Capítulo 13
2329 palavras
"Às vezes, a solidão é mais suportável quando a presença de alguém parece ser uma constante, mesmo que seja um lembrete do que não pode ser alcançado."
Cheguei à sala de reuniões com antecedência dessa vez. Apenas Levi estava lá; seus olhos me seguiram enquanto eu cruzava a sala e me sentava numa cadeira ao seu lado. Ele manteve a postura rígida, mas percebi um leve movimento de sua mão, como se estivesse prestes a ajustar algo em sua jaqueta, mas desistisse no último momento.
— Você se sente melhor? — perguntou ele, coçando a garganta antes de falar. Seu tom era neutro, mas havia uma sutil suavidade nas palavras que me fez hesitar por um segundo.
— Sim, estou bem — respondi, mantendo meu olhar fixo na mesa, mas sentindo o peso do olhar dele sobre mim.
Um silêncio pairou entre nós, denso e carregado de algo que eu não conseguia identificar completamente. Levi não disse nada, mas sua presença era quase palpável, como se ele estivesse esperando por algo, uma resposta que nem mesmo ele sabia se queria ouvir.
Eu me forcei a levantar a cabeça e encarar seus olhos. Eles eram impassíveis, mas havia uma intensidade neles, algo que eu não conseguia decifrar. Antes que eu pudesse pensar em algo para dizer, Levi desviou o olhar e se fixou nos papéis à sua frente, como se o momento nunca tivesse acontecido.
— Zeke Yeager virá para a reunião hoje — ele falou, a voz de volta ao tom profissional e controlado.
A troca foi breve, quase insignificante, mas o que não foi dito ecoou no ar. O que realmente me incomodava era saber que Zeke estaria aqui hoje. Hange chegou minutos depois, sentando ao meu lado.
— Bom dia! — falou ela com um sorriso que mostrava quase todos os seus dentes.
— Bom dia — respondi, tentando não parecer tão tensa.
Hange inclinou-se para mim, os olhos brilhando de curiosidade.
— Você já se acostumou com o frio? — perguntou ela.
— Nem um pouco — ri suavemente. — Tremo feito vara verde, mesmo com o sobretudo.
— Eu também, mas é recente; ainda vamos nos acostumar — disse ela, sorrindo. — Estou pensando em uma forma de gerar calor usando materiais que temos aqui. Já pensou em aquecedores improvisados?
— Não, mas seria ótimo se conseguíssemos algo assim — sorri, sentindo-me um pouco mais à vontade.
Assim que Zeke Yeager entrou na sala, uma onda de desconforto percorreu meu corpo como um arrepio. Baixei a cabeça instintivamente, evitando encontrar seus olhos, mas a sensação de seu olhar fixo em mim era inescapável, quase sufocante. Era como se ele pudesse ver através de mim, desvendando pensamentos que eu mesma não queria reconhecer, enquanto ocupava a cadeira à minha frente.
A presença dele era opressora, e o silêncio que se instalou na sala apenas amplificou minha inquietação. Tentei me concentrar nos papéis à minha frente, mas a sensação de que Zeke estava estudando cada movimento meu não me deixava em paz. Cada vez que ele se mexia, mesmo que minimamente, meus nervos se acendiam, como se meu corpo estivesse se preparando para um perigo iminente.
Não confio nele. Há algo em Zeke que me faz querer manter distância, algo que desperta uma sensação visceral de alerta. Evito qualquer tipo de interação além do estritamente necessário, temendo que ele perceba o quanto sua presença me incomoda.
— Amelie, o que aconteceu com você? — Zeke perguntou.
Ergui os olhos brevemente, forçando um sorriso.
— Fui atacada durante uma expedição.
— Espero que esteja se recuperando bem — continuou ele, ignorando meu desconforto. — Talvez tenha encontrado alguém mais... bem preparado fora dos muros. Talvez o comandante Levi não tenha treinado os soldados tão bem assim.
— Eu os treinei muito bem, Zeke — Levi interveio, sua voz fria. — E é por isso que é Amelie quem está viva, e não quem a atacou.
Zeke sorriu, mas seus olhos permaneciam frios por trás dos óculos.
— Claro, claro. Mas devemos reforçar o treinamento dos soldados, caso haja intercorrências maiores.
— Estamos sempre em treinamento — respondi, tentando manter minha voz firme. — E faremos o que for necessário para proteger nossos distritos.
Yelena, que estava em silêncio até então, finalmente falou, sua voz baixa e calculada.
— Amelie, como você descreveria o homem que a atacou?
A lembrança fez meu estômago revirar.
— Um homem comum. Por que isso é importante? — Ele não era um homem tão comum assim, mas não entregaria essa informação a eles tão facilmente.
— Nenhum motivo especial — disse Zeke. — Mas fiquei sabendo que seu desempenho é bem alto, e esse "homem comum" parece quase tê-la vencido. Talvez devêssemos investigar mais a fundo esse ataque. Quem sabe o que poderíamos descobrir?
