17| Irmandade
•Música de sugestão:
Seafret - Atlantis
Chego em casa depois de um longo dia de ensaio na escola com a Sassy. Ela é uma garota simplesmente adorável, e eu me sinto muito bem ao lado dela... me sinto como nunca senti ao lado de uma garota. Estou exausto, mas satisfeito com o progresso de hoje. Abro a porta da frente, já imaginando um banho quente e uma refeição reconfortante.
Ao entrar na sala, ouço barulhos vindos da cozinha. Curioso, sigo em direção ao som e, assim que atravesso a porta, me deparo com uma cena digna de uma comédia pastelão.
Meu irmão Rindou está no meio da cozinha, coberto da cabeça aos pés de farinha de trigo.
O pó branco cobre seus cabelos, roupas e até mesmo o chão ao redor. Ele tenta limpar o rosto com as mãos, mas só consegue espalhar mais farinha por toda parte.
— Rindou, o que aconteceu aqui? — pergunto, tentando segurar o riso.
Ele me olha com uma expressão que mistura frustração e humor.
— Eu só estava tentando fazer nhoque. — responde, a voz abafada por causa da farinha. — Acho que exagerei um pouco na farinha.
A visão é hilária. Rindou, sempre tão meticuloso, agora parece um fantasma de farinha. Começo a rir incontrolavelmente, e ele acaba se juntando a mim. A cozinha está uma bagunça total, com tigelas, colheres e ingredientes espalhados por todo canto.
— Vamos, deixa eu te ajudar a limpar isso. — digo, ainda rindo.
Juntos, começamos a limpar a cozinha, tentando colocar tudo em ordem. Rindou se desculpa várias vezes, mas eu apenas balanço a cabeça, achando graça da situação. Jamais iria brigar com ele.
Depois de um bom tempo, conseguimos deixar a cozinha decente de novo. Rindou, agora um pouco mais limpo, resolve tentar fazer o nhoque novamente, desta vez com mais cuidado. Eu fico por perto, observando e dando algumas dicas, e logo o aroma delicioso do nhoque fresco começa a tomar conta da cozinha.
— Rindou, você realmente precisa me explicar como conseguiu se sujar tanto assim. A cozinha parecia um deserto de farinha. — falo rindo.
—Você nem acredita no que aconteceu. — ele diz, ainda rindo um pouco. — Bom, tudo começou quando eu decidi que queria fazer nhoque do zero. Peguei a receita, separei os ingredientes e comecei a misturar a farinha com as batatas.
— Até aí, tudo bem. — comento. — Mas isso não explica por que você estava mais branco que um fantasma. — falo enquanto pego a massa que já está cortada em quadradinhos e coloco na panela.
— Calma, estou chegando lá. — diz ele, ainda rindo. — Aí, na hora de sovar a massa, percebi que estava muito grudenta. Então eu ensei: "Vou só adicionar um pouquinho mais de farinha."
— Deve ter sido mais que "um pouquinho" né?
— Sim, sim. — admite ele, rindo. — Mas aí, quando fui pegar mais farinha, esbarrei no saco e ele virou de cabeça para baixo. Voou farinha para todo lado! Eu tentei consertar, mas a cada movimento que eu fazia, só piorava a situação.
— Meu Deus, Rindou. — digo, balançando a cabeça. — E como você acabou com farinha no cabelo? Você jogou para cima também?
— Não, essa parte foi um acidente diferente. — explica ele, rindo ainda mais. — Quando eu estava tentando limpar a bancada, peguei a vassoura e, de alguma forma, consegui fazer a farinha voar. Acho que a farinha tem uma mente própria, cara.
Dou uma risada alta.
— Isso é um talento especial, sério. Conseguiu fazer nhoque e um desastre culinário ao mesmo tempo.
— Eu sou multifuncional. — brinca Rindou, provando a massa do nhoque. — Mas pelo menos o resultado final compensou, né?
