07| Pânico & Cômico
•Música de sugestão:
Blink 182 - First Date
Estou prestes a entrar na sala de cinema com meu irmão, Rindou, para assistir "Pânico 4". Rindou está empolgado, mas eu estou mais preocupado com a pipoca e o refrigerante, tentando equilibrar tudo sem derramar nada. A sala está lotada e a iluminação é mínima, mal consigo enxergar os degraus. É quando o desastre acontece.
Enquanto tento seguir Rindou, confiante e ágil como sempre, meu pé encontra um degrau de uma maneira desajeitada e, em um piscar de olhos, estou voando para frente. Pipoca pra cima, refrigerante quase escapando da minha mão, e eu quase caindo de cara no chão. Parece que estou em câmera lenta, meus braços balançando como um pássaro desajeitado tentando voar pela primeira vez.
Antes que eu possa me ver espalhado no chão, sinto uma mão firme agarrar a gola do meu moletom. É Rindou, claro. Com reflexos de ninja, ele me puxa de volta para o equilíbrio, salvando não só a minha dignidade, mas também a pipoca e o refrigerante.
— Cara, tenta não fazer parte do filme. — ele diz rindo. — Só estamos aqui para assistir, não para atuar.
Eu só posso rir, ainda meio atordoado, e seguimos em frente. Finalmente, encontramos nossos assentos, eu me ajeito e coloco a pipoca no colo e os copos de refrigerante no porta-copos do assento. Enquanto o filme começa, lanço um olhar agradecido a Rindou. Claro que ele não perde a oportunidade.
— Sempre aqui para salvar o dia. — diz ele, piscando. — Me passa a pipoca aí. — ele diz e eu entrego a pipoca para ele, que eu gastei meus ienes só para comprar o combo e ele ficar com o brinde: o balde de pipoca é a cabeça do Ghostface.
E assim começa nossa sessão de "Pânico 4", com uma dose extra de adrenalina e uma história que vou lembrar toda vez que entrar em uma sala de cinema escura. Quem precisa de filme de terror quando se tem um irmão como o Rindou?
— Cara, "Pânico 4" foi incrível! Aquelas reviravoltas, os sustos, o suspense! Adorei cada minuto! — diz o meu irmão animado.
— Incrível? Eu fiquei boiando! Não entendi metade do filme. — repondo rindo e jogo os copos descartáveis do refrigerante no lixo e entrego o balde do combo para o meu irmão. — Quem era aquele cara com a máscara? E por que todo mundo parecia conhecer todo mundo?
— Espera, você não assistiu os outros filmes? — ele indaga impressionado e para na minha frente.
— Não, ué. Você disse que era só uma continuação, achei que dava para entender. Mas parecia que estava assistindo a última temporada de uma série sem ver as anteriores. — solto uma risada.
— Ah, Ran, você é um caso perdido. Como você esperava entender alguma coisa sem ver os outros três filmes? — ri debochado.
— Eu não sabia que precisava de um manual de instruções para um filme de terror. Só queria ver gente gritando e correndo do assassino.
— Bom, você viu isso, mas sem muito contexto. E agora, quer saber? Vamos resolver isso de uma vez por todas. Vamos maratonar os três filmes anteriores!
— Maratonar? Você tá doido? São quantas horas de filme?
— Será ao total 5 horas e 47 minutos. Três filmes, algumas pipocas e refrigerantes, e pronto, você vai entender tudo.
— Ah, Rindou, 5 horas e 47 minutos? Você quer me matar de susto ou de tédio?
— Confia em mim, vai ser divertido. E assim, na próxima vez que formos ver "Pânico 5" ou sei lá, você não vai parecer um peixe fora d'água.
— Tá bom, tá bom. Mas se eu tiver pesadelos com caras mascarados, a culpa é toda sua.
— Combinado.
— Que Deus me ajude
— Ah e por favor, sem mais tropeços nos degraus, senão vão achar que você é o próximo alvo do Ghostface.
Olho para Rindou e dou um tapa leve em seu ombro.
— Tá engraçadinho hoje hein? Dormiu com o Bozo?
— Tecnicamente sim. Você.
— Rindou Haitani!
Eu paro por um segundo, processando a audácia do meu irmão. E então, a decisão é tomada: vou atrás dele. Rindou, prevendo a minha reação, já começa a correr.
— Volta aqui, Rindou! — falo e saio em disparada atrás dele.
Acontece que Rindou é rápido, muito rápido. Ele corre com a leveza de um gazela, enquanto eu, tento alcançá-lo a todo custo. Mas Rindou não é o único bom em correr, pois eu também sou.
Corremos pelo shopping como duas crianças que escaparam do parquinho, ignorando completamente os olhares desaprovadores e julgadores das outras pessoas. Passamos por lojas de roupas, de eletrônicos, e até por uma praça de alimentação lotada. Quase derrubo um sorvete de uma criança, mas continuo correndo, determinado a pegar meu irmão.
