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01 - A festa dos Mortos - Parte II

Calum avançava sob o véu da noite, o ar carregado de frio que emanava das montanhas, ou talvez fosse o próprio vento gelado que o envolvia. Folhas secas, resquícios do outono, eram levadas pela brisa, dançando ao seu redor antes de desaparecerem na escuridão. Ele seguia pela trilha de pedras acinzentadas, cada passo o aproximando de sua casa. A morada de Calum, uma das últimas naquela região, aninhava-se ao pé das montanhas, onde águas cristalinas desciam abundantemente. Não demorou muito para avistá-la: os lampiões pendiam na sacada, um pequeno braseiro lutava contra a extinção, e lá estava ela, Melia, uma ruiva de beleza estonteante, esperando por ele com uma graça etérea. Na infância, Calum sempre se encantara com a beleza de Melia, mesmo sabendo que, para o reino e seu rei, aqueles de sua raça eram considerados insignificantes. Ela correu com dedos pelos fios rubeos como as brasas de uma lareira, e ergueu-se.

— Demorou, caçador! — sua voz era fina e suave, um sussurro do próprio pecado. Ela tocou os peitos nu de Calum antes de deixar um beijo nos lábios dele. — Mas que bom, posso ajudar com os fardos.

Ele engoliu em seco. Calum tinha os lábios levemente avermelhados, o tom de pele era bronzeado, mas não excessivamente, já seus olhos eram um contraste a parte, um azul como os céus do verão.

— Estava conversando com Delfin — ele disse, tentando se desculpar. — Não é obrigada a fazer isso, não precisa me agradar.

Melia sorriu tímidamente.

— Você, Calum — comentou a jovem mulher — é a única pessoa neste lugar que não me julga pelas escolhas mal feitas. É nobre, o homem mais bonito que meus olhos já viram, tão incrível e sereno.

— Obrigado pelos elogios — ele afastou-se educadamente dela, procurando sentar na varanda. Ela o seguiu. — Eu pensei que podia passar uma noite com você e descobrir como é a sensação, mas não posso, Melia. Sou jovem demais, me apego fácil e isso pode ser uma distração. O reino me convocou.

Ela suspirou fundo, encostou as costas numa pilastra, afastando a fenda do vestido lilás, deixando visível suas pernas brancas e lisas.

— Mais um motivo para experimentar — ela insistiu, subindo o vestido um pouco mais. — Oh, Calum, uma noite apenas. O desejo é como uma serpente, traiçoeira, perigosa, mas bonita.

Os olhos dela, de um verde musgo, encontraram os dele. Ela sempre o quisera, não para sempre, mas por uma noite. Todos naquela vila, jovens homens e mulheres, sempre o desejaram, mas Calum Fireblade recusava os convites. Era um rapaz de aparência invejável, apesar da beleza estar estampada no rosto daquele povo. Ele se reservava para uma paixão única, não para o fogo. No entanto, a oscilação de desejo o pegou desprevinido e sentiu a mão de Melia correr sobre suas coxas quando ela agachou no chão e olhou como um gato após ser ofendido pelo dono.

As mãos de dedos longos e grossos se fecharam no maxilar perfeito da ruiva e ele a trouxe para um beijo calmo e preciso, seus dedos como um ponto no mapa a ser explorado, ágil e rápido, trançando rotas até aquele instante encobertas pela incerteza, apertando-a contra sua muralha de músculos. Então afastou-se, a respiração soando ofegante, o vento mais intenso, capaz de carregar mais que folhas do chão, e com a força que tinha, Calum a carregou para dentro da casa, um pequeno chalé herança de sua família e ali dentro tomou Malia, a dominando, fazendo ela deixar gemidos escapar de sua garganta como nem um outro homem jamais haveria de conseguir. Sem fingir orgasmo, sem fingir que estava gostando, simplesmente liberta e fiel a todos os conceitos.

Na manhã seguinte, bem cedo, após certificar-se de que estava sozinho em casa, Calum sorriu. Seu corpo ainda nu tremia após horas de intenso trabalho carnal. Os cabelos grudados na testa, o suor escorrendo pela pele devido à umidade da noite anterior. Ele suspirou profundamente, procurando uma toalha, e dirigiu-se para fora, onde se banhou, deixando a água trazer um pouco de calma aos nervos em frangalhos. Retornou ao interior do casebre, que não possuía móveis em excelente estado, apenas algumas cadeiras de madeira rústica revestidas com couro de animais de pelagem negra. Uma mesa tosca ocupava o salão, com louças de barro sobre ela e estantes com vasos de cerâmica e chifres de criaturas variadas.

