Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 33

5365 palavras

"É estranho como, em um instante, algo tão vital simplesmente se apaga, deixando um vazio frio e insuportavelmente eterno."

O refeitório estava cheio, mas a mesa onde estávamos parecia isolada de todo o resto. O cheiro da comida se misturava com a tensão no ar, criando um ambiente pesado e opressor. Sentada ao lado de Levi, eu mal conseguia pensar em comer. A presença de Zeke, com seu sorriso enigmático e olhar penetrante, fazia com que cada mordida ficasse presa na garganta. Ele estava sentado mais à frente, conversando casualmente com Erwin, mas eu sabia que seu foco, na verdade, estava em mim. Sempre estava.

Levi, ao meu lado, estava estranhamente silencioso. Ele observava tudo com seus olhos atentos e frios, mas, de tempos em tempos, eu sentia o olhar dele sobre mim. Quando finalmente falou, sua voz veio baixa, mas firme.

— O que foi aquilo com a arma? — ele perguntou, sem rodeios, sem me encarar diretamente. Sua mão cortava um pedaço de carne, mas sua atenção estava em mim.

Eu sabia que ele não iria deixar isso passar. Soltei um suspiro leve e respondi casualmente, sem levantar os olhos do prato.

— Apenas testando a mira. Nada demais. — Dei de ombros, pegando um pedaço de pão, tentando parecer indiferente. Mas eu sabia que isso não ia colar com ele.

— Não acredito em você. — A resposta de Levi veio rápida, fria. Ele finalmente me olhou, e senti o peso daquele olhar. Ele estava irritado, mas não estava disposto a demonstrar isso abertamente. Pelo menos, não ainda.

Lentamente, ergui meus olhos para ele, um sorriso suave e cheio de segundas intenções se formando nos meus lábios. Um sorriso que não combinava com a tensão que pairava sobre nós. Eu sabia como Levi funcionava, sabia onde cutucar para obter uma reação. E eu queria uma reação dele. O que fiz a seguir foi quase automático, como se meu corpo já soubesse o que fazer antes mesmo de pensar.

Por baixo da mesa, minha mão deslizou até a coxa dele, próxima à virilha, e apertei com força, o suficiente para provocar. Um gesto discreto, mas que eu sabia que ele notaria — e como notaria. Levi endureceu imediatamente, seu corpo inteiro travando, e eu senti quando ele engoliu em seco, sua mandíbula se apertando.

Ele não fez nada por um momento, apenas me olhou com uma mistura de frustração e surpresa, franzindo o cenho. Aquela faísca de raiva, misturada com o desejo que ele tentava suprimir, me dava um tipo de satisfação que eu mal podia explicar.

— Amelie... — ele murmurou, sua voz baixa e carregada de aviso. Mas não o suficiente para me intimidar.

Levi levou um tempo para reagir, sua mão indo devagar até a minha, pegando-a com firmeza. Seu toque era controlado, mas havia algo mais por trás, algo que ele não queria mostrar. Ele segurou minha mão ali por um instante, como se estivesse considerando o que fazer, antes de finalmente afastá-la de sua coxa com um movimento firme, mas sem soltar completamente.

Havia uma tensão palpável entre nós, e por um breve momento, tudo ao nosso redor desapareceu. O refeitório lotado, as conversas ao fundo, até a presença desconfortável de Zeke na mesa à frente, tudo se dissipou. Era apenas eu e Levi, e aquele toque cheio de subtexto.

— Isso não vai funcionar comigo — ele sussurrou, os olhos estreitos, me encarando como se estivesse tentando me decifrar.

Eu apenas sorri de canto, provocativa, como se soubesse exatamente o efeito que tinha sobre ele — e sabia.

— Nunca diga nunca, Levi. — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro, enquanto retirava minha mão com lentidão. Ele não desviou o olhar, mas algo em sua postura sugeria que estava mais abalado do que queria admitir.

O desconforto retornou quando Zeke, aparentemente alheio à nossa tensão — ou talvez gostando de brincar com ela —, interrompeu o silêncio com sua voz melosa.

— Espero que estejam aproveitando a refeição. — Seus olhos passaram por mim de forma quase predatória, e eu tive que controlar o impulso de sair dali. — Precisamos de todos em sua melhor forma para o que está por vir.

Olhei para o prato e forcei uma mordida, mas o gosto da comida se misturava com o nó que se formava no meu estômago. A cada palavra de Zeke, a presença dele me sufocava mais. E, como se soubesse exatamente o que estava fazendo, ele continuava, seu tom carregado de condescendência.

— Você também, Amelie. Não se esforce demais... não queremos que algo de errado aconteça, não é?

As palavras dele eram carregadas de um significado velado, e todos na mesa pareciam ignorar o subtexto, exceto eu. Levi, ao meu lado, ficou mais rígido, mas ele não sabia. Não sabia as ameaças, as manipulações.

Soltei a faca, que bateu no prato com um barulho irritante, quebrando o momento.

— Eu estou bem, Zeke. — Respondi friamente, o sorriso desaparecendo do meu rosto. — Pode deixar que eu sei cuidar de mim mesma.

Zeke sorriu, aquele sorriso malicioso que me dava arrepios, antes de se voltar para Erwin e continuar com sua conversa.

Eu mantive meus olhos no prato, a mão de Levi ainda perto da minha sob a mesa, mas agora sem toque.


O caminhão parou com um leve solavanco, e Erwin fez um gesto silencioso para descermos. O ar lá fora estava pesado, e o frio cortante da estrada deserta se agarrou à minha pele como garras de gelo. O céu, tingido de um cinza ameaçador, parecia espremido entre os muros altos e antigos que nos cercavam, como se o mundo ao nosso redor estivesse morrendo aos poucos. A neve fina estalava sob nossos pés, um som insignificante que fazia eco no vazio sufocante.

— A partir daqui, vamos a pé, — a voz de Erwin cortou o silêncio como uma lâmina. — Coloquem os fones e mantenham-nos ligados.

O fone parecia mais frio do que o ar ao redor quando o encaixei no ouvido. Um leve ruído estático encheu minha cabeça até que a voz ansiosa de Armin soou na linha.

— Estou ouvindo... Não consigo ver o que está acontecendo, mas estou monitorando. Se algo parecer errado, me avisem.

Como se você pudesse nos salvar daqui, pensei, mas guardei o comentário para mim. Armin estava seguro em seu controle, distante das ameaças reais que se escondiam no horizonte, mas a preocupação em sua voz era clara. Eu sabia que ele estava mais tenso do que todos nós.

Olhei para Levi, que, como sempre, mantinha sua expressão fria e impenetrável. Ele não precisava dizer nada para que soubéssemos: ele estava esperando o pior. Todos estávamos.

A estrada à nossa frente se desenrolava como uma artéria sem vida, flanqueada pelos muros altos que pareciam pressionar a cada passo. O vento soprava gelado, mas o silêncio era pior. Tão opressor que era quase impossível ouvir nossos próprios pensamentos. A cada passo, a tensão aumentava, apertando em meu peito como uma garra invisível.

Conforme nos aproximávamos, o portão colossal do Distrito Maria surgiu à vista. Um monstro de aço maciço, tão alto quanto os muros que o flanqueavam. E o mais perturbador: estava aberto. Não entreaberto, não forçado — completamente escancarado, como se estivesse nos esperando.

— O portão está... aberto? — Sasha murmurou, sua voz quebrando o silêncio com um tremor mal disfarçado.

— Parece que já estavam à nossa espera, — falei, sarcástica, minha voz baixa e sem emoção. Porque, claro, isso fazia sentido. Como se tudo já estivesse planejado para nos receber.

Levi lançou-me um olhar, sua expressão impassível, mas com aquele brilho afiado nos olhos. Ele sabia. Sabíamos todos.

— Fiquem atentos, — disse ele, com aquela voz firme que sempre parecia se fundir com o ambiente, o olhar varrendo a área com a precisão de um predador.

— Continuem em alerta, — Erwin reforçou, uma ordem simples, mas com o peso de uma condenação.

O portão, enorme e silencioso, parecia rir de nós. O vento uivava ao redor, carregando flocos de neve que dançavam pelo ar como se zombassem de nossa cautela. Nenhum som além do estalar da neve sob nossos pés e do vento entre os muros. Nenhum sinal de vida. Algo estava profundamente errado.

— Boa sorte, — a voz de Armin soou mais uma vez, quase uma despedida. Ele podia não ver, mas sentia.