— Só porque eu cheguei a tempo de salvar a situação. — digo, rindo. — Da próxima vez, tenta não transformar a cozinha em um episódio do "Caos na Cozinha" beleza?
— Prometo, mano. — diz ele, erguendo a mão em um gesto de juramento. — Mas, ei, se não tivesse toda essa bagunça, a gente não teria histórias engraçadas para contar.
Dou uma risada e concordo.
— Isso é verdade. Você sempre sabe como animar o dia, Rindou. Só tenta não destruir a cozinha no processo. — Você realmente se superou, Rindou.
— Acho que sim. — diz ele e olha para mim. — Como foi seu dia?"
— Foi cansativo, mas produtivo. — começo a contar. — Passei o dia ensaiando com a Sassy. Ela não dá folga, mas admito que estamos ficando muito bons. Cada detalhe, cada passo, tudo está se encaixando.
Rindou levanta uma sobrancelha e um sorriso travesso se forma em seus lábios.
— Ah, Sassy de novo, hein? Vocês dois têm passado muito tempo juntos ultimamente.
— É, ela é a minha dupla, faz parte do trabalho. — respondo, tentando parecer indiferente.
— Sei. — Rindou diz, dando uma risadinha. — Mas tenho que admitir, eu shippo vocês dois juntos. Vocês fazem um bom par, sabe?
Reviro os olhos, mas não consigo evitar sorrir.
— Para com isso, Rindou. A gente só está trabalhando juntos. É tudo para ganhar nota.
— Claro, claro. — ele responde, ainda rindo. — Mas não custa sonhar, né?
Dou uma risada e balanço a cabeça.
— Você e suas ideias. Vamos focar no nhoque antes que queime.
Mesmo com as provocações do Rindou, é bom ter esses momentos de descontração e companheirismo. Afinal, é isso que faz a vida mais leve e divertida.
Um tempo se passa, e assim que o nhoque fica pronto nos sentamos à mesa para saborear o prato recém-preparado. Apesar de todo o esforço e da bagunça, o nhoque está perfeito. Dou uma mordida e sorrio para Rindou.
— Valeu a pena toda a farinha, mano. Tá delicioso. — comento.
Ele sorri de volta, visivelmente orgulhoso. É nessas horas que percebo como os momentos mais simples, mesmo os mais bagunçados, podem se transformar nas melhores memórias. E hoje, com certeza, é um desses dias.
As 23:45 da noite. Eu ainda me pego acordando. Meu sono é bagunçado. Cada dia eu durmo em um horário diferente e as vezes acabo dormindo mais do que 9 horas de sono.
Me deito na cama de bruços, já de banho tomado e com o cabelo meio úmido. Sinto os fios úmidos molharem as costas da minha camiseta, fazendo minha pele arrepiar de certa forma.
Fico mexendo no celular até que eu fico cansado e me levanto, indo até o quintal de casa. Me deito na rede e observo o céu.
O céu está tão escuro quando os fios do meu cabelo. As estrelas brilham lá encima como se fossem glitter espalhado sob o céu. A lua, minguante parece um sorriso brilhoso no céu, e me faz sorrir. A noite é tão bonita, e ao mesmo tempo muito misteriosa.
— Ainda acordado? — pergunta Rindou e puxa uma cadeira de balanço que tem ali e se senta ao meu lado.
— Eu estou sem sono. E o mocinho deveria estar dormindo a uma hora dessas.
— Eu também estou sem sono, por incrível que pareça. — ele comenta e ri. — Será que existe alguma magia para nós dois pegar no sono?
Abro um sorriso e em seguida abro um espaço para Rindou se deitar ao meu lado na rede. Ele então se levanta da cadeira de balanço e se deita ao meu lado. A temperatura dos nossos corpos esquenta um e outro e eu começo a balançar a rede, em movimentos leves enquanto cantarolo a música "Faded" do Alan Walker bem baixinho.
