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Contudo, o Futuro É Consequência do Passado

!AVISO!

O flashback contém narrativa de: violência psicológica e física. Caso não se sinta confortável, por favor, pule.

Califórnia, 08 de maio de 2024

Aiyra bin Talal

Meu olhar percorria cada detalhe externo da casa que há meses não visitava, uma vez que eu sempre estava buscando porquês para me distanciar de minhas raízes e frutos, como se isso pudesse anestesiar minha dor e poupar-me de reviver eventos traumáticos. Minha mandíbula se contraiu naturalmente, todo os meus gestos esbanjavam um excesso de agressividade.

Retornei à realidade, vendo fadar os fragmentos de situações que se materializam independentemente da minha vontade, quando senti a mão de Dylan repousando sobre meu ombro esquerdo. Um sorriso de conforto me era direcionado, entretanto, não me ative a devolver, ambos sabíamos que seria uma falsa demonstração de conforto.

A voz aguda e alta de Hana fez com que toda a atmosfera fosse dissipada, uma vez que fui, rapidamente, puxada para próximo dela.

— Riya, quanto tempo! — Fui comprimida violentamente em uma demonstração de afeto, e mesmo a minha resposta tendo sido um breve abraço e um cumprimento formal, a mulher negra manteve o tratamento afetivo. — Só faltavam vocês. — Me desvencilhei dela para introduzir meu acompanhante, que mantinha um olhar curioso sobre tudo desde que embarcamos na noite anterior.

— Hana, esse é Shawn. — Apontei para ele. — E Dylan você já conhece. — Sorri política dando espaço para que ela os cumprimentasse, e Hana o fez da mesma forma que há poucos segundos.

— É um prazer te conhecer, Shawn. Queria poder dizer que a Aiyra já havia me dito sobre você, mas estaria mentido. A última vez em que conversamos nem grávida eu estava. — Pude ouvir a risada dos três, mas minha atenção fora desviada a Joseph, que, como o usual, estava atrasado.

— Mãe! — Exclamou hiperbolicamente e me abraçou rapidamente. — Estava com saudades. — Lhe devolvi um sorriso, evitando expressar em palavras meus sentimentos. — Hana estava tão ansiosa para te ver. — Manteve o braço sobre minha escápula, me guiando para dentro da casa. Direcionei um olhar breve para trás, buscando me assegurar de como Shawn estava, mas o sorriso em seu rosto enquanto tocava a barriga de Hana me fizera relaxar.

— De quantos meses Hana está?

— Cinco, não queríamos contar antes. — Arqueei levemente a sobrancelha, o incitando a continuar. — Ela tinha engravidado antes, mas perdeu, por isso achamos melhor esperar os três meses.

— Então já sabem o sexo!? — Meu tom de voz denunciou a urgência e curiosidade que eu pretendia não ter.

— Hana quer contar no jantar, afinal, não foi só você que descobriu que será vovó recentemente. — Busquei recobrar o ar com a ideia de reencontrar Lindsay. — Fiquei feliz que trouxe seu namorado.

— Não repita esse termo nunca mais.

— Posso assumir que estão noivos, então? — Meu olhar se reteve em seus olhos castanhos e um sorriso descontraído evitou que a tensão se materializasse. Fechei meus olhos por milésimos de segundos além do necessário. — Estava falando sério. — Apontou para a aliança fina que Dylan havia providenciado e nos entregue nas últimas horas.

"Você e Lindsay nunca usaram aliança, então ela, com certeza, ficará incomodada, e isso me fará o homem mais feliz do mundo.". Ri com a memória recente, porque Dylan simpatizava com a loira quando a conheceu — quando, na verdade, ela ainda era morena —, mas passou a nutrir uma aversão súbita e desproporcional desde que anunciamos o nosso relacionamento.

— O termo noivos não soa tão infantil... — Deixei sua resposta no ar, e ouvi a voz de Dylan se aproximar, seguindo assim juntos para a sala. Os instantes cessaram quando três niqabs tomaram contorno enquanto o árabe carregado de Thurayya inundava a sala.

O líquido salino formou uma camada fina, fruto da saudade, em meu olhar e um sorriso fora desenhado naturalmente quando os olhos escuros, marcantes e redondos da figura que me acompanhara durante toda a vida repousaram em mim.

Um Yusef! — O tom alto de sua voz me lembrou o quão receptiva sempre fora. Suas mãos encontraram as minhas e apesar de não poder ver, saiba que sorria por baixo do tecido preto. — Fiquei te esperando para o Ramadã... — Sua voz tonou-se repreensiva.

Eu havia lhe dito que não ia, me esperar foi uma escolha. — Cessei o contato físico, seguindo com os cumprimentos breves. Zaíra e Farah estavam a sua direita, facilitando a dinâmica. Entretanto, no instante em que meus olhos cansados repousaram sobre a kandoora de Alaweed, meus músculos se contraíram, o mesmo sentimento sendo reprisado, um misto incompreensível de sensações dúbias e paradoxais.

— Aiyra. — Respeitou o tradicional cumprimento e a minha preferência pelo Isme.

— Alaweed. — Devolvi no mesmo tom de voz. As palavras que trocávamos no silêncio eram ininteligíveis, apesar do aspecto do ambiente ter sido alterado no instante em que preenchemos mutuamente nossos campos de visão. — Não vai nos apresentar seu noivo? — Um sorriso de escárnio desenhara seus lábios finos. O mesmo sorriso que eu reproduzia quando agia como ele.

Afastei-me dele, retornando ao lado de Shawn, que sorriu, apesar de seus olhos suplicarem, nitidamente, por ajuda. Toquei brevemente seu ombro, no ímpeto de lhe transmitir conforto e reafirmar o nosso relacionamento vigente.

— Árabe cai muito bem em você... — Me elogiou minimamente, vacilando entre as palavras. — Eu quis dizer que...

— Eu entendi o que quis dizer. — Mordi meu lábio inferior, sorrindo do seu jeito. — Vejo que se deu bem com Hana. — Comentei minimamente, desviando sua atenção do comentário, e dissipando a tensão que já era perceptível em sua linguagem corporal.

E mesmo ansiando protelar ao máximo as apresentações, a vértice entre a situação e a educação exemplar, que me era recobrada com o pesar dos olhos escuros de Alaweed, guiei-o, mantendo um breve contato físico, para finalizar as devidas introduções.

Um sorriso, que podia ser interpretado como alguma vertente romântica, era exibido enquanto ele cumprimentava as esposas de Alaweed colocando a mão direita sobre o lado esquerdo do peito. Toda a repetição educada de cumprimentos soprara diante de nossos olhos de forma impalpável, a execução perfeita de atos vazios permeava a sala.

— Lindsay. — Pronunciei em um tom arbitrário, ouvindo sua risada em resposta. Tornei meu corpo para que sua íris me capturasse. O sorriso alargou-se, erguendo minimamente o nariz cirurgicamente fino.

— Riya! — Sua exclamação permeou a sala, contaminando cada conversa e difundindo tons mais baixos. O jeito com que ela olhava, a forma com que seus lábios se expressavam e as mãos se moviam ainda me mantinham perplexa, um montante de sensações díspares formavam pares repulsivos que, apesar de naturalmente se repelirem, eram incapazes de se afastar. — É um prazer lhe conhecer, Shawn. — O abraçou, apesar de manter o contato visual. Cruzei os braços, revel. Apenas conseguia contestar seus verbos com mudanças mínimas, incapazes de alterarem toda a situação. — Essa é Gaia, minha namorada. — Com isso as pessoas, cujos interesses eram apenas monetários, prosseguiram todo o instante que me embalava e tornava minhas pálpebras mais carregadas.

Agi roboticamente no restante da manhã. Um sorriso estático era exibido perfeitamente toda vez que tinha de, forçadamente, interagir. Shawn, em contrapartida, agia naturalmente, tecendo comentários instigantes nas conversas e se mostrando uma companhia interessante àqueles que ouviam suas palavras.

No instante em que Hana começou a contar para Shawn, pela segunda vez em menos de duas horas, sobre as competições infantis que participou, frisando o Miss Alabama, e como gostaria que o bebê também participasse, entregando o sexo indiretamente, me esguie para a cozinha.

Os goles d'água que dilatavam meu esôfago eram proporcionais ao som advindo no outro cômodo, e mesmo com a presença da mulher de média estatura mantive os movimentos.

