Capítulo 10 - 𝕷𝖆ç𝖔𝖘 𝖉𝖊 𝕱𝖆𝖒í𝖑𝖎𝖆
Você é a página mais linda que o destino escreveu em minha vida.
Depois que Felipe se foi, Isabela não conseguiu mais se controlar.
— Oh, mãe, quase morri de vergonha! Como você pôde fazer isso? — A garota esbravejou, andando de um lado para outro.
— Como pude fazer o quê? — Paola perguntou, seguindo-a com o olhar.
— Como pôde ser tão rude com ele? É o primeiro homem decente que presta atenção em mim, e você o trata desse modo. Por que não me deixou um pouco a sós com ele? Eu teria lhe explicado melhor o ocorrido e talvez... Somente talvez... — Afundou-se no sofá.
— Isabela, você acha mesmo que ele está interessado em você?
— Bom, se ele estava, agora não está mais. — Ela colocou uma perna sobre o braço da cadeira. — Quando vai me deixar crescer e escolher meus próprios amigos? Tenho dezessete anos. Na minha idade você já tinha tendo um bebê nos braços! No entanto, não me deixa falar com um homem sem que o aprove primeiro.
— Isabela, nós já conversamos sobre tudo isso hoje de manhã. — Ela sentou-se em frente à filha, pegando as mãos da garota entre as suas. — Você acha que só porque eu tive um bebê aos quinze anos, eu deseje o mesmo pra você. Eu quero que você aproveite sua época de adolescente? Possa estudar, escolher uma carreira que ame, viajar pelo mundo...
— Você quer dizer, então, que eu a impedi de aproveitar sua juventude? Você se arrependeu de me ter, é isso?
— Você me impediu de ficar quase louca quando seu pai desapareceu na guerra. Você era uma parte dele e eu a queria mais do que qualquer coisa no mundo. Agora, os tempos mudaram. Existem muitas oportunidades para você hoje que não existiam para mim há dezessete anos atrás.
— Eu sei por que você não gosta do Felipe. É por que ele tem o mesmo nome do meu pai. Isso é bobagem, a milhares de Felipe espalhado pelo mundo a fora. E eu acho maravilhoso ter conhecido um homem com o mesmo nome do meu pai. Além disso, você acha que fico correndo de bar em bar para conquistar homens mais velhos, mas, mãe, na noite passada foi a primeira vez que aconteceu isso. Felipe é uma ótima pessoa, e além do mais, se ele também não estivesse interessado em mim não teria vindo até aqui.
Paola achou melhor não contar a Isabela sobre seu encontro com Felipe na Maison. Se a garota soubesse da associação das empresas Turner com o ateliê, usaria o Atêlie para ficar correndo atrás daquele homem.
— Ele só queria devolver sua bolsa e nada mais que isso.
— Mas não precisava vir até aqui para isso. Poderia ter deixado na portaria do condomínio.
— E é o que ele teria feito se você não tivesse lhe telefonado.
— Mas eu queria vê-lo de novo. E agora, provavelmente, eu nunca mais o verei. — Ela concluiu, dando um suspiro profundo. — Bem, pelo menos essa ideia a deixa feliz, não? Sempre atrapalhando os meus planos, eu não sou mais um bebê e tenho o direito de escolher a quem devo gostar. — Deu um salto, levantou-se da cadeira e correu para o quarto.
Paola achou melhor deixá-la um pouco a sós e, dirigindo-se para a cozinha, arrumou a mesa e jantou. Preferiu respeitar o isolamento da filha, e estava cansada demais para continuar discutindo naquela noite. No entanto, depois de ter relaxado suas tensões num banho morno e reconfortante, encontrou novas forças para falar com Isabela, mas a única coisa que conseguiu foi aquela resposta petulante e mal criada da filha.
— Vá embora. Você não me entende.
Será que existia algum adolescente que pensava que os pais compreendiam seus problemas?
Ela dissera a mesma frase milhares de vezes para a própria mãe...
Talvez porque sua mãe realmente nunca a entendera, era isso que a assustava.
Será que sua relação com Isabela seria do mesmo jeito como fora a sua com a mãe?
Paola só queria poder voltar alguns anos atrás, quando ela e a filha viviam em extrema proximidade.
Ultimamente, haviam se distanciado um pouco, e Felipe Braxton Turner viera piorar as coisas ainda mais.