— You were the shadow to my light, did you feel us? Another star, you fade away, afraid our aim is out of sight, wanna see us alive. Where are you now?
Eu continuo a cantarolar a música bem baixinho enquanto balanço a rede devagar e mantenho o meu olhar no céu estrelado.
Minha voz ecoa pelo jardim, se misturando com o som das folhas dançando ao vento. Termino a canção e, ao olhar para o lado, vejo meu irmão Rindou, profundamente adormecido na rede ao meu lado. Ele parece tão sereno, tão relaxado. Um sorriso involuntário surge em meu rosto.
Com todo cuidado do mundo, eu me levanto da rede, tentando não fazer barulho. Me aproximo do Rindou, observando seu rosto tranquilo. Com delicadeza, passo meus braços sob ele e o levanto no colo. Ele nem se mexe, perdido em seus sonhos.
Caminho devagar até a casa, o peso de Rindou é reconfortante, uma lembrança da nossa conexão. Entro no quarto dele e, com um movimento suave, o deito na cama. Ele se ajeita instintivamente, como se já soubesse que está em um lugar seguro. Pego o cobertor e o cubro, me certificando de que ele está bem aconchegado.
Antes de sair, me inclino e deposito um beijo leve em sua testa.
— Boa noite, Rindou. Eu te amo. — sussurro.
Ele sorri levemente em seu sono, e meu coração se enche de carinho. Saio do quarto em silêncio, fechando a porta suavemente, e me sinto grato por momentos como este.
Caminho em passos leves até o meu quarto. Porém o sono ainda não chega. O relógio já marca 00:15.
Me deito na cama e me viro de lado. Para o lado do criado mudo onde tem um porta retrato com uma foto minha e do Rindou quando éramos crianças, ele com 12 e eu com 13 anos.
Abro um sorriso. Nossa infância pode não ter sido nada fácil, mas sempre tivemos um ao outro.
Fomos deixados no orfanato quando eu tinha um ano de idade e ele tinha apenas alguns dias de vida. Até hoje eu não sei quem é os nossos pais, e nem quero saber, afinal se eles nos jogaram em um orfanato, é porque eles não queriam nós dois.
Meus pensamentos vagam e, de repente, uma onda de emoção me atinge. Me lembro de tudo que passei para criar meu irmão Rindou sozinho. As lembranças são vívidas, dolorosamente claras.
Minhas mãos começam a tremer e sinto meus olhos encherem de lágrimas. As noites mal dormidas vêm à tona, noites em que eu ficava acordado, preocupado com cada pequeno detalhe da vida do Rindou. Noites em que o medo do futuro me mantinha desperto, enquanto ele dormia tranquilamente ao meu lado.
Penso nas vezes que fiquei sem comer para que ele pudesse ter o suficiente. Me lembro de contar moedas, fazendo malabarismos com nossas necessidades básicas. Havia dias em que eu não sabia como iria conseguir, mas sempre encontrava uma maneira, porque falhar não era uma opção. Rindou dependia de mim.
As lágrimas começam a rolar pelo meu rosto, silenciosas e quentes. Recordo os momentos em que me senti totalmente sozinho, sem ninguém para me apoiar, mas não podia mostrar fraqueza. Precisava ser forte para ele, precisava ser a rocha em que ele pudesse se apoiar.
Soluço levemente, o peso de todas aquelas dificuldades me atingindo de uma vez. Cada sacrifício, cada momento de dor valeu a pena, mas isso não torna a memória menos esmagadora. Rindou nunca soube o quanto tive que lutar, o quanto me sacrifiquei para que ele pudesse ter uma vida melhor.
Enxugo as lágrimas, respirando fundo. Me sento na cama e me lembro dele, ele é a prova de que todo o meu sofrimento não foi em vão.
Sempre prometi a mim mesmo que, apesar de tudo, continuarei a protegê-lo e a amá-lo incondicionalmente. Até a minha morte.
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