08. Ajuda de um velho conhecido
A consciência voltava-lhe aos poucos, sua visão estava turva e mal conseguia identificar os objetos ao seu redor. Um beep-beep constante ecoava em seus ouvidos. Respirou e sentiu o cheiro comum em ambientes hospitalares, mas só de fazer tal ação Mia sentiu seu peito alfinetar. Entendendo a situação do seu corpo, manteve a calma e apenas fazia movimentos lentos. Olhou para o vidro que dava para o corredor e logo reconheceu Ivy, que conversava aflita com uma mulher de jaleco. Percebendo a movimentação dentro do quarto, Ivy logo se derrama em lágrimas, tampando a boca para não gritar. A médica percebe, mas não permite que a secretária entre no quarto, segurando-a pelos ombros.
A voz de Ivy soa chorosa por algum alto-falante dentro do quarto, cortada por soluços involuntários.
- M-Mia-san! V-você está b-bem?
A inventora sorri de leve e acena positivamente. "Será um longo inverno...", ela pensou.
De fato, não foi nada fácil para Mia conseguir fazer seus afazeres como CEO da Laurent Corp. Agradeceu aos céus por ter Ivy, Lilly e Ângelo para lhe darem apoio. Usava a cadeira de rodas para se locomover, pois ficava esgotada fisicamente só respirando.
- Mia-san, você está tão gelada... - Lilly dizia enquanto cobria com as palmas da mão as bochechas não tão mais redondas assim.
- Está cada vez mais difícil, Lilly...
- Não diga isso! - A cozinheira se agachou para ficar na altura de Mia. - Os médicos estão fazendo de tudo para retirar as linhas. Não desista agora! - Ela olha para onde a inventora dirigia sua atenção.
Em sua mesa na Laurent Corp. Mia observava um denden mushi adulto que parecia ser muito velho. Estava cheio de rugas e riscos no casco. Dormia silenciosamente e Lilly lembrou que ele nunca havia tocando.
- Talvez... Esteja na hora... De pedir ajuda... Ou pelo menos tentar...
Mia fez um sinal e Lilly trouxe o caracol para mais perto. Tirou o fone e o denden mushi ligou automaticamente. Tocou uma, duas, três, quatro vezes e Mia quase desligou, quando uma voz masculina atende do outro lado.
- A-alô? Mia? É você?
A inventora suspira, buscando as palavras para responder à pessoa do outro lado da linha.
- Achei... Que minha mãe iria atender...
- Não diga isso, você é minha filha também, lembra? Mas para você estar usando o seu denden mushi.. deve ser urgente, não?
- Estou cansada... Por isso serei direta... Eu preciso de você aqui... Em Starlight...
- O que? Como assim? Estou no meio de uma pesquisa importante, Mia, não posso sair assim...
- Eu sabia... - Mia fala com um toque de decepção. - Você é o único... Junto com o meu plano... Pode dar certo... Vou pedir para enviarem... Por uma linha segura... Você decide... Se quer que eu viva... Ou não...
Desligou sem dar tempo para despedidas. Lilly observava silenciosa tentando entender porquê tanta frieza com próprio pai, mas soube, no instante em que a amiga pediu ajuda, seria aquilo ou nada mais funcionaria. Se dispôs a ajudar no que estivesse ao seu alcance.
- Mia-san, me diga o que fazer. - Lilly disse tentando esconder o aperto no coração. - Precisa enviar papéis, certo? Posso ajudar nisso.
Mia sorriu, grata pela boa companheira que tinha ali. Deu as instruções e tudo que lhe restava era aguardar.
Uma semana e meia se passou, Mia estava mais fraca do que antes. Os médico descobriram que ela só está viva porque seu haki está protegendo seu coração. Poderia ser considerado milagre, mas sabiam que não duraria por muito tempo.
Um alvoroço no porto de Starlight. Ao longe, um navio da Marinha acompanhado por vários outros navios menores. A balça de Starlight chega e as pessoas observam curiosas, desde que a Marinha não era mais responsável pela segurança da ilha, tornou-se raridade vê-los. Quando precisavam de algo em Starlight tinham que ficar ancorados a 15 km da ilha e assim ter a balça para transporta-los.
De dentro do transporte, uma quantidade enorme de soldados saiu escoltando um homem de jaleco e blusa listrada. As pessoas tentavam olhar ficando nas pontas dos pés, mas não conseguiam ver o rosto do misterioso ser.
- Eu não posso permitir que todos esses homens entrem aqui! É um hospital, pelo amor de deus!
- Mas eu preciso curar a minha filha! Ela está aí, não está?
O Almirante responsável pela escolta colocou a mão no ombro do outro. Sua fala era mansa e pausada. A enfermeira levantou seu olhar, pois ele era muito mais alto do que estava acostumada por ali.
- Está tudo bem. Posso acompanhá-lo pelo menos? - A enfermeira faz que sim com a cabeça, impressionada com a presença do homem. - Então fiquem aqui, rapazes. Nada de arrumar confusão, senão o Almirante da Frota vai comer o couro de vocês.
