Capítulo Dezessete
Rogério Oliveira:
A manhã entrava pela janela, pintando listras douradas no cobertor. Um puxão forte no braço me arrancou do resto do sonho, e eu abri os olhos com um sobressalto. Matilde estava ali, pequenina e radiante, com o cabelo castanho despenteado como um ninho de passarinho.
— Bom dia, papai Ro! — exclamou ela, pulando de um pé para o outro. — Hoje é dia de café especial! Com você e a tia Sky! Papai Joseph saiu cedinho pra ver aquele moço novo com a tia Agatha. Sabia que ele é meu vô também? Não é demais ter dois vôzinhos e uma vovó?
Sua animação era contagiante. Eu soltei uma gargalhada, a voz rouca pelo sono. Aquele furacão de energia em miniatura sempre tinha o dom de me despertar de qualquer jeito.
— Demais, Matilde. Demais — respondi, sentando na cama e bagunçando seu cabelo. — Mas vamos combinar, quem te ensinou a me acordar assim? A tia Sky, não é?
Matilde piscou, inclinando a cabeça para o lado com um sorriso travesso.
— A tia Agatha disse que príncipes precisam acordar para salvar o dia! E o papai Ro é o meu príncipe mais legal do mundo!
Meu coração derreteu. Aquele jeito dela de me encher de apelidos bobos, mas cheios de carinho, era a coisa mais preciosa do mundo. Ouvi um latido suave quando Coco surgiu na porta do meu quarto, olhando em nossa direção como se esperasse ansiosamente pelo seu café da manhã. Isso me arrancou uma risada espontânea, e eu peguei minha filha nos braços, pronta para começar o dia. Juntas, caminhamos em direção à cozinha, onde encontrei minha irmã sentada à mesa, saboreando seu cereal matinal ao lado de uma xícara de chá fumegante.
— Espero que esses dois não tenham aprontado nada enquanto estávamos dormindo — brinquei, depositando minha filha ao lado de minha irmã.
— Ele apenas dormiu no sofá — explicou Sky, revirando os olhos enquanto puxava uma cadeira para se juntar a nós. — Matilde, querida, sente-se ao lado da sua tia.
Coloquei Matilde ao lado dela, sorrindo com a cumplicidade familiar que permeava o ambiente.
— Pensei que Coco tivesse partido ontem à noite, depois que eu adormeci — comentei, abrindo a geladeira em busca de ingredientes para o café da manhã.
— Eu também quase fui embora, mas houve um imprevisto de última hora — interveio Tom, lançando um olhar significativo para Sky, que respondeu com um sorriso cúmplice, repleto de emoção.
Enquanto preparamos o café da manhã, o aroma acolhedor do café recém-passado se espalhava pela cozinha, criando uma atmosfera de conforto e familiaridade. Coco se acomodou aos nossos pés, observando cada movimento com olhos curiosos e ansiosos.
Minha irmã, com seu jeito descontraído, começou a compartilhar histórias engraçadas de tudo que era possivel, fazendo-nos rir e nos sentir ainda mais unidas. Matilde, com seus olhos brilhantes de admiração, absorvia cada palavra como se fossem tesouros preciosos a serem guardados em sua memória.
Em meio a risadas e conversas animadas, sentíamos a magia da família, o calor dos laços que nos uniam, tornando cada momento especial e memorável. E ali, naquela simples manhã na cozinha, percebíamos o quanto éramos abençoados por termos uns aos outros, por compartilharmos não apenas refeições, mas também amor, alegria e cumplicidade.
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Sky saiu com um tom tranquilo algum tempo depois, sugerindo que procurássemos algo interessante para fazer. No entanto, percebi que na verdade ele só queria um momento tranquilo para namorarmos em paz. Minha irmã tem um talento incrível para organizar sua vida. Não estou brincando, ela elaborou um quadro detalhado com os horários em que irá estudar, quando planeja encontrar o Tom para passarem tempo juntos, e ainda reservar momentos para estar com a família. Ela tem feito isso desde os tempos do ensino fundamental.
Agora, ela até reservou uma parte separada em seu quadro para acompanhar os shows que o Tom faz com sua banda.
Essa foi a segunda surpresa: quando descobri que ele toca, minhas expectativas subiram às nuvens! Imaginei minha irmã vibrando com as músicas, cantando junto e curtindo cada acorde. Mas, confesso, não foi bem assim. Não estou dizendo que as músicas não sejam boas, mas esperava um pouco mais de empolgação da parte dela. A melodia era suave, quase melancólica, e o ritmo lento não combinava muito com o estilo agitado da minha irmã. No fim, a experiência foi interessante, mas não foi a explosão de alegria que eu imaginava.
— Papai Ro, quando você e o papai Joseph vão sair? — Matilde perguntou, arrancando-me da minha própria mente e trazendo-me de volta para a realidade.
— Querida, isso vai depender do seu pai — respondi, tentando infundir um pouco mais de emoção em minhas palavras.
— Mas você pode dar ideias de lugares para onde irem — Matilde disse com um imenso sorriso, seus olhos brilhando de expectativa. — Se der certo, talvez eu ganhe uma irmãzinha!
Senti-me engasgar enquanto ela ria inocentemente. Coco, então, olhou na minha direção antes de voltar a prestar atenção ao cachorro do programa de televisão.
