma língua que ele ainda não compreendia completamente. Morgana observava em silêncio, seu olhar sábio e encorajador. Ela sabia que esse era apenas o começo do caminho de Calum, um caminho que exigiria paciência, força e coragem, assim como foi com ela. O jovem Corvo estava começando a entender que a magia não era apenas sobre controlar os elementos, mas também sobre se harmonizar com eles, encontrando um equilíbrio interno, o que ele acreditava ser impossível.
— Sinto algo, Morgana — disse ele, finalmente abrindo os olhos. — Uma conexão, uma batida... é como se a terra estivesse viva.
— Ela está, Calum. A terra é uma entidade viva, cheia de energia e conhecimento. Quanto mais você se conecta com ela, mais poderoso você se tornará. Mas lembre-se, o poder verdadeiro vem do equilíbrio, não do controle.
Calum assentiu, absorvendo as palavras de Morgana. Ele olhou ao redor da clareira, tentando gravar cada detalhe em sua memória. As grandes pedras, os símbolos gravados, a sensação de antiguidade e mistério. Tudo isso fazia parte de algo maior, algo que ele estava apenas começando a entender.
— E as Espirais? Como exatamente elas funcionam? — perguntou, sua curiosidade crescendo.
Morgana sorriu novamente, um brilho misterioso em seus olhos.
— As Espirais são a essência da vida e da magia. Elas representam o ciclo eterno de criação e destruição, crescimento e declínio. Quando uma Espiral está fora de equilíbrio, todo o sistema sofre. Você, Calum, tem a habilidade de sentir essas Espirais e trazê-las de volta ao equilíbrio. Mas para fazer isso, você deve primeiro encontrar o equilíbrio dentro de si mesmo.
Calum refletiu sobre isso, percebendo a profundidade do desafio à sua frente. Ele começou a entender que não seria fácil, mas também sabia que não estava sozinho. Morgana era sábia e parecia disposta a ajudá-lo, tanto nele se formar como homem, quando moldá-lo, assim como a conexão crescente com os elementos.
— Estou pronto, Morgana. — disse ele com firmeza. — Vou encontrar o equilíbrio dentro de mim e restaurar as Espirais. Prometo que não falharei.
Morgana assentiu, seu olhar cheio de aprovação.
— Eu acredito em você, Calum. Agora, vamos continuar. Há muito a aprender e pouco tempo. A guerra se aproxima, e o destino do nosso mundo depende do seu sucesso.
Calum sentou-se sobre uma pedra lisa, cruzando as pernas e fechando os olhos. Ele colocou as mãos no chão, sentindo a fria e úmida terra sob seus dedos. Tentou acalmar sua mente, focando na batida rítmica que sentia anteriormente, aquela pulsação que parecia sincronizar com seu próprio coração. O ar denso da floresta parecia pressionar seus pensamentos, tornando difícil alcançar a tranquilidade que Morgana tanto falava. Ele respirou fundo, tentando se conectar com a terra, mas a ansiedade crescia dentro dele. Calum sentia a frustração aumentar a cada segundo, um calor fervendo no peito.
"Concentre-se", ele repetia para si mesmo. "Encontre o equilíbrio."
Mas a irritação estava sempre à espreita. Ele estendeu as mãos em direção ao horizonte, tentando canalizar a energia da terra, mas nada acontecia. O silêncio da floresta era quase ensurdecedor, e a falta de progresso o irritava mais ainda.
— Droga! — gritou, levantando-se abruptamente. Em um acesso de raiva, chutou uma das flores douradas que Morgana fizera brotar. As pétalas voaram, espalhando-se pelo chão, como um punhado de ouro jogado ao vento.
Morgana observava de longe, seus olhos perspicazes refletindo tanto desapontamento quanto compreensão. Ela sabia que o caminho de Calum não seria fácil, que a magia da terra, embora simples em sua essência, exigia uma conexão profunda e sincera com o mundo ao redor.
— Calum, — ela chamou, sua voz firme mas serena. — A magia não responde à raiva. A terra é paciente, eterna. Você precisa ser assim também.
Calum respirou fundo, tentando acalmar a tempestade dentro dele, sabendo que Morgana estava certa, mas as palavras dela eram difíceis de aceitar no calor do momento. Sentou-se novamente, tentando uma vez mais. Seus olhos azuis encararam as pedras ao redor, buscando algum sinal, alguma pista.
A floresta parecia zombar de seus esforços, o canto dos corvos tornando-se mais agourento. Cada fracasso parecia uma afronta, cada tentativa um lembrete de sua própria inadequação.
— Como espera que eu encontre esse equilíbrio? — perguntou, sua voz carregada de frustração. — Não sinto nada além de raiva e desespero.
Morgana aproximou-se lentamente, suas vestes escuras sussurrando contra as folhas secas. Ela colocou uma mão reconfortante no ombro de Calum.
