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Capítulo 31

4371 palavras

"Eu sou tão descartável quanto o peso da morte que carrego nas mãos."

Um mês havia se passado desde que os testes de Hange revelaram que o vírus estava moldando meu corpo de maneiras imprevisíveis. Minha resistência à dor parecia sobrenatural, e meus sentidos estavam mais aguçados. Contudo, nenhuma vacina ou antídoto surgira. Moblit mergulhava cada vez mais fundo em seu trabalho no laboratório, sua obsessão por desenvolver um soro não trazia alívio. O vírus, inflexível e resistente, zombava dos nossos esforços. Quando uma vida se extinguia, o vírus ressurgia como um monstro que se recusa a permanecer enterrado, perpetuando um ciclo implacável de morte e renascimento.

O fuzilamento em massa aumentava em frequência com nossos desastres. A fornalha, uma monstruosidade de ferro e fumaça, queimava todos os dias, e o cheiro que emanava dela era o do medo e do desespero. O campo de execução tornara-se um cenário constante de horror. Crianças, mulheres, homens, idosos... todos eram arrastados para esse lugar de condenação. As balas eram disparadas sem piedade, sem discernimento, apenas o som cruel da morte em massa. Não havia certeza de que aquelas pessoas estavam realmente infectadas, mas isso não importava mais.

Eu observava a cena com uma sensação de impotência, atirava e matava, tentando me confortar com a ideia de que estava apenas seguindo ordens. Cada rosto no campo, cada grito abafado pela violência, deixava uma marca profunda em mim. A fornalha rugia como uma besta insaciável, e o fogo que devorava as carnes das vítimas parecia quase um símbolo de nosso fracasso coletivo. O medo, o desespero e a raiva permeavam o ar, misturando-se com o cheiro nauseante da fumaça.

As ruas estavam saturadas de desespero palpável. Os civis, sem compreender a magnitude do caos, sentiam que algo estava profundamente errado. O que antes era uma cidade agora se transformara em um lugar de sombras e suspeitas. Eram tratados como pestilentos, como se o simples fato de estar vivo pudesse ser motivo para a execução. Ninguém estava a salvo. Os militares, agora carrascos de uma humanidade em ruínas, davam as ordens, e a máquina de morte seguia sem cessar.

Em meio a essa paisagem de destruição, minha mente era um turbilhão de pensamentos. Era difícil distinguir a linha entre a realidade e o pesadelo. Cada novo dia parecia trazer mais mortes e mais medo. As ordens eram dadas com uma frieza que só poderia vir de uma desesperada tentativa de controlar o incontrolável. O horror tornara-se uma constante, uma nova forma de normalidade.

Eu caminhava pelos corredores, tentando manter uma aparência de controle, mas a verdade era que eu estava desmoronando por dentro. A luta constante para preservar minha sanidade e a de outros enquanto o mundo ao nosso redor se desintegrava era quase mais do que eu podia suportar. O vírus havia transformado tudo em uma interminável noite escura, e eu me perguntava se havia algum fim para essa tempestade.

O fuzilamento não era apenas uma questão de sobrevivência; era uma marca indelével da nossa falência moral.


A enfermaria estava silenciosa, exceto pelo som suave dos instrumentos médicos sendo ajustados. A luz fria das lâmpadas no teto iluminava o ambiente de maneira impessoal, mas havia algo de íntimo no que estava prestes a acontecer. Eu estava deitada, com a parte inferior do corpo escondida por um biombo, a única proteção que tinha contra o mundo lá fora. Petra estava do outro lado da cortina, garantindo que ninguém entrasse, mas o nervosismo no ar era palpável.

Hange estava ao meu lado, ajustando a máquina de ultrassom com um foco incomum. Normalmente tão animada e tagarela, ela estava surpreendentemente tranquila, como se soubesse o quão delicado esse momento seria para mim. Eu podia sentir o frio do gel na minha pele quando ela aplicou o líquido no meu abdômen, e o som suave da máquina zumbindo preencheu o ar.

