Capítulo Três
Joseph Mull:
Agatha suspirou depois de colocar o álbum de lado e me olhou em silêncio, como se estivesse com medo de perguntar alguma coisa. O silêncio entre nós parecia carregado de emoções não ditas.Agatha, com um olhar sério, finalmente quebrou o silêncio.
— Joseph, há algo que eu gostaria de falar... sobre quem eu vi no aeroporto quando chegou a essa cidade.
Eu assenti, encorajando-a a prosseguir.
— Não sei se isso seria bom de se dizer. — Ela entrelaçou as mãos sobre o próprio colo. — Eu sei que não conversamos muito sobre isso desde... desde quando você surgiu no meu apartamento chorando e dizendo o que aconteceu. Mais eu vi a mãe e a irmã do Rogério e antes que diga algo fiz o possível para que elas não me vissem ou muito menos lembrassem de mim de sete anos atrás ou na verdade qualquer coisa do gênero sem que eu tivesse que arrumar briga com alguém. — Agatha suspirou, esperando qualquer reação minha sobre isso tudo. — Se elas estão aqui, talvez ele também possa estar...Como você quer lidar com isso? Se quiser posso pedir para alguns conhecidos ficarem de olho e avisar a gente para que ele não se aproxime.
O peso da pergunta era evidente, e eu respirei fundo antes de responder, tentando expressar o que estava guardado por trás do meu semblante e ainda mais sobre qualquer hipótese de ver o Rogério ou alguém da família dele.
Seria mentira dizer que não estou incomodado, e muito menos afirmar que tudo o que aconteceu não está completamente mexendo comigo, a ponto de fazer meu coração se sentir despedaçado.
Agatha continuou me olhando, parecendo perceber a intensidade das minhas emoções. Um silêncio tenso pairou no ar, enquanto eu tentava reunir as palavras certas para expressar o que estava sentindo.
— Agatha, eu sei que as coisas estão complicadas e que o passado tem suas sombras, principalmente as minhas, mas...
Antes que eu pudesse terminar a frase, Agatha me interrompeu, colocando suavemente a mão sobre a minha.
— Joseph, não precisamos falar sobre isso agora se não estiver pronto. Eu entendo que é um assunto delicado. Só quero que saiba que estou aqui para você, não importa o que aconteça. — Ela sorriu. — Mas só saiba que vou dar um soco nele se o mesmo se aproximar de você.
Seu gesto de compreensão acalmou um pouco a turbulência das minhas emoções, e eu agradeci com um aceno de cabeça. Mesmo com as palavras não ditas, senti que Agatha entendia a complexidade da situação, e a presença dela trouxe um conforto silencioso ao meu coração despedaçado.
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Ter uma empresa em crescimento diário tem suas vantagens, como a liberdade de determinar meus horários de entrada e saída. Já havia concluído todas as tarefas do dia quando, suavemente, segurei a mão de Agatha e a acompanhei até a escola de Matilde.
— Você poderia comprar um carro — resmungou Agatha. — Lembre-se de que temos uma irmã famosa que pode ser reconhecida a qualquer momento.
— A escola dela é perto da empresa, assim como meu apartamento — disse, revirando os olhos. — Só leva quinze minutos a pé.
Agatha suspirou, expressando claramente sua impaciência com minha preferência por caminhar.
— Você sempre foi teimoso, mas é mais seguro evitar atenção indesejada. Além disso, seria mais conveniente. — Agatha disse. — Imagina como iria te ajudar com as coisas.
Eu sorri, resistindo à ideia do carro.
— Eu gosto da rotina tranquila, e caminhar me permite relaxar antes de enfrentar os desafios do dia. Além disso, a Matilde aprecia a simplicidade.
Agatha balançou a cabeça, resignada.
— Bem, como quiser, mas lembre-se de que a fama pode trazer surpresas desagradáveis. — Agatha disse.
— Você sabe lutar karatê e ainda é boa em mais duas lutas corporais — falei. — Quem seria louco de te atacar?"
Agatha apontou para o céu em direção ao sol.
— Os raios do sol — disse ela, dando uma piscadela e jogando os cabelos castanhos sobre o ombro. — Podem danificar minha pele.
Sorri diante da resposta astuta de Agatha.
— Bom ponto, irmã. Talvez eu devesse reconsiderar o carro como uma medida extra de segurança contra os perigos solares para sua preciosa pele — Respondi fazendo uma reverência. — Desculpa a tolice deste mortal.
Ela riu, uma risada contagiante que quebrou a seriedade do momento.
— Oh, por favor! Eu só quis dar um toque dramático. Caminhar é bom, mas não subestime a mim, mesmo sob o sol brilhante posso chutar sua bunda — Agatha disse e me deu uma chave de braços. — Consigo acabar com você em segundos.
Enquanto continuávamos nossa animada conversa, o sol da tarde mergulhava lentamente no horizonte, pintando o céu com tons quentes de laranja e rosa.
Ficamos conversando por um bom tempo. Agatha compartilhou detalhes emocionantes sobre sua experiência na turnê da banda, destacando os momentos inesquecíveis e o burburinho quando anunciou sua decisão de se afastar da música e da banda. Ela explicou como estava ansiosa para passar um tempo comigo e com a sobrinha, além de aproveitar para descansar a mão de tanto escrever partituras ou ajudar nos vocais. Aconchegados na troca de histórias, o tempo parecia desacelerar, permitindo-nos apreciar a conexão única entre irmãos.
Quando chegamos à escolinha, Matilde nos avistou em segundos e soltou-se da professora, correndo na nossa direção. Passou por mim e abraçou minha irmã pela cintura.
— Tia Agatha, que saudades — Matilde disse, radiante com a alegria do reencontro.
Agatha sorriu calorosamente, envolvendo Matilde num abraço carinhoso.
— Também senti saudades, querida. Como foi o seu dia na escolinha? — Minha irmão perguntou.
Matilde, com os olhinhos brilhando, começou a compartilhar animadamente suas aventuras do dia, misturando histórias sobre desenhos, brincadeiras e suas novas amizades. Enquanto escutávamos suas histórias animadas, percebi como momentos simples como esse eram os verdadeiros tesouros da vida.
Enquanto Matilde continuava a compartilhar suas histórias animadas, Agatha e eu trocamos olhares cúmplices, reconhecendo a felicidade que a presença uma da outra trazia à nossa família.
Após os relatos entusiasmados de Matilde, me fez soltar um risinho.
— Você vai ficar quanto tempo dessa vez? — Matilde perguntou quando começamos a andar com minha filha segurando minha mão e a da tia.
— Vim para ficar e ajudar o seu pai com os incríveis cuidados que a minha princesinha merece — Agatha disse, beijando a bochecha de Matilde.
Minha filha deu um gritinho animado.
— Então vai morar com a gente o tempo todo? — Matilde perguntou.
— Eu vou ficar no meu apartamento que eu já tinha, mas sempre vou ir no seu e do seu pai sem precisar ligar — Agatha explicou, prometendo sua presença constante no nosso dia a dia.
Compreendo, é importante preservar a inocência da Matilde. Talvez seja uma boa ideia conversar com Agatha sobre a necessidade de manter certos aspectos da vida pessoal mais privados, especialmente na presença da sua filha curiosa. Estabelecer limites gentis pode ajudar a evitar situações desconfortáveis e manter a atmosfera familiar tranquila.
— Mas pelo menos vai ser minha babá para o papai poder sair com o pai da minha amiga? — Matilde perguntou, e isso me fez engasgar. — Tudo bem, papai?
— Querida, onde ouviu isso? — perguntei.
Matilde me olhou confusa, e Agatha segurou o riso. Uma conversa esclarecedora tornava-se inevitável para dissipar qualquer mal-entendido na mente curiosa da minha filha.
— A jessi disse que o pai dela vai te chamar para sair — Matilde disse.
Respirei fundo, tentando manter a calma diante da revelação inesperada de Matilde.
— Ah, entendi. Jessi deve ter interpretado algo de maneira diferente. Vamos conversar mais sobre isso em casa, está bem? Mas posso dizer que não vou sair com o pai dela — Falei.
Matilde assentiu, aparentemente satisfeita com a resposta, enquanto Agatha observava a situação com um olhar divertido, claramente achando graça na inocência da pequena.
Eu não posso culpar isso, mas o pai da Jessi é bem gato, e seria um eufemismo dizer que nada me atrai nele. No entanto, é algo muito superficial; além disso, se não der certo, as meninas podem ficar magoadas, e já deixei isso claro um monte de vezes para o André.
Portanto, mesmo que o pai da Jessi seja atraente, percebo que é importante ser cauteloso. Essa situação envolve mais do que a atração superficial, já que as emoções das meninas também estão em jogo. Já conversei bastante com o André sobre isso, deixando claro que não quero machucar os sentimentos delas.
A vida é cheia de complexidades, e encontrar um equilíbrio entre nossos próprios desejos e as expectativas das pessoas ao nosso redor pode ser desafiador.
Suspirei, continuando o caminho para casa com Matilde puxando assunto sobre qualquer coisa. Ao chegarmos no prédio, percebi que havia um novo morador. Ambas subiram, dizendo que planejavam pedir pizza para o jantar e sorvete de sobremesa.
— Nem pensar nisso — falei, divertido, enquanto abria a caixa do correio. Foi então que ouvi um estrondo que me assustou, fazendo com que pulasse no lugar.
Ao me virar, meu coração deu um salto, falhando uma batida ao deparar com olhos que não via há sete anos, e eram idênticos aos de Matilde. Uma onda de emoções me envolveu, misturando surpresa, descrença e uma pontada de raiva. A pessoa à minha frente era um espectro do passado, trazendo consigo memórias e sentimentos que eu acreditava ter enterrado no fundo do meu coração, mas estava enganado.
Era uma pessoa que só via em meus sonhos, ou me perdia em memórias há muito guardadas. Seus olhos, um eco familiar, evocaram sentimentos que eu pensava ter deixado para trás.
— Joseph — Rogério murmurou meu nome em descrença.
Um silêncio tenso pairou entre nós, carregado de anos de separação e perguntas não feitas. Eu conseguia sentir a tensão no ar, enquanto nossos olhares se encontravam, revelando um capítulo do passado que permanecera em suspenso. Finalmente, quebrando o silêncio, murmurei:
— Rogério, quanto tempo...
E assim, em meio a reencontros e memórias, começamos a desvendar as páginas da história que tínhamos deixado para trás, enquanto o passado se entrelaçava com o presente de maneiras inesperadas.
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Gostaram?
Até a Próximo 😘
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