Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 35

4153 palavras

"Em meio ao frio da neve e ao calor do fogo, o luto revela três faces opostas: o desespero incontido, a indiferença fria e o vazio gélido de quem tenta erguer uma barreira contra a dor."

O silêncio era estranho. O som dos tiros havia cessado, e apenas o vento do lado de fora do prédio cortava o ar enquanto os corpos dos espectros e dos monstros maiores jaziam ao redor, derrotados. O cheiro de sangue e pólvora ainda impregnava o ambiente. A adrenalina ainda corria nas minhas veias, mas, finalmente, eu conseguia respirar sem sentir aquele peso opressor no peito.

Os monstros maiores ainda estavam vivos, mas completamente imobilizados, suas mãos e pés reduzidos a massas informes de carne e osso, tornando-os incapazes de continuar lutando. Olhei para o monstro mais próximo, aquele que eu tinha derrubado pessoalmente. Ele me observava com seus olhos opacos e vazios.

— Vamos levar essa coisa para Hange. — Minha voz saiu fria, prática.

Connie e Jean estavam afastados, os olhos fixos no chão. Connie parecia à beira do colapso, o rosto pálido e vazio. Jean, ao lado dele, mantinha uma expressão de dor contida, segurando o braço de Connie, tentando, de alguma forma, estabilizá-lo.

— Connie... Jean... vão buscar Sasha, ela está no sexto andar. — Falei, desviando o olhar. Sabia que não seria fácil para eles, mas era necessário. O corpo dela não podia ficar aqui, como um troféu para os monstros.

Jean assentiu, respirando fundo antes de conseguir falar:

— Nós vamos. — Sua voz estava embargada, mas ele manteve a compostura. Connie, ao seu lado, parecia distante, mas não tinha escolha. Com os olhares perdidos, os dois começaram a subir as escadas.

Levi e Erwin se aproximaram de mim. Erwin analisava a situação com seus olhos calculistas, sempre pensando no próximo movimento. Levi, como de costume, estava sereno, mesmo em meio ao caos ao nosso redor.

— Precisamos do caminhão. — Erwin disse, como se lesse meus pensamentos. — Não tem como arrastar essa coisa até lá sem ele.

Assenti, apertando os lábios.

— Vão buscar o caminhão, então. — Minha voz saiu firme. — Eu cuido de tudo aqui.

Levi apenas me lançou aquele olhar característico, uma troca silenciosa de entendimento. Sabíamos que não tínhamos muito tempo, mais dessas coisas poderiam aparecer. Eles saíram em direção à estrada, desaparecendo na curva.

Eu olhei para Eren e Mikasa, que estavam mais afastados, monitorando o perímetro.

— Eren, Mikasa. — Chamei, a minha voz cortando o silêncio que restava. — Vão até a ponte. Esperem por nós lá.

Eren parecia prestes a protestar, mas sua expressão revelava mais raiva do que preocupação.

— Mas, Amelie... — Ele começou, dando um passo em minha direção.

— Agora não é o momento, Eren. — Cortei, firme. — Apenas me obedeçam.

Mikasa, sempre pragmática, assentiu. Sem hesitar, ela puxou Eren pelo braço, afastando-o antes que ele pudesse dizer algo que complicasse ainda mais as coisas.

— Vamos. — Ela murmurou para ele, e Eren, relutante, finalmente cedeu, virando-se para segui-la.

Connie e Jean já estavam voltando com o corpo de Sasha nos braços. O peso morto de Sasha parecia drenar o pouco de vida que ainda restava em Connie. Ele estava mais vazio do que nunca, cada passo que dava carregava o peso de uma realidade brutal. Jean, por sua vez, mantinha o olhar fixo no caminho, tentando ser a âncora para o amigo.

Eu os observava. Não os culpava. Sasha estava morta, e nenhum de nós merecia essa realidade cruel, mas era o que tínhamos.