Mesmo sem querer, Paola não conseguia tirar aquele homem de seus pensamentos; dezenas de perguntas insistiam em povoar sua mente. Será que Felipe Braxton Turner era casado? Talvez até tivesse filhos. Filhos mais ou menos da idade de Isabela ou até um pouco mais velhos. Quantas Isabela já teriam passado por sua vida? Ela percebera certo cinismo em sua expressão mas, ao mesmo tempo, conseguira captar sensibilidade em seus olhos.
O mais incrível era a tonalidade dos olhos dele, a mesma cor dos olhos do pai de Isabela. Paola ficou com muita raiva ao notar o quanto ainda sentia falta de seu único e grande amor. Tanto que conseguiu o vê-lo em Felipe. Mas com algumas ressalvas, Lipe era um homem gentil, generoso e muito sorridente. Sonhava em fazer do mundo um lugar bem diferente. Queria seguir a mesma carreira do pai, consertar automóveis em AmellTown. Ela se lembrava bem do sorriso de Lipe ao planejar a suas vidas juntos.
Ela sacundiu a cabeça para afastar as lembranças do passado.
Era mesmo impossível distrair-se com algo por mais que tentasse. Nem sua visita diária à foto de Lipe foi capaz disso; ao olhar para o sorriso suave do rapaz em seu uniforme, Paola não conseguiu deixar de compará-lo com a boca escultural de Felipe. E ficou chocada consigo mesma. Por que deveria estar se lembrando daqueles lábios com tanta precisão?
Os dois eram homens completamente diferentes, Felipe Braxton Turner, era frio, calculista, cínico e não sorria com verdade. Usava sempre palavras polidas e olhava todos com indiferença.
Ela tinha toda a razão em desejar que sua filha ficasse bem longe de um sujeito assim.
Depois de passar dois dias emburrada, Isabela retomou a vivacidade habitual.
Quando um garoto da escola telefonou para convidá-la para dançar, Paola achou melhor não colocar objeções; era bom que a garota se mantivesse preocupada com algum rapaz da sua idade para que se esquecesse de Felipe. Na verdade, Isabela não mencionara seu nome desde a noite em que ele lhe devolvera a bolsa; somente Paola continuava a pensar nele. Disse a si mesma que aquilo se devia à preocupação com o contrato. Afinal, ele poderia muito bem desistir do negócio. No entanto, não podia negar, há muito tempo não sentia uma reação tão forte diante de um homem; ela sabia exatamente por que Isabela se sentira tão atraída por ele.
Algumas semanas mais tarde, Marcus anunciou seus planos de realizar um jantar para celebrar o fato de a Maison ter sido escolhido pela marca Turner.
— Você vem amanhã à noite, não é, Paola? — Marcus perguntou, animado.
— Claro.
Paola sabia como fugir, mas teve de aceitar o convite. Ela já havia planejado inventar algo para escapar da festa, mas fora informada de que a equipe da Turner, com a qual trabalharia, estaria presente para uma troca informal de ideias. Outro fato que a ajudou na decisão de comparecer foi saber que iria trabalhar com o velho Braxton Turner.
— Que ótimo que você vem, Paola! Minha irmã está na cidade para uma visita e quer vê-la de novo. Ela vai trazer a minha sobrinha, Helen tem quase a mesma idade de sua filha e por isso gostaria que trouxesse Isabela também. Elas poderiam fazer companhia uma à outra, já ela é apenas um ano mais nova que Isabela. — Repetiu planejando tudo com antecedência. — O que você acha? eu acho a ideia maravilhosa!
— Tenho certeza de que Isabela gostará de ir. Obrigada por nos convidar.
Isabela, entretanto, não achou muito boa a ideia de passar uma noite de sexta-feira num jantar ao lado da mãe com pessoas pedantes e mais velhas. Paola resolveu dar a notícia enquanto ambas tomavam lanche no restaurante preferido de Isabela, um lugar muito acolhedor, decorado no estilo dos anos sessenta.
— Mas, mamãe, toda a minha turma vai para a festa da Fiona. — Isabela protestou, ao receber a notícia.
— Quem é Fiona?