Meus olhos encontraram os de Levi, e por um breve momento, um entendimento silencioso passou entre nós. Eu sabia o que ele pensava, e ele sabia o que eu estava prestes a fazer. Não importava o quanto estivéssemos preparados; isso era o inferno em sua forma mais pura.

Atravessamos a ponte, o gelo rangendo, e o vazio nos abraçando. A memória daquele dia tentava se arrastar para fora, como um pesadelo prestes a ser revivido. Cada centímetro daquele lugar gritava perigo, mas eu não podia vacilar. Não agora.

Nenhum som. Nenhum cheiro de sangue. Nenhuma criatura à vista. Apenas o silêncio opressivo, cada passo que dávamos me avisava do inevitável: era uma armadilha.

Algo dentro de mim se contorcia, me implorando para gritar, para avisá-los. Mas, em vez disso, mantive minha máscara, o sarcasmo ácido na ponta da língua. Porque, no fundo, talvez eu quisesse ver o desenrolar da tragédia que todos sabíamos que estava por vir.

A praça está vazia. O silêncio pesa como uma lápide sobre nós, e o frio corta meu rosto como lâminas finas. Tudo aqui é tão mórbido, tão morto quanto o que restou de mim. A neve cobre o chão em uma camada irregular, quebrada apenas por nossos passos ecoando no vazio. Cada edifício ao redor parece um fantasma, vestígios de uma civilização que há muito foi consumida pela podridão e pela guerra.

Nosso objetivo é simples: chegar ao laboratório. O prédio imponente está anexado ao quartel, uma estrutura velha e deteriorada, com janelas quebradas e paredes manchadas pelo tempo e pelo abandono. Mesmo desgastado, o tamanho é intimidador, como se fosse uma fera adormecida aguardando nossa aproximação.

Quando paramos em frente ao prédio, algo dentro de mim começa a se agitar. Tento ignorar.

— Vamos entrar, — a voz de Erwin corta o ar frio. A porta do laboratório range ao ser aberta, revelando um corredor mergulhado na escuridão. O cheiro de mofo e ferrugem atinge meu nariz, mas não é isso que me afeta. Não... é algo mais profundo. Algo familiar.

Eu respiro fundo, tentando manter o controle. O som do metal sob meus pés ecoa, reverberando nos corredores vazios. Mas com cada passo que dou, as memórias começam a escorrer, como água entrando por rachaduras invisíveis. O barulho incessante. O cheiro de sangue. Tão denso. Tão real. Eu consigo sentir o sangue em minha pele, escorrendo, quente e pegajoso, como se estivesse acontecendo de novo, agora.

Meus pulmões começam a queimar. O ar parece não entrar. Tento respirar, mas o oxigênio simplesmente não chega. É como se o mundo estivesse se fechando ao meu redor, as paredes apertando, o chão vacilando. Meus olhos se arregalaram, mas tudo o que vejo é escuridão. Tudo o que sinto é o sangue, o som de ossos quebrando, o grito ensurdecedor que não consigo identificar se é de alguém ou meu próprio.

Meu peito doi, tão apertado que acho que meu coração vai explodir. A respiração fica mais curta, mais rápida. Eu não consigo respirar. Não consigo respirar.

Meus joelhos falham, e o chão frio me recebe com força. As mãos tremem, e eu mal percebo quando caio. Os sons ao meu redor se distorcem, como se estivesse ouvindo debaixo d'água. O suor escorre pela minha testa, embora tudo esteja congelando. Meus dedos ficam dormentes, e um zumbido insuportável preenche minha cabeça. O chão treme. Ou sou eu?

Eu tento me levantar, mas minhas pernas não respondem. Tudo está errado. O mundo se fecha. A sala gira. O sangue, o sangue está em todo lugar, no chão, nas minhas mãos, nas minhas roupas. O cheiro metálico invade minhas narinas, me sufocando. Meu coração parece sair do peito, batendo tão forte que consigo ouvi-lo nos ouvidos, mas não consigo respirar, não consigo respirar!

— Respire, — uma voz grave corta a cacofonia, próxima, firme. Levi.

Eu tento focar, mas meus olhos estão turvos, meu corpo fora de controle, o pânico dominando cada parte de mim. Eu sinto suas mãos em meus ombros, pressionando com força, me ancorando no presente, mas minha mente está perdida naquele outro lugar, naquela escuridão, naquela dor.