— Pronta? — ela perguntou, com a voz baixa, quase como se estivéssemos compartilhando um segredo. Assenti, sem conseguir encontrar palavras.

Meu coração batia tão rápido que eu me perguntava se Hange podia ouvi-lo também. Era a primeira vez que faríamos o ultrassom, a primeira vez que eu ouviria... algo. Uma prova de que o bebê estava ali, crescendo dentro de mim. E, no fundo, uma parte de mim tinha medo do silêncio, medo do que o silêncio significaria.

A sonda deslizou suavemente sobre minha pele, e por um momento, tudo o que ouvi foi o ruído suave do aparelho. Meu corpo estava tenso, meus olhos fixos no teto, como se desviar o olhar pudesse me fazer perder alguma coisa. O tempo parecia se esticar, o som da máquina invadindo meus ouvidos, até que, de repente, um som diferente emergiu.

Um batimento. Rápido, constante, forte.

O som do coração do meu bebê.

Eu senti um nó se formar na minha garganta, e meus olhos se encheram de lágrimas antes que eu pudesse controlar. Era um som tão pequeno, mas parecia preencher todo o espaço, como se não houvesse mais nada além daquele ritmo. Meu corpo relaxou, e por um instante, a guerra, o caos, o medo... tudo desapareceu. Restava apenas aquele som, a prova de vida que eu tanto ansiava ouvir.

— Ouviu isso? — Hange sussurrou, como se estivesse com medo de quebrar o momento.

Assenti de novo, incapaz de falar. O som do coração do bebê parecia se entrelaçar com o meu, criando uma harmonia silenciosa que eu não sabia que precisava até agora.

— Ele está forte — Hange disse, sem desviar os olhos da tela. — Tudo parece normal.

Minha mão instintivamente foi até o local onde a sonda tocava minha barriga. Algo dentro de mim mudou naquele momento, uma sensação avassaladora de proteção e amor que eu nunca tinha sentido antes. Até então, o bebê era uma ideia, um pensamento, algo intangível. Agora, ele era real. Estava ali.

Eu não estava apenas lutando por mim, mas por ele. Tudo o que eu tinha passado, todas as dores, as batalhas... agora tinha um novo significado.

Hange me olhou, e por um momento, seus olhos expressaram algo que raramente vi nela: ternura. Ela sabia o que aquilo significava para mim, mesmo sem que eu dissesse uma palavra.

— Você vai ser uma boa mãe, Amelie — ela disse suavemente, me surpreendendo com a calma em sua voz.

Eu queria acreditar nela, queria acreditar que poderia proteger essa pequena vida, mesmo no meio do caos. Mas havia tantas incertezas, tantas ameaças. O mundo ao nosso redor estava desmoronando, e eu não sabia se seria forte o suficiente para enfrentar tudo que viria. Mas naquele momento, com o som do coração do meu bebê preenchendo a sala, decidi que faria qualquer coisa. Não importava o que acontecesse.

A porta rangeu, interrompendo o silêncio profundo que preenchia a sala. Meus olhos se arregalaram, e meu coração deu um salto. Eu conhecia aquele som — a maneira quase silenciosa de Levi entrar em um ambiente, como se estivesse sempre à espreita, observando sem ser notado. Senti o pânico subir pelo meu peito. Instintivamente, levei a mão ao rosto, secando as lágrimas o mais rápido que pude, mas sabia que era tarde demais.

— Hange, preciso falar com você — sua voz ecoou na sala, firme, sem um traço de hesitação.

Hange, que até então parecia tranquila e em controle da situação, congelou por um breve momento. Sua postura relaxada ficou tensa, como se uma corrente de nervosismo a tivesse atingido. Ela olhou para mim, o olhar alarmado, como se tentasse me passar uma mensagem silenciosa: Mantenha a calma. Não deixe que ele perceba.

Eu não podia deixar que ele soubesse. Ainda não.

