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Capítulo 28

1385 palavras

"Perdida em labirintos de medo e desejo, mesmo quando as respostas estão ao alcance."

O caminho até o escritório de Levi parecia interminável, cada passo ecoando a ansiedade que se enraizava mais fundo em mim. Os rumores sobre a reunião de amanhã já circulavam, mas era a presença de Zeke que fazia meu estômago se revirar. Só de ouvir o nome dele, um arrepio frio percorria minha espinha.

Quando finalmente cheguei à porta, respirei fundo e bati. Levi me chamou para entrar, sem levantar os olhos da pilha de papéis à sua frente. Seu olhar, sempre tão atento, se ergueu apenas quando já estava dentro.

— Amelie. — Sua voz era fria, carregada com uma curiosidade velada. — Erwin marcou uma reunião para amanhã. Zeke vai estar lá.

O nome dele atingiu-me como uma lâmina gelada. Um arrepio profundo me percorreu, e meu coração disparou. Um nó se formou na minha garganta. Levi percebeu minha reação. Ele se aproximou, seus olhos cinzentos, sempre impassíveis, agora carregavam uma preocupação sutil.

— Está tudo bem? — perguntou, a voz baixa e séria.

Assenti, tentando conter a tempestade dentro de mim. Minha resposta saiu trêmula, falhando na tentativa de parecer firme:

— Sim, estou bem.

Levi já estava perto o suficiente para que eu sentisse o calor de seu corpo e o aroma inconfundível de sua colônia, misturado ao cheiro de papel e tinta. A proximidade dele era sufocante, e a combinação do medo com o desejo que crescia dentro de mim era quase insuportável. Meu corpo traía a confusão de sentimentos.

— Zeke pediu essa reunião. — Levi continuou, sua voz agora mais suave, mas firme. — Ele quer respostas sobre o que aconteceu no Distrito Maria.

Franzi o cenho, mas assenti. Meu corpo parecia em chamas, e, antes que eu pudesse processar, a mão dele tocou meu rosto. O gesto foi inesperado, um choque que eletrificou minha pele. Seu polegar deslizou gentilmente pela minha bochecha, e eu me vi perdida na intensidade daquele toque.

Impulsivamente, agarrei a barra de sua blusa, apertando com força, como se aquilo pudesse conter o caos dentro de mim. Levi me olhava com uma profundidade que eu não conseguia decifrar, e, em um movimento quase instintivo, ele inclinou-se para mim. Suas mãos repousaram com delicadeza na minha cintura.

Quando nossos lábios se encontraram, o beijo foi lento, como se cada segundo fosse uma eternidade. Não havia pressa, mas uma necessidade silenciosa, uma busca mútua. O gosto do beijo era agridoce, como se carregasse consigo todos os medos e desejos que eu havia guardado por tanto tempo.

O medo e o desejo dentro de mim colidiam de forma avassaladora. Sabia que Levi tinha o poder de me destruir, e a possibilidade de me render a isso fazia meu coração doer de um jeito inexplicável. Mas, ao mesmo tempo, eu ansiava por ele. Cada parte de mim o desejava, e o que me assustava era a profundidade desse desejo.

Quando finalmente nos afastamos, meu coração estava acelerado, e eu mal conseguia respirar. O toque de suas mãos na minha pele era uma mistura de prazer e dor. Levi me observava, seus olhos cinzentos agora cheios de perguntas que eu não tinha respostas.

Tentei falar, mas as palavras saíram hesitantes, quebradas.

— Eu... não posso... — minha voz tremia, e eu senti as lágrimas surgirem. — Não posso fazer isso agora.

Levi me olhou, a confusão e frustração claras em seu rosto. Antes que pudesse mudar de ideia, me afastei, sentindo o peso de cada passo até a porta. O som dela se fechando atrás de mim foi um lamento silencioso, enquanto eu deixava Levi sozinho, envolto em uma confusão que refletia a minha própria.

A neve caía pesada lá fora, cobrindo o mundo em um manto branco e frio. Eu encarava a paisagem congelada pela janela, o frio da tempestade refletindo o que eu sentia por dentro. As rajadas de vento assobiavam como vozes distantes, e por um momento, deixei meus pensamentos se perderem naquele cenário desolado.

De repente, ouvi batidas suaves na porta do meu quarto. Virei-me, hesitante. Quem viria me procurar a essa hora? Abri a porta devagar, e, para minha surpresa, Jean e Sasha estavam ali, envoltos em roupas de inverno, com sorrisos que imediatamente aqueceram o ambiente.