— Respire. Agora. — O tom dele é imperativo, mas controlado, como se fosse uma ordem. Tento seguir, mas meu corpo não obedece.

— Eu... eu não... — Minha voz sai em um sussurro quebrado. O peito doi, e as lágrimas queimam meus olhos, mas eu não vou ceder. Não aqui. Não assim.

As mãos de Levi descem, firmes, apertando meus braços, seu rosto próximo ao meu. Posso sentir seu olhar perfurando o véu de terror que me envolve.

— Me escuta. Respira comigo. — Ele está calmo, a única coisa sólida em meio ao caos que me consome. — Agora. Respire. Um, dois... — Ele conta devagar, e eu tento acompanhá-lo, mas o ar ainda não chega.

Meus pulmões se recusam a cooperar. O desespero aumenta, e sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Estou quebrada. Tudo o que eu fiz, tudo o que eu sou... não serve de nada. Sou só isso. Só medo. Só dor.

— Amelie. Agora. — A voz de Levi corta como uma faca afiada, arrastando-me para fora da minha própria mente. Eu inspiro, lenta e dolorosamente, enquanto ele continua contando. Um, dois... lentamente, de novo. E aos poucos, o aperto em meu peito começa a aliviar, como uma corda sendo afrouxada.

Meus dedos ainda tremem, mas consigo sentir o chão debaixo de mim, frio, mas real. A respiração começa a voltar ao normal, embora o coração ainda martelava contra minhas costelas.

Levi não me solta. Ele mantém a mão firme em meu ombro, me forçando a manter o contato com a realidade, enquanto a escuridão ao redor parece retroceder.

— Você está aqui. Concentre-se, — diz ele, mais baixo agora. — O pior já passou.

Eu suspiro, trêmula, e finalmente consigo me sentar no chão, os músculos ainda tensos, mas a maré do pânico começando a recuar. Fecho os olhos por um momento, tentando me recompor. Estou de volta. Estou no presente. E, apesar de tudo, não estou sozinha.

O silêncio volta a dominar o ambiente, mas desta vez, não é tão sufocante.

Sasha veio em minha direção, segurando uma garrafa de água nas mãos trêmulas. Eu a encarei por um segundo, sem muita vontade de aceitar, mas meus lábios estavam secos, e minha garganta parecia feita de lixa.

— Aqui, beba, — ela disse, sua voz cheia de preocupação. Os olhos dela estavam arregalados, quase implorando para que eu pegasse a maldita garrafa.

Peguei, dei um gole, sentindo a água gelada descer como um soco no estômago. Sasha me observava, como se eu fosse quebrar a qualquer momento. Patético.

— Estou bem, — digo, minha voz mais áspera do que eu gostaria, mas ao mesmo tempo firme. Eu empurro a garrafa de volta para ela, que hesita antes de pegá-la. Vejo Jean e Connie se aproximando, suas expressões cheias de curiosidade e confusão. Claro, todos estão preocupados, todos querem saber o que diabos acabou de acontecer.

— O que foi isso? — Jean pergunta, seus olhos se estreitando enquanto tenta entender. É como se ele estivesse esperando por uma explicação lógica, algo que faça sentido.

Eu respiro fundo, tentando empurrar todas as malditas lembranças de volta para onde pertencem: trancadas no fundo da minha mente, longe do presente, longe do que realmente importa. Não posso me dar ao luxo de desmoronar novamente. Não aqui. Não na frente deles.

— Nada que vocês precisem se preocupar, — respondo, forçando uma frieza no meu tom. — Vamos focar no que importa, sim? A missão. Não tenho tempo para sentimentalismos agora.

Vejo Jean estreitando os olhos, provavelmente achando que estou sendo dura demais. Mas, sinceramente, eu não dou a mínima. Connie, sempre com aquele jeito descontraído, dá de ombros, mas eu posso ver a preocupação disfarçada no olhar. Todos estão andando em cascas de ovos ao meu redor, e isso só piora as coisas.

O som firme da voz de Erwin corta o silêncio, me salvando da necessidade de qualquer outra explicação inútil.

