Capítulo 21
3817 palavras
"Aparências muitas vezes escondem realidades mais complexas; o que vemos é apenas a superfície de algo mais profundo."
O som cruel da carne sendo dilacerada ressoa pelo quarto sombrio, interrompendo o silêncio com uma brutalidade que arrepia a espinha. A dor é uma onda de agonia, insuportável e incessante, começando na minha coxa e espalhando-se como um veneno corrosivo. Sinto a lâmina gelada rasgando minha pele, a carne se separando com uma lentidão sádica, enquanto o calor do sangue escorre pela minha perna, formando poças viscosas e escuras ao redor do corte.
O rosto dele permanece oculto na penumbra, uma sombra impenetrável. Apenas o brilho cortante da lâmina destaca-se, movendo-se com uma precisão perturbadora enquanto ele corta mais fundo, ignorando meus gritos de dor que reverberam no vazio opressor. Cada nova incisão intensifica a tortura, transformando a dor em uma tormenta quase insuportável. O cheiro metálico e espesso do meu sangue mistura-se com o ar sufocante do lugar, um aroma denso de ferro, medo e decadência.
Meu corpo treme violentamente, cada músculo contraído em um esforço inútil para escapar, para lutar. Ele então ergue o pedaço de carne que arrancou de mim, a pele ainda pendendo grotescamente da lâmina, e o leva à boca. O som nauseante dos seus dentes triturando minha carne é um estalo molhado e horrível que ecoa na minha mente, enquanto ele mastiga devagar, saboreando cada mordida com uma satisfação doentia e macabra.
As lágrimas escorrem dos meus olhos, e o gosto amargo do pavor na minha garganta é o que realmente me sufoca. Mesmo sem ver seu rosto, sinto a malícia em sua presença, o prazer perverso que ele extrai do meu sofrimento. Ele se aproxima lentamente, a respiração quente tocando minha pele enquanto seus lábios encontram os meus. Por um instante agonizante, a sensação é estranhamente boa, como uma breve trégua no meio do tormento, uma centelha de alívio no abismo de horror.
Mas essa falsa calma desaparece num piscar de olhos. Seus dentes cravaram no meu lábio inferior com uma força brutal, arrancando um pedaço de carne. A dor explode como uma lâmina incandescente, cortando não só meu corpo, mas também minha alma. Sinto o sangue quente escorrer pela minha boca, o sabor metálico inundando minha língua enquanto ele mastiga a carne que arrancou de mim. O som grotesco de cada mordida, o ruído úmido e esmagador, reverbera em meus ouvidos, me deixando à beira da insanidade.
Meu corpo se contorce em espasmos desesperados, o gosto amargo do meu próprio sangue misturando-se com a bile do medo. Tento gritar, mas a dor é tão devastadora que me sufoca, transformando meus gritos em um lamento abafado. O ambiente ao meu redor é um pesadelo vivo — o chão encharcado de sangue e pedaços de carne, o cheiro fétido de morte e desespero impregnando cada canto. Eu imploro por escuridão, por alívio, mas nada vem.
Acordei ofegante, o coração martelando no peito enquanto meus olhos percorriam cada canto escuro do quarto, tentando me situar. O suor empapava os lençóis, grudando-os na minha pele, enquanto o frio fazia meus dentes baterem. Coloquei os pés no chão gelado, e um arrepio subiu pela minha espinha, intensificando a sensação de desconforto. Meu corpo inteiro estava rígido e dolorido, como se a tensão do pesadelo ainda estivesse impregnada em cada músculo.
Havia algo errado, uma sensação incômoda martelando na minha consciência, mas hoje era o dia de ir ao Distrito Maria. Soltei um suspiro pesado, lutando contra a vontade de me esconder, de simplesmente não aparecer e deixar a equipe na mão. Mas isso não seria justo. Com passos arrastados, fui até o banheiro, tentando reunir forças para encarar o que estava por vir, mesmo que cada fibra do meu ser desejasse o contrário.
Olhei para a cama desfeita, os lençóis ainda revirados, e a dúvida se instalou na minha mente: Levi esteve aqui ou foi só mais um sonho? O cheiro dele ainda pairava no ar, impregnando o quarto com uma mistura sutil de colônia e algo inefável, um aroma que me envolvia em lembranças inquietantes. Esse cheiro inconfundível ainda estava nos lençóis, evocando uma realidade que não sabia se realmente aconteceu ou se era apenas um vestígio dos meus delírios.
Me forcei a afastar os pensamentos sobre Levi e a me concentrar no que realmente importava. Após me vestir, passei pelo refeitório, peguei um pedaço de pão e o mastiguei enquanto caminhava até a sala de reuniões. Cheguei cedo e, ao entrar, encontrei Nifa, Nanaba, Gelgar, Miche e Levi já à mesa. Esta seria nossa equipe.
Entrei em silêncio e me sentei ao lado de Levi. Ele nem se deu ao trabalho de me olhar, o que era esperado. Poucos minutos depois, Erwin entrou, trazendo consigo o peso de sua autoridade. Quando começou a falar, o ambiente ficou ainda mais carregado.
— Criei essa equipe unicamente para a missão de reconhecimento no Distrito Maria — disse Erwin, sua voz firme e implacável. — Assim que vocês saírem, o portão será fechado e só será reaberto quando retornarem. O carro pode ser usado até o Distrito Rose, e de lá, seguirão a pé. O líder Zeke Yeager já foi informado. Estaremos em contato com vocês através dos fones.
— Então, basicamente, estamos indo para uma possível armadilha e trancando a porta atrás de nós, certo? — Minha voz transbordava ironia. — Isso não poderia dar errado de jeito nenhum.
Nifa soltou um suspiro discreto, como se já estivesse cansada antes mesmo de começar. Gelgar trocou um olhar exasperado com Nanaba, mas ninguém disse nada. A tensão na sala era palpável, mas Levi permaneceu impassível, com os braços cruzados, como se estivesse acima de qualquer provocação. Normalmente, ele teria me cortado com uma ordem seca ou um olhar gélido, mas desta vez permaneceu em silêncio.
Erwin, no entanto, não deixou passar minha provocação.
— Estaremos em contato com vocês a todo momento — retrucou, seus olhos azuis fixos em mim, desafiando-me a responder. — Todos aqui estão cientes dos riscos.
Mordi o lábio, contendo a vontade de dizer algo ainda mais mordaz. Eu sabia que ele estava certo, e admitir qualquer coisa contrária seria assinar minha própria sentença de descrédito. Encarei Erwin com uma expressão firme, sem falar mais nada; era cansativo e sem resultados.
Levi finalmente se mexeu ao meu lado, mas ainda sem pronunciar uma palavra.
— Certo, será uma missão simples e sem contratempos, mas estejam preparados para o pior. Ao chegarem lá, busquem pelo quartel militar deles. Se algo estiver errado, é lá que poderão achar respostas e provavelmente é a área mais segura. Isso é tudo. Lembrem-se de se manter em contato. Preparem-se para sair ao meio-dia.
Quando Erwin terminou, Levi se inclinou para perto e sussurrou no meu ouvido:
— Vá até o meu escritório.
Sua voz era baixa e carregada de uma tensão que eu não conseguia ignorar. Antes que eu pudesse responder, ele se afastou, deixando-me com uma sensação desconcertante e uma necessidade urgente de saber o que ele queria discutir.
Ao chegar ao escritório, bati duas vezes na porta, aguardando a permissão para entrar. Quando a porta se abriu, a surpresa me atingiu como um soco: Petra estava lá, com aquele sorriso insuportavelmente forçado no rosto. Só de vê-la, eu já sabia que o dia não começaria bem.
Sem esperar resposta, entrei no escritório. Levi não estava presente, e Petra, com sua voz doce e irritante, se dirigiu a mim:
— O comandante saiu para buscar algo e pediu que você esperasse por ele aqui.
Sua voz era como dentes rangendo, e eu sabia que estava sendo injusta. Petra parecia ser uma funcionária dedicada e nunca tinha me causado problemas diretamente. Mas algo nela me incomodava profundamente, um sentimento vago e difícil de definir. Talvez eu estivesse apenas sendo uma ciumenta irracional.