— Ah, Levi! — Hange disse, a voz ligeiramente mais alta do que o normal. — Agora não é um bom momento... Amelie estava acabando de... bom... — Ela balançou as mãos desajeitadamente, sem saber como explicar. Era raro vê-la tão nervosa.

Levi franziu a testa, cruzando os braços. Seus olhos cinzentos pousaram em mim, e senti como se ele estivesse me perfurando com o olhar, procurando uma resposta que eu não estava pronta para dar. Ele parecia confuso, como se tentasse entender por que meu rosto estava molhado e meus olhos, vermelhos.

— Por que você estava chorando? — Sua voz não era dura, mas havia uma preocupação subjacente, que ele disfarçava bem, embora eu soubesse que ele sempre notava mais do que deixava transparecer.

Me senti exposta. Vulnerável. Como se tudo o que eu estava tentando esconder por semanas estivesse prestes a ser revelado. O coração do bebê ainda estava ecoando na minha cabeça, o som permanecia comigo, mas eu precisava manter o controle. Respirar. Não deixar que ele percebesse.

Eu me levantei rapidamente, me ajeitando o melhor que pude, tentando evitar o olhar de Levi enquanto tirava o excesso de gel da barriga. Tudo dentro de mim gritava para sair dali o mais rápido possível, para evitar aquela conversa, aquele confronto.

— Está tudo bem — menti, a voz saindo baixa e instável. — Só... foi um pouco emocional, só isso.

Ele franziu ainda mais a testa. Claro que ele não acreditava em mim. Levi não era do tipo que aceitava respostas vagas. Eu sabia que ele tinha percebido meu comportamento nas últimas semanas, a maneira como eu o evitava sempre que possível. Como eu deixava a sala antes que ele pudesse fazer perguntas, como agora.

— Amelie... — Ele começou, mas eu já estava pegando meu casaco.

— Eu preciso ir — interrompi, desviando o olhar. — Desculpe, Hange, Petra está esperando.

Antes que Levi pudesse dizer mais alguma coisa, eu saí pela porta, passando por Petra que estava de prontidão do lado de fora. Meu peito estava apertado, e senti o ar frio me atingir enquanto eu me afastava apressadamente pela enfermaria.

Eu sabia que não poderia continuar evitando isso para sempre. Mais cedo ou mais tarde, ele descobriria. Mas agora, eu ainda não estava pronta. Não sabia como enfrentar isso, nem a ele. O mundo estava desmoronando ao nosso redor, e eu não queria ser mais uma coisa para ele carregar.

A única coisa que eu sabia era que, naquele momento, a única pessoa que eu poderia proteger era o bebê. E, por enquanto, isso seria o suficiente para me manter em movimento.

Eu estava prestes a fechar a porta do quarto quando senti a pressão do outro lado. Levi entrou sem aviso, invadindo o espaço com a intensidade de sempre. Meu coração disparou, e por um instante, eu fiquei imóvel. Ele estava ali, tão próximo que o ar parecia pesado ao nosso redor.

— O que diabos está acontecendo com você? — A voz dele cortou o silêncio, direta e incisiva, os olhos me perfurando. — Por que você está me evitando?

Dei um passo para trás, tentando criar distância. Ele estava tão perto que a simples presença dele me sufocava. O cheiro familiar, o olhar intenso, tudo parecia me prender ali.

— Levi, eu... — As palavras travaram na minha garganta. Não sabia como começar, como explicar sem revelar tudo. Meu coração batia na garganta.

— Não tente me enrolar — ele rosnou, avançando outro passo. — Você acha que eu não percebo? Acha que pode fugir de mim assim? Toda vez que eu entro numa sala, você sai. Toda vez que tento falar com você, você me evita. E agora, te encontro chorando na enfermaria? O que está acontecendo?

A força das palavras dele me atingiu em cheio. Apertei os punhos, sentindo a tensão tomar conta do meu corpo. Cada acusação dele era como uma lâmina, e eu estava prestes a perder o controle.