— Vamos nos dividir, — ele diz, sua presença tão sólida quanto sempre. — Jean, Connie, Eren e Mikasa ficam na entrada, vigiam qualquer movimento. O restante comigo. Vamos subir. — Ele olha para mim por um segundo mais longo do que o necessário, avaliando, como sempre.

Eu apenas balanço a cabeça, sem me importar. Não sou problema dele. Não sou problema de ninguém.

Me levanto, ignorando os olhares ao redor, e me concentro no que vem a seguir. Missão. Foco na missão. Não há espaço para mais nada.

Levi passa por mim, me lançando um olhar breve e impassível. Ele sabe, ele sempre sabe, mas nunca pergunta. E é assim que eu prefiro. Com ele, não há necessidade de palavras inúteis. Ele sabe que eu vou continuar, que não vou ceder, não importa o que aconteça.

— Vamos logo com isso, — murmuro, ajustando minha arma. A escada à nossa frente se ergue como uma garganta escura, e eu sinto o peso da missão nos meus ombros como uma armadura fria. Cada degrau parece um lembrete do que está por vir.

— Não temos o dia todo, — digo com um sarcasmo afiado, olhando para Sasha. Levi está à frente, como sempre, e Erwin logo atrás.

Subimos, e cada passo me leva mais fundo na escuridão do prédio e de mim mesma. Tento não pensar no que está à espreita, tanto aqui quanto dentro de mim. Tudo o que importa é terminar isso rápido. Quanto menos tempo eu tiver para pensar, melhor.

Subimos pelas escadas em silêncio absoluto. O prédio está mergulhado na escuridão, o cheiro de umidade impregnado no ar. Minhas botas ecoam nos degraus de concreto, e tudo ao meu redor parece velho, abandonado, como se o tempo tivesse devorado cada centímetro desse lugar. Não há muitas luzes funcionando, as poucas que tem não servem para iluminar o lugar, então nos guiamos com o auxílio de nossas lanternas, pequenas faixas de luz cortando o breu, revelando paredes descascadas e portas lacradas com placas enferrujadas.

Seguramos as armas com firmeza. O lugar está quieto demais, o tipo de silêncio que te faz questionar se está realmente vazio ou se alguma coisa está esperando, observando nas sombras. Sasha está ao meu lado, a tensão dela é quase palpável, mas ela tenta manter a postura. Eu, por outro lado, me mantenho focada. Foco no próximo passo, no próximo degrau, no movimento de erguer a lanterna.

Chegamos a um ponto onde não encontramos nada – nem uma alma viva, nem um morto, nem monstros ou qualquer sinal de vida. Nada, além da sensação sufocante de que algo está errado. O silêncio é espesso, e só o ruído distante do nosso grupo quebrava essa pressão.

Erwin para e vira-se para nós, seus olhos azuis analisando cada um. Ele é direto, sem rodeios, como sempre:

— Vamos nos separar para cobrir mais terreno, — ele declara, sem margem para discussão. — Levi, Petra, vocês ficam comigo. Amelie, você vai com Sasha.

Eu olho para Levi, e vejo a resistência silenciosa nele, aquele jeito calculista que sempre observa as fraquezas alheias. Ele não gosta da ideia. É claro que não. Ele sabe do meu histórico, do meu controle que é... questionável às vezes. Eu vejo o músculo da mandíbula dele se contrair levemente antes de ele finalmente falar.

— Deixe Petra com Sasha, — ele sugere, a voz baixa e firme, mantendo o tom casual, mas todos ali sabemos o que ele realmente quer dizer. — Eu levo Amelie.

Erwin o encara por um momento, sua expressão impenetrável. É óbvio que ele considera a proposta, mas, como sempre, ele é metódico demais para se deixar guiar por qualquer hesitação pessoal.

— Amelie tem força e treinamento suficientes para se defender, — Erwin rebate, a autoridade na voz dele esmaga qualquer tentativa de insistência. Levi não discute. Ele apenas me lança um olhar breve, um que diz muito mais do que palavras. Uma mistura de desaprovação e aceitação relutante.

Eu mantenho meu semblante impassível, respondendo com um olhar igualmente vazio. Não preciso da proteção de Levi, não aqui. Eu já provei o bastante.

— Tudo bem, — ele cede, se afastando para o outro lado com Petra e Erwin. Não diz mais nada, e eu prefiro assim. Quanto menos palavras, melhor.