Calum apanhou uma de suas roupas mais formais: uma calça de couro folgada nas pernas, botas de material nobre que chegavam próximos aos joelhos, uma camisa de mangas compridas de cânhamo e uma jaqueta de lã. Ele colocou o coldre, onde repousavam algumas armas, principalmente facas. Seu pai, Loras, havia lhe presenteado ainda na adolescência com um arco élfico, forjado na própria Cidadela do Norte pelos maiores ferreiros do reino. Era longo, bem feito, com crinas de unicórnio. A aljava com flechas também era especial; ele sempre recuperava as que lançava, pois nunca errava o alvo.

Calum deixou sua casa quando o sol começava a surgir e caminhou pelas ruas de pedras até a Casa Comunal, a maior construção de Enya, onde os anciões do Conselho se reuniam diariamente para estudar os livros, as novas leis do reino e deliberar sobre investimentos em construções que beneficiariam a todos. A Casa Comunal ficava no centro, próxima à praça principal, uma habitação de três andares em madeira nobre, construída pelos maiores construtores da região.

Ele não demorou a alcançar seu destino. Abriu a porta lentamente, já vendo os homens e mulheres reunidos de joelhos em torno da estátua de Eslandril, a Deusa da Lua, a divindade mais cultuada do Sul. Os sulistas amavam as estrelas e a luz da lua, diziam que Eslandril era uma boa mãe, sempre os abençoando com noites de paz e iluminação. Ele fez uma lenta reverência para a estátua de argila tingida com cal e tinta branca, com detalhes promissores nos olhos e cabelos.

Calum sentou-se numa cadeira e aguardou que a prece dos anciões fosse concluída. Quando todos já ocupavam seus assentos, Mavin, o líder daquele conselho, um homem do Oeste de cabelos crespos e pele negra como um lago iluminado pela luz das estrelas, falou:

— Jovem caçador Calum — disse Mavin, sua voz denunciando a velhice. — Acordou cedo.

— Creio que todos aqui, meu senhor.

— Sim, é verdade — Mavin suspirou fundo. — Acredito que já esteja ciente do último comunicado do Alto Rei.

— Estou — começou Calum suavemente. — Azaban tem sete legiões com duzentos mil soldados em cada uma. Além desses sete exércitos, o Rei possui a Legião Negra e, na cidade, a Guarda Vermelha. Homens suficientes para travar e vencer guerras. Mas vivemos em tempos de paz, seiscentos anos de tranquilidade, e minha única pergunta é: por que o Alto Rei precisa de mais recrutas?

— É como perguntar ao vento o motivo dele precisar soprar todos os dias, sem descanso — Mavin gesticulou. — Rowan é um rei jovem, sábio e poderoso, sabe das coisas. Compreendo seu posicionamento, jovem caçador, mas estamos sujeitos à lei do reino.

Houve um suspiro calmo e agoniante.

— Quantos ao todo? Quantas vidas o Alto Rei pediu?

Mavin encontrou um ponto negro na parede e sorriu nervoso.

— Apenas a sua, Calum Fireblade. O próprio rei ordenou que você fosse sozinho à capital. Segundo boatos, ele precisa de mais influência no Continente, e isso tem algo a ver com você.

— Comigo? O que um simples caçador camponês do Vale de Anelis, morador das montanhas de Viseu, tem a oferecer a Rowan, Senhor de Azaban, Alto Rei dos Homens, o portador da Magia Profunda?

— Não sei da sua utilidade para o nosso rei, mas você é útil aqui para nós. No entanto, como líder deste conselho e vilarejo, peço que não recuse a oferta generosa de sua majestade, o rei.

— Está me liberando?

— Um mal antigo está acordando, Calum, o mesmo mal que devorou outrora, agora tenta retornar a este mundo. A sombra que desceu sobre Nänheim se espalha no Sul. Os ventos uivam seu nome, o fogo aquece o gelo, um presságio sombrio do destino tece nossas vidas. Baros Ablasak, primo de Rowan, está morto. E acredito que Lencel, seu tio, também. Isso aconteceu há duas luas. O que quer que o rei saiba, ele quer você por dentro.

O coração de Calum disparou, lágrimas ousaram descer de seus olhos, encharcando a pele de seu rosto, junto com arrepios ao ouvir o nome de seu tio, Lencel, o último recruta de Enya a ser levado. Mas, em meio a tantos conflitos, ele tomou uma decisão.