Suspirei, sentindo o gosto amargo da vitória. Não havia nada de glorioso nisso, apenas mais perdas.

Voltei meus olhos para o monstro caído aos meus pés. Ele me encarava, respirando com dificuldade. O nojo que senti quase me fez chutar aquela face deformada.

— Connie, Jean, sigam para a ponte. Eren e Mikasa já estão indo para lá. — Falei, minha voz cortante.

Connie nem relutou, nem me olhou. Apenas seguiu em frente, enquanto Jean assentiu em silêncio.

A escuridão me envolvia enquanto eu ouvia o som de passos. Meu corpo inteiro ficou tenso. Minha munição tinha acabado e, sem hesitar, alcancei a adaga guardada no coturno, puxando-a de forma rápida e precisa. Meus olhos tentavam se ajustar ao breu, mas era difícil enxergar qualquer coisa com nitidez. Os passos ficavam cada vez mais próximos, e o som ecoava no silêncio sufocante.

De repente, uma voz feminina rasgou o ar:

— Tenho que admitir, vocês fizeram um bom trabalho aqui.

Minha respiração travou por um momento. A silhueta de uma mulher surgiu das sombras, se tornando visível conforme se aproximava. Annie Leonhart. Acompanhada por Gabi e Falco, ela caminhava com aquela sua postura fria e despreocupada.

Ela parou a alguns metros de mim, e pude ver o brilho cruel em seus olhos enquanto ela falava, seu tom ácido e provocador:

— Eles ainda não perceberam que você é uma traidora, não é?

Engoli em seco, mas não respondi. Eu não ia ceder à provocação. Eu mantive meu rosto inexpressivo, segurando firme a adaga, meu corpo pronto para atacar se necessário.

— Os papeis que estavam no laboratório — disse, cortando o silêncio com minha própria voz, direta e sem rodeios. — Preciso deles.

Annie soltou um riso baixo, sarcástico.

— E o que te faz pensar que estão comigo?

Minha mandíbula se apertou, e eu quase sorri, mas de uma forma amarga.

— Eu não sou burra, Annie. E você não é tão esperta quanto gostaria de parecer.

Ela bufou, cruzando os braços, aquele olhar de desdém estampado em seu rosto.

— Leve o monstro — ela disse, apontando para a criatura imobilizada não muito longe de nós. — Ele será mais útil do que esses seus documentos idiotas.

Eu não disse nada. Apenas a encarei em silêncio. Annie sabia jogar seu jogo, e eu não ia cair nas provocações.

Ela virou-se para ir embora com Gabi e Falco, o som de seus passos se distanciando. Porém, antes de sair, Annie parou na porta, lançando um olhar de canto de olho, como quem despeja uma última gota de veneno.

— Sinto muito pela sua amiga.

Aquelas palavras me acertaram como um soco no estômago. Era como se ela tivesse cravado um dedo em uma ferida aberta e então arrastado a unha pela carne exposta. Annie sabia exatamente o que estava fazendo, e o que me doía mais era que ela tinha conseguido.

A raiva borbulhou dentro de mim antes que eu pudesse me conter.

— Vai se foder! — Gritei, com a voz carregada de ódio.

Ela apenas sorriu de lado, satisfeita, antes de desaparecer pela porta, deixando o ar pesado, como se o veneno de suas palavras ainda pairasse ao meu redor.

Eu respirei fundo, tentando dissipar a fúria, mas o gosto amargo ainda estava na minha boca.

Quando saímos do Distrito Maria, os primeiros raios de sol já começavam a iluminar o horizonte, tingindo o céu com tons de dourado e laranja. O ar ainda estava frio, e o silêncio ao nosso redor era quase reconfortante depois de todo o caos que havíamos enfrentado. Não havia palavras trocadas entre nós, apenas a sensação de cansaço e a necessidade de seguir em frente, deixando o distrito para trás.