— Não é da sua conta, Levi! — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, carregada de nervosismo e medo. — Eu estou bem, só... só preciso de um tempo.

Ele riu, mas não de forma amigável. Era uma risada amarga, cheia de frustração.

— Tempo? — Ele zombou, a raiva crescendo visivelmente em seus olhos. — Tempo para quê? Para continuar fugindo de mim?

Outro passo à frente. Agora, ele estava tão próximo que eu podia sentir o calor do corpo dele irradiar para o meu. Cada fibra do meu ser gritava para manter a distância, mas eu estava encurralada.

— Me fala a verdade, Amelie. O que você está escondendo?

Desviei o olhar, lutando para manter o controle. Meu coração martelava no peito, e o pânico começava a tomar conta. Eu não podia contar a ele, não agora. Não sabia como ele reagiria.

— Já te disse, eu... — Mas antes que pudesse terminar, ele agarrou meu braço, firme, porém sem machucar. Era um gesto de quem estava desesperado por respostas.

— Me olha — ele exigiu, a voz baixa e cortante. — Eu sei que tem algo errado. Você nunca agiu assim. Nunca se afastou desse jeito. Então o que mudou?

Minha respiração acelerou. Cada centímetro entre nós parecia eletrificado, e a proximidade dele fazia minha cabeça girar. A raiva em seus olhos misturava-se com algo mais, algo mais profundo e perigoso. Era o mesmo olhar que eu conhecia, aquele que me desestabilizava, onde raiva e desejo pareciam se encontrar.

— Não era isso que você queria? — Exclamei, tentando desesperadamente ganhar algum controle. — Você sempre me afastou, Levi. Pensei que era isso que você queria.

— Não fale besteira — ele rosnou, avançando ainda mais até me encurralar completamente contra a parede. — Você acha que eu vou aceitar isso? Aceitar que você está escondendo algo de mim e continuar como se nada estivesse acontecendo?

O toque dele era firme, implacável, mas não violento. Eu estava presa entre ele e a parede, sem saída. Os olhos dele estavam fixos nos meus, cheios de raiva e frustração, mas também com algo mais. Algo que sempre esteve ali, mas que ambos sempre tentamos ignorar.

— Por que você está me pressionando assim? — Eu disparei, tentando usar a raiva para esconder o medo que sentia. — Por que acha que tem o direito de saber tudo? Você não pode simplesmente...

Minha voz falhou quando vi o olhar dele mudar. O fogo em seus olhos não era só de raiva agora. Ele abaixou um pouco a cabeça, os olhos vagando entre os meus lábios e meus olhos, e por um instante, o tempo pareceu parar. A tensão no ar ficou insuportável, e eu sabia o que aquilo significava.

— Eu estou te pressionando porque... — ele murmurou, a voz rouca, sem terminar a frase. As palavras estavam carregadas de desejo, mesmo que a raiva ainda estivesse lá. — Você não pode simplesmente me empurrar para longe e achar que tudo vai ficar bem.

Meu coração batia tão rápido que eu sentia como se ele fosse saltar do peito. Queria gritar para ele parar, para se afastar, mas as palavras não saíam. Parte de mim queria ceder, queria que ele me beijasse, acabar com essa tensão que só crescia entre nós. Mas a outra parte... aquela que carregava o segredo, sabia que não podia. Não agora.

Com toda a força que consegui reunir, desviei o olhar, tentando controlar o caos dentro de mim.

— Levi... por favor — sussurrei, a voz trêmula, implorando por um controle que eu sentia escorregar pelos meus dedos.

O olhar intenso de Levi me prendia, mas eu sabia que precisava dizer algo. A pressão dentro de mim era insuportável, e, enquanto tentava encontrar as palavras, um medo profundo brotava no meu peito.

— Eu só... eu não consigo lidar com tudo isso — murmurei, a voz baixa. — A situação lá fora, as lutas... eu só quero proteger o que ainda tenho.