Em unissono, os marinheiros concordam com a ordem e ficam em posição de sentido.
- Sim, Almirante Aokiji!
No quarto de recuperação intensiva, os dois recém chegados observavam a paciente, acordando devagar com o toque suave do interfone.
- Mia-san, eles chegaram. - Ivy dizia enquanto entregava para o homem mais baixo os exames e imagens do coração de Mia. Ela acena para os dois permitindo a entrada.
Ao entrarem pela única porta do quarto, os dois homens sentem uma película envolver o corpo todo, permitindo a respiração. Pareciam envoltos em uma bolha de sabão maleável.
- Inteligente. - Dizia o homem de jaleco, apreciando a medida tomada. - Evita contaminações externas para pacientes em condições delicadas.
- E vocês vão... Estar limpinhos... Depois de sair daqui...
- Você tem certeza que quer fazer isso, Mia?
- Eu não tenho... Muita escolha... A primeira parte... É fácil para você... Quero ver a segunda... - Descansou alguns minutos, fechando os olhos e relembrando o que tinha que falar. - Use o que... For preciso... O hospital e ... A corporação irão... Ajudá-lo...
Mia adormeceu sem que quisesse. O cientista saiu apressado dali, seguido pelo Almirante Aokiji, que o acompanhou até a Laurent Corp.
- Quanto tempo irá levar, doutor Vegapunk?
- Hm... - O cientista já estava longe dali escrevendo o que precisaria para prosseguir. Respondeu à pergunta rispidamente. - O tempo necessário, afinal de contas ela é minha filha...
Uma semana se passou. Vegapunk mal dormia. Ele concordava que a primeira etapa, criar um coração robótico, não era a coisa mais difícil para ele, mas a segunda era instigante e ele usava de todo seu conhecimento sobre as frutas do diabo. Aqueles esquemas que Mia entregou o impressionou.
- Talvez dê certo... Sim... - Ele murmurava consigo mesmo. Fez um protótipo rápido e chamou o Almirante. - Por favor, Almirante, use seus poderes para criar cubos de gelo e coloque nessa bacia.
- Esta cheio de gelo?
Vegapunk afirmou com a cabeça. Aokiji obedeceu e criou cinco cubos de gelos em formatos pássaro. A pequena máquina de mesa foi acionada e liberava um leve zumbido. A água no recipiente ondulava e logo em seguida os cubos de gelo começaram a movimentar-se. Curiosamente, os gelos em forma de pássaro foram separados pelos outros, ficando mais próximos da chapa de metal.
- Então é verdade... - Ele sussurava já se esquecendo da presença de Aokiji. - É como se o gelo criado, falando sobre sua propriedade, não muda de acordo com o gelo normal. Fisicamente, são idênticos, porém diferentes. Pode se dizer que as coisas criadas pelos usuários da fruta do diabo possuem um DNA! Criar uma máquina que separe o criado do natural é interessante, mas... - Leu mais alguns papéis escritos na caligrafia de Mia, além de fazer anotações em seu próprio caderno velho. - Transformar o tal DNA para que você possa controlar os fio? Será que isso é realmente possível?
Vegapunk trabalhou por mais três dias fazendo experimentações até chegar na sua conclusão. Não estava confiante que daria 100% certo, mas sabia que se não funcionasse, pelo menos o coração da filha estaria bem e ela teria uma vida normal novamente.
Na sala de cirurgia, Vegapunk e o cirurgião cardiologista preparavam os equipamentos. As enfermeiras chegaram com a maca e transferiram Mia para a cama de cirurgia. Bolsas de sangue do tipo A estavam estocadas, caso uma transfusão de sangue fosse necessária.
- Tem certeza que fará isso acordada, senhorita? - O médico perguntava, preocupado com a dor absurda que iria sentir.
- Eu preciso... Estar consciente... Para controlar o haki... - Acenou para Vegapunk, que trouxe uma máquina parecida com um túnel, as chapas especiais posicionadas nos braços dela. Em uma tela, o coração de Mia era focado, resultado da ressonância magnética. Linhas finas envolviam o órgão, impedindo que batesse como normalmente faria. Mia respirou algumas vezes e mandou um sinal que estava pronta.
A máquina começou o seu zunido, agora em uma escala maior. Logo nos primeiros segundos, Mia retorcia-se em uma dor agonizante, mexendo as pernas e agarrando-se às bordas da cama. Os envolvidos observavam atentos ao coração, mas os fios ainda não se moveram.
- Aguente mais um pouco, filha! Só mais um pouco! - Vegapunk dizia, alfito pelos gritos desesperados de Mia.
- Eu vi! O tronco pulmonar está sendo liberado! - Disse uma das enfermeiras.
- As da aorta também! - O cirurgião prosseguiu. - Como está a pressão?
- Aumentando rápido demais, doutor! Desse jeito... - A jovem loira não conseguiu terminar a frase.