A viagem até Sina foi rápida, sem paradas. O caminho parecia passar em um borrão. Todos no grupo estavam visivelmente exaustos, mas havia uma urgência silenciosa nos nossos movimentos, como se cada um de nós soubesse que não podíamos perder tempo. O cheiro de sangue e pólvora ainda impregnava nossas roupas, e a imagem de Sasha, carregada nos braços de Connie, não saía da minha mente.

Quanto mais nos afastamos do Distrito Maria, mais eu sentia o peso da responsabilidade pressionando meus ombros. A calmaria da estrada contrastava com o turbilhão dentro de mim. Sina estava cada vez mais próxima.

O céu estava encoberto por nuvens densas, e a neve caía de forma lenta e silenciosa, cobrindo o chão com uma fina camada branca. O frio cortante fazia meus ossos doerem, mas eu mal sentia isso. O corpo de Sasha estava enrolado em um lençol branco, carregado por Connie, Jean e Eren, enquanto caminhavam em direção à fornalha. A neve já começava a se acumular sobre o lençol, um contraste grotesco com o sangue que havia manchado partes do tecido.

Connie estava desmoronando. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, e ele soluçava tão forte que mal conseguia manter o ritmo de seus passos. Jean, ao lado dele, mantinha uma expressão fechada, a mandíbula trincada, enquanto segurava o lençol com força, os dedos quase congelados pelo frio. Eren, com o olhar vazio, carregava o peso do corpo de Sasha com uma indiferença perturbadora, o rosto endurecido. Ele não falava, nem demonstrava nada. Era como se estivesse desligado de tudo ao redor.

Eu caminhava logo atrás deles, sentindo o frio penetrar na minha pele, mas incapaz de reagir. Não havia tristeza em mim, apenas uma espécie de vazio gélido, uma distância que eu mantinha propositalmente. Era mais fácil assim, mais fácil não sentir. Mikasa andava ao meu lado, seus passos silenciosos na neve. O rosto dela era uma máscara de pedra, mas seus olhos... aqueles olhos estavam cheios de uma dor que ela não demonstrava. O silêncio entre nós era denso, pesado como o gelo que nos cercava.

Levi e Hange seguiam atrás de nós, suas silhuetas quase indistintas em meio à nevasca. Levi estava quieto, a dor dele, como sempre, oculta atrás de um olhar impassível. Hange, geralmente falante e cheia de energia, agora caminhava em silêncio, envolta em seu próprio luto.

A fornalha estava à frente, uma construção escura e de metal, destacando-se em meio à brancura da neve. O vento gelado assobiava ao redor de nós, e o som dos nossos passos era abafado pela neve que continuava a cair, lenta e constante. Cada movimento parecia ser feito em câmera lenta, o peso da morte tornando o tempo mais denso.

Connie e Jean estavam à beira de suas forças. Quando finalmente chegaram à fornalha, Connie caiu de joelhos, o rosto contorcido de tanto chorar. Suas lágrimas congelavam quase instantaneamente ao entrar em contato com o ar frio, e ele segurava o lençol que envolvia Sasha como se não conseguisse soltá-la.

— Não... — Connie murmurou, sua voz rouca e quebrada. — Não pode ser ela...

Jean, mesmo tentando se manter firme, não conseguiu evitar que uma lágrima escapasse de seus olhos enquanto ajudava a levantar o corpo de Sasha, agora completamente envolto pela neve. Eren, ainda em silêncio, ajudou a colocá-la na fornalha sem dizer uma palavra, sem expressar nada.

O fogo foi aceso, e o calor começou a crescer à medida que as chamas se erguiam, lambendo o corpo de Sasha envolto no lençol. A neve ao redor da fornalha derretia lentamente, transformando-se em lama sob nossos pés, mas eu mal conseguia me concentrar nisso. As chamas dançavam, consumindo tudo, e o odor forte e amargo da morte dominava o ar.

Connie estava irreconhecível, suas mãos tremiam tanto que ele não conseguia mais segurar o lençol. Jean o puxou para longe, mas Connie resistia, gritando em desespero. O corpo de Sasha desaparecia sob as chamas, e tudo o que restava agora era o lamento desesperado de Connie, o olhar vazio de Jean e a frieza que crescia em mim como uma muralha de gelo.

— Ela não merecia... — Connie sussurrava entre soluços, repetidamente, como um mantra quebrado. — Ela não merecia...

Jean, com o olhar fixo nas chamas, se limitava a balançar a cabeça, sem saber o que dizer. Eren havia se afastado um pouco, com os braços cruzados, olhando para o horizonte coberto de neve. Era como se ele estivesse tentando fugir da realidade, se afastando da morte, mesmo que ela estivesse logo à sua frente.

— Já acabou. — A voz de Levi cortou o ar gélido, baixa e cortante. — Vamos sair daqui.

Olhei para o corpo de Sasha sendo consumido pelas chamas e não consegui sentir nada além do frio implacável que vinha de dentro de mim.


As celas eram frias e úmidas, com o cheiro amargo de mofo e ferrugem impregnando o ar. Cada passo que eu dava soava alto demais no silêncio abafado daquele lugar, como se os próprios tijolos sussurravam o que vínhamos fazer ali. O monstro que havíamos trazido estava à frente, trancado atrás de barras de ferro pesadas, respirando de forma irregular. O som era grotesco, um eco deformado de algo que deveria ter sido humano, mas que já havia perdido completamente qualquer traço de humanidade.

Hange estava à frente, os olhos brilhando com uma excitação insana. Parecia uma criança com um brinquedo novo, completamente absorta no corpo ferido da criatura. Eu observava de longe enquanto ela coletava o sangue, cada movimento refletindo uma precisão quase meticulosa. Hange sempre fora assim: fascinada pelo desconhecido, pelo grotesco. Para ela, aquilo não era um monstro. Era uma oportunidade.

Eu, por outro lado, não sentia nada além de um leve incômodo, um desconforto que não conseguia expulsar do peito. O monstro, com seus olhos vazios e respiração pesada, não me amedrontava; me enojava. Era difícil encontrar qualquer coisa fascinante naquilo.

Moblit, ao lado de Hange, estava pálido como um fantasma, com os olhos arregalados de medo, embora tentasse disfarçar.

— Hange, e se... e se ele se soltar? — Moblit engoliu em seco. — E se ele...

— Não vai se soltar, está sem mãos e sem pés. — Hange respondeu, pensativa por um momento. — A não ser que ele consiga regenerar membros.

Ela pareceu ainda mais eufórica, aproximando-se da grade.

— Você consegue se regenerar? Eu sei que você sabe falar.

O monstro, no entanto, permaneceu em silêncio, apenas respirando de forma arrastada. As palavras de Hange eram quase um desafio.

Erwin e Levi estavam mais afastados. Levi, encostado na parede, mantinha o rosto inexpressivo, mas o olhar sempre atento, como se estivesse esperando que algo desse errado. A tensão emanava dele, mesmo que não dissesse uma palavra. Erwin, como sempre, parecia distante, analisando cada detalhe com aquela mente estratégica e impassível.

Aproximei-me um pouco mais de Hange, que guardava os frascos de sangue cuidadosamente em uma maleta de metal. O entusiasmo dela era quase palpável no ar.

— Vou começar os testes agora — disse ela, com um sorriso que parecia fora de lugar naquele ambiente lúgubre. — Amelie, preciso que venha comigo, por favor.

Ela me olhou com intensidade, esperando minha resposta.

Não disse nada, apenas assenti e a segui em direção ao laboratório. Deixei Levi, Erwin e Moblit para trás, suas presenças quase imperceptíveis à medida que me afastava pelas celas escuras. O som de nossos passos ecoava como uma batida lenta e constante nos meus ouvidos, enquanto o frio das paredes parecia rastejar pela minha pele.

Não havia medo em mim, apenas uma vaga sensação de que aquilo não terminaria bem.

Mas, no fundo, já me acostumei com essa sensação.

No laboratório, o ambiente era opressor, cheio de frascos, seringas e aparelhos que zumbiam de forma irritante. Hange, com seu olhar brilhante e fascinado, se aproximou de mim com uma seringa em mãos.

Ela retirou um pouco do meu sangue, como se já estivesse em um modo automático de estudo. Seus olhos estavam cravados no líquido vermelho dentro do frasco, quase hipnotizada.

— E como você está se sentindo? — ela perguntou, ainda concentrada.

— Me sinto bem. Estou mais forte, mais rápida — respondi, evitando contato visual.

— Não foi isso que perguntei, Amelie — ela rebateu, seu tom sério, me puxando de volta para a realidade.

Desviei o olhar. Eu sabia o que ela queria saber, mas não tinha as respostas.

— Eu... eu lutei contra aquela coisa. Fui atingida por ele. — As palavras saíram sem vida, quase como se não fossem minhas.

Hange franziu a testa, mas assentiu.

— Certo. Venha comigo — disse, se virando.

Acompanhei-a até o fundo do laboratório, onde uma cortina grossa dividia a sala. Ela abriu a cortina com uma puxada rápida, revelando Faye e Florencia ainda deitadas em suas macas. Faye, como sempre, com aquele sorriso cínico que me fazia querer arrancar a cabeça dela com as mãos.

— Resolvi trazer o aparelho para cá. Acho que será mais discreto — Hange apontou para o outro lado da sala. Lá estava a máquina de ultrassom e uma cama da enfermaria.

Meu estômago se contraiu. Eu não sabia se estava pronta para isso. E se algo estivesse errado? E se minha luta, as pancadas, fossem demais para meu bebê?

Deitei na cama, o colchão rígido contra meu corpo tenso. Hange espalhou o gel frio sobre minha barriga, me arrancando um suspiro de desconforto. Enquanto ela manuseava o aparelho, meus pensamentos giravam. E se...?

O silêncio no quarto era ensurdecedor, até que, finalmente, o som do coração ecoou. Um batimento forte, constante, que invadiu meus ouvidos como a única coisa que importava.

Meu corpo relaxou instantaneamente. Meu bebê estava bem.

— Está tudo bem, Amelie. Ele é forte... como você — Hange sorriu, satisfeita.

Antes que eu pudesse responder, uma risada histérica cortou o ar.

— Hange, vamos apostar? Quem morre primeiro, a mãe ou o pequeno bastardo? — Faye falou, sua voz venenosa e cheia de prazer sádico.

— Cala a boca, sua miserável! — Eu gritei, a raiva subindo pelo meu corpo como uma onda de fogo. Faye sabia como mexer comigo, aquela desgraçada. Cada palavra que ela dizia era como uma facada, cortando fundo na minha paciência.

Ela riu novamente, debochada.

— Own, eu estressei a mamãe?

Eu mal consegui me conter. Num impulso, me levantei da cama, pronta para arrancar aquele sorriso nojento do rosto dela, mas Hange foi mais rápida. Ela me segurou pelo braço, firme.

— Não, Amelie. Não dê a ela o que ela quer. É exatamente isso que ela busca. 

Respirei fundo, tentando recuperar o controle. Assenti, mesmo que a raiva ainda queimasse dentro de mim. Me virei, ignorando Faye e suas provocações. Saí de trás da cortina, deixando aquela miserável sozinha no seu teatro patético.

Enquanto me afastava, tentei focar no que realmente importava. O som do coração do meu bebê ainda ecoava na minha mente, um lembrete de que havia algo maior pelo que lutar.

— E a cura, Hange? — perguntei, minha voz mais calma, mas ainda cheia de urgência. Parei ao lado do balcão, cruzando os braços.