— Seu noivo parece o Linguini. — O tom maldoso emanava de sua voz. Repousei o copo na bancada.

— E você está agindo como o Pateta se preocupando com quem eu me relaciono ou deixo de fazê-lo.

— Então você realmente gosta dele...

— Isso te incomoda? — Ergui uma sobrancelha, colocando em xeque sua postura gozadora. — Não deveria.

[...]

Todos os olhos no cômodo estavam direcionados a figura de Hana, que exibia um sorriso amplo, a felicidade era latente. Naturalmente meus olhos refletiam o brilho da pedraria e dos detalhes do tecido branco, contudo, era algo reprimido que estava a se materializar coma percepção de tempo esvaído, empregado na construção de uma família que desaguaria, em breve, em ramo alheio.

Meus pés se firmavam no chão enquanto minha mente divagava pelo outro continente. O calor era uma semelhança, contudo, a enxurrada que me encurralava era de felicidade. Minhas ações saiam desmedidas e os cálculos minimante errados, tamanha era a excitação diante do evento, que apesar de ter repugnado, tinha ciência do seu caráter positivo a Joseph.

Perdi-me entre as palavras quando um elogio se materializou e Hana, que já chorava, devolveu um olhar afetuoso. Outra semelhança, que transpunha as diversas barreiras entre ocidente e oriente, era a forma com que ela revestia a vida e seu redor com o olhar polido de um entusiasmo, irradiando qualquer outro sentimento que transvestia meu imaginário.

O vestido branco, que cativava meu olhar a ponto de o som do cômodo cessar, delineando a barriga protuberante anunciava que as falas, não apenas daqueles certificados para produzirem alterações em estados civis, trariam novas concepções de vida.

[...]

O jantar seguia o rito ordinário de um martírio, contudo, a disposição da sobremesa indicava que a concomitância de Alaweed no ambiente seria substituída em breve.

Hana forçava um sorriso, tentando assegurar que todos aproveitassem do instante, apesar de explícito seu descontentamento com Joseph, que aproveitara a prova do vestido para sair com amigos. Todavia, todos aqueles que estavam habilitados a interagir, competiam para serem ouvidos, desinteressados pelo que eram incapazes de alterar.

— Achei que fosse trazer a Olivia... — Atentei-me a conversa alheia, pressentindo o desfecho trágico frente ao tom de voz compartilhado com Dylan, que negou com a cabeça, uma careta infantil desenhando seus traços gravados pela idade. — Quero conhecê-la antes do prazo de validade, hein. — Riram, contudo, foram entrecortados por Hana.

— Não acredito que você está falando assim! — Seu tom de voz era baixo e cauteloso. Joseph levantou as mãos em um ato de pura dissimulação. — Vai fingir que não sabe do que estou falando?

— Não, não sei. — Os olhos abertos, a incriminando de uma hipérbole imotivada.

— Não?! Olha como você está falando de Olivia: prazo de validade! — Enfatizou, o tom de voz crescente enquanto a mesa se calava.

— Não quis dizer nesse sentido...

— É sempre assim, você nunca quer nada, nunca... — Atirou os talheres que segurava na mesa, causando um estrondo intimidador, uma sequência de estrondos se propagou pelo cômodo, o material da cadeira contra o piso, os murmúrios munidos de racionalidade e a voz de Joseph buscando dialogar com Hana.

O silêncio se instaurou na mesa, evitávamos acompanhar o som da voz de Joseph, apesar da curiosidade notória.

— Acredito que seja melhor irmos dormir. — Irrompi o silêncio. — Pode tirar a mesa. — Direcionei-me a empregada, que, conforme os outros foram se levantando da mesa, iniciou seu trabalho.

Despedidas breves foram trocadas antes que os corpos desaparecessem dentro das portas.

Afundei na poltrona, disposta a pouco mais de um metro da cama, buscando inanimar o constrangimento pela forma como o jantar terminou. Observei Shawn, que pareceu analisar o quarto próximo a porta, e então sentou-se na cama, o véu que compunha o ambiente era vergonha.

— Então... — Intercalava o olhar entre a minha figura e seus dedos, que se embolavam. — Riya é seu apelido?

— É como Hana me chama, e Lindsay, às vezes, só.

— Vocês não têm o costume de apelidar as pessoas? — O olhar vidrado e curioso no meu, provavelmente remoendo a escolhas de palavra.

