Capítulo 14 - 𝕷𝖆ç𝖔𝖘 𝖉𝖊 𝕱𝖆𝖒í𝖑𝖎𝖆
Você é a página mais linda que o destino escreveu em minha vida.
— Juntos novamente! — Paola exclamou, rindo alto e sem embaraço.
Felipe sorriu para si mesmo enquanto deixavam a entrada luxuosa da mansão Bardier e caminhavam de braços dados para o estacionamento. Os olhos de Paola brilhavam, sua face estava rosada e seu sorriso sempre aberto. Ela segurava no braço de Felipe com toda a força, como se fosse algo vital para ela naquele momento. Para a própria surpresa, Felipe a achou muito charmosa e atraente naquele estado de torpor. Havia uma vulnerabilidade naqueles olhos que pediam ajuda.
E ele queria sim protegê-la de qualquer maneira. Seu coração estava alegre e batia descompassadamente a cada gesto de Paola.
— Você está bem? — Felipe perguntou para ter certeza absoluta que ela não precisava ser levada para o hospital. Dentro da cozinha lhe haviam dado água de coco e um pouco de suco de frutas, mas dessa vez ser estar batizado.
Só de lembrar da travessura de Isabela, fazia o sangue de Felipe ferver, Mas que garota terrível! Pensou ele sacudindo a cabeça para afastar tais pensamentos no momento.
— Você está?
— Foi o que perguntei a você.
Os grandes olhos verdes de Paola se ergueram encontrando seu olhar preocupado.
— Eu me sinto meio zonza. Como se estivesse andando numa corda bamba, não é engraçado? — E ameaçou um novo sorriso que mais uma vez fez o coração de Felipe saltar dentro do peito, tanto que parecia que ele havia corrido uma maratona.
Felipe a ajudou a acomodar-se no banco do carro com todo o cuidado mais uma vez, pois enquanto ele dava uma bronca em Isabela, Paola havia conseguido sair do carro e caminhava pelo jardim da mansão. Quando sentou-se em frente à direção, ela não pôde deixar de notar o brilho de seus cabelos castanho claros e fartos. Era um belo homem, comentou consigo mesma, sentindo um estranho desejo de descansar a cabeça naquele ombro forte e másculo. No entanto, em meio àquele estado de embriaguez, ainda conseguiu controlar-se e tentar evitar algum comentário que a comprometesse.
— Isabela está atrás de nós? — Ela virou a cabeça para trás ao se lembrar subitamente da filha.
Felipe assentiu com um gesto de cabeça enquanto saíam do estacionamento. Ele não precisou falar muito durante o caminho. Paola não lhe dava sequer uma chance, falando sem parar.
O que lhe deixava mais feliz ainda, era se como já tivesse vivido algo semelhante no passado. Mas como ter certeza, se ele não conseguia se lembrar de quase nada do seu próprio passado. As lembranças eram raríssimas e vinham sempre em flash ou em sonhos.
Quando chegaram ao apartamento, ele já sabia todos os nomes das escolas que Isabela havia estudado, todos os cursos que havia feito e todos os prêmios que recebera nos concursos que já participara. Também sabia que Paola sentia necessidade de defender o caráter de Isabela diante dele, que se limitava a ouvir, respondendo com gentileza quando tinha chance. Era muito importante para Paola que ele pensasse o quanto Isabela era uma boa garota. Apenas um pouco rebelde, Paola também afirmou que a filha se parecia demais com o pai. A cor dos olhos e a personalidade curiosa e desafiadora, assim era Lipe tanto que sonhava em mudar o mundo depois que voltasse da guerra.
Felipe ouviu tudo com o coração entristecido e sem saber por que sentia essa estranha sensação.
Ao falar da filha algo se modificava em seus olhos; sua voz adquiria um tom gentil e carinhoso. O que ele não podia entender era como uma mulher tão tímida e refinada poderia ter uma filha tão rebelde.
Será que era verdade que Isabela teria a personalidade do pai? Então Lipe, como era chamado seria um homem completamente diferente dele.
Quando ele voltou do conflito, se sentia perdido, confuso. Passou meses em uma cama hospitalar, o risco de perder a visão era eminente. Ouvia as pessoas a sua volta, elas tinham pena dele. Um jovem de pouco mais de dezenove anos ficaria cego.
Dias depois de vários médicos aparecerem como num passe de mágica no hospital católico onde estava, lhe avisaram que o seu avô estava custeando todo o tratamento. Mas ele nem se lembrava que tinha um avô.
Foi difícil se acostumar com pessoas que não lhe diziam nada. E ainda por cima tinha os pesadelos que o perseguiam toda a noite, as únicas lembranças que possuía.
Historicamente as guerras fomentaram e contribuíram muito para o avanço da medicina e em especial a cirurgia plástica. Lipoaspiração, rinoplastia, abdominoplastia são cirurgias muito comuns atualmente. E a família Turner representada por seu avô Braxton Turner tinha as condições e o poder para lhe proporcionar os melhores médicos que o dinheiro poderia comprar na época.
Já se perguntara há quanto tempo o pai de Isabela havia morrido e se não havia outro homem na vida de Paola. Aqueles sapatos pretos próximos à entrada do apartamento deveriam pertencer a algum homem; mesmo depois que Marcus lhe assegurara que elas viviam sozinhas, aquele detalhe o impedia de se convencer completamente. Felipe a fitou por um momento, apreciando o rosto bonito e as linhas delicadas que o vestido escondia, sentindo uma necessidade enorme de saber se de fato existia alguém na vida daquela mulher.