— Flora Lionel, Fiona é o apelido que nossa turma colocou nela. Fiona está um pouco acima do peso. Sabia que ela fez dieta pra entrar no vestido dessa festa. A festa vai ser fantástica, não posso perdê-la, estávamos planejando isso a pelo menos seis meses. — Isabela argumentou enquanto mordia um enorme hambúrguer. — Por que não convida David? Ele sempre a leva para jantar nas sextas-feiras.
— David não se sentiria muito à vontade em meio a tantos estranhos. Além disso, é um jantar de negócios para celebrar um grande acordo que o Atêlie conseguiu. — Ela bebeu um gole de refrigerante, tentando não revelar o nome Turner. — Na verdade, acho que Marcus vai me dar uma promoção.
— Isso é maravilhoso, mamãe! Então você vai ter um aumento? até que enfim, poderei compras algumas roupas novas. Estou cansada dessas roupas de menininha.
— Isabela seu guarda roupa está abarrotado de roupas novas, semana passada compramos diversas peças que você queria. Vou sim receber um bom salário, mas o mais importante é que Marcus percebeu minha capacidade. Agora não serei mais uma simples assistente. Vamos é economizar para fazermos uma boa reforma em nosso apartamento.
— Que chato, mas já que vai ter uma reforma. Quero mudar a cor do meu quarto.
— Isabela não tem seis meses que você mudou a cor do quarto.
— Cansei de lilás... Agora quero cores mais neutras e uma parte mais escura, preta, na verdade.
— você não tem jeito mesmo.
— Então faz assim, depois conversamos melhor sobre isso. Agora essa notícia merece um brinde. — Isabela pegou seu copo de milkshake e bateu de leve no copo de soda da mãe. — À minha mãe... a próxima superstar do mundo da moda. Que tal me pagar um pedaço grande de bolo de chocolate com cobertura extra de chocolate.
Paola sorriu, divertida.
— Sempre achei que por trás de uma mulher de sucesso havia uma filha como você. — Ela ficou observando enquanto Isabela lambuzava seu hambúrguer com molho a vinagrete picante. — Seu pai também adorava colocar esse molho no hambúrguer, na verdade, seu pai amava condimentos picantes. — Disse, saudosa.
— Mamãe... você diz isso todas as vezes que comemos aqui. Era aqui que vocês vinham lanchar, não era mesmo?
— Eu sei. Eu e seu pai fugíamos de vez em quando pra cá. Essa lanchonete sempre teve os melhores lanches da redondeza. Acho que é porque gosto do modo como se parece com ele. Em certas situações você age exatamente como seu pai; isso é estranho, uma vez que ele nunca esteve perto de você.
— Ele está comigo, em meu coração. — Isabela disse, simplesmente. — Mas diga-me, quem é o grande associado do ateliê?
— É uma grande cadeia de lojas de departamento de Chicago. — Paola fez uma pausa. — Chama-se Braxton. — Evitou olhar para Isabela, concentrando-se em seu sanduíche. — Eles têm a maior parte dos negócios no meio-oeste.
— Já vi anúncios deles em revistas, dizem que o dono é um velho antiquado. Mas o cara é podre de rico e entende de moda. Estranho isso, não é mesmo? — Isabela comentou, sem fazer nenhuma referência a Felipe ou apenas não o ligando as empresas.
— É por isso que não posso perder esse jantar. Não precisaremos ficar lá por muito tempo; é que Marcus faz questão de sua presença. A sobrinha dele, que mora em Los Angeles, vai estar lá e você faria companhia a ela. Poderá ir para a festa da Fiona depois do jantar. Te deixo ficar um pouco mais tarde. Que tal até as duas da manhã?
— Só isso, mãe. Eu vou sair provavelmente depois das dez até chegar lá de carro ou táxi leva quase meia hora se o trânsito estiver bom.
— Certo então, as três e meia, e nem mais um minuto.
— Então, está bem. Mas você promete que nós sairemos de lá o mais cedo possível? Assim ganho mais um tempo com os meus amigos.
— Certo, só que não posso ficar lá apenas meia hora também. — Paola admitiu.
— Vai ser um pouco formal, não? Acho que vou ter que usar um vestido mais elegante.
— É, pode ser um vestido simples também.
— Eu não sou simples e a senhora deveria se arrumar um pouco melhor. Quem sabe não arruma um namorado e para de pegar no meu pé.
— Meu Deus, Isabela, que ideia mais absurda.
2088 Palavras
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