Meu diafragma se expandiu e se manteve na posição por segundos prolongados quando a cena se remontou diante de meus olhos. A violência das palavras, a agressividade no olhar e a repulsa nas ações devastando tudo que havia sido construído.

I N Í C I O     D O     F L A S H B A C K

Os olhos percorreram o ambiente antes de abandonar o último degrau da escada. Seus passos eram silenciosos, e presumiu uma vitória a poucos metros da sala de jantar, contudo, a kandoora deslizando sobre o chão levantou todos os sentimentos que estavam reprimidos no quarto silêncio da adolescente. O olhar repressivo da figura paterna fez com que o corpo magro se comprimisse de medo, antevendo a expressão de fúria que seria expressa.

— Estava indo levar para você. — Ergueu o prato, que sustentava outro, exibindo o kabsa. O corpo dela reagiu a comida, visto ter se isolado em seu quarto há cinco dias e ter se alimentado das poucas tâmaras que achou na bolsa que usava para visitar Qubilah — Thurayya fez especialmente para você. — A violência em sua voz foi crescendo, seu ódio ia se materializando à medida que se aproxima de Aiyra, que permanecia estática.

— Eu vou agradecê-la, então... Ela deve ter tido muito trabalho... — O medo sendo compartilhado com o tom de voz bambo.

— Não. Não agora. Agora você vai comer tudo isso. — Os lábios finos da adolescente se curvaram, num misto de choro e ojeriza. — Afinal, está há cinco dias sem comer.

Os cabelos longos e escuros acompanharam o movimento da face, em uma concordância infinita com o homem.

— Estava com medo de descer, por isso se trancou no quarto? — Questionou, apesar de querer ouvir como resposta apenas um "Sim" e súplicas de perdão. O olhar de Alaweed recaiu com maior peso sobre ela, que apenas concordou. — O que fez de tão errado a ponto de ficar cinco dias sozinha? — Repetiu o rito de fazer com que ela admitisse o que queria ouvir, mesmo quando era apenas uma repetição de falsas perspectivas.

Aiyra se manteve em silêncio, os movimentos cessados. Não queria admitir, pois não via como erro a sua atitude, contudo, o homem não contava com o silêncio questionador, uma vez que havia lhe ensinada apenas a concordar e ceder a seu poder vinculado.

Sua mente recriou a mulher, anos mais nova que seu pai, e esteticamente incompatível com Thurayya, nos braços de Alaweed, enquanto tecia comentários pejorativos sobre si. O o homem rira em resposta, alimentando os comentários rudes quanto a própria filha. Cega pela fúria, e em instante de uma coragem fugaz, Aiyra invadiu a sala em que estavam e pretendeu pegar um livro qualquer, os amantes cessaram o contato e a voz masculina apresentou Talila, que endereçou um cumprimento evidenciando seu acento britânico.

O rosto magro e fino sorriu, de uma maneira distorcida, evidenciando sua insatisfação perante a situação, e então saiu do cômodo. Pode ouvir um "Como ela é sem educação" extremamente alto, mas o caminho até seu quarto, além de urgente, lhe parecia mais conveniente.

— O que fez, al-Muhtaram?

— Aiyra. — Corrigiu. A voz era fina, mas odiava que usassem seu Lacabe.

— Aiyra. Aiyra. — Repetiu com escárnio. — Seus primos te chamam assim e nunca ouvi você reclamando. — A cabeça se tombava conforme o medo se desenvolvia. — Tem algum porquê?

— Não, é só que... — Emudeceu ao ver que não tinha resposta. Apenas não gostava que ele, em específico, a chamasse dessa forma.

— Então tem porquê. — O tom rígido devolveu. — Continue, quero ouvir o porquê seus primos, seus primos... — Enfatizou o parentesco. — Podem lhe chamar dessa forma e eu não.

— É só que na hora eu nem percebo, pai. — Usou o parentesco em uma tentativa de conciliação, mas a forma com que o rosto dele reagiu confirmou o efeito rebote.

— Alaweed. — A corrigiu, buscando infligir mais dor.

— Alaweed. — Repetiu, transbordando rancor, os olhos se fechando indicando que estava gravando a atitude mesquinha, prometera a si mesma que apenas o chamaria, ambos movidos pela ira.

Ambos se mantiveram em silêncio. Ela desejava retornar ao seu quarto, contudo, uma atitude mal calculada teria grandes consequências.

— Você me envergonhou muito da forma como recebeu a minha visita. — Um sorriso de descrença desenhou os lábios da mais nova, que foi revertido pelo impacto brusco da mão ardente e grande. Os olhos revestidos por lágrimas voltaram-se contra ele, uma acusatória silenciosa, sua saliva se embolava com o desejo crescente de chorar. O calor emanando de seu rosto aumentava a humilhação que estava sentindo. — E nem pense em sair daqui e ir contar para os seus maravilhosos primos. — O lábio inferior se curvava conforme falava, indicando nojo. — Não irei mais recebê-los em minha casa, não depois da vergonha que me fizera passar. — Reiterava seu papel de vítima.

Aiyra protestou involuntariamente com a expressão facial, o que elevara a ira do homem e um nível que todos os atos violentos seriam bestiais.

— Mas não precisa fazer essa cara. — Tocou, com a mão livre, a mesma que lhe agredira a poucos instantes, o lado vermelho do rosto. — Não é como se eles gostassem de você o suficiente. — Um sorriso de divertimento era resposta as lágrimas que deslizavam sobre a face juvenil. — Olhe como os trata. — Incitou a reflexão. — Sempre agindo como se fosse superior, como se soubesse mais... — Leu a menina perfeitamente, e a si mesmo, uma vez que ela a versão final do rascunho medíocre que ele representava. — Eles pretendem gostar de você. — Levantou a dúvida, que seria seu fardo impreterível. — Ninguém gosta de viver com uma pessoa como você. E tudo isso é responsabilidade sua, da maneira como trata os outros. — Os olhos incutindo pensamentos altamente danosos na mente de menina de catorze anos.

— Não. — Murmurou, os olhos clamavam desespero. A ardência fora substituída por culpa e um sentimento autodestrutivo. — Não. — Repetiu mais alto, e quando estava prestes a irromper o silêncio novamente, a ardência e a movimentação abrupta a silenciara. A cólera fora tamanha que a silenciara. Pavor era facilmente lido em seu rosto enquanto o sangue escorria, manchando a regata cinza.

O prato residia no chão, a porcelana de duas louças estilhaçada, apesar dos resíduos cravados na pele dourada pelo sol, aumentando a ardência que a mais nova sentia. O olhar de choque era fixo em seu ombro esquerdo, estava inanimada diante do excesso de dor.

O cheiro do kabsa apenas tornava a cena mais repulsiva. Contudo, Alaweed não exibia descontentamento sobre suas atitudes, afinal, as justificaria como consequência natural das atitudes de Aiyra.

Os soluços embalavam o pavor da adolescente, que permanecia imóvel, pelo receio e a dor.

— Limpe isso. — Mandou. — Quando terminar, Thurayya te levará ao hospital. — Uma expressão incrédula fora a resposta da adolescente, que escorregou o corpo pelo chão, usando a parte direita do corpo para juntar o que sobrara da refeição, e da relação de ambos, cujo final seria o mesmo, o descarte.

F I N A L     D O     F L A S H B A C K

Sorri minimamente para ele, que aguardava uma resposta. Afastei minha mão protetiva sobre o ombro esquerdo.

— É cultural. — Menti. E antes que ele pudesse incitar algum outro tópico, levantei-me da poltrona. — Eu vou ver como Joseph está. — Concatenei outra mentira. — Com licença.

O pavor corroía meu interior, as memórias encalçavam cada instante da minha vida. Meu campo de visão era incapaz de capturar que era exibido devido a distração causada pela memória, e no ímpeto de distanciar aquela situação, tornei minha atenção ao celular.

O tempo passava sem que tivesse ciência dele enquanto Always Someting There To Remind Me invadia meus pensamentos, estava tão embalada com a música, e forçando a concentração nessa que me sobressai quando o tom de voz altivo de Lindsay irrompeu o instante.

— Não acredito que ainda escuta Naked Eyes. — Disse, tirando meu fone de ouvido direito. Acompanhei sua atitude, retirando o outro e voltando meu corpo a ela. — Essa música tem mais de trinta anos!

— Sim, eu sei, mas isso não me impede de gostar da música. — Os olhos azuis moveram-se em um movimento infantil.

— É que as coisas mudam com o tempo, só isso. — Disse, falsamente ingênua.

— A passagem de tempo não devia ser prerrogativa para mudanças drásticas. Eu mudei nesse tempo, mas não minhas crenças e gostos.

— Ou seja, você não mudou.

— Nem você. Continua inflexível. — Seu corpo deslizou sobre o banco de madeira, se aproximando de mim. — Uma pena que não permaneceu inflexível quanto ao que deveria... — Seu semblante ficou confuso. — Você quem me apresentou Naked Eyes, e eu me lembro que você estava, quase sempre, com a camiseta deles que Sonny te deu.

— Eu tinha dezesseis anos e um péssimo senso de moda.

— Eu não estou falando apenas sobre isso. Estou me referindo a pessoa que era.

— Uma adolescente sem senso de moda, com os dentes tortos e um nariz horroroso. — Rimos.

— Além disso. Estou me referindo a Lindsay que conheci, que me escutava falar sobre a faculdade durante horas e faltava na escola todas as quintas para ir me ver.

— E repetiu o ano por falta. — Sorriu sugestiva.

— Você mudou. Seus princípios mudaram, Lind. — A chamei como o fazia na faculdade. — É sobre isso que estou falando. Você comparou Shawn a um personagem de desenho animado. — A repreendia, apesar da vergonha e decepção pesarem mais. — Você mudou, até demais.

— Não pode me culpar por não querer ficar presa no passado.

— Não posso e não o farei. Mas eu preferiria quando não tinha senso de medo, dentes tortos e um nariz horroroso. — Soltei o ar pelo nariz, em uma breve risada. Sai de perto dela, fazendo o caminho da casa, flutuando sobre as conclusões que as atitudes dela tinham me permitido inferir.

— Aiyra? — Mantive meus passos. — Well, how can I forget you girl? When there's always something there to remind me. — Cantou, apesar da notável melancolia em sua voz.

— You'll Always be a part of me. — A olhei sobre os ombros e sorri. Sempre haveria algo, de fato, que me lembrasse dela, contudo, a memória que tenho dela é de um ser que não pode mais ser reconstituído.

— Aiyra. — Reforçou quando voltei a caminhar. — Se você me conhecesse hoje, se apaixonaria por mim?

— O futuro é consequência do presente, não de um passado distante. E no presente, não, Lindsay. — Observei seu rosto, porém não pude saber com certeza o que esboçara, devido a distância e a ausência de claridade.

No restante da noite as memórias de duas décadas de companheiros, que me assombravam, perderam sua conotação, tornando-se inacessíveis, porque as autoras delas já não coexistiam.

— Ansiosa para amanhã? — Shawn questionou, após minutos de silêncio.

— Não mais do que você. — Ri, ele sorriu levemente constrangido. — Casar é seu sonho? — Questionei, retoricamente, porque já tinha o ouvido dissertar sobre isso ao menos três vezes nos últimos cinco dias. Concordava com a cabeça conforme ele dizia, num tom animado, como sonhava com isso e porquê.

Contemplei o homem mais novo em um assunto que perdurou, até que eu o aconselhasse a ir dormir. Amanhã seria um grande dia, o primeiro deles.

olá! como vão?

espero que tenham gostado do capítulo. eu tô saindo de uma ressaca de escrita, super atolada de coisas e com alguns problemas que estavam atrapalhando todo o processo criativo, contudo, deu certo, e até o final da fic eu já decidi.

sei que esse capítulo foi bem pesado, mas o intuito era o flashback em si porque ele explica muito o porquê a aiyra ser e agir dessa forma. ah, e só pra ficar gravado, eu odeio o Alaweed num nível absurdo....................  ao menos nos temos a Hana que eu sou apaixonada.

enfim, espero que tenham gostado! no próximo capítulo vai ter sim MUITO aiyra e shawn (que é um fofo puta merda na moral todo educadinho), acalmem os corações. (acho que é o menor texto de notas que faço 😳).

obs.: eu editei os outros capítulos porque o vevo bloqueou a exibição dos vídeos aqui, e todos eram deles (ops).

com carinho, 

valentina

26 de fevereiro de 2021

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