— Querida, isso vai demorar para acontecer — expliquei, vendo sua expressão se tornar um misto de decepção e tristeza. No entanto, ela não disse nada, apenas pegou meu braço com um olhar tristonho.
Aproximei-me de Matilde e envolvi-a em um abraço reconfortante, sentindo o peso da responsabilidade como pai.
— Mas enquanto isso, que tal planejarmos um dia especial juntos? — sugeri, tentando recuperar o brilho em seus olhos.
Seu rosto se iluminou com uma mistura de surpresa e alegria.
— Sério, papai? — ela perguntou, seus lábios se curvando em um sorriso radiante.
— Sim, sério. Podemos fazer o que você quiser. Um passeio no parque, um piquenique, talvez até mesmo uma sessão de cinema em casa com pipoca e seus filmes favoritos. O que acha? — propus, esperando ansiosamente por sua resposta.
Matilde pulou de alegria e me abraçou com força.
— Eu te amo, papai! — ela exclamou, seus olhos brilhando com emoção.
Sorri, sentindo meu coração transbordar de amor por aquela pequena pessoa que significava o mundo para mim.
— Eu também te amo, minha querida Matilde. Vamos fazer desse dia o melhor de todos! — prometi, selando nosso pacto com um beijo na testa dela.
Matilde riu e mergulhou de volta nas brincadeiras, arrastando-me junto com sua energia contagiante. Maravilhado com sua criatividade, eu me entreguei completamente às suas ideias, admirando como ela conseguia transformar até mesmo as atividades mais simples em aventuras emocionantes.
A cada jogo que ela propunha, eu me via cativado pela sua imaginação sem limites. Mesmo quando me sentia cansado, sua energia inesgotável me contagiava, e eu encontrava forças para acompanhar suas novas ideias de diversão.
Juntos, exploramos mundos imaginários, enfrentamos dragões imaginários e até construímos fortalezas feitas de almofadas e cobertores. Matilde era o maestro dessa sinfonia de brincadeiras, e eu me sentia honrado em ser seu parceiro de aventuras.
Enquanto nos divertíamos, percebi que o verdadeiro tesouro não estava nas atividades em si, mas sim no vínculo especial que compartilhávamos como pai e filha. E, mesmo quando o cansaço começava a se instalar, eu sabia que nunca iria trocar esses momentos preciosos por nada neste mundo.
Sorri ao ver Joseph entrar, orgulhoso por tê-lo incluído na dinâmica familiar e vendo como ele se ajustava naturalmente ao papel de pai.
— Papai Joseph! — Matilde exclamou, correndo para abraçá-lo pela cintura. — Como foi sua reunião com o vovô?
Joseph sorriu para nossa filha com ternura antes de responder.
— Foi ótima, querida. E só demorei um pouco porque precisei passar na empresa antes. Seu avô ficou surpreso com a notícia de ter um neto, e ficou ainda mais animado quando contei sobre a minha princesinha aqui. — Ele a pegou nos braços e plantou beijos carinhosos em suas bochechas. — A pessoa mais fofa do mundo.
Observando-os juntos, senti uma onda de gratidão por ter esses dois incríveis indivíduos em minha vida. E, naquele momento, enquanto preparávamos o almoço juntos, meu coração transbordava de felicidade pela família que construímos juntos.
— Senti meu coração acelerar quando Joseph mencionou nosso próximo encontro, e nossos olhares se encontraram, deixando-me completamente encantado. Enquanto isso, Matilde brincava com Coco no meu quarto, e eu agradecia por termos um animal tão educado, que sabia se comportar e avisar quando precisava sair para suas necessidades.
— Será na próxima terça, e espero que não haja nenhuma besteira ou comportamento extravagante como da última vez — Joseph acrescentou, com um olhar inquisitivo. Lembrei-me do nosso primeiro encontro, quando talvez tenha exagerado ao reservar um restaurante inteiro, ocupando um andar do hotel mais requisitado da cidade, deixando-o chocado com todo o planejamento que eu havia feito.
Fiquei meio bobo diante da lembrança, mas também ansioso pelo que ele tinha em mente para nosso próximo encontro. Com Joseph ao meu lado e Matilde trazendo alegria à nossa casa, mal podia esperar para criar mais memórias especiais juntos.
Com um sorriso, respondi a Joseph:
— Pode deixar, prometo que será um encontro mais tranquilo e especial, sem exageros. Ainda mais com você dizendo a onde deveremos ir — Falei, vendo ele retribuir meu sorriso com ternura e, por um momento, senti-me grato por termos superado as diferenças do primeiro encontro e estarmos construindo algo verdadeiramente significativo juntos.
Enquanto Matilde e Coco continuavam suas brincadeiras no quarto, senti uma sensação de plenitude invadir meu coração. Não importava para onde iríamos no próximo encontro; o que realmente importava era que estaríamos juntos, fortalecendo nosso vínculo como família.
Com a certeza de que o futuro reservava ainda mais momentos especiais, abracei Joseph, agradecendo por tê-lo ao meu lado. E, juntos, continuamos a trilhar o caminho da vida, unidos pelo amor e pela felicidade que encontramos um no outro.
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Até a Próximo 😘
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