Sasha e eu continuamos a subir, agora sozinhas. Estamos indo para o quinto andar. Um prédio de dez. Metade da escalada. O calor do esforço começa a se misturar com o frio do ambiente, e sinto o suor gelado escorrer pela minha nuca. A lanterna treme ligeiramente na minha mão, mas mantenho o foco. Sasha respira mais rápido, provavelmente sentindo o peso da tensão.

— Tá tudo bem, — murmuro para ela, tentando aliviar a atmosfera carregada. — Se tiver algum monstro, você corre, eu lido com ele.

Ela me olha de soslaio, tentando esboçar um sorriso, mas falhando miseravelmente. Eu dou de ombros. Não tenho tempo pra cuidar dos nervos de ninguém. Não aqui, não agora.

Os degraus continuam à nossa frente, intermináveis. Cada vez mais o prédio parece engolir a gente, as sombras se alongando e o silêncio se tornando quase insuportável. Estamos perto do quinto andar. Mais um passo, mais um andar.

O silêncio cresce à medida que subimos, quase esmagador. Sasha continua ao meu lado, mais tensa a cada passo. Eu ouço sua respiração aumentar, quase sincronizada com o eco de nossas botas nos degraus. O prédio parece estar nos observando, como se estivesse à espera de alguma coisa. Tento não pensar muito nisso, mantenho o foco no que está à frente. Já passamos pelo quinto andar inteiro, e agora estamos subindo em direção ao sexto.

— Eu lido com qualquer coisa, Sasha, — murmuro de novo, sério o bastante para que ela entenda que, de fato, acredito nisso.

Ela apenas acena, silenciosa. Não há muito o que dizer, de qualquer forma. Não nesse tipo de missão.

Finalmente, alcançamos o sexto andar. O corredor à nossa frente tem apenas uma lâmpada pequena funcionando, o resto está mergulhado em escuridão absoluta, a luz vindo das lanternas que dançam nas paredes manchadas e no piso gasto, ajudam um pouco. O ar está pesado, denso. Algo não parece certo, mas não consigo identificar exatamente o quê.

— Está quieto demais, — Sasha sussurra, apertando a arma com mais força.

Ela não está errada. Está quieto demais. Mas esse tipo de silêncio pode ser tanto um alívio quanto um aviso. E eu nunca soube lidar bem com alívios.

— Silêncio nem sempre é uma coisa boa, — resmungo, ajustando a lanterna. — Mas, quem sabe? Talvez hoje seja.

Começamos a avançar pelo corredor, cada passo medido, cada respiração cuidadosamente controlada. O lugar tem um cheiro estranho, algo que mistura mofo com uma leve lembrança de sangue seco, como se a violência aqui tivesse sido há tanto tempo que até o horror foi esquecido.

— Sasha, mantenha os olhos abertos. E se concentre na missão. Não vai conseguir atirar assim, — murmuro, tentando aliviar a tensão crescente. Ela precisa estar concentrada, não nervosa.

Mas, enquanto andamos mais fundo no corredor, percebo que não é só ela que está tensa. Eu também estou. Meus sentidos estão em alerta, a adrenalina pulsando pelas veias, como se o perigo estivesse ali, logo atrás da próxima porta.

— Vamos só acabar com isso logo, — digo, minha voz mais fria do que o normal.

Ela assentiu em silêncio, e continuamos.

O corredor é um labirinto de sombras, mas uma porta de metal destaca-se à nossa esquerda. É pesada, diferente das outras portas de madeira podre que encontramos até agora. Sasha e eu paramos ali, o som de nossos passos ecoando em um silêncio quase antinatural.

— Fique de olho, vou tentar abrir isso, — sussurro, e ela acena, virando-se para vigiar o corredor com a arma pronta. Me aproximo da porta, analisando-a. Parece velha, enferrujada, mas ainda sólida. Coloco a mão na maçaneta, fria como gelo, e tento gira-la. Travada.

Eu dou um empurrão com o ombro, forçando, mas nada. Tento chutá-la, e o metal ressoa um som oco e seco, como se zombasse do meu esforço. Meu coração está começando a bater mais rápido. A tensão no ar é palpável, como se algo estivesse prestes a acontecer.