— Eu vou a Azaban e ao rei.

Calum Fireblade entrou na taverna, o ambiente repleto de vozes murmurantes e o som de canecas tilintando. O cheiro de madeira velha e álcool misturava-se com o aroma sutil de comida assada. Ele caminhou até o balcão, suas botas pesadas ecoando pelo chão de madeira.

— Um copo de rum, senhor Delfin — ordenou, a voz firme, olhando diretamente para o taverneiro.

Delfin, o homem atrás do balcão, de cabelos grisalhos e olhos astutos, assentiu e pegou uma garrafa escura de uma prateleira alta. Derramou o líquido âmbar em um copo robusto e deslizou-o pelo balcão até Calum. Calum pegou o copo, observando a cor rica do rum. Levou-o ao nariz, inalando os aromas complexos de caramelo, baunilha e uma pitada de especiarias. O cheiro evocava memórias de noites passadas ao redor de fogueiras e aventuras em terras distantes, ou até mesmo nas caçadas. Levou o copo aos lábios e tomou um gole. O rum desceu quente e suave, aquecendo-o por dentro. Sentiu as notas de caramelo e baunilha se misturarem com uma leve ardência de especiarias. Cada gole trazia uma nova camada de sabor, e ele permitiu-se relaxar, sentindo a tensão dos últimos dias se dissipar lentamente, e da posição acerca de voltar a cidade dourada. Sentado em um canto da taverna, Calum observava as chamas dançantes na lareira, os reflexos dourados brincando em seus olhos. Enquanto saboreava o rum, sua mente vagava para os desafios à frente e as sombras do passado. O rum era mais do que uma simples bebida; era um breve alívio, uma pausa nas batalhas constantes que marcavam sua vida de caçador. A taverna, com suas paredes de madeira e teto baixo, parecia um refúgio temporário, sentiria falta daquele lugar e, principalmente, de Delfin quando fosse. Calum deixou-se envolver pelo ambiente acolhedor, os sons e cheiros familiares proporcionando um raro momento de paz. Ele sabia que logo estaria de volta à estrada, enfrentando novos perigos e desafios, mas por enquanto, cada gole de rum era uma pequena vitória, um momento de conforto em um mundo incerto.

— Creio que tomou uma decisão — sibilou Delfin, secando os copos. — Vai até à capital?

— A capital veio até mim, velho amigo — a amargura estava visível em sua voz. — Rowan ordenou que eu fosse a Azaban. Apenas eu.

Delfin ergueu uma sobrancelha falha.

— Algum trabalho em especial?

Calum sacudiu a cabeça em negação.

— Não sei ao certo. Estamos vivendo uma era de paz, mas o Conselho insisti em dizer que o mal acordou.

— E vai jogar sua vida fora porque velhos com um pé na cova falaram que o inimigo voltou? — Delfin riu com sarcasmo. — Você é inteligente, Calum, é um rapaz esperto, mas prezo a dogmas e lendas de supertisçiosos.

— Tio Lencel morreu.

— O quê?

— Tio Lencel, o único familiar meu, ainda vivo, morreu.

— Como? Quando?

— Há duas luas, mas não sei onde. Eu preciso descobrir, Delfin. A minha ida a cidade será exclusivamente para investigar.

Delfin espreitou os olhos, depositou mais rum no copo de Calum e analisou a expressão do garoto.

— Eu sinto muito, muito mesmo, Calum. Seu tio foi um homem importante para Enya, assim como você, e temo ficar desprotegido na sua ausência.

Calum riu nervoso.

— Nada vai acontecer com Enya ou com você, velho amigo. Voltarei breve, prometo.

— Pretende partir quando?

— Amanhã, por isso vim até aqui.

Delfin voltou a erguer uma sobrancelha.

— Creio que busca por um transporte.

— Acertou.

Delfin era um homem na casa dos sessenta anos, conheceu os pais de Calum, eram amigos próximos, fizeram tantas coisas juntas e quando o velho pai de Calum faleceu, não deixou de cuidar dele. Sempre comprava as caças a um preço justo quando podia. Nunca o deixou na mão.

— Venha comigo, garoto.

Delfin abriu a pequena porta do balcão e passou por ela, caminhou para fora, seguindo até a parte de trás da casa onde havia um estábulo com cavalos e alguns outros compartimentos para outros animais. Calum o seguiu de perto, Delfin explicara sobre como conseguiu aqueles belos garanhões, mais um, em especial, de pelagem negra, chamou a atenção do rapaz.

— Pago quinze peças de prata por este.

— Aendor é o nome dele.

— Dar nome élfico para cavalos?

— Ele é élfico, jovem caçador. Foi um presente do próprio Senhor de Emeriony, para mim. O arco — ele comentou — também foi dado a seu pai por alguns trabalhos realizados para Cirlard.

— Você já viu os elfos?

Delfin assentiu.

— Há muitas décadas... lutamos juntos em Iléria. Seu pai salvou a vida do rei dos elfos, então o presenteou com este arco.

— Meu pai?

— Seu pai era um homem Duäle, cabelos brancos naturais, beleza invejável e possuía algumas habilidades. Deve ter herdado mais que o carisma dele. Descobrirá no momento certo.

Calum fitou o chão.

— Pago quinze peças de prata no Aendor.

— Aendor não é um cavalo para ser vendido, Calum. Ele é um presente inestimável, que esteve comigo durante muitas caçadas, mas que agora vive aqui, em bom estado, é claro — Delfin afagou as crinas negras do belo garanhão. Fechou os olhos como se cenas de aventuras passassem em sua mente, sorriu. — Agora eu dou ele a você, como um presente, assim como Cirlard me deu.

Calum arregalou os olhos.

— É sério? Eu não posso aceitar.

— Deve, caro amigo. Ele me serviu bem por anos, servirá a você também. Só me promete uma coisa.

— Eu cuidarei dele.

— Isso também, Calum — Delfin tocou o rosto jovial do rapaz. — Prometa para mim que vai voltar com vida para nós.

Era uma promessa que Calum poderia não cumprir, mas para satisfazer e acalmar o coração de Delfin, ele assentiu.

— Eu prometo.

— Que bom! — Delfin secou as lágrimas. — Venha comigo, vamos almoçar. Minhas cozinheiras prepararam um assado e quisado de carne de boi. Está divino.

A floresta de Averion deveria ser evitada ao máximo. Diziam que uma antiga magia sombria havia sido lançada sobre suas raízes. Era apenas uma criança órfã da Primeira Era quando os Elfos do Norte desceram o rio e fixaram morada entre os ermos de Costa-Parda. Ensinaram aos animais a falar, a pensar e comunicar uns com os outros, deixando de ser selvagens para se tornarem civilizados. Fizeram o mesmo com as árvores, tecendo suas folhas e ensinando-as a sentir dor. Quando os homens vieram de Berônia e fizeram do Sul a sua morada, os poucos elfos que resolveram lutar pela estabilidade de sua comunidade foram mortos, e os corpos deixados para as feras, que, em nenhum momento, quiseram saborear o gosto da carne élfica. A terra então os acolheu, fazendo-os descansar. Assim nasceu Averion, uma floresta extensa que se estendia desde o Rio Anuliel até as falésias de Azaban. Os animais domesticados pelos elfos desapareceram, e os selvagens predominaram.

Naquele dia, Calum Fireblade, com sua aljava cheia de flechas e o arco élfico nas costas, atravessava o limiar proibido da floresta. Seus passos eram cuidadosos, seus sentidos aguçados a cada som e movimento ao redor. O sol mal conseguia penetrar a densa copa das árvores, criando um ambiente sombrio e nefasto.

Calum sabia das histórias, das lendas que cercavam Averion, mas precisava encontrar algo para caçar e levar na viagem. Havia rumores de que algo maligno estava despertando, e apenas alguém com a habilidade e coragem de Calum poderia descobrir a verdade, porém ele era apenas um mero caçador. A cada passo, sentia a floresta viva ao seu redor. As árvores sussurravam segredos antigos, suas folhas vibrando com uma consciência que poucos podiam compreender. Animais o observavam de longe, seus olhos brilhando nas sombras. Calum mantinha a mão perto do cabo da adaga, pronto para qualquer eventualidade.

No coração de Averion, encontrou um claro, onde um velho carvalho se erguia majestoso. Suas raízes entrelaçavam-se como serpentes, e uma luz espectral emanava de seu tronco. Calum aproximou-se com cautela, sentindo a magia antiga fluir ao seu redor. De repente, ruídos ecoaram na floresta, rompendo o silêncio ancestral. Calum Fireblade, com a destreza de um caçador nato, retirou o arco das costas. Rapidamente colocou uma flecha na corda, feita de crina de unicórnio, seus olhos espreitando cada movimento ao redor. O crepúsculo caía lentamente, e o canto dos pássaros noturnos começava a preencher o ar. Escondido atrás de uma árvore, ele aguardava, de costas, tentando pegar a caça desprevenida.

Ouviu passos, o som de gravetos e folhas secas sendo esmagados. Calum engoliu em seco quando um lampejo de luz brilhou em sua visão periférica. Pensou estar ficando louco, piscou os olhos algumas vezes e franziu o cenho. Saiu de trás da árvore, o arco mirado em qualquer movimento abrupto na mata densa. Calum era um caçador experiente, capaz de discernir entre passos de criaturas, caças e humanos. Contudo, aqueles sons não pertenciam a nenhum desses. Havia algo mais, algo estranho e inquietante. E tudo começou com sibilos em uma língua desconhecida que cortaram o ar, e uma dor lancinante tomou conta de sua cabeça. Caiu de joelhos nas folhas secas, os gritos de dor abafados pela densa folhagem. Levou as mãos à cabeça, tentando inutilmente aliviar o sofrimento. Seus olhos se fecharam, mas ele ainda podia perceber os passos suaves se aproximando, um brilho vaporoso iluminando a escuridão crescente, trazendo um silêncio opressivo e perturbador. Calum sentiu o ambiente mudar ao seu redor, a presença de uma magia antiga e poderosa. O brilho aumentava, preenchendo a clareira com uma luz sobrenatural. Seus sentidos estavam entorpecidos pela dor, mas sua determinação permanecia intacta.

— Um forasteiro, em Averion? — era uma voz calma, quase humana, mas mais suave, como um sussurro do vento. — Há muitos anos, no tempo da guerra, aqui foi o berço da luz e de toda a criação. Todos os animais viviam em harmonia.

Calum abriu os olhos e encontrou pés prateados, com dedos que brilhavam como diamantes intensos. Levantou o olhar, fixando suas safiras naquele ser radiante, uma figura que parecia um feérico brincando com a magia da luz. Havia, porém, algo estranhamente distinto. A boca da figura não se movia. Seus cabelos eram brancos, assim como suas vestes sutis. Calum voltou a fechar os olhos, tentando recuperar a clareza de seus pensamentos.

— Você não é real — murmurou ele, a dor ainda latejando em sua cabeça.

— Sou tão real quanto a magia que moldou esta terra — respondeu a voz, agora parecendo ecoar dentro da mente de Calum ainda mais intenso. — Eu sou a guardiã de Averion, um vestígio dos antigos elfos que aqui habitaram.

Calum forçou-se a abrir os olhos novamente, tentando se levantar. A figura prateada permaneceu imóvel, observando-o com olhos que pareciam pedras de giz.

— Por que estou aqui? — perguntou Calum, finalmente conseguindo ficar de pé, embora com dificuldade. — Por que está aqui?

— Você veio buscar respostas, jovem caçador. As sombras estão se movendo novamente, e o equilíbrio de Averion está ameaçado. Você tem um papel a desempenhar nesta história, um destino que ainda não compreende. E eu, bom, eu posso desenhar o destino como eu quero.

Calum sentiu um calafrio percorrer sua espinha. As palavras da guardiã eram enigmáticas, mas carregavam um peso que ele não podia ignorar. Ele sabia que sua jornada estava apenas começando, e que as respostas que procurava estavam ligadas àquela floresta misteriosa e à magia antiga que a permeava. Ele lembrou que seu tio, Lencel, passou por alí.

— Eu não vim atrás de resposta alguma. Vim caçar.

— Todos com cicatrizes no coração dizem a mesma coisa — ela agachou. — O mal dobrou o tempo, caçador. Sua família roubou algo do Velho Rei e ele descobriu e agora quer você para extrair.

— Eu não roubei nada. Não sei de nada.

— Ele quer você, então vai extrair até a sua vida. Você precisa aceitar o destino... precisa encontrar o coração de Averion.

— O que preciso fazer? — perguntou, sua voz firme apesar da incerteza.

— Dobre-o.

A figura foi desvanecendo aos poucos, restando apenas um brilho residual na clareira, trazendo consigo o terror da noite. Calum engoliu em seco, olhando envolta à procura de algum sinal, mas não havia nada que já não tivesse visto. Nem mesmo conseguia discenir realidade de fantasia.

— Não foi real — ele disse a si mesmo, erguendo-se. — Nada disso é real. É o ar dessa maldita floresta.

Ele sacudiu a cabeça, olhando para a trilha e caminhando para ela, regressando de volta a Enya com uma confusão predominando sua mente.

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