— A raiva é uma emoção poderosa, mas não é sua inimiga. Ela pode ser uma fonte de energia se você aprender a controlá-la. Use essa raiva para cavar mais fundo, para procurar mais intensamente. Mas não deixe que ela te domine. Lembre-se, Calum, a terra é sua aliada. Sinta suas pulsações, aceite sua paciência e aprenda com ela.
Calum fechou os olhos novamente, tentando transformar sua raiva em foco. Ele respirou fundo, sentindo o ar frio preencher seus pulmões, e colocou as mãos na terra mais uma vez. A pulsação estava lá, fraca mas presente, como um coração distante. Ele se forçou a ouvir, a sentir, a aceitar. Aos poucos, a frustração começou a ceder, substituída por uma calma determinada. Ele podia sentir a energia da terra, lenta e constante, uma corrente subjacente de poder. Com um último suspiro, Calum abriu os olhos, determinado a continuar, sabendo que o caminho seria longo, mas certo de que podia trilhá-lo.
Calum estava de pé, a raiva pulsando em suas veias, sua frustração crescendo a cada momento. As palavras de Morgana ecoavam em sua mente, mas o equilíbrio que ela mencionava parecia inalcançável. Em vez disso, sua raiva aflorava, tomando conta de seu ser.
Ele ergueu as mãos, tentando mais uma vez canalizar a magia da terra. No entanto, ao invés da calma e da conexão que ele buscava, sentiu uma explosão de energia. Labaredas altas e quentes começaram a se formar ao redor de suas mãos, crescendo rapidamente em intensidade. O calor era insuportável, a energia descontrolada fluindo de seu corpo como um rio em fúria.
— Não! — gritou ele, tentando reter o poder. Mas era inútil. O fogo crescia, alimentado por sua raiva e frustração. As chamas subiam ao seu redor, formando um redemoinho de destruição. Os olhos de Calum brilhavam com uma intensidade feroz, suas feições contorcidas em um misto de dor e desespero.
Morgana observava, seus olhos arregalados de surpresa e preocupação. Ela jamais tinha visto algo assim; a magia da terra transformando-se em fogo era um fenômeno raro e perigoso. Seu coração batia acelerado, e por um momento, até ela hesitou, sem saber como proceder.
— Calum! — ela chamou, sua voz tremendo ligeiramente. — Controle a sua raiva! Use-a, mas não deixe que ela te consuma!
Mas as palavras de Morgana mal penetraram o caos dentro de Calum. Ele sentia o fogo se espalhar, uma força bruta e indomável. Suas mãos tremiam enquanto ele lutava para conter a energia, mas as labaredas continuavam a crescer, alcançando o céu como línguas vorazes. A floresta ao redor começava a sofrer com o calor, as folhas secas e galhos estalando e pegando fogo. Os corvos, antes a plateia silenciosa, agora voavam em círculos acima, seus gritos misturando-se ao rugido das chamas. Calum gritou, um som primal e cheio de dor, enquanto lutava contra a magia descontrolada. Ele podia sentir seu corpo se exaurir, o poder o esgotando tanto física quanto mentalmente. Mas no fundo de sua mente, uma pequena parte de sua consciência ainda lutava, tentando se agarrar às lições de Morgana.
Ele fechou os olhos, respirando fundo apesar do calor sufocante. Tentou focar sua mente, encontrar aquele ponto de equilíbrio que parecia tão esquivo. Pouco a pouco, ele começou a sentir uma diminuição na intensidade das chamas. O fogo, antes furioso e selvagem, começava a ceder, as labaredas diminuindo gradualmente. Finalmente, com um último esforço de vontade, Calum conseguiu suprimir a magia. As chamas se extinguiram, deixando-o de joelhos, exausto e suado. O silêncio voltou à floresta, quebrado apenas pelo som ocasional de galhos crepitando.
Morgana aproximou-se cautelosamente, seus olhos ainda arregalados de preocupação.
— Calum, isso... isso não é comum — disse ela, a voz baixa e tensa. — A raiva normalmente não se manifesta como fogo, especialmente na magia da terra. Algo mais profundo está acontecendo aqui. Uma conexão.
Calum olhou para ela, ofegante, o terror e a confusão refletidos em seus olhos.
— Eu... eu não sei o que aconteceu. Senti a raiva, e então... o fogo veio.
Morgana assentiu, o rosto sombrio.
— Precisamos entender isso melhor. O que aconteceu aqui é perigoso. Você precisa aprender a controlar não apenas a sua raiva, mas também essa nova manifestação de poder. Se não o fizer, pode trazer destruição a todos ao seu redor. Por hoje, é isso, vamos voltar à cabana.
Calum fechou os olhos, sentindo o peso das palavras de Morgana. Ele sabia que estava lidando com algo muito maior do que ele tinha imaginado, algo que poderia mudar o curso de seu destino de maneiras que ele ainda não compreendia. Mas ele também sabia que não estava sozinho. Morgana estava lá, e juntos, eles enfrentariam esse novo desafio. Porém, algo em meio aquele despertar do fogo, aconteceu.