De repente, um som seco e cortante perfura o silêncio. Um tiro.

Eu me viro instantaneamente, e o mundo ao meu redor parece desacelerar. Meus olhos encontram Sasha. Ela está parada, o olhar dela fixo, como se não entendesse o que acabou de acontecer. E então, lentamente, suas pernas cedem.

— Sasha! — meu grito é sufocado pelo choque.

Eu corro para ela e a seguro antes que seu corpo atinja o chão. O calor do sangue já está começando a encharcar sua roupa, uma mancha vermelha escura se espalhando pelo peito. Minha mente vacila. Não... não pode ser. Pressiono as mãos contra o ferimento, como se pudesse impedir o inevitável, mas o sangue continua escorrendo entre meus dedos. Ela tenta respirar, mas cada tentativa é um som fraco, molhado, como se o ar estivesse escapando por entre os pulmões perfurados.

Minha visão começa a se borrar com lágrimas, e o pânico aperta meu peito com força. Não sei o que fazer. Não sei como salvá-la. Meu coração está batendo tão rápido que parece que vai explodir.

— Não, não, não... — murmuro desesperadamente, pressionando com mais força o ferimento enquanto os olhos de Sasha começam a perder o foco.

Eu olho ao redor, buscando desesperadamente alguma coisa, alguém. Então vejo.

No final do corredor, à distância, uma silhueta. Uma figura escura, imóvel, me observando. A pessoa que fez isso.

Meu sangue ferve. As lágrimas queimam meu rosto enquanto a raiva toma conta de mim. O desespero vira fúria. Abaixando Sasha delicadamente no chão, eu pego minha arma. Meu corpo está em movimento antes que minha mente possa processar qualquer outra coisa.

Corro em direção à figura. Meus pés batem no chão com uma força que ecoa pelos corredores, a lanterna balançando enquanto minha visão se estreita em um ponto. O mundo ao redor se dissolve em uma névoa de ódio, cada fibra do meu corpo grita para acabar com isso, para caçar o desgraçado que fez isso.

A luz da minha lanterna balança, cortando as sombras, mas o vulto à minha frente continua fugindo. Quem quer que seja, é rápido, mas eu sou mais. O sangue de Sasha ainda está quente nas minhas mãos, o cheiro metálico impregnado nas narinas. Não vou deixar essa pessoa escapar.

Minha respiração está ofegante, mas a adrenalina me impulsiona. Quando me aproximo o bastante, dou um salto, agarrando o que percebo ser uma figura pequena. Pequena demais. Viro a pessoa com brutalidade e a empurro contra a parede, o impacto ecoando pelo corredor.

Meus olhos se arregalam. É uma garota. Não, pior. É Gabi.

Merda. Meu sangue ferve ainda mais. A pequena assassina está aqui, no meio da missão. Por que diabos ela está aqui? Sinto uma raiva feroz se acender dentro de mim, muito mais violenta do que antes.

— Por que você fez isso?! — grito, minha voz saindo como um rosnado enquanto a seguro pela gola da blusa, sacudindo-a sem piedade.

Ela não responde. Seu rosto está pálido, mas seus olhos estão fixos nos meus, teimosos, como se se recusassem a mostrar fraqueza. Isso só piora tudo. Minhas mãos tremem de ódio contido, meus dedos se apertando contra a gola com força suficiente para rasgar o tecido.

— Responda! — grito de novo, sacudindo-a com tanta força que a cabeça dela bate contra a parede. — Ou eu te mato agora!

Finalmente, ela solta um sussurro entrecortado, a voz trêmula. — Zeke... ele nos mandou aqui.

Minhas mãos congelam, a raiva sendo substituída por uma onda fria de compreensão. Zeke. Claro. O maldito filho da puta. Quando ele disse para proteger seus soldados, era isso? Um teste de lealdade? Ele está jogando comigo? Está me manipulando. A ficha cai com um peso sufocante.

O fone no meu ouvido vibra, e a voz de Armin surge, me chamando. Mas ele não pode ouvir nada dessa conversa. Arranco o fone com um movimento brusco e o lanço longe, onde ele se perde nas sombras.

— Nós quem? — sussurro com uma calma sombria, quase sufocante.

— Falco e... Annie Leonhart. — A voz de Gabi está trêmula. Nada confiável.