Levi franziu a testa, a expressão suavizando um pouco, como se estivesse tentando decifrar cada palavra que eu dizia.

— O que você quer proteger, Amelie? — Ele perguntou, sua voz agora mais calma, quase suave.

Eu hesitei, o peso da verdade ainda me sufocando. Mas não era o momento certo para abrir tudo. Tentei desviar.

— Eu só estou com medo. O mundo está desmoronando, e eu não quero perder mais ninguém. Eu não posso.

Os olhos dele se estreitaram, como se estivesse tentando entender o que eu estava realmente dizendo. A tensão no ar se transformou, e ele parecia menos um leão pronto para atacar e mais um homem preocupado.

— Você não vai perder mais ninguém, Amelie — ele disse, como uma promessa, mas eu sabia que ele não podia cumprir.

Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu abruptamente, e Petra entrou, os olhos arregalados. O coração disparou em meu peito, e uma onda de pânico me invadiu. O que ela poderia pensar? E se ela entendesse errado, achando que eu estava contando tudo a Levi? O medo de que ela corresse para contar a Zeke me paralisou. O que ele faria com essa informação? Mesmo que não fosse verdade, o risco era demais. Petra estava sempre me vigiando, como um urubu sobre a carniça.

— O que está acontecendo aqui? — Petra perguntou, seu olhar preocupado saltando entre nós.

Levi se afastou um pouco, mas a intensidade da conversa ainda estava palpável. Eu não podia deixar que ela visse a verdade em meus olhos.

— Nada — eu menti rapidamente, mas a voz trêmula traiu meu nervosismo. O frio na barriga crescia, e a ideia de que Petra pudesse suspeitar de algo mais profundo me aterrorizava. O que Zeke poderia fazer se soubesse que eu estava grávida? Ele já havia mostrado ser uma ameaça, e qualquer informação poderia ser usada contra mim.

Petra olhou para mim e depois para Levi, a desconfiança se acumulando. Levi respirou fundo, tentando se recompor.

— Estamos apenas conversando — ele disse, com impaciência, mas sua expressão não ajudava a aliviar a tensão.

Eu queria que Petra pudesse ver que não estávamos falando sobre Zeke, mas tudo o que consegui foi desviar o olhar. Senti que estava prestes a quebrar sob a pressão.

— Desculpe, eu preciso de um momento sozinha — eu disse, decidida a me afastar. A verdade era que eu estava fugindo de mim mesma e do que poderia acontecer se Petra começasse a fazer perguntas.

Petra hesitou, mas acabou dando um passo para trás. Levi não se moveu, e sua expressão misturava preocupação e frustração.

— Amelie, espere — ele implorou, mas eu já estava saindo do quarto, o coração disparado. Eu precisava de um tempo, mas o peso do que escondia só aumentava, e a ideia de que Zeke pudesse descobrir me deixava ainda mais aflita.


A neve caía lenta, silenciosa, criando um manto branco sobre o solo manchado de sangue. O frio cortante parecia inapropriado para a tarefa à frente. Jean se aproximou, sua expressão carregada de um cansaço resignado.

— Amelie — ele chamou, sua voz baixa, quase rouca. — O caminhão chegou.

Eu sabia o que isso significava. "Dar descanso às pessoas." Era como Erwin chamava, um eufemismo terrível para o fuzilamento de homens e mulheres que nem sabiam por que estavam ali, condenados por crimes que não compreendiam. Agora eu via isso claramente. Erwin não era o herói que fingia ser. Ele era tão frio, tão calculista quanto Zeke. Mas mesmo assim, eu seguia suas ordens.

Caminhei até a área ao lado da fornalha, onde o caminhão estava estacionado, abarrotado de corpos. Jean e os outros já organizavam as pessoas em fila. Vinte. Vinte vidas que em breve seriam apagadas.

Enquanto elas desciam, o som do vento se misturava aos soluços sufocados dos condenados. Suas roupas pesadas e gastas se destacavam contra a pureza da neve. Minha mente parecia amortecida, operando no modo automático que o treinamento militar implantara. Eram "ameaças". Sempre nos treinavam a pensar assim.

Uma mulher chamou minha atenção. Ela usava um vestido longo e branco, quase indistinguível da neve que caía ao redor. Seus cabelos ondulados balançavam ao vento, e seus olhos, marcados pelo desespero, se fixaram nos meus. Meu coração congelou ao notar algo familiar nela. Havia uma curva suave em sua barriga. Ela estava grávida.

"Ela carrega uma vida", pensei, o pânico crescendo dentro de mim. Algo se quebrou. Isso não era apenas uma execução. Era um massacre. E eu estava prestes a ser a carrasca.

Me aproximei, hesitante, e ela me olhou com puro terror. Seu corpo tremia, mas não de frio. Era medo. Medo visceral. Ela sabia o que aconteceria.

— Por favor... — ela implorou, a voz quase inaudível entre os soluços. — Por favor, não me mate... Eu não fiz nada. Meu bebê... ele não fez nada...

Seus soluços cortaram o ar, e a arma em minhas mãos parecia ganhar um peso insuportável. O metal frio pressionava contra a palma da minha mão, queimando.

Um disparo ecoou. O som reverberou pelo ar, e o primeiro da fila caiu, o corpo desabando sobre a neve. O grito da mulher foi sufocado, e eu não conseguia olhar para o corpo. Eu só podia olhar para ela.

— Por favor... — ela implorou, as mãos sobre a barriga, protegendo a vida dentro dela. Eu via meu reflexo nela. Aquela mulher poderia ser eu. Ela era eu.

Outro disparo. Outro corpo caiu. O som ecoou como um trovão distante. Minhas mãos tremiam, o gatilho pronto para ser puxado. Mas não era o frio que me fazia hesitar. Era o peso da decisão. Eu estava prestes a tirar não uma, mas duas vidas.

— Ajoelhe-se — ordenei, minha voz afiada, mas vazia, cada palavra mais pesada que a última.

Ela hesitou, seu corpo se encolhendo de medo, as lágrimas caindo incessantes. Sua barriga protuberante era um lembrete cruel de que ela não estava sozinha. Ao ouvir minha ordem, ela caiu de joelhos na neve, suas mãos trêmulas agarrando a barriga, tentando desesperadamente proteger o bebê.

Eu a via. Tremores a percorriam, e então, o som sutil, quase inaudível, do líquido encharcando o tecido. Ela havia se urinado de medo. O cheiro ácido misturou-se ao ar frio. O horror em seu rosto me atingiu como um soco, mas eu não podia ceder.

— Por favor... — ela soluçou de novo, sua voz um fio entrecortado de desespero. As mãos se estenderam, agarrando o vazio.

Eu apontei a arma, meus dedos trêmulos pressionando o gatilho. Ela chorava, cada soluço ecoando em minha mente. A arma estava pesada demais. O peso da morte. Meu dedo moveu-se lentamente. Um aperto. Um disparo.

O tiro ressoou no ar gélido, e o impacto foi imediato. A mulher caiu para trás, o corpo sacudindo como uma boneca quebrada, os cabelos loiros manchados de sangue. O tiro havia atravessado seu olho, deixando uma cavidade vazia. Ela caiu na neve, que lentamente absorvia o sangue quente.

Mas o que me destroçou foram os espasmos. O corpo dela ainda se movia, sacudido por contrações involuntárias. E então eu vi.

Movimento sob sua pele. A pequena vida dentro dela se debatia em desespero. O bebê, lutando em seus últimos momentos, tentando sobreviver enquanto o corpo da mãe morria.

Meu estômago revirou. Senti a bile subir à garganta. A arma caiu da minha mão, o som abafado pela neve, mas o impacto em mim foi ensurdecedor.

O vento uivava ao meu redor, mas o mundo parecia suspenso no silêncio mortal que seguiu o disparo. O bebê ainda se movia, sufocado, se debatendo, morrendo lentamente. Eu me virei, incapaz de suportar o horror diante de mim.

Jean se aproximou, observando-me em silêncio.

Mas eu não podia encará-lo. Não podia encarar ninguém.

E naquele momento, eu soube: algo em mim também havia morrido junto com ela.


Eu me ajoelho no chão frio do banheiro, sentindo a rigidez do azulejo sob os meus joelhos, o corpo inteiro tremendo enquanto me inclino sobre o vaso. Mais uma vez, meu estômago se contorce, e o gosto amargo do vômito sobe pela minha garganta, queimando tudo no caminho. Meu corpo inteiro está molhado de suor, gotas escorrendo pela minha testa, grudando meus cabelos no rosto, tornando o ar ao meu redor ainda mais sufocante. Eu me sinto afogada, presa dentro de mim mesma, sem saída.

O gosto do vômito ainda está na minha boca, um sabor nojento que não consigo tirar, assim como a sensação de nojo que sinto por mim mesma. Meus dedos agarram a borda do vaso, os nós brancos de tanto apertar, enquanto o nojo me invade por completo. Não é só físico. É como se eu estivesse tentando vomitar o ódio, o desprezo, a culpa... mas nada sai. Nada disso pode ser expelido. Está enraizado.

"Eu sou descartável." A frase ecoa dentro da minha cabeça como um sussurro cruel, um mantra. Todos aqui são. Usam a gente, apertam até a última gota, e depois nos jogam fora, como se nunca tivéssemos sido nada além de ferramentas quebradas. E eu não sou diferente. Eu sou uma peça nesse jogo sujo, uma que eles vão usar até eu não ter mais valor, até eu estar vazia, esgotada. E então... vão me jogar no fogo.

Meu estômago revira de novo, mas agora não há mais nada para sair. Só a dor. Sinto o vazio dentro de mim, e ele cresce, se alimenta do ódio que não consigo controlar. Odeio todos aqui. Levi, Hange, Eren... todos são assassinos. Eles escondem isso, fingem que fazem o que fazem por um bem maior, mas no fim, são todos iguais. E eu? Eu sou pior. Eu sei que sou. Sou uma assassina, e não posso mais fingir o contrário. O gosto da culpa é ainda mais amargo que o vômito.

Meus dedos tremem, apertando os braços com força, como se eu pudesse rasgar essa sensação de dentro de mim, arrancar essa pele suja. Mas não adianta. O nojo está enraizado, preso como uma sombra que me envolve, me sufoca. Meus olhos se fixam no chão, evitando o espelho. Eu não posso me ver. Não suporto o que veria.

As lágrimas escorrem pelo meu rosto, misturando-se ao suor, quentes e amargas. Estou sozinha. Sempre estive. Ninguém aqui é confiável. Eles são apenas rostos falsos, escondendo monstros. E agora, sou um deles. Não consigo escapar do que me tornei. Não existe salvação para mim. Eu me odeio. Eu os odeio. Não há diferença.

A bile sobe mais uma vez, mas é só o vazio que engasga na minha garganta, me deixando sufocada. Meus olhos se voltam para o reflexo no espelho — contra minha vontade. O que vejo me faz querer vomitar de novo. Eu sou irreconhecível. Pálida, destruída, meus olhos inchados e vermelhos, o cabelo desgrenhado, o rosto coberto de suor. Não pareço humana. Sou uma sombra. Uma coisa. Um lixo.

Eu tento respirar, mas o ar parece denso demais. Cada inspiração é como se eu estivesse engolindo vidro. Não sei como cheguei aqui. Não sei quando me perdi. Mas agora estou completamente afundada. Não sou diferente deles. Eu sou tão suja quanto o pior deles.

A verdade dói mais do que qualquer outra coisa.

Estou morta.

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