— Oi — Jean disse, com um sorriso quase travesso. — Tá fazendo o quê?

— Não conseguiu dormir com essa tempestade? — Sasha completou, inclinando a cabeça para o lado, seus olhos atentos e curiosos.

— Difícil dormir com tudo isso lá fora — respondi, gesticulando para a janela.

Jean trocou um olhar rápido com Sasha antes de se voltar para mim, ainda com aquele sorriso tímido nos lábios.

— Então viemos te resgatar. Vamos pra cozinha. Fizemos algo especial — ele disse, a voz leve, mas com uma certa expectativa no ar.

Olhei para os dois, surpresa. Não sabia ao certo o que eles planejavam, mas havia algo nos olhares deles que me fez querer seguir. Balancei a cabeça em concordância, pegando meu casaco antes de sair.

Os corredores estavam desertos e gelados, e nos movemos em silêncio, tentando não fazer barulho. Sasha liderava o caminho com sua energia habitual, enquanto Jean caminhava ao meu lado, sua presença calorosa me fazendo sentir mais à vontade. Quando nos aproximamos da cozinha, o cheiro doce de chocolate quente me envolveu, e meu estômago se apertou. Fazia tanto tempo que eu não sentia aquele aroma.

Entramos na cozinha, e o ambiente era simples, mas acolhedor. As panelas empilhadas nas bancadas e as caixas de legumes próximas às paredes davam um ar bagunçado, mas familiar. No centro, uma pequena mesa de madeira com banquinhos estava posta com três xícaras de chocolate fumegante.

— Surpresa! — Sasha disse, com um sorriso tão largo que fechava seus olhos.

— Pra mim? — perguntei, surpresa, olhando para Jean e Sasha.

— Sim, claro — Jean respondeu, o sorriso nervoso em seu rosto revelando um leve constrangimento. — Sabemos que você anda meio... ocupada com tudo. Achamos que você merecia um descanso.

— E ninguém pode dizer não a chocolate quente — Sasha completou, já se sentando e pegando sua xícara.

Senti um calor diferente me invadir. Não era só o cheiro do chocolate. Era o gesto. Eles fizeram isso por mim. Sorri, sentando-me à mesa, enquanto Jean puxava um banquinho ao meu lado.

— Faz tanto tempo que não bebo chocolate — murmurei, pegando a xícara com as duas mãos. O calor dela se espalhou pelos meus dedos, e, ao levar a bebida aos lábios, o sabor doce e cremoso tomou conta dos meus sentidos. Fechei os olhos por um instante, permitindo-me desfrutar daquele momento de leveza.

— Tá bom, né? — Sasha perguntou, seus olhos brilhando de alegria.

— Tá incrível — respondi, sinceramente grata.

Jean sorriu, mas havia algo a mais no seu olhar. Ele me observava de um jeito diferente, algo que sempre me deixava um pouco desconfortável. Às vezes, eu queria poder retribuir seus sentimentos, amá-lo como ele merecia. Amar Jean deve ser fácil, deve ser tranquilo. Mas, por mais que eu quisesse, não conseguia. Ele era meu amigo. Talvez meu melhor amigo. E nem isso eu conseguia retribuir do jeito certo. Eu só não queria magoá-lo.

— Eu pensei que você preferisse café — ele comentou, com uma risada suave, tentando quebrar o silêncio que pairava entre nós.

— Talvez chocolate seja minha fraqueza — respondi, tentando manter o tom leve, mas o peso daquela tensão ainda pairava no ar.

Ele riu, desviando o olhar por um momento, parecendo buscar algo a mais para dizer.

Sasha, alheia ao que acontecia entre nós, ergueu a xícara num brinde improvisado.

— Então, vamos comemorar! Só nós três. Escondidos, com chocolate quente e essa tempestade lá fora. Parece uma boa forma de esquecer tudo, né? — Ela riu, seu sorriso largo preenchendo o ambiente com uma alegria que eu não sabia que precisava.

Sasha era especial. Havia algo de puro e leve nela que me fazia bem. Sentir-me feliz não era comum, mas, ali, naquela cozinha, com meus melhores amigos, eu me sentia feliz. Momentos como esse deveriam acontecer mais vezes.

Sorri, concordando.

— Sim, parece perfeito.

Bebemos e conversamos por mais um tempo. Jean ainda me lançava olhares de canto, como se tentasse dizer algo que não conseguia. E eu sabia o que era. Mas, naquele momento, tudo o que eu podia fazer era aproveitar a companhia deles. Porque depois da paz, o caos sempre vem. Um arrepio percorreu meu corpo, me deixando inquieta por um breve instante.

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