Meus olhos se estreitam. — Zeke mandou vocês aqui... para nos matar?

— N-não! — Gabi gagueja, o medo começando a penetrar sua postura. — Foi para vigiar. Foi um acidente.

Um acidente. Sasha vai morrer por causa de um "acidente". Sinto o ódio crescer dentro de mim, a violência pulsando em minhas veias. Poderia acabar com essa garota aqui mesmo. Poderia esmagar o pescoço dela com minhas próprias mãos. Eu quero fazer isso.

Eu me aproximo mais, meu rosto tão próximo do dela que posso sentir sua respiração curta e ofegante.

— Escuta aqui — murmuro, minha voz baixa, afiada como uma lâmina prestes a cortar. — Você vai sair daqui. Vai sair desse prédio, desse distrito. Porque se eu te encontrar novamente...

Eu agarro o pescoço dela com uma mão, levantando-a do chão sem esforço. O som de sua garganta se fechando é quase satisfatório. Ela começa a se debater, mas estou segurando com força demais. Meus dedos apertam mais e mais, enquanto ela tenta desesperadamente puxar o ar. Um som esganiçado escapa de seus lábios, uma tentativa patética de um "sim".

— Eu vou te matar lentamente. — Minha voz é um sussurro, mas cada palavra carrega uma promessa de dor. — Vou fazer questão de que sua morte seja lenta e muito dolorosa. Você me entendeu?

Ela balança a cabeça freneticamente, seu rosto já começando a ficar roxo pela falta de ar. Eu a solto com um empurrão, e Gabi cai no chão, ofegando e engasgando enquanto tenta respirar de novo.

Ela não hesita. Se levanta com dificuldade e corre, subindo as escadas tão rápido quanto suas pernas trêmulas permitem. Eu a observo ir, meu corpo ainda vibrando de raiva, de ódio, de uma vontade quase insuportável de correr atrás e acabar com ela ali mesmo.

Mas não vou. Ainda não.

Ela não sabe o quão sortuda é por sair viva daqui.

Volto correndo para onde deixei Sasha. Cada passo que dou é pesado, como se o chão quisesse me engolir. Quando chego, ela ainda está viva, mas a cena que encontro me despedaça. Sua respiração é fraca, entrecortada por um som estranho e perturbador, como se cada inspiração fosse uma luta. Seus olhos estão abertos, mas vazios, sem foco, como se ela já estivesse se despedindo deste mundo.

Me ajoelho ao lado dela, com as mãos tremendo. Seguro sua mão com força, mas ela está fria. Tão fria. Meu coração aperta no peito, o nó na minha garganta é tão grande que mal consigo respirar. Não sei o que dizer. Como dizer adeus para alguém que não deveria estar morrendo?

Sasha vira a cabeça com esforço, seus olhos vagos tentando me encontrar. Ela tenta falar, mas a voz sai fraca, arrastada.

— Eu... não queria morrer. — As palavras são difíceis de entender, como se cada sílaba fosse uma batalha. E eu sinto como se minha alma se quebrasse um pouco mais com cada uma delas.

Eu quero responder, mas as palavras ficam presas. O que posso dizer? Não há nada que eu possa fazer para impedir o inevitável. Um soluço sufoca minha garganta, e tudo o que consigo fazer é apertar a mão dela com mais força, como se pudesse puxá-la de volta, salvá-la dessa escuridão.

A mão de Sasha começa a afrouxar, e vejo o brilho nos olhos dela se apagar aos poucos. Sua respiração fica mais lenta... e então para. O último suspiro é dado, e o corpo dela fica flácido no chão.

Eu aperto a mão dela, como se pudesse trazê-la de volta com isso. Ela não pode ter ido. Não agora. Não desse jeito.

— Sasha, por favor... — Minha voz sai em um sussurro desesperado. O soluço que estava preso na minha garganta finalmente escapa, um som esganiçado que ecoa pelo silêncio do corredor, carregando toda a dor que eu não posso mais segurar.

— Me desculpe... — Minha voz falha, quebrada. — Por favor, Sasha... por favor, volta.

Eu beijo a mão dela, apertando-a contra meus lábios, tentando gravar em mim o pouco calor que restava, mas não há mais nada. Apenas o vazio. Meu peito se contrai de novo, e lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto.

Ela se foi.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro