Capítulo 16 - 𝕷𝖆ç𝖔𝖘 𝖉𝖊 𝕱𝖆𝖒í𝖑𝖎𝖆
Você é a página mais linda que o destino escreveu em minha vida.
Felipe a fitou, sem acreditar, ela não era apenas uma mulher independente e desconfiada, era teimosa também!
— Por que se sentir mal a manhã toda se eu posso lhe arrumar um remédio que em dez minutos a deixará em forma? — E caminhou até a cozinha, ignorando os protestos que vinham da sala.
— Você é sempre assim arrogante? — Ela perguntou, enquanto puxava uma cadeira para sentar-se, não adiantaria mais protestar.
— Noventa por cento do tempo. Assim diz o meu avô, já que os meus pais eu não posso confirmar.
Paola o observava enquanto ele abria o armário em busca de um copo e dos ingredientes de que precisava, vasculhava a geladeira e media as quantidades necessárias de cada item. Logo, despejou um líquido vermelho no copo alto.
— Seus pais? O que houve com eles?
— Eles infelizmente faleceram num acidente de carro antes de eu voltar do Vietnã. Revelou sem sentir nada, o que deixou Paola curiosa. — É importante que beba de uma vez só. — Avisou, colocando o copo a sua frente.
Paola olhou-o desanimada. Só a aparência da bebida já fazia seu estômago revirar.
— Procure não sentir o cheiro... Apenas beba... E rápido! — Com os olhos fechados, Paola entornou todo o líquido do copo, até a última gota.
— Meu Deus! É horrível! Seu avô queria lhe matar com isso aqui?
— Duvido muito disso. Mas acho que ele queria me ensinar uma boa lição sobre a vida e responsabilidade. Falou sem sorrir. — Fique sentada por quinze minutos e eu lhe garanto que se sentirá ótima. — Ele sentou-se na cadeira em frente a ela.
— Álcool com estômago vazio só podia dar nisso.
— Fiquei surpreso quando vi o que havia acontecido. — A voz dele estava baixa e amigável.
— Eu sei que deveria estar me sentindo embaraçada, mas no momento estou péssima o suficiente para não me importar com isso.
Paola pousou os cotovelos sobre a mesa, apoiando a cabeça nas mãos. A luz do sol, entrando pela janela, dava um brilho todo especial às mechas de cabelo que lhe envolviam os ombros. Ele teve que se segurar para não acariciá-la.
Ela o mesmo brilho dos cabelos com o qual sonhava. Seria que teria a mesma textura, a maciez e o perfume.
Depois de alguns minutos de silêncio, Paola decidiu falar.
— Felipe, eu quero que me conte como eu estava, o que fiz... não sei se estou me lembrando de tudo o que aconteceu ontem à noite.
— Você teve sorte que Cassie descobriu logo a vodca em seu suco de laranja, senão talvez tivesse ocorrido algo pior. Você ficou meio tonta, só isso.
Ele quase acrescentou que nunca havia visto uma mulher embriagada mais charmosa do que ela, mas se calou em tempo.
— Você não está dizendo isso apenas para me fazer sentir melhor? — Ela o fitou por um momento. — Não, você não faria isso. — Acrescentou, depois de se lembrar de todas as discussões que já haviam tido.
— Como está se sentindo agora? — Perguntou, fingindo não ter ouvido o comentário de Paola, e olhou para o relógio. — Seus quinze minutos estão quase acabando.
Paola se levantou e deu um suspiro profundo.
— Acho que estou com fome! — Comentou, acrescentando. — Fez efeito! Estou me sentindo muito melhor! — Ela exclamou com um sorriso incrédulo. — Você deveria colocar aquela coisa dentro de uma embalagem e vendê-la.
— Não, é um segredo de família. E meu avô me deserdaria caso fizesse isso.
— Se ao menos eu pudesse fazer com que as lembranças da noite passada desaparecessem também com alguma poção mágica...
— Para ser honesto, Paola, a maioria dos convidados já estava um pouco alto também quando você chegou; e, mesmo se não estivessem, eu duvido que seu comportamento seria criticado. Todos no De Leon têm muito respeito por você e seu trabalho. Ninguém vai censurá-la. Afinal foi uma crise de hipoglicemia.
Ele lhe sorriu e Paola sentiu uma sensação estranha e nova tomando conta de seu corpo. Achou melhor mudar de assunto.
— Agora sei por que estou com tanta fome, nós nem jantamos ontem. Você também deve estar faminto. — Ela o olhou, sentindo-se culpada; afinal, ele também não havia jantado. — Você aceitaria tomar café comigo? É o mínimo que posso fazer para... para agradecer o favor.
Qual era o problema de tomar café lá?
Felipe olhou para aqueles olhos suaves e doces e esqueceu-se por completo de sua resolução de não se envolver mais com as mulheres Mello.
— Você se importa se eu lavar o rosto primeiro?
— Não, claro que não. O banheiro fica no final do corredor. Há toalhas limpas na primeira gaveta do armário.
Paola esperava que ele recusasse sua sugestão. Já estava se sentindo muito melhor, mas não podia evitar a perturbação que aquela presença lhe causava. Enquanto Felipe se lavava, Paola aproveitou para se vestir rapidamente. Colocou uma calça comprida discreta e uma blusa fina. Ficou feliz ao perceber que a palidez esverdeada havia desaparecido de sua pele. Ao invés de perder tempo prendendo os cabelos, achou melhor deixá-los soltos mesmo.
Felipe pareceu um pouco admirado por sua aparência, mas não comentou nada.
Os movimentos de Paola pareciam um tanto nervosos e inseguros enquanto ela batia os ovos e os colocava na frigideira. Era apenas ele, ou a presença de qualquer homem a deixava tão pouco à vontade?
Mais uma vez lembrou-se dos sapatos de homem perto da entrada e da foto no armário.
— Sinto muito por ter desmoronado em seu sofá daquele modo. Espero não tê-la deixado numa posição desagradável.
— Eu é que deveria me desculpar por tê-lo tirado do jantar de Marcus. Você não precisava me trazer. Isabela dirigiria até aqui.
Ele não teria confiado em Isabela. Além disso, queria ver com seus próprios olhos Paola segura e dentro de casa.
— Para ser sincero, fiquei contente por ter uma desculpa para sair. Ontem eu havia acabado de chegar de uma viagem internacional e ainda estava sofrendo os efeitos do fuso horário. Quando me sentei em seu sofá, tinha a intenção de descansar apenas por alguns minutos e não oito horas. Sinto muito se acabei lhe assustando ou acordando, é que as vezes eu tenho pesadelos e...
Ele de repente parou de falar, nunca havia comentado com ninguém fora do seu vinculo familiar sobre os pesadelos.
— Apenas me desculpe! Afirmou desviando o olhar para um ponto qualquer da sala.
— Todos nos temos os nossos segredos. Ouviu a voz dela em seguida.
Enquanto falava, acompanhava com o olhar os movimentos de Paola; tudo nela era delicado, até o modo de preparar a refeição, retirou uma omelete da frigideira e, enquanto a outra ficava pronta, colocou algumas fatias de pão na torradeira, indo logo em seguida para o fogão despejar água fervente sobre o pó de café. Fazia tudo com muita agilidade, sem, no entanto, perder os movimentos suaves e femininos.
Paola sentou-se em frente a Felipe depois de já ter arrumado a mesa e perguntou-se quantas mulheres já haviam preparado o café da manhã para ele. A presença de um homem durante o café era uma situação totalmente incomum para ela.
— Você quer açúcar ou creme?.— Perguntou, tentando fazer com que ele não percebesse o leve tremor de suas mãos ao colocar o café.