Fui até o sofá e me sentei, ignorando Petra completamente. A irritação e o desconforto que sentia eram palpáveis, e não consegui me conter por muito tempo.
— Petra, preciso de privacidade para tratar de alguns assuntos — comecei, minha voz carregada de frustração. — Você pode, por favor, sair e deixar a sala?
Petra levantou uma sobrancelha, claramente surpresa com meu tom direto, mas seu sorriso não vacilou.
— Oh, não precisa ser assim. Estou apenas esperando o comandante chegar.
Senti um impulso de revirar os olhos, mas mantive a voz firme:
— Não estou pedindo, Petra, estou ordenando.
Petra hesitou, visivelmente aborrecida pela minha atitude, mas finalmente se levantou, o sorriso ainda no rosto, embora um pouco forçado.
— Muito bem. Se é isso que você deseja... — ela respondeu, com um tom de resignação.
Ela saiu do escritório, fechando a porta com um leve estalo atrás de si. O silêncio que se seguiu foi um alívio bem-vindo, e eu pude finalmente me permitir relaxar um pouco antes que Levi chegasse.
Ao ouvir o som da porta se abrindo, virei-me e encontrei Levi entrando no escritório com um bule de chá fumegante nas mãos. Ele passou por mim com uma determinação quase palpável, colocando o bule na mesa com um gesto preciso. O clangor metálico da colher de aço batendo na porcelana ecoou pela sala, misturando-se com o aroma peculiar que começava a se espalhar.
— Onde está Petra? — Levi perguntou, sua voz seca cortando o silêncio pesado que se formava.
— Pedi para ela sair — respondi, minha irritação ainda evidente em cada palavra.
Levi apenas fez um leve aceno de cabeça, seu gesto quase desinteressado. O silêncio que se seguiu foi perturbador, e o cheiro do chá começou a se intensificar, invadindo meus sentidos com uma qualidade avinagrada, quase ácida. O aroma era tão invasivo que embrulhou meu estômago, fazendo-me torcer o nariz em repulsa.
Levi preparou uma xícara de chá com movimentos meticulosos e, em seguida, dirigiu-se até onde eu estava sentada, colocando a xícara fumegante em minhas mãos. Seus olhos estavam fixos em mim com uma intensidade que eu não conseguia decifrar. Observei-o por um momento, confusa e cética, antes de encarar a xícara que ele me entregou.
— Beba — disse ele, o tom de sua voz inflexível e autoritário.
Segurei a xícara com ambas as mãos, sentindo o calor do líquido penetrar através da porcelana. O cheiro que emanava era uma mistura de algo estragado com uma nota medicinal que fazia meu estômago revirar. O gosto que escapava do vapor parecia uma combinação de ervas amargas com um traço metálico, um sabor que desafiava meu paladar e me fazia questionar a intenção de Levi.
Com relutância, levei a xícara aos lábios e tomei um pequeno gole. O gosto era ainda pior do que eu imaginava, uma mistura nauseante que parecia se fixar na minha língua e se espalhar por toda a boca, deixando-me com a sensação de ter bebido algo verdadeiramente podre.
— Por que estou bebendo isso? — perguntei, minha voz trêmula enquanto tentava disfarçar o quanto estava enjoada.
Levi permaneceu impassível, sua expressão impenetrável não revelando nada.
— É para você ficar mais tranquila — disse ele com uma frieza cortante que contrastava com o gesto aparentemente cuidadoso.
Sua resposta não fazia sentido para mim, e a falta de explicações apenas aumentava minha ansiedade. O chá, com seu gosto horrível, parecia ter um propósito oculto que eu não conseguia entender. Cada gole era um desafio, e eu me forçava a continuar, mesmo com o desconforto crescendo dentro de mim.
— Você poderia ao menos me dizer o que há nesse chá? — tentei novamente, minha voz carregada de um desespero disfarçado.
Levi soltou um suspiro, olhando para a xícara como se estivesse avaliando sua própria decisão.
— É melhor que você não se preocupe com isso — ele respondeu com uma indiferença que só aumentava minha inquietação. — Apenas beba.
Ele se acomodou no sofá ao meu lado, mantendo uma distância deliberada. A sensação de estar sozinha na sala com ele, aliada ao gosto horrível do chá, era angustiante. A cada gole, o chá descia pela minha garganta como um líquido venenoso, seu sabor enjoativo permanecendo em minha boca e provocando uma crescente sensação de náusea. Meu estômago começou a revirar, e eu sabia que não conseguiria suportar aquilo por muito mais tempo.
— Eu... eu preciso ir — consegui dizer, minha voz rouca e instável. Sem esperar uma resposta, levantei-me abruptamente do sofá e corri para fora do escritório. A sensação de urgência e a pressão no estômago eram tão intensas que eu mal conseguia pensar com clareza.
Pelos corredores, corri desesperadamente, meus passos ecoando frenéticos nas paredes. O cheiro do chá parecia seguir-me, uma lembrança constante do tormento que havia passado. Ao entrar no meu quarto, a visão ficou turva e meus joelhos fraquejaram. Sem hesitar, inclinei-me sobre o vaso sanitário, sentindo a sensação de queimação subir do meu estômago.
Quando finalmente meu corpo não conseguiu mais suportar, o conteúdo amargo e desagradável do chá começou a ser expelido, um fluxo de vômito que parecia interminável. O som do líquido atingindo o vaso era nauseante, e o cheiro que se espalhou pela sala só fazia com que eu me sentisse ainda mais enjoada. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, misturando-se com o suor frio que me cobria.
Minha respiração era pesada e irregular, e eu me sentia completamente exausta. Cada espasmo do meu corpo parecia me enfraquecer ainda mais, e eu não conseguia parar de tremer. A sensação de fraqueza e o estômago ainda rebelde foram o suficiente para me deixar de joelhos no chão, o corpo curvado enquanto eu tentava recuperar o controle da situação.
O quarto parecia girar ao meu redor, e a luz do sol filtrando através das janelas parecia intensificar minha dor. Tudo estava confuso e distorcido, e eu me afundei ainda mais no chão, desejando que a sensação de náusea cessasse.
O som da minha própria respiração e dos meus gemidos de sofrimento eram os únicos sons que eu conseguia perceber enquanto lutava contra a sensação de que tudo estava se desintegrando. A agonia e o desespero eram palpáveis, e eu sentia uma profunda sensação de traição, como se estivesse sendo usada como um peão em um jogo cruel que eu não conseguia entender.
Após me lavar e escovar os dentes até sangrar para tirar o gosto amargo do chá e do vômito, cuidei das minhas coisas para a missão. Coloquei meu fone de ouvido e saí, dirigindo-me ao portão do distrito. Lá, toda a equipe já estava reunida, e algumas pessoas curiosas se amontoavam ao redor, alheias aos recentes eventos.
— Capitã? — A voz de Armin no fone me fez saltar.
— Armin? — perguntei, surpresa.
— Sim, estou na sala de controle com o líder Erwin. Estamos testando os fones para garantir que tudo esteja funcionando. Você consegue me ouvir?
— Sim, Armin, estou ouvindo perfeitamente.
— Certo. Boa sorte, Amelie.
— Obrigada. — Sorri levemente ao desligar o fone.
Senti então um puxão no meu braço. Ao me virar, vi Jean, Connie e Sasha. Sasha me envolveu em um abraço apertado, e percebi a preocupação em seus olhos.
— Volte inteira, Amelie, por favor — disse ela, a voz carregada de temor sincero.
Connie se juntou ao abraço, e eu percebi que todos estavam se despedindo. Eu odeio despedidas.
— Já podem me soltar, preciso ir — falei, tentando manter a voz firme.
Sasha ainda parecia inquieta quando me soltou, seu abraço permanecendo tenso.
— Volte para nós, Amelie — pediu Jean, sua voz suave e sincera.
Olhei para ele, e seu sorriso triste me causou um nó no estômago. "Eu não vou morrer, espero", pensei.
Jean me abraçou com uma força reconfortante, e eu retribuí o gesto, tentando tranquilizá-lo. Era a primeira vez em muito tempo que iria para uma missão externa sem minha equipe, sem meus amigos; a agonia deles era a minha também.
— Não precisam se preocupar. É uma missão simples de reconhecimento.
Levi se aproximou, observando a cena com uma expressão de irritação. Seu olhar estava fixo em Jean, e quando este finalmente se afastou, Levi fez questão de se posicionar ao meu lado.
— Vamos, Amelie — disse Levi, sua voz um pouco mais áspera do que o normal. — É hora de ir.
Fui ao encontro de Levi e entrei no carro, tentando ignorar o desconforto que sua presença causava. O veículo começou a se mover, e eu olhei para trás através da janela. O portão do distrito Sina estava se fechando lentamente, sua imensidão dominando o horizonte. O dia estava escuro, e uma fina camada de neve cobria a estrada, tornando o ambiente ainda mais sombrio.
A viagem até o distrito Rose durou cerca de uma hora. O silêncio no carro era denso, quebrado apenas pelo som suave do motor e pelo ocasional estalo da neve sob as rodas. Eu observava o caminho coberto de branco, com meus pensamentos distantes, imersos na apreensão pela missão que estava por vir. O cenário passava lentamente pela janela, e a luz pálida refletia na neve, criando um contraste entre a escuridão do céu e a brancura da estrada.
Ao chegarmos ao distrito Rose, o carro foi estacionado ao lado do portão de entrada, que estava escancarado de forma inquietante. Perguntas assombravam minha mente: Erwin não os informou sobre os eventos recentes? Ou será que a indiferença é a norma aqui?
Levi, com sua postura autoritária, dissipou qualquer dúvida sobre a seriedade da missão.
— Fiquem atentos — ordenou, sua voz cortante e implacável. — Mantenham a discrição e limitem a comunicação ao estritamente necessário. A partir de agora, seguiremos a pé. Verifiquem suas bolsas e suprimentos. A jornada será longa. Entendido?
— Sim, senhor! — Nossa resposta uníssona ressoou com uma mistura de respeito e apreensão.
Era a primeira vez que eu participava de uma missão ao lado de Levi, e a sensação de responsabilidade e tensão era palpável. O peso da autoridade de Levi parecia nos envolver, tornando cada passo mais carregado de significado.
Enquanto cruzávamos o portão, fomos abordados por três guardas: Bertolt Hoover, Porco Galliard e Annie Leonhart. A presença deles imediatamente me colocou em alerta, especialmente a expressão fria e calculista de Annie, que parecia avaliar cada movimento nosso com um olhar penetrante e desconcertante.
Bertolt, sempre calmo, mas com um tom que escondia uma tensão subjacente, foi o primeiro a falar.
— Vocês têm autorização para passar? Não recebemos nenhum comunicado.
Levi, com sua habitual frieza, respondeu de forma cortante:
— Temos autorização do líder Yeager para passar, Hoover. Estamos sob as ordens do líder Erwin. Se vocês não receberam nenhum comunicado, isso não é problema nosso.
A irritação de Porco era evidente, seus olhos estreitaram-se em desafio.
— Não é assim que funciona. Se estão entrando em nosso distrito, precisamos saber o motivo. Ordens são ordens.
A tensão no ar parecia quase palpável. Levi avançou um passo, sua presença emanando uma autoridade implacável.
— Minhas ordens vêm de alguém acima de vocês.
Porco parecia pronto para retrucar, mas Annie, com sua calma imperturbável, interveio com um tom autoritário:
— Galliard, deixe-os passar. Não vamos criar problemas por algo que claramente está além do nosso alcance.
Porco bufou de descontentamento, mas deu um passo para trás. Bertolt, com sua expressão preocupada, observava silenciosamente. No entanto, o olhar de Annie era o que mais me inquietava. Seus olhos, intensos e perspicazes, pareciam penetrar minha pele, como se soubesse exatamente o propósito da nossa missão. Essa percepção era desconcertante, e uma voz inquietante na minha mente sussurrava que ela não era completamente confiável.
Após esse breve confronto, avançamos sem mais interrupções. O distrito Rose se desenrolava diante de nós, suas ruas iluminadas pela luz fraca do entardecer. A atividade vibrante das famílias passeando, dos vendedores negociando em barracas iluminadas por luzes de âmbar, e das crianças brincando sob o céu, que escurecia gradualmente, criava um contraste desconcertante com a tensão que pairava sobre nós. O frio crescente parecia quase um reflexo da atmosfera carregada, intensificando a sensação de uma normalidade prestes a ser abalada.
Vozes finas cortaram o murmúrio das ruas movimentadas, chamando por Levi. Olhei na direção dos gritos e vi duas crianças correndo em nossa direção. Uma menina de cabelos castanhos, que me lembrava um pouco a Sasha, e um menino loiro, ambos vestindo uniformes militares em miniatura. Era impressionante que, mesmo tão pequenos, já estivessem recebendo treinamento militar. Por que o distrito Rose adotaria uma prática assim?
A menina, com os olhos brilhando de empolgação, olhou diretamente para Levi.
— Veio aqui para nos ver, Levi? — perguntou com um sorriso esperançoso, suas palavras carregadas de uma inocência genuína.
Levi, que normalmente mantinha uma expressão fria e distante, suavizou o olhar ao encarar as crianças. Não era algo que se via todos os dias. Ele se abaixou para ficar na altura delas e deu um leve toque no topo da cabeça de cada uma, um gesto quase afetuoso.
— Hoje não, Gabi — respondeu ele, com uma voz surpreendentemente gentil. — Estamos aqui para um trabalho importante. Mas, antes de irmos, que tal comermos alguma coisa? Estou ouvindo o estômago de vocês roncar daqui.
Os olhos de Gabi e do menino, Falco, se iluminaram com a sugestão. Eles trocaram olhares animados, claramente encantados com a ideia.
— Vamos! — Gabi praticamente pulou de alegria, segurando a mão de Levi como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Observei a cena com uma mistura de surpresa e curiosidade. Levi, aquele que raramente mostrava qualquer sinal de afeto, estava sendo tão gentil com essas crianças. Algo nisso mexeu comigo de uma forma estranha, provocando um nó no meu estômago e uma sensação de desconforto.
Levi se virou para mim, ainda com um toque de suavidade na expressão.
— Amelie, você também.
O resto da equipe se dispersou para descansar ou comer algo antes de seguirmos viagem. Ainda atordoada com essa versão mais suave de Levi, assenti e segui o grupo. Caminhamos até uma pequena lanchonete local, onde Levi pediu porções generosas de comida para as crianças. Eles devoraram cada pedaço como se não comessem há dias, enquanto Levi os observava com uma atenção que eu raramente via. Gabi não parava de falar, contando sobre seu treinamento e como queria ser tão forte quanto Levi. Falco era mais quieto, mas sorria timidamente enquanto ouvia as histórias de Gabi.
— Você vai treinar a gente algum dia, Levi? — perguntou Gabi, com a boca cheia, seu olhar cheio de esperança.
Levi deu um leve sorriso, o tipo de sorriso raro nele, mas que iluminava seu rosto.
— Talvez. Mas primeiro, vocês precisam mostrar que merecem. Treinem duro e não deem trabalho para seus superiores.
Falco, finalmente se manifestando, acenou com a cabeça, determinado.
— Nós seremos fortes. Prometo.
Depois de terminarem a refeição, Levi se despediu das crianças com um aceno de cabeça. Gabi e Falco estavam radiantes, como se aquele breve momento fosse um dos mais importantes de suas vidas. Eu ainda estava tentando processar o que havia acabado de acontecer quando voltamos ao nosso caminho.
— Por que o distrito Rose coloca crianças para se tornarem soldados? — murmurei, apenas para Levi ouvir, minha voz carregada de curiosidade e desconfiança.
Ele deu de ombros, já voltando ao seu modo habitual, sério e concentrado.
— Cada distrito tem seu líder e suas regras. Não cabe a nós questionar, mas também não entendo por que fazem isso aqui. O líder deste distrito é um babaca doente. — Levi falou, referindo-se a Zeke.
Ele desviou o olhar, encerrando o assunto, e seguimos em frente, prontos para continuar a missão.
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