Hange suspirou, apoiando-se contra a mesa de trabalho. Seu olhar era mais pesado, mais sombrio agora.

— Ainda não conseguimos desenvolver nada. O vírus é resistente. Nunca vi algo assim.

— Que droga, Hange! Tem que ter alguma coisa! Eu preciso disso! — Minha frustração explodiu de novo. O medo me consumia, e a falta de respostas me fazia querer gritar.

— Amelie, o vírus se uniu às suas células. Você é o vírus e o vírus é você. Ele só te deixou mais forte.

Eu bati a mão contra a mesa, o som reverberando pelo laboratório.

— Você não entende! Você não sabe como isso pode me afetar!

— Eu entendo, sim. Claro que precisamos de mais testes, mais estudos. Mas, por enquanto, seu corpo está reagindo bem. Não há efeitos negativos. Pelo contrário, você está mais forte, mais resistente.

— Isso é o que você vê agora! Mas e depois? Eu sou como um desses monstros, Hange.

Ela me olhou com uma expressão firme, mas cheia de compaixão.

— Você não é um monstro, Amelie. Você não é.

Passei a mão pelos cabelos, sentindo a tensão acumulada em cada músculo.

— Até mais, Hange — murmurei, saindo rapidamente, batendo a porta com força atrás de mim.


Ao entardecer, eu me arrastei para fora do quartel, buscando nas arquibancadas um pouco de ar que não estivesse carregado de tensão. Meu peito estava pesado, e minha mente, sufocada pelos eventos do dia. Assim que meus olhos varreram o campo, vi Jean, Eren, Mikasa e Armin ao redor de Connie. O rosto dele estava devastado, seus ombros caídos, e os outros pareciam tentar confortá-lo. Respirei fundo e fui em direção a eles.

Jean foi o primeiro a me notar, seu sorriso era triste, carregado de culpa.

— Amelie — ele me chamou suavemente, mas seu olhar era vazio de esperança.

Connie levantou a cabeça ao ouvir meu nome. Seus olhos vermelhos e furiosos cravaram-se em mim enquanto ele se levantava com um impulso quase violento.

— Como aconteceu, Amelie? Quem matou Sasha? — A dor em sua voz era evidente, mas estava misturada com uma raiva visceral.

Eu hesitei por um segundo, minhas palavras ficaram presas na garganta. Então, menti descaradamente.

— Eu não sei. Eu estava tentando abrir a porta quando tudo aconteceu. Não vi quem atirou — a mentira me queimou por dentro, porque eu sabia a verdade. Eu havia deixado a assassina de Sasha ir.

Connie me encarava, buscando algo em meu rosto, algum sinal de traição.

— Armin disse que tentou falar com você, mas você não respondeu. Por quê, Amelie? — Ele insistiu, apertando os punhos. Merda. Eu não esperava por isso.

— Eu devo ter perdido. — Meu tom era defensivo. — Por que esse interrogatório, Connie? Estou sendo acusada de matar Sasha agora? — Perguntei com ironia, tentando afastar a dor crescente em meu peito.

Armin interveio, sua voz sempre calma, mas agora impregnada de tristeza.

— Não, Amelie. Ninguém aqui pensa isso.

Mas Connie não parecia ouvir Armin. Ele deu um passo à frente, se aproximando ainda mais de mim, sua raiva pulsando.

— Eu não acredito em você.

Senti a pressão aumentar, mas não me deixaria abater. Não por isso.

— Ótimo. Mas eu também não te devo nenhuma verdade, Connie. Não importa se você acredita ou não — respondi, mantendo minha postura firme, embora por dentro, estivesse desmoronando.

Os olhos dele se estreitaram, sua raiva transbordando.

— Era pra você ter protegido ela! — Connie gritou, avançando em minha direção, mas Jean foi rápido em segurar seu amigo, puxando-o para trás antes que a situação saísse do controle.