— Não, obrigado. Está bem assim. Prefiro simples e puro. Mas você tem molho picante?
Paola pareceu um pouco ofegante e Felipe não sabia se era devido à sua presença ou ao trabalho que fizera. Tinha que admitir, no entanto, que esta era a única mulher que já conhecera capaz de preparar uma refeição tão deliciosa sem deixar nenhum rastro sujeira na cozinha.
— Não é que você me surpreendeu. Você é a terceira pessoa que vejo gostar de molho picante.
— Meu avô diz que herdei isso de um antigo ancestral nosso. Praticamente coloco pimenta em quase tudo. Disse ele experimentando o molho antes de colocá-lo no omelete.
Para surpresa de Paola, a conversa foi muito agradável. Enquanto comiam, Felipe falou dos modelos que vira fora do país e perguntou sua opinião sobre várias tendências recentes na indústria da moda. Contou-lhe também sobre a celebração do aniversário da empresas de sua família, que seria uma homenagem a seu avô. Eles conversaram durante uma hora, e Paola admirou-se pelo tempo ter passado tão rapidamente.
— Aceita mais alguma coisa?
— Não, estou satisfeito. Obrigado, Paola. Eu como em restaurantes com tanta frequência que adoro saborear uma comida caseira. — Ele sorriu e por um breve instante houve mais do que simples gratidão em seus olhos.
Paola retirou os pratos e novamente encheu a xícara de Felipe com café.
— Raramente tenho a chance de preparar o café da manhã. Isabela nunca quer comer antes de sair.
Ele teve vontade de dizer que Isabela não merece que você faça nada para ela. No entanto, conseguiu segurar a língua. Estava começando a ter um certo grau de apatia pela Isabela.
— Pelo que sei, isso é típico da maioria das adolescentes. — Disse simplesmente, levando a xícara aos lábios.
A menção do nome de Isabela pareceu mudar o clima entre eles. De repente, Paola ficou totalmente surpresa com as palavras que ele lhe dizia.
— Paola, você não quer passar o dia comigo? Ela apenas o fitou, completamente confusa.
— Marcus, Allan e eu vamos nos encontrar para resolver alguns detalhes e eu pensei que você deveria estar presente. — Disse Felipe, rapidamente.
— Não posso. Sábado é o único dia da semana que Isabela e eu passamos juntas.
Nesse momento o telefone tocou e era Isabela.
Felipe ficou na cozinha enquanto Paola atendia o telefone na sala. Mas, mesmo assim, escutou o final da conversa e não teve dúvidas quanto ao assunto. Isabela já havia feito os planos para aquele dia e não tinha nenhuma intenção de passar a tarde de sábado com a mãe.
— Está tudo bem? — Felipe perguntou ao entrar na sala. Paola tinha as mãos no rosto e os olhos úmidos. Era evidente que havia chorado.
— Tudo bem. — Respondeu tentando bloquear as lágrimas que teimavam em cair.
— Posso pegar mais um café para você? — Perguntou, desejando no íntimo que Felipe a deixasse sozinha. Quantas humilhações mais ele ainda teria de presenciar?
Felipe sabia que deveria dizer, não, obrigado, até logo e ir embora. Mas o irritava profundamente a ideia de que Isabela passaria o dia se divertindo enquanto Paola ficaria em casa preocupando-se com ela. Ainda se lembrava do orgulho em sua voz quando lhe contara sobre a infância de Isabela. E depois, a voz da própria Isabela ainda ecoava em sua mente, contando a um estranho que era filha ilegítima, somente para desonrar sua mãe. Diante de tudo isso, de repente disse.
— Aceito mais uma xícara, sim. e se não for incomodo, posso pegar a última fatia do seu omelete, sabe ainda estou com fome. E tudo é culpa do molho picante.
Paola acabou sorrindo e ele fez o mesmo, se sentido mais aliviado.
1830 Palavras
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