— Palhaço? Eu vou te mostrar quem é o palhaço! — grito, ofegante, mas determinado.
Rindou olha para trás e ri, aumentando a velocidade. Ele faz curvas fechadas, desviando por entre as vitrines, enquanto eu tento cortar caminho, derrapando no chão liso do shopping.
Em um ponto, quase tropeço em um segurança que, claramente, não está nada feliz com a nossa corrida improvisada.
— Ei, vocês dois, parem com isso! — ele grita, mas estamos longe de ouvir. Minha atenção está completamente focada em pegar Rindou.
Finalmente, Rindou comete um erro: ele vira em um beco sem saída, uma loja de artigos de cozinha.
— Te peguei! — digo triunfante, mas antes que eu possa fazer qualquer coisa, ele pega uma tampa de panela e a usa como escudo.
— Rendição, rendição! — ele ri, ainda sem fôlego. Eu paro, também rindo, e percebo que, por um momento, todos no shopping foram personagens coadjuvantes na nossa comédia particular. As pessoas ao redor nos olham como se fôssemos loucos, mas não ligo. É impossível não rir da situação.
— Você é rápido, mas não pode se esconder para sempre. — digo, enquanto ambos tentamos recuperar o fôlego.
— Bom, pelo menos você admitiu que sou rápido. — responde ele, piscando.
E assim, com um aperto de mãos e risos compartilhados, terminamos nossa corrida pelo shopping, prontos para encarar mais um dia de aventuras e, quem sabe, mais algumas corridas. Afinal, o que são irmãos, se não parceiros de crime nas maiores palhaçadas da vida?
— Você corre pra caralho. — falo ainda ofegante. — Se um dia o fim do mundo acabar, você me leva nas costas.
— Acho que isso é na verdade o contrário. — responde ofegante e faz um coque bagunçado com o cabelo suado. — Você que tem que me lavar nas costas. Você é o mais velho. Tem que proteger o irmãozinho.
— É, concordo. — falo enquanto termino de amarra o meu cabelo em um coque bagunçado.
— O que vamos fazer agora. Ran?
— Não sei. Tem alguma ideia? — pergunto.
— Podemos ir naquele lugar que tem jogos. O que acha?
— Acho uma boa.
Caminhamos até o local onde tinha várias atrações de jogos e brinquedos. Pago por algumas fichas de jogo e Rindou imediatamente vai para um de corrida.
— Eu comprei 10 fichas, Rin. Vai que vai.
Rindou abre um sorriso e eu fico ali do lado dele, observando ele dirigindo o carro, trocando de marcha e acelerando, ele leva a sério, como se ele realmente estivesse em uma corrida de verdade.
Alguns minutos se passam, e uma mãe com um garoto com cara de mimado de aproximam do brinquedo onde o meu irmão está jogando.
— Vai, Rindou! Você vai ganhar essa corrida!
— Esse brinquedo é para o meu filho. Saia daí imediatamente!
— O quê? — indaga Rindou surpreso.
— Desculpa, mas o meu irmão estava aqui primeiro. — falo firme.
— Meu filho quer brincar agora. Vocês podem esperar.
— Ah, claro, e eu quero ganhar na loteria. Acho que estamos todos esperando alguma coisa. — falo rindo.
— Mãe, eu quero agora! — grita o menino e bate os pés no chão.
— Ei, garoto, você sabia que paciência é uma virtude? — falo encarando o menino que logo faz uma cara emburrada.
— Você está me dizendo que meu filho não pode brincar porque seu irmão está aí? — indaga a mulher visivelmente irritada.
— Exatamente. Viu como você é esperta? Meu irmão chegou primeiro, então ele brinca primeiro.
— Eu estou quase vencendo essa corrida! Dá um minuto. — diz Rindou.
— Isso é um ultraje. Onde está o gerente desse lugar?
— Hmm, não vejo nenhum gerente por aqui. — falo e olho ao redor dramaticamente. — Talvez ele esteja se escondendo de pessoas... arrogantes.
— Venci! Ran, olha só!
— Grande corrida, Rindou! Agora, quem é o próximo? — falo e coço o queixo. — Ah, espera, é ninguém! Porque meu irmão ainda tem mais duas voltas!
— Isso é ridículo. Vamos, querido, vamos encontrar algo mais digno do seu tempo. — diz a mulher arrastando o menino.
— Eu queria brincar agora!
— Vamos embora! — diz a mulher.
Olho para ambos e começo a rir. Logo entrego mais duas fichas para o Rindou e falo:
— Tá vendo, Rindou? A vida é uma corrida, e nós estamos sempre na frente.
— Valeu, Ran. Acho que essa foi a melhor corrida de todas. — ele diz sorrindo e insere duas fichas no brinquedo.
Abro um sorriso e continuo ali, ao lado do meu irmão. Garantindo que ninguém o machuque ou o atrapalhe.
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