Depois de estacionar o carro, saiu para lhe abrir a porta. No entanto, Paola não esperou, saindo do carro sozinha. Mas logo suas pernas falharam e ela vacilou, a cabeça girando. Felipe aproximou-se rápido, e a amparou nos braços.
— Opa! Acho que não estou me equilibrando direito na corda bamba. — Ela disse, rindo. — Gosta de circo sr. Turner?
— Na verdade, eu não sei lhe dizer. Disse ele tentando entender a pergunta nada convencional que Paola lhe havia feito.
Ela aceitou a ajuda que ele lhe oferecera e continuou falando sobre o quanto era divertido o circo.
— Onde está Isabela? Ela está com minha chave. — Paola comentou diante da porta.
— Aqui está ela.
Isabela chegara logo depois deles. Parecia tímida e evitou o olhar de Felipe.
Destrancou a porta e dirigiu-se à mãe.
— Mamãe, acho que vou para a festa de Fiona agora.
— Mas você não jantou. — Paola protestou. — Vou preparar alguma coisa para você comer antes de ir.
Felipe fez com que Paola se sentasse no sofá.
— Sua mãe também precisa comer.
Felipe olhou para Isabela com reprovação e desagrado. Não duvidou por um momento sequer que o estado de Paola devia-se a uma brincadeira de mau gosto de Isabela.
— Por que você não vai para a cozinha e vê o que pode fazer? — Ele disse, quase como uma ordem outra vez.
Isabela colocou a bolsa numa cadeira, e colocou a mão na cintura.
— Acho que mamãe poderia ir para a cama e pronto. Mas eu posso arrumar algo para comer. — Ela disse, fitando Felipe.
— Eu posso fazer isso. — Paola falou, levantando-se do sofá, mas os braços de Felipe a detiveram, fazendo-a sentar-se novamente.
— Você vai ficar aqui. Isabela vai fazer o que for preciso agora mesmo. — Ele ordenou.
— Eu só sei fazer uma omelete. — Avisou, dirigindo-se à cozinha, enquanto Felipe a seguia.
— Eu quero que você me explique por que fez isso com sua mãe, garota. — Ele ordenou, com raiva.
— O que eu fiz? — Ela estava despreparada para a furiosa acusação de Felipe.
— Você sabe muito bem. Foi você quem pôs vodca no copo de suco dela. E não tente bancar a inocente comigo.
— Foi só um pouquinho.
— Para alguém que não comeu nada o dia inteiro, um pouquinho de álcool já é suficiente para intoxicar. Sua mãe tem crises de hipoglicemia e você faz isso com ela. Estou muito decepcionado com sua atitude.
— Não posso acreditar no modo como está reagindo. Qual é o problema de mamãe se divertir um pouco? Todo mundo bebe em festas.
— Nem todos, Isabela.
— Você parece gostar muito do seu uísque. Além de tudo, minha mãe é sempre tão quieta, tão tímida. Eu só queria que ela relaxasse um pouco. Achei que se começasse a se divertir deixaria de se preocupar comigo. Ela segue todos os meus movimentos.
— Pelo que parece, ela tem razões para isso. E se eu fosse a sua mãe já lhe teria dado um bom corretivo.
— Por quê? O que ela lhe disse sobre mim?
— Ela não precisa me dizer nada, Isabela. A cada gesto e atitude suas, consigo perceber o quanto é irresponsável e imatura. Uma criança num corpo de um adolescente! — Felipe a fitou.
— Parece que o álcool costuma afetar a nós três. Você não teria aceitado o convite de um estranho se não tivesse bebido demais naquela noite, e eu não estaria aqui hoje se não fosse pelo que aconteceu a sua mãe.
— Você está errado, Felipe. — Isabela negou, movendo-se para bem perto dele e olhando-o nos olhos. — Nós estávamos destinados a nos encontrar. Você tem negócios com o Atêlie e eu sei que depois que mamãe o conhecer ela não desaprovará nosso relacionamento. Felipe franziu o cenho.
— Olhe, Isabela, acho você muito atraente, se eu tivesse dezoito anos. Mas eu não tenho... E nós não temos nenhum relacionamento e nunca iremos ter.
— É por causa da mamãe, não é?
— Não, mas sua mãe está certa. Você precisa de um namorado que tenha os mesmos interesses que você, não de alguém com idade suficiente para ser seu pai. Mas isso não significa que não podemos ser amigos. — Ele fez uma pausa e acrescentou em tom mais suave tentando não ferir os sentimentos da garota. — Sua mãe só quer o melhor para você.
— Eu duvido muito.
Isabela entrou na sala pronta para perguntar à mãe o que dissera Felipe. Mas Paola estava totalmente adormecida no sofá. Isabela pegou a bolsa, tirou um cigarro e acendeu-o.
— Todos pensam que ela é uma espécie de viúva recatada. Não fuma, não bebe. Gostaria de saber o que diriam se soubessem que ela nunca teve um marido de verdade. — Isabela soltou um longo fio de fumaça.
Felipe não poderia estar mais surpreso com aquela revelação. No entanto, dissimulou-se, quase a repreendendo.
— Penso, que isso é da conta de sua mãe apenas, não concorda? Acho que depois do seu comportamento nesta noite, o mínimo que pode fazer é ajudá-la a ir para a cama. E pare de fumar agora mesmo a sua mãe tem alergia a essa porcaria.
Ele queria desesperadamente sair dali, mas, antes que chegasse até a porta,
Isabela o ultrapassou.
— Onde você vai?
— Não é de sua conta. Quer me deixar em paz garota. Eu não tenho que dar satisfação para uma adolescente mimada e... — Com os cabelos esvoaçando, Isabela virou-se e saiu, batendo a porta atrás de si antes que ele pudesse terminar de falar.
1798 Palavras
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