Capítulo 16
3506 palavras
"A dor profunda não vem da lâmina que corta minha alma, mas da frieza do carrasco que a segura."
Afastei-me com passos rápidos, a necessidade de ar e um lugar vazio me consumia. Saí para o campo de treinamento e me refugiei sob as arquibancadas, meu peito se contorcendo com uma sensação avassaladora de repulsa. A escuridão ali me envolvia como um manto, enquanto eu me curvava e vomitava, o estômago se revoltando contra mim. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, misturando-se com o vômito que queimava na minha garganta. Eu estava em um estado de choque, a cena grotesca e as palavras insanas da mulher ainda ecoavam na minha mente, como um sussurro do inferno.
Cada vez que fechava os olhos, a imagem dela, com o sangue e a loucura, se projetava na minha mente, distorcendo a realidade. O gosto ácido e amargo do vômito na minha boca parecia simbolizar a podridão que se instalava dentro de mim. O pensamento de querer o sangue dela, de sentir a sensação de esmagar sua cabeça, era insuportável, uma tortura mental que me deixava enjoada e atordoada. Cada contorção do meu estômago parecia uma manifestação física da agonia psicológica que eu estava enfrentando.
Com o corpo fraco e tremendo, levantei-me e caminhei para o banheiro. O espelho refletia uma imagem pálida e exausta de mim mesma. Minhas mãos, ainda trêmulas, jogavam água fria no rosto, tentando em vão espantar a sensação de desmaio iminente. Meus olhos, fundos e cansados, pareciam carregados com o peso de uma noite sem fim. O reflexo no espelho era um lembrete cruel da fragilidade que eu sentia, como se a qualquer momento eu pudesse simplesmente desmoronar. Mas eu sabia que não podia me permitir isso; havia ainda um dia inteiro à frente, e eu precisava reunir forças para enfrentar o que estava por vir.
Entrei no escritório de Levi sem bater, e a visão que encontrei me paralisou por um momento. Levi estava conversando com uma mulher de cabelos ruivos que iam até os ombros, uma estranha para mim. Eles interromperam a conversa imediatamente quando percebi minha presença. A mulher me lançou um sorriso antes de se retirar.
— O que quer, capitã? — A voz de Levi estava carregada de irritação, mais do que o normal.
— Acabei de vir das celas.
Não adicionei mais nada. O rosto da mulher era desconhecido para mim, e eu não tinha ideia do quanto ela estava envolvida. Levi pareceu perceber meu desconforto.
— Nos dê licença, Petra.
Ela passou por mim com um sorriso que eu achei desconfortante.
— Continue. — Levi mandou, sua expressão severa não dando espaço para hesitações.
— Fui ver a mulher. Ela não é normal.
— Sim, Amelie, eu percebi isso. Ela comeu o braço de um homem. Veio aqui apenas para me dizer o óbvio?
— Não, senhor. Vim para sugerir que talvez seja melhor ela ficar sob a guarda de Hange.
Levi franziu as sobrancelhas, claramente irritado.
— Você está sugerindo que eu a entregue a Hange para que ela possa fazer experiências com a mulher?
— Sim, exatamente isso, senhor.
— Você enlouqueceu, Amelie? Ela ainda é humana. Você quer que Hange a pegue, a despedaça e faça sei lá o que mais?
Ele estava de pé, as mãos apoiadas na mesa como se estivesse segurando a própria paciência.
— Ela não é humana, comandante.
— E como você tem tanta certeza disso?
— Eu estive lá embaixo. Conversei com ela. Não há a menor possibilidade de ela ser humana.
Levi soltou um suspiro de desdém.
— Então vamos usá-la como cobaia porque você acha isso?
— Senhor...
Ele levantou a mão, um gesto claro para eu me calar.
— Saia daqui, Amelie.
— Mas senhor...
— Não insista, Amelie.
— Então é isso? Não vai me ouvir?
Ele virou as costas para mim, um sinal definitivo de que a conversa havia terminado.
— Ouvirei quando você trouxer comprovações, não apenas suposições.
— Sim, comandante.
Não havia mais o que dizer. Senti uma exaustão profunda. Tudo parecia conectado de alguma forma. O fazendeiro era um possível suspeito. Ele precisava de mais investigação.
Mudei minha rota para o campo de treinamento, onde Miche estava supervisionando os treinos. Todos estavam divididos em pares, praticando suas habilidades de combate. Ao me ver, Miche acenou e os outros também. Respondi com um aceno curto e deixei que continuassem.
— Você fede a vômito e a algo podre — Miche comentou, sua expressão mostrando desgosto enquanto cheirava o ar ao meu redor.
— Sim, mas isso não é relevante no momento. Preciso que você observe Egner, o fazendeiro. Seja discreto. Reporte-me se ele fizer algo suspeito — instruí em voz baixa, assegurando-me de que ninguém nos ouvisse. Se há alguém em quem posso confiar para uma investigação, é Miche Zacharius.
— Sim, capitã.
— Ótimo. Volte para o jantar, mas mantenha um olho em ele durante o dia.
— Entendido. Vou fazer o possível para descobrir o que ele está escondendo. Cometi um erro uma vez, e não vou deixar que isso se repita. Estou certo de que há algo errado com ele.
— Perfeito. Vá.
Enquanto Miche se afastava, a situação no campo de treinamento começou a esquentar. Jean derrubou Eren no chão, e a luta logo se tornou a atração principal. Armin tentou separar os dois, mas acabou levando um soco. Mikasa observava impassível, enquanto Sasha e Connie riam e incentivavam a briga.
— Força, Jean! — Connie gritou, claramente animado com o espetáculo.
Respirei fundo, tentando manter a calma. Não era o dia para esse tipo de bagunça.
— Já chega — ordenei, minha voz cortando o ar. O estalo seco da munição passando a poucos centímetros dos dois fez com que todos parassem imediatamente. Ainda mantinha a arma apontada para eles.
— Afastem-se um do outro agora — ordenei. Eles se levantaram lentamente. Jean tinha sangue escorrendo pelo nariz e Eren já exibia uma mancha roxa ao redor do olho. Abaixei a arma e me aproximei.
— Capitã... — Sasha tentou intervir, mas eu não tinha paciência para isso.
— Cale a boca, Sasha. Eles não precisam de defesa — minha voz era fria e direta. Os outros se calaram, aliviando-me.
— Não sei o que fazer com vocês dois.
— Estávamos apenas treinando. Jean é sensível demais — Eren tentou justificar, sua voz carregada de raiva.
— Não é nada disso. Você é quem levou isso para o lado pessoal — Jean retrucou.
— Se não aguenta, volte para casa — Eren provocou.
— Pelo menos eu tenho uma casa para voltar — Jean respondeu, a raiva fria em sua voz.
— Já chega — gritei novamente, forçando um silêncio imediato. — É para isso que vocês se tornaram soldados? Vocês são patéticos.
— Você poderia ter acertado um de nós — Eren se atreveu a desafiar, indignado.
— Se eu quisesse acertar, teria feito. — Meu tom estava carregado de frieza. — Vocês dois passarão o próximo mês inteiro limpando os banheiros do quartel. Deixarão tudo impecável. E quero que fiquem juntos o tempo todo, se possível, até mesmo compartilhando a cama. Entendido?
— Sim, capitã — responderam em uníssono.
— Vão para a enfermaria agora e depois comecem o serviço de vocês.
Comecei a me afastar, deixando os outros ainda parados.
— O restante de vocês, voltem ao treinamento. Marco estará no comando.
Respirei fundo, minha mente já voltando à próxima tarefa: conversar com Hange.
No caminho para o laboratório, a imagem de Levi e Petra no escritório invadiu minha mente como um espectro incômodo. Não era comum que quase ninguém tivesse permissão para entrar em seu escritório. Então, o que ela estava fazendo lá? O pensamento se enraizou, tornando-se uma pedra no meu estômago. Eles têm algo? A possibilidade me atingiu como uma lâmina fria, perfurando qualquer resquício de paz que eu pudesse ter.
Meu coração apertou com o pensamento, mas tentei afastá-lo, racionalizar. Não fazia sentido sentir isso. Não temos nada. Levi é meu superior, nada mais. Então, por que ver aquela cena me afeta tanto? Por que esse desconforto cresce, se espalhando como veneno em minhas veias? Por que Levi tem poder sobre meus sentimentos de uma forma tão cruel e implacável?
Cada passo que eu dava parecia mais pesado, como se algo estivesse me puxando para baixo, sufocando qualquer tentativa de manter a compostura. Não queria admitir, nem para mim mesma, o quanto isso me incomodava, o quanto essa situação estava corroendo algo dentro de mim. A simples ideia de que ele pudesse estar com outra pessoa... era desesperador.
Mas o que isso importa? Eu não deveria me importar. Não deveria, mas me importo. E isso me enfurece. A impotência diante desses sentimentos, a incapacidade de controlá-los, de mantê-los à distância, era como um espinho cravado na carne, sempre ali, sempre doloroso.
No fundo, eu sabia. Já fazia tempo que sabia. Mas admitir isso seria como abrir uma ferida que nunca cicatriza, expondo-a ao ar, permitindo que sangrasse livremente. E isso era algo que eu simplesmente não podia suportar. Não agora.
O laboratório estava à minha frente, mas minha mente estava longe, presa em uma confusão de emoções que eu mal conseguia nomear. Eu tinha que me concentrar, manter o foco. Mas a imagem de Levi e Petra permanecia, insistente, assombrando cada pensamento, tornando cada respiração um pouco mais difícil.
Respirei fundo e bati na porta do laboratório. Hange abriu. Seu rabo de cavalo estava desgrenhado, o avental manchado, e não havia o habitual brilho em seus olhos. O silêncio pesado entre nós parecia um prenúncio de algo terrível.
— Você parece horrível, Hange. — Minha voz saiu seca. Ela tentou sorrir, mas o esforço foi patético, quase doloroso.
— Eu tentei, Amelie. Tentei de tudo. Limpei os equipamentos, troquei-os, refiz todos os testes, mas nada. — O desespero transparecia em cada palavra. Seus olhos, normalmente vívidos, estavam opacos, carregados de um cansaço que ia além do físico.
— O que está me dizendo, Hange? — Minha paciência já estava no limite, eu só queria uma boa notícia. Só uma.
— Está limpo. — A voz dela era quase um sussurro, mas o peso de suas palavras não fazia sentido.
— Preciso que seja mais específica, Hange.
Ela bateu os punhos no balcão com uma força inesperada, me fazendo congelar. Hange estava à beira de um colapso, e isso me gelou até os ossos.
— As amostras de sangue do gado estão limpas, Amelie. Como se fossem de animais perfeitamente saudáveis. Mas você viu aquele celeiro! Nenhum daqueles animais estava saudável. — As lágrimas que ela lutava para conter começaram a descer.
— E a amostra do que já estava morto? — Minha voz saiu mais fraca do que eu gostaria.
— Perfeitamente limpa. Não há sinal de doença alguma. — Em um movimento de fúria, Hange varreu tudo do balcão, espalhando cacos de vidro pelo chão. Ela chutou o balcão repetidamente, como se a dor física pudesse substituir o desespero que sentia.
— Hange. — Eu a chamei, mas ela não parou. Sua raiva e frustração pareciam ser o único escape. Aproximei-me e segurei seu braço. — Hange, pare.
Ela finalmente cedeu, como uma boneca quebrada, o corpo curvado pelo peso de tudo aquilo. Eu a encarei, exausta, sentando em um banco próximo, sem energia nem mesmo para tentar compreender completamente a situação.
— Preciso que me explique o que está acontecendo. — As palavras saíram arrastadas. Minha mente era um caos, mas eu tinha que manter o controle, ainda havia muito a ser feito.
— Sabemos que o gado estava doente, mas não há nenhuma evidência biológica. Tudo está limpo. Até a sua amostra, Amelie. — Hange falou com uma calma que soava quase sarcástica, a ironia não passou despercebida por mim.
— Não há nada de errado comigo. — Eu forcei as palavras, tentando convencer a mim mesma tanto quanto a ela. Por dentro, no entanto, o pânico me consumia, gritando que algo estava terrivelmente errado, que eu estava à beira de perder o controle.
— Se você estiver infectada e isso for transmissível, estamos todos fodidos. — Hange concluiu, como se já estivesse desistindo.
— Apenas uma teoria, Hange. Não há evidências que comprovem isso. Além do mais, temos coisas mais importantes com as quais nos preocuparmos. — Tentei ser racional, mas o desespero estava latente em cada palavra que eu dizia.
— Ah, sim, claro. — O sarcasmo dela era uma faca afiada. Eu o ignorei, precisava manter a calma.
— Fui até as celas. Há algo muito estranho naquela mulher. Ela não é apenas uma assassina, Hange. Tem algo profundamente errado com ela.
— Onde quer chegar com isso? — Hange me olhava com desconfiança, a tensão no ar era palpável.
— Faça experimentos com ela. Pode nos dar as respostas que procuramos. — Minha voz saiu fria, quase calculista.
Hange me encarou por um longo e desconfortável silêncio. Quando finalmente falou, sua voz era um sussurro carregado de incredulidade.
— Por que acha que eu usaria um ser humano para experimentos? Ela está em surto, Amelie, mas ainda é humana. — As palavras dela me atingiram como um golpe. — Ela pagará pelo que fez, mas não dessa forma.
— Você não entende! A única coisa que resta de humano nela é a aparência! — Eu estava quase gritando, minha própria raiva me consumindo. — Escute, Hange, use-a.
Ela endireitou o corpo, suas feições endurecidas.
— Não farei isso, Amelie.
— Por que ninguém quer me ouvir? — Minhas palavras estavam carregadas de frustração e desespero. — Já matamos tantas pessoas inocentes. Ela matou um dos nossos de forma brutal. Por que, de repente, todos decidiram ser éticos?
Hange me encarou, seus olhos refletindo uma tristeza profunda.
— Consegue ouvir a hipocrisia nas suas palavras, Amelie?
As palavras dela foram um soco no estômago. Será que eu não era melhor do que aquele monstro que estava lá embaixo? Parecia ser isso que Hange estava insinuando. Eu não era nada além de um animal impulsionado pela raiva e pelo medo.
Antes que eu pudesse responder, a porta do laboratório se abriu e Moblit entrou, interrompendo a nossa conversa.
— Hange, o que aconteceu aqui? — Ele olhou em volta, seus olhos arregalados ao ver os cacos de vidro espalhados pelo chão. — O que ela faz aqui? Saia de perto dela, Hange.
Meu estômago se revirou. Era isso que eu era agora? Um animal contagioso?
— Se ela estiver mesmo doente, o que ainda é apenas uma hipótese, então todos nós provavelmente já estamos infectados. — Hange concluiu, sua voz resignada. Moblit estremeceu visivelmente.
— Não, isso não... Precisamos relatar isso ao comandante Erwin.
— Não, Moblit, não podemos. Nem temos certeza de nada. — Hange tentou acalmá-lo, fechando a porta do laboratório que estava entreaberta. Continuei sentada, o peso das suas palavras afundando ainda mais em minha mente. E se eles decidirem que eu sou uma ameaça?
— Hange, ela deveria pelo menos ficar de quarentena. — Moblit insistiu, sua voz trêmula.
— O quê? — Levantei-me de um salto, derrubando o banco atrás de mim. Eles não podiam estar falando sério. Mas agiam como se eu nem estivesse ali, como se minha presença fosse irrelevante.
— Não me olhe assim, Hange. Você sabe muito bem como isso deve prosseguir. — Moblit falava com uma frieza que eu não esperava dele.
— Não me diga o que fazer, Moblit. — Hange respondeu, sua voz começando a falhar.
A discussão foi interrompida por uma batida na porta, mas o peso do que foi dito já tinha se instalado. Cada palavra trocada ali dentro só aumentava a sensação de que tudo estava desmoronando ao meu redor. E eu não tinha para onde correr.
— Entre. — Hange ordenou, ainda trocando olhares tensos com Moblit. A sala parecia carregada de uma eletricidade desconfortável. Floch abriu a porta com uma expressão séria.
— Comandante Hange, o líder Erwin está na sala de reunião, esperando por você.
Hange acenou brevemente, dispensando Floch.
— Moblit, limpe o laboratório. — Ela disse, sem esperar resposta, saindo em direção à sala de reuniões. Eu a segui de perto, sentindo o peso do dia se prolongar de forma sufocante. Ao chegarmos, Erwin e Levi já estavam lá, em uma reunião de emergência.
— Eu ainda não tive tempo de vê-la, estava muito ocupada com as amostras. — Hange se explicou.
— Leve reforços quando for vê-la. Faye Yeager é instável. — Levi respondeu, sua voz cortante.
— Yeager? Qual a relação dela com Eren e Zeke? — Perguntei, franzindo as sobrancelhas para Erwin.
— Ainda não sabemos, mas Zeke deve ser informado. Eren mencionou algum familiar além de Zeke? — Ele me olhou com uma intensidade que me fez hesitar.
— Só falou do pai, que era médico. Grisha Yeager morreu no início da pandemia. — Respondi, sentindo o clima na sala se tornar mais pesado. Erwin assentiu, mas meu olhar finalmente encontrou Levi, sentado à minha frente. Ele não desviou, mas manteve uma expressão impenetrável, fria.
— Levem Eren para interrogatório. Descubram sobre seus parentes. — Erwin ordenou, voltando sua atenção para Hange. — Hange, pegue amostras de sangue de Faye Yeager e verifique se há infecção. Compare com as amostras do gado e veja se há alguma conexão.
— Claro, Erwin. — Hange respondeu, mas sua voz carregava um peso visível, como se cada palavra fosse um esforço.
— Já conseguiram contato com o Distrito Maria? — Erwin perguntou, sua voz cortando o ar.
— Ainda não, e estou com muitas coisas para fazer. — Hange respondeu, desviando o olhar.
— Certo, Moreau tente contato com o Distrito Maria. — Erwin continuou, sem pausa.
— Ela não vai fazer isso. Toda tentativa de contato com o Distrito Maria foi em vão. Não vou deixar meus subordinados ocupados com algo inútil. — A voz de Levi era decisiva, e não havia espaço para contestação.
Erwin não parecia satisfeito, seu olhar se estreitando ligeiramente.
— Não acha preocupante que eles estejam incomunicáveis há quase um mês?
— Sim, e é justamente por isso que nem Amelie, nem nenhum outro deste quartel tentará contato com eles novamente. — Levi respondeu, sua voz firme. Ele parecia ser a única pessoa que podia desafiar Erwin sem consequências. Havia um respeito mútuo ali, mas também uma tensão palpável.
— Discutiremos isso em particular. — Erwin insistiu, mas Levi não recuou.
— Não há o que discutir, Erwin. — Levi respondeu, sua voz baixa e cheia de convicção.
— Em particular, Levi. — A tensão entre eles era quase tangível, mas Erwin decidiu mudar o foco da conversa. — Qual o relatório das amostras do gado, Hange?
Hange hesitou, seu desconforto evidente.
— Bom, não tenho certeza, talvez eu tenha que examinar novamente.
— Um relatório, Hange. Agora. — A voz de Erwin estava inalterada, mas havia uma ponta de impaciência nela.
— As amostras não mostraram nada anormal, nenhum sinal de infecção. Testei várias vezes para ter certeza. — Hange respondeu, a incerteza transparecendo.
Senti o olhar de Levi queimando em mim. Mesmo sem olhar para ele, eu podia sentir o peso de sua presença, me deixando nervosa, tensa. Olhei para Hange, que discretamente fazia um sinal de negação com a cabeça, pedindo a Levi para não falar sobre minha situação. Mas ele não hesitou.
— Há algo que eu deveria saber? — A voz de Erwin tornou-se mais grave, como um aviso de tempestade. Minhas mãos começaram a suar, e o nervosismo tomou conta de mim.
— O fazendeiro colocou algo no chá de Amelie. Hange fez os testes, mas, assim como as amostras do gado, as de Amelie também estão limpas, sem sinal de infecção. — Levi disse, sua voz fria e impassível, como se estivesse reportando algo trivial.
Doeu. Cada palavra dele foi como uma lâmina cortando profundamente. Ele sabia o que iriam fazer comigo, e ainda assim, me entregou sem hesitação. Olhei para Erwin, que mantinha sua postura rígida na cadeira, como uma estátua inabalável.
— Ele já passou por um interrogatório? — Erwin perguntou, virando-se para mim.
— Mandei Miche para observá-lo. — Respondi rapidamente, tentando manter a compostura.
— Mandarei Miche trazê-lo para interrogatório. Ficará detido até termos respostas. — Erwin afirmou com determinação. Eu sabia que isso não iria adiantar. Aquele homem não parecia disposto a revelar nada do que sabia.
— Amelie irá para a quarentena. — Erwin determinou, como se fosse uma sentença final.
Meu coração parou. Quarentena. Isolamento total. Era uma tortura, e eu não conseguiria suportar. Olhei para Levi, e a raiva borbulhou dentro de mim. Queria voar em seu pescoço, gritar, mas ele apenas me encarava com desprezo velado, sua expressão fria e distante. O aperto em meu peito tornou-se uma dor física. Era assim que um coração partido deveria doer?
— Amelie parece bem o suficiente. Não acho que uma quarentena seja necessária, Erwin. — Hange tentou interceder por mim, sua voz carregada de emoção.
— Sei que está colocando mais emoção do que razão em seu julgamento, Hange. Amelie irá para a quarentena. — Erwin insistiu, inabalável.
— Erwin. — A voz de Hange era quase uma súplica, mas Erwin não cedeu.
— Uma semana em isolamento total. Se ainda estiver viva após esses dias, poderá voltar à rotina. — A sala mergulhou em um silêncio opressor. Olhei para Levi novamente, procurando alguma fagulha de humanidade, algo que mostrasse que ele se importava. Mas seu rosto era uma máscara de indiferença. Ele era uma incógnita que eu jamais conseguiria desvendar, não importava o quanto tentasse. E cada tentativa me deixava mais quebrada.
— Sim, senhor Erwin. — Respondi, finalmente, mas meus olhos estavam fixos em Levi. Ele me traíra, e agora eu sentia a dor e a decepção corroerem o que restava de mim.
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