— Há algo que queira compartilhar conosco, Yeager? — Levi perguntou, seu olhar cortante direcionado a Zeke.
Zeke riu suavemente, levantando as mãos em um gesto de rendição.
— Não, só achei a situação interessante.
O clima na sala ficou pesado, a tensão palpável. Olhei para Levi, que parecia tão desconfiado quanto eu. Sabíamos que Zeke tinha seus próprios interesses e que confiar nele poderia ser um erro fatal.
— Vamos focar na reunião — Levi disse, encerrando a troca desconfortável.
— Sim, temos questões mais urgentes para discutir — disse Zeke.
Erwin chegou. Finalmente, poderíamos iniciar a reunião.
— Obrigado a todos por estarem aqui — começou Erwin, com sua voz firme e autoritária. — Zeke, você solicitou esta reunião. O que exatamente está acontecendo no distrito Rose?
Zeke assentiu, endireitando-se na cadeira.
— Estamos enfrentando uma grave escassez de suprimentos. Nossos estoques estão se esgotando rapidamente, e precisamos de assistência imediata para evitar uma crise.
Erwin franziu a testa, seu olhar avaliador.
— Antes de qualquer coisa, preciso ver os dados. Quantas pessoas precisam de suprimentos, e qual a quantidade que vocês ainda têm disponível?
Yelena interveio, passando um documento a Erwin.
— Aqui estão os números, comandante. Fizemos um levantamento detalhado das nossas necessidades e dos recursos restantes.
Erwin examinou os papéis em silêncio por um momento. Finalmente, suspirou.
— Entendo a gravidade da situação, mas nossos recursos também são limitados, e esse clima frio nos pegou de surpresa. No entanto, ajudaremos como pudermos. Faremos um racionamento mais estrito e enviaremos o que for possível.
— Agradecemos, comandante — disse Zeke, acenando com a cabeça. — Qualquer ajuda será vital.
Yelena olhou para Erwin, com uma expressão séria.
— Tentamos entrar em contato com o distrito Maria para pedir assistência adicional, mas não tivemos resposta há duas semanas.
A sala ficou em silêncio, todos absorvendo a informação. Hange foi a primeira a quebrar o silêncio.
— Eu também tentei contatar Maria hoje para saber se os cientistas de lá tinham alguma informação sobre essa anomalia climática, mas sem sucesso.
Erwin franziu ainda mais a testa, seus olhos estreitando-se.
— A comunicação deles pode estar instável por conta do tempo. Vamos continuar tentando contatá-los — ordenou Erwin.
— E se eles não responderem? — perguntou Zeke, sua voz carregada de uma preocupação que parecia calculada.
A tensão na sala aumentou, todos conscientes das novas dificuldades que enfrentavam. Olhei para Erwin, que parecia mais preocupado do que nunca.
— Se isso acontecer, será algo a ser discutido — respondeu Erwin, sua voz firme.
Erwin se levantou, encerrando formalmente a reunião.
— Até que tenhamos mais informações, mantenham-se vigilantes e preparados para qualquer eventualidade. Hange, continue tentando entrar em contato com o distrito Maria.
Todos começaram a se levantar, a tensão ainda palpável no ar. Antes de sair, Erwin se dirigiu a Zeke e Yelena.
— Agradeço por trazerem isso à nossa atenção. Vamos fazer o possível para ajudar o distrito Rose. Mantenham-nos informados sobre qualquer mudança.
Zeke assentiu, com um sorriso enigmático no rosto.
— Agradecemos a ajuda, comandante. Estamos todos no mesmo barco, afinal.
Saímos da sala de reuniões, cada um perdido em seus próprios pensamentos. A incerteza sobre o que estava acontecendo no distrito Maria pairava sobre mim como uma sombra. Seria algo relacionado ao homem que me atacou? Um calafrio percorreu minha espinha ao pensar nessa possibilidade.
Enquanto caminhávamos pelos corredores frios do quartel, Erwin acompanhava Zeke e Yelena ao lado de Hange. Levi me alcançou, e o aperto firme de sua mão em meu braço me fez parar no meio do corredor vazio. Olhei para ele, meu cenho franzido.
— Amelie, tenha cuidado com Zeke Yeager. Não confio nele, há mais nessa história do que estão nos dizendo — sussurrou ele, seu tom sério e incisivo.
Assenti, sentindo a mesma desconfiança.
— Sim, eu também não confio nele — respondi.
Levi deu um leve aceno de cabeça, mantendo o olhar fixo em mim. O silêncio entre nós se prolongou, carregado de algo não dito. Havia uma tensão no ar, algo que fazia meu coração acelerar. Por um breve momento, o mundo ao redor pareceu parar, e eu senti que ele estava prestes a fazer algo. Talvez fosse o jeito como seus olhos pareciam escurecer, ou a proximidade que não costumava ter. Mas antes que qualquer coisa acontecesse, Levi se afastou, quebrando o clima que se formava. A decepção me atingiu como uma onda fria, mas me forcei a manter a postura.
A reunião havia terminado, mas as perguntas e preocupações permaneciam, pesando em minha mente. O que estaria realmente acontecendo no distrito Maria? E o que faríamos com a população do distrito Rose, que enfrentava fome e frio neste inverno implacável? A situação exigia medidas drásticas. Eu sabia que precisaríamos ser estratégicos e racionais em nossas decisões, por mais impopulares que fossem. Talvez tivéssemos que considerar uma triagem rigorosa, priorizando aqueles mais aptos a sobreviver. Essa linha de pensamento me deixava inquieta, mas eu não podia ignorar a realidade cruel. Sacrifícios seriam inevitáveis, e a proteção do maior número possível de vidas significava tomar decisões que iriam pesar em nossas consciências. No fundo, uma parte de mim sabia que, para garantir a sobrevivência, eu teria que silenciar a compaixão e abraçar a escuridão que se instalava em meus pensamentos.
Após o jantar solitário no refeitório, um sentimento de isolamento profundo me envolvia. Aquele episódio com Jean havia alterado irrevogavelmente as dinâmicas entre nós, e agora a distância era palpável. Eles não estavam mais dispostos a me perdoar, e embora eu compreendesse suas razões, não sentia remorso suficiente para pedir perdão. Minhas próprias justificativas pareciam mais sólidas a cada dia, mesmo que isso significasse aceitar o afastamento dos outros.
A ausência de Sasha, sempre disputando comida, as piadas bobas de Connie, as brigas impulsivas entre Eren e Jean, a bondade inabalável de Armin e até a fria apatia de Mikasa—tudo isso deixava um vazio que se tornava insuportável. Mas esse vazio, percebi, era um preço que eu estava disposta a pagar.
Com um suspiro longo, pesado, carregado de algo mais próximo da resignação do que do arrependimento, dirigi-me ao escritório do comandante Levi. Cada passo ressoava no corredor vazio, refletindo a solidão que eu mesma havia escolhido. Sabia que o caminho que estava trilhando me afastava dos outros, mas talvez essa fosse a única maneira de sobreviver ao que estava por vir. A empatia, a conexão—tudo isso parecia um luxo que eu não podia mais me permitir.
Ao entrar na sala, notei Levi de pé junto à janela, observando o fino lençol de neve branca que se formava lá fora. A atmosfera estava carregada e o ambiente denso, como sempre quando Levi estava visivelmente irritado.
— Sente-se, Amelie. — A voz de Levi cortou o silêncio, fria e direta.
Puxei uma cadeira e tomei meu lugar em frente à mesa de Levi, tentando manter a compostura diante de sua aura carregada de tensão. Cada palavra sua parecia pesada, carregada com um peso que se estendia além das simples instruções.
— Você irá amanhã com Hange e Moblit até as fazendas. — Levi começou, sua voz cortante ecoando na sala silenciosa. — O gado que estamos distribuindo para os outros distritos está morrendo.
— Sim, senhor comandante. — Respondi, ciente da gravidade da situação. O gado era vital para nossa alimentação, especialmente neste inverno inesperado. Sem a carne, a situação se tornaria ainda mais crítica, mesmo com o grande estoque de alimentos enlatados.
— É algo relacionado ao inverno? — Perguntei, tentando entender a causa do problema.
Levi não respondeu de imediato. Em vez disso, virou-se para me olhar, sua expressão imperturbável. O silêncio se arrastava, e eu me perguntei se minha pergunta havia sido inadequada. A atmosfera estava tão densa que eu podia quase sentir o peso das palavras não ditas, um labirinto de pensamentos não expressos pairando entre nós.
— Tudo deve estar relacionado, mas acredito que o gado não está morrendo de frio. — Levi finalmente disse, sua voz mantendo a frieza habitual.
— Entendi, comandante. — Respondi, sentindo que a conversa estava prestes a se encerrar.
O silêncio se estendeu pela sala, e eu me senti estranhamente ligada àquele momento, mesmo quando Levi parecia se concentrar nos papéis à sua frente. Havia algo em sua presença, no seu olhar fixo, que me fascinava e, ao mesmo tempo, me inquietava. Sentia um misto de curiosidade e ansiedade, como se sua presença fosse uma âncora, uma constante que eu não conseguia deixar de observar.
Ele parecia imperturbável, mas eu não conseguia desviar o olhar. Havia algo em seu cabelo escuro, no cheiro sutil que emanava dele, que se tornava cada vez mais difícil de ignorar. A intensidade da situação me fazia sentir uma conexão perturbadora, um desejo de entender mais, de estar mais próxima, mas eu sabia que não era o momento para essas considerações. Precisávamos resolver o problema com o gado