Naquela noite, após o ensopado leve preparado por Luf, o Crasko, Calum repousou sobre uma cama modesta, num canto escuro da cabana. Deitado de costas, ele ergueu as mãos diante dos olhos, refletindo profundamente. Buscava compreender como havia permitido que a raiva se apoderasse de seu ser, perdendo o controle tão facilmente. A imagem da figura na penumbra, que o aprisionava, ecoava em sua mente, enquanto o tumulto mágico o envolvia.
Transportado para outra realidade, uma dimensão distorcida, viu cidades em chamas, raças subjugadas pelo domínio do caos e o terror espreitando cada esquina. Fechou os olhos por um instante fugaz, respirando fundo, deixando-se levar pelo sono que chegava, enquanto sua mente mergulhava nas sombras do desconhecido. Calum despertou com o rosto tocando a grama macia. Abriu os olhos para encontrar-se num jardim brilhante, onde tudo resplandecia em branco: desde as lâminas das gramas até os frutos, a maioria dourados ou prateados, e as folhas em tons de cobre. Suas vestes, leves e alvas, pareciam flutuar ao capricho de uma brisa suave que dançava entre os ramos. Ao erguer-se, deparou-se com Elara, a Deusa da Lua, adiante. O orvalho descia das folhas como lágrimas celestiais, cada gota refletindo a luz pura que inundava aquele lugar sagrado. Os frutos brilhavam com um esplendor que só poderia ser comparado às jóias mais preciosas, cada detalhe meticulosamente desenhado como se esculpido por mãos divinas. As folhas, com seus tons de cobre, oscilavam suavemente, sussurrando segredos ancestrais ao vento que as acariciava. Calum sentiu-se envolvido por uma paz profunda, como se cada elemento daquele jardim radiante o abraçasse com a serenidade de um tempo esquecido, onde o mistério e a beleza se entrelaçavam numa harmonia perfeita.
Ele se aproximou da mulher divina a passos incertos, sua visão distorcendo como se fosse arrastado por uma vertigem avassaladora. A cada passo, a imagem de Elara parecia ondular, enquanto ele lutava para se manter de pé. Então, num lampejo de horror, viu um líquido vermelho tingir as gramas brancas: seu próprio sangue escorrendo dos olhos e do nariz. Elara olhou para ele com olhos carregados de tristeza e advertiu: "Você não controlou o caos. Agora, todos serão condenados." Calum caiu de joelhos sobre a grama imaculada, suas mãos tocando o solo que começava a queimar como brasas incandescentes. O fogo consumiu tudo à sua volta, até as vestes da mulher divina se transformaram em cinzas. A visão se desfez num clarão ardente.
Ele acordou abruptamente, o calor do fogo devorando a cabana ao redor. Luf e Morgana tentavam desesperadamente acordá-lo, enquanto os destroços caíam ao redor deles. O Crasko ficou preso sob os escombros, Morgana tossindo e Calum tentando ajudá-los. Mas, em um último ato desesperado, ela invocou a magia do ar, lançando-o para fora da cabana em chamas. Calum assistiu impotente enquanto ambos eram consumidos pelo fogo, seu grito ecoando de forma descontrolada e aterrorizada na noite ensurdecedora. O calor abrasador lambia seu rosto, as chamas dançavam com uma fúria indomável, e o cheiro acre de carne queimada invadia suas narinas. Seus olhos arregalados refletiam o horror do cenário, enquanto o som crepitante do fogo e os estalidos dos madeirames se misturavam aos gritos sufocados de seus amigos.
Ele tentou correr de volta, mas a força do impacto o havia lançado longe demais. Seus joelhos cederam, e ele caiu pesadamente no chão, sua mente assaltada por uma tempestade de emoções. O fogo que consumia a cabana parecia zombar de sua impotência, cada língua de chama uma lembrança cruel de seu fracasso. A dor da perda e a culpa esmagadora o rasgavam por dentro, enquanto ele assistia, incapaz de fazer qualquer coisa para salvar aqueles que amava.
O desespero tomou conta de seu ser, e ele gritou com toda a força de seus pulmões, um grito primitivo e carregado de agonia que reverberou na noite. A imagem de Luf e Morgana, desaparecendo nas chamas, gravou-se em sua mente como uma marca indelével, um lembrete eterno de sua falha em controlar o caos que agora os condenava. Então, o silêncio se abateu. O crepitar do fogo diminuiu, e Calum ficou ali, ajoelhado, envolto na escuridão e nas cinzas do que um dia fora seu lar. O peso da tragédia pairava sobre ele, deixando-o em um abismo de desespero e culpa, enquanto o mundo ao seu redor caía em pedaços.
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