— Já chega, Connie! Você não pode culpar Amelie por isso! — Jean tentou acalmá-lo, mas no fundo, eu sabia que Connie tinha razão. Eu era culpada, de uma maneira ou de outra.

Mikasa, até então em silêncio, finalmente falou com sua paciência característica.

— Sossega, Connie.

Mas ele não estava disposto a ouvir. O ódio e a dor se misturavam em seus olhos, transformando-o em algo quase animalesco.

— Era pra você ter morrido no lugar dela! — Ele vociferou, lágrimas escorrendo pelo seu rosto. A voz dele estava rouca, as palavras cuspidas com uma brutalidade que me cortou por dentro. — Seria menos danoso, Amelie. Você que deveria ter morrido, não ela!

Connie tremia de raiva, babando como um animal ferido, e suas palavras eram como punhais enfiados no meu peito. Por um instante, meu corpo se enrijeceu. Eu podia sentir o impulso violento tomando conta de mim. Podia facilmente esmagar sua cabeça no chão ali mesmo, acabar com essa agonia. Minhas mãos tremiam, mas ao invés disso, eu as enfiei nos bolsos e me virei para sair.

Não valia a pena. Nada que eu dissesse ou fizesse traria Sasha de volta, e eu sabia que Connie nunca me perdoaria. Talvez eu nunca me perdoasse também.

Enquanto caminhava em direção ao campo, senti uma mão agarrar meu braço. Me virei, já pronta para afastar quem quer que fosse, mas era Jean. Seus olhos estavam sérios, preocupados.

— Amelie, ele não quis dizer isso — Jean começou, a voz suave e sincera.

— Ele quis sim, Jean. — Eu o interrompi, soltando meu braço de sua mão com mais força do que pretendia. — E não tente defendê-lo. Ele não precisa disso.

Jean ficou quieto por um momento, seus olhos analisando meu rosto, talvez procurando alguma emoção que eu estava tentando esconder.

— Sinto muito, Amelie.

Assenti, pronta para seguir meu caminho, mas antes que pudesse me afastar, Jean falou novamente, sua voz mais baixa, quase num sussurro.

— Teria sido danoso, sim.

Franzi o cenho, confusa.

— O que?

Jean me olhou nos olhos, e suas palavras seguintes penetraram fundo em meu peito.

— Se você tivesse morrido, teria sido insuportável para mim, Amelie. É doloroso que Sasha tenha morrido, mas eu agradeço todos os dias por não ter sido você.

A sinceridade crua nas palavras dele me atingiu com força. Meus olhos arderam, mas eu sabia que nenhuma lágrima iria cair. Eu não merecia o amor de Jean. Eu nunca poderia retribuir a profundidade do que ele sentia por mim. Isso me doía de uma forma que eu não conseguia explicar. Doía saber que eu era a causa da sua dor, que eu nunca seria capaz de amar Jean da maneira que ele precisava, da maneira que ele merecia.

Eu me aproximei dele lentamente, colocando minha mão em seu rosto. Meu polegar traçou círculos suaves em sua bochecha, sentindo o calor da pele dele contra a minha. Jean fechou os olhos por um breve momento, sua mão pousou sobre a minha, segurando-a ali, como se quisesse prolongar aquele toque.

Era um amor tão puro que doía. Doía por não ser capaz de corresponder, por saber que eu era apenas uma fonte de dor para ele, mesmo que ele nunca dissesse isso em voz alta.

Fiquei nas pontas dos pés e beijei sua bochecha com delicadeza.

— Obrigada por estar vivo, Jean. Por favor, não morra — sussurrei, meus olhos encontrando os dele uma última vez.

Ele sorriu, um sorriso que me partiu por dentro. Eu sorri de volta, mas logo tirei minha mão de seu rosto, sentindo a perda imediata do calor de sua pele. Sem olhar para trás, caminhei para longe, deixando Jean para trás, junto com o peso de tudo que ele carregava por mim.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro