Capítulo Nove
Joseph Mull:
Já passou algum tempo, e agora estou participando desse evento voltado para empresários. Posso afirmar que encontrei alguns conhecidos que foram bastante receptivos, incluindo o Edu e o Marcos, que até me enviaram mensagens para saber como estou, junto da minha irmã. Agradeço por ter pessoas que realmente se importam comigo.
A organizadora subiu ao palco, e eu prestei atenção em seu discurso por um tempo. Durante sua fala, percebi que ela levantou a questão das taxas, adicionando um novo elemento à discussão.
— Ao sucesso das nossas empresas! — proclamou a mulher no palco para o salão principal. Uma estrondosa ovação ecoou em uníssono pela multidão aglomerada, brindando ao seu discurso.
Dahlia, conhecida mulher, estava aos pés do palco, contemplando o vasto espaço que já estava abarrotado de sócios e convidados, mesmo sendo ainda cedo. Ela ofereceu à assembleia um sorriso largo e brilhante.
— Bebam, meus queridos, temos uma noite para lembrar!
Uma resposta fanfarrona veio do fundo do salão:
— Ou para esquecer!
Imediatamente, reconheci a voz de uma empresária que entrou no mundo dos negócios ao mesmo tempo que eu. Das conversas que já tivemos, sempre foram as mais alegres de todas. Ela investiu em inúmeros negócios e me ajudou a enxergar oportunidades. Sandra sorriu brilhantemente para mim. Depois do Edu, ela era a maior empresária que eu conhecia.
A multidão mascarada caiu na risada, desviando a atenção de Dahlia, que desceu do palco. A música começou a tocar novamente.
Dahlia, agora fora do palco, percorreu elegante entre os convidados, cumprimentando e trocando palavras animadas. Sandra se aproximou, sua presença imponente destacando-se no meio da multidão.
— Ah, querida, você sempre sabe como animar a plateia! — Sandra comentou, erguendo a taça em um brinde.
— Bem, uma pitada de humor nunca faz mal a ninguém, não é mesmo? — Dahlia respondeu, brindando de volta.
Enquanto a música continuava a embalar o ambiente, as conversas animadas ecoavam no salão. A atmosfera festiva se intensificava, e os detalhes da decoração luxuosa se destacavam à medida que a noite avançava. Dahlia e Sandra, entre risos e histórias compartilhadas, aproveitavam o evento que prometia ser inesquecível.
Dahlia se virou na minha direção com um sorriso.
— Joseph, me surpreende que você tenha vindo — ela disse. — Não é uma reclamação, mas você sempre recusa os convites para qualquer evento.
— Eu iria recusar, mas minha irmã disse que eu viesse e me convenceu — falei.
— Agradeça sua irmã por mim, querido — Dahlia disse com um sorriso surgindo em seus lábios. — Deve se divertir um pouco; sua filha é adorável, e você é um ótimo pai. Mas além de ser um excelente empresário e ótimo pai, onde está a diversão para equilibrar tudo isso?
Dahlia inclinou a cabeça, como se estivesse contemplando algo além das palavras.
— O equilíbrio é a chave, Joseph. A vida não é apenas sobre negócios e responsabilidades; há momentos em que precisamos nos permitir alegria e descontração. Você merece isso também — ela disse, seu olhar transmitindo uma mistura de sinceridade e compreensão.
A música envolvente preenchia o ambiente, e as luzes suaves realçaram a atmosfera festiva. Dahlia, com um gesto convidativo, sugeriu:
— Vamos dançar, Joseph. Às vezes, é preciso aproveitar o momento e deixar as preocupações de lado. Tem inúmeros aqui que desejariam estar dançando com você.
Cedi ao convite, e enquanto a dança começava, Dahlia continuou a falar sobre a importância de encontrar o equilíbrio na vida, destacando a necessidade de momentos de descontração e alegria para manter a saúde mental e emocional. Um rapaz pegou minha mão, e me surpreendi quando fiquei tonto, prestes a cair. Alguém segurou minha cintura imediatamente, e percebi o perfume que adorava anos antes. Levantei a cabeça, encontrando os olhos de Rogério.
Ele passou as mãos pela minha cintura, e eu o encarei com uma expressão de indiferença.
— O que está fazendo aqui? — perguntei.
— Me convidaram, na verdade foi a minha mãe que disse para que eu viesse, já que vou assumir a empresa da família e a clínica," respondeu Rogério.
Me afastei um pouco, virando para a direção das mesas, e senti ele me seguir.
— Rogério, pode ir para longe de mim — falei sem me virar.
Ele tem tentado conversar comigo todos os dias antes desse evento, até com a Matilde, que dá brechas para ele. A irmã e os senhores Oliveira ligaram por videochamadas para ver minha filha, e dos quatro, só dei permissão para Sky, e o senhor e senhora Oliveira.
Não foram eles quem me magoaram nesse quesito, muito menos viraram as costas para mim; eles nem sabiam direito da situação do que se passou.
— Podemos apenas conversar de verdade — Rogério disse, ainda atrás de mim, mas eu ainda sentia os olhos dele com uma certa intensidade.
— Não temos nada que conversar um com o outro — falei.
Percebendo minha firmeza, Rogério deu um suspiro resignado.
— Joseph, eu sei que as coisas não terminaram da melhor forma entre nós, mas gostaria de pelo menos tentar esclarecer as coisas e ver como posso fazer parte da vida da Matilde. Posso entender se não quiser, mas seria injusto não oferecer essa chance com a minha filha.
Senti a hesitação em suas palavras, mas permaneci decidido em manter minha postura. A noite que começara festiva agora carregava uma tensão inesperada, e eu ponderava sobre as palavras que viriam a seguir.
Mantive minha posição, ponderando sobre a proposta de Rogério. Por um instante, o som da música suave e os risos ao redor pareceram distantes, enquanto eu considerava as palavras a serem trocadas.
— Rogério, o passado é algo que ficou para trás, e não vejo necessidade de revivermos certos momentos. Estou aqui para aproveitar o evento, não para reabrir feridas antigas — respondi, mantendo minha postura firme.
Rogério assentiu, compreendendo a minha posição. Ambos permanecemos ali, imersos na atmosfera da festa, cada um seguindo seu caminho naquele cenário envolvente. A música continuava a embalar a noite, e eu me permiti mergulhar novamente na celebração, deixando para trás o breve momento de tensão.
Dahlia passou por mim com a namorada dela, ambas acenaram na minha direção enquanto dançavam animadamente. Sandra também passou ao meu redor com o celular no ouvido, ocupada com algum negócio dela. Cansado da situação e de ter visto Rogério, decidi dar uma pausa e me retirar do salão, procurando um local mais tranquilo para refletir sobre a noite e recarregar as energias.
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Chamei um táxi para minha casa, e enquanto esperava, lembrei-me dos ensinamentos da minha avó sobre ser uma pessoa fria e não guardar muitos sentimentos para evitar explosões emocionais. Esperava que, pelo menos nesse aspecto, esses conselhos fossem verdadeiros. Era revoltante sentir a necessidade de me reprimir, prendendo meus sentimentos, incapaz de desabafar ou desferir um soco na cara de Rogério.
Estou à beira de gritar algo não dito a Rogério por anos, só para desabafar, e a ideia de chutar a cara dele parece ser uma forma de aliviar minha alma.
Quando o táxi parou em frente ao prédio, desci com determinação, abrindo a porta de casa abruptamente. Para minha surpresa, deparei-me com um cachorro deitado ao lado da entrada, acompanhado por Matilde e Agatha. Ao me ver, o cachorro levantou a cabeça animado.
— O que está acontecendo? — perguntei para minha irmã.
— Eu e sua filha adotamos um cachorro — Agatha disse, apontando para as coisas que indicavam a presença de um novo membro na casa.
— Eu fiquei fora por apenas algumas horas — falei.
— Mas você disse que deixaria eu ter um cachorro — Matilde disse, abrindo um sorriso enorme.
— Querida, eu deixei, mas não pensei que você esperaria pela sua tia para escolher — falei e ri quando o cachorro baixou as orelhas. — Ele pode ficar, mas me prometa que vai ajudar a cuidar dele.
— Eu prometo! — Matilde gritou, abraçando-me com força.
Fiz cafuné na cabeça dela, que sorriu feliz ao me olhar.
— Qual é o nome? — perguntei.
— Coco — Matilde disse, e o cachorro levantou as orelhas animado antes de vir até minha direção e se esfregar na minha perna.
A presença amigável de Coco logo fez com que eu me esquecesse dos acontecimentos tumultuados na festa. A alegria de Matilde ao lado do novo amigo e a expressão animada de Agatha proporcionaram um contraste reconfortante com a tensão anterior.
— Bem-vindo à família, Coco — disse, acariciando o pelo macio do cachorro.
Os acontecimentos da noite, que começaram tumultuados, agora tomavam um rumo inesperado, enchendo a casa de uma energia leve e calorosa. Passei a noite ao lado da minha filha e da nova adição à família, agradecendo pela mudança inesperada de foco e por encontrar um refúgio reconfortante em meio às reviravoltas da vida.
Matilde chamou Coco para brincar, carregou a cama até o seu quarto e me fez rir.
— Como foi sua noite? Algum cara sexy deu em cima de você? — Agatha perguntou.
— Não é para tanto, fiquei só conversando com os outros empresários e empresárias — falei, indo à cozinha pegar um copo d'água. — Eu também vi o Rogério lá.
— Já fiquei desinteressada nesse assunto desse idiota — Agatha disse, mordendo um pedaço de batatinha que ela pegou de um saco de salgadinhos. — Se quiser, posso socar a cara dele com mais força do que da última vez. Aquele miserável idiota de cabeça dura.
— Agatha... — alertei, a voz séria, quando Matilde surgiu na cozinha com Coco atrás dela.
Sabia que minha irmã não diria nada de ruim sobre Rogério ou algo agressivo na frente da Matilde. Tinha aprendido da maneira mais difícil que as crianças aprendem rápido a repetir ou imitar. Mas a boca de Agatha às vezes tinha vida própria, como nesse momento.
— Cara de quem, tia Agatha? – perguntou Matilde.
Agatha engoliu em seco, olhando para mim com uma expressão de leve pânico.
— Oh, querida Matilde, eu só estava pensando em um personagem de desenho animado que tem uma cara muito engraçada, não é, Joseph? — tentou disfarçar Agatha, lançando-me um olhar de socorro.
— É isso mesmo, Matilde. Só falávamos de personagens engraçados — respondi, jogando no jogo da minha irmã.
Matilde riu, aceitando a explicação, e Agatha soltou um suspiro de alívio.
— Agora, por que você não leva o Coco para o seu quarto e vão dormir enquanto eu e a sua tia conversamos, hein? — sugeri, mudando rapidamente de assunto.
Minha filha sorriu animadamente e foi se deitar com seu pijama de unicórnio, pronto para a noite, e o cachorro seguindo-a.
— Da próxima vez, pensa antes de cogitar xingar em voz alta — falei, dirigindo um olhar sério para Agatha.
Ela assentiu com um olhar contrito, reconhecendo a importância de manter uma linguagem apropriada na frente de Matilde. Enquanto a noite seguia, a atmosfera em casa se tornava mais tranquila, e eu agradecia por ter minha filha e agora Coco e a companhia (um tanto exuberante) de Agatha para amenizar as tensões da festa dos empresários.
— Mas me diz o que houve? Vocês conversaram? — Agatha perguntou.
— Ele queria, mas eu não quis — falei.
— Então veio embora para dar um ponto final nisso tudo — Agatha disse e se sentou na cadeira da mesa de jantar. — Além do mais, eu achei uma coisa muito interessante nas suas coisas quando estava procurando algo velho para o Coco dormir.
Tirou do bolso da calça um colar velho que tinha um medalhão, que ela abriu, revelando uma foto minha e do Rogério de sete anos antes.
— Você disse que tinha jogado fora esse colar — Agatha disse, e mordi o lábio. — Também achei uma jaqueta dele que estava até com o nome bordado.
— Eu... — me calei.
Agatha estudou meu rosto por um momento antes de falar.
— Joseph, acho que é hora de encarar o passado de frente. Você está se apegando a coisas que não são boas para ignorar não fará desaparecer. Às vezes, confrontar e resolver é a única maneira de seguir em frente.
Senti o peso das palavras de Agatha enquanto encarava a foto no medalhão, um vislumbre do que já foi. Talvez fosse realmente hora de enfrentar o passado, encarar as emoções enterradas e permitir-me seguir em frente.
— Talvez você esteja certa — respondi, guardando o colar e a foto com cuidado.
A noite que começou com reviravoltas e conflitos na festa dos empresários agora se transformava em uma jornada de reflexão e resolução em casa. A presença de Matilde, Coco e Agatha oferecia um apoio valioso enquanto eu encarava a necessidade de encerrar capítulos não resolvidos e abrir espaço para novos começos.
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Gostaram?
Até a Próximo 😘
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