- Diminua o ritmo, Vegapunk! Desse jeito o corpo dela não vai aguentar! Se o coração voltar a funcionar como antes, ela pode sofrer consequências cerebrais graves!
- Usem seus métodos para isso não acontecer. Ela vai conseguir! Vamos, filha!
- Doutor, não há mais nenhuma linha! Mas a pressão está aumentando! - A enfermeira morena alertava.
- O batimento está estranho. - O cirurgião apontou com o dedo a parte superior do órgão. - Está irregular. Senhorita, o que está sentindo?
Mia responde apenas com um grito de dor.
- É agora, filha! Use seu haki, irei ligar o conversor!
A inventora trinca sua mandíbula, fazendo um esforço enorme para concentrar o haki em seus braços, seus olhos abertos não viam nada, estavam brancos. As luzes do edifício piscavam e as pessoas próximas sentiam uma sensação de desconforto.
Mia sentia cada fio querendo escapar dali, mas ela não deixava. No interior de seus braços, convertia cada um em uma extensão de seus músculos. Logo, as coisas foram se acalmando, ela não mais se debatia, mas as pessoas na sala não estavam paradas.
Vegapunk afastou a máquina para longe e trouxe numa caixa o coração artificial. A enfermeira loira preparava as bolsas de sangue, pois os braços da paciente sangravam por conta de microcortes em abundância. Uma poça vermelha se formava dos dois lados da cama e o cheiro de ferro dominava o recinto.
- Penny, inicie a anestesia. Não podemos demorar para estabelecer as conexões principais do coração, senão o cérebro não irá aguentar.
Dessa vez Vegapunk apenas observava ao lado, dando passagem para as enfermeiras fazerem seu trabalho. Após a contagem da anestesia, o doutor começou por um corte preciso no centro do peito, descendo pouco mais de um palmo e meio. Seus movimentos eram ágeis e minuciosos, evitando desperdiçar energia. As enfermeiras estavam sempre de prontidão para atender suas necessidades.
Com delicadeza, retirou o coração e o depositou em uma bandeja, ainda com as veias conectadas. O órgão agora batia ritimado do jeito que podia, estava menor por conta da prisão prolongada que sofrera e até um pouco deformado comparado a um coração saudável.
O cirurgião trocou as luvas ensanguentadas por limpas e mandou abrir a caixa. Retirou, com cuidado, algo similar com o coração humano, mas com suas diferenças, como por exemplo, a cor, que era pálido, cinza e com um pouco de brilho, lembrando algo de metal maleável. Possicionou o órgão artificial próximo ao local de implante, lançando um olhar para a enfermeira morena. Uma outra máquina foi trazida e o cirurgião a conectou em Mia para que o oxigênio continuasse sendo bombeado para o cérebro.
O procedimentos levou cerca de quatro horas e foi um sucesso. O coração artificial batia agora, fazendo o trabalho da máquina, bombeando o sangue por todo o corpo de Mia. Fechou o corte no peito sem fazer pontos, utilizando a cola cirúrgica. Agora teria que ficar em observação para ver se não ocorreria a rejeição do órgão. O médico voltou-se para onde Vegapunk se manteve de pé, mas ele já não estava mais ali.
No quarto simples, o canto dos passarinhos invadia o lugar e o sol da manhã acariciava a pele de Mia, que abria os olhos lentamente. Na janela, Ivy observava a natureza quando percebeu o despertar da amiga.
- Já chega de fazer baderna, certo? - Disse a secretária não conseguindo conter as lágrimas de felicidade, deixando de lado, por hora, a formalidade. - Eu tô tão feliz, Mia. Não sei o que seria de mim sem você! - Ela se aproxima para segurar a mão da amiga, que a chamou para mais perto.
- Nah, você ficaria bem na minha ausência, Ivy, eu sei que ficaria.
Ivy ajeita o cabelo bagunçado, tirando-o do rosto de Mia e deposita na testa da inventora um beijo suave. Mia sentiu o perfume caríssimo que ela sempre usava. O primeiro frasco havia sido dado pela própria inventora no primeiro aniversário de namoro delas. Desde então Ivy nunca trocou de perfume.
- E então, como está se sentindo?
- Com um buraco no estômago. Quero um queijo quente, não, dois queijos quentes crocantes da Lilly.
- Tá brincando comigo, né? Vou pedir pra ela fazer uma refeição leve, cheia de vitaminas pra você. - Ivy vai andando para a porta fazer seu pedido a cozinheira enquanto murmurava pra si mesma "Queijo quente, onde já se viu...". Saiu do quarto, mas voltou colocando a cabeça para dentro, dando um belo sorriso. - É bom ter você de volta, Mia-san.
- É bom estar de volta, Ivy-san. - Devolveu o mesmo sorriso. O brilho nos olhos de Mia estavam mais fortes do que nunca, pronta para dar o troco. Não ligava que iria demorar, mas mais cedo ou mais tarde o Rei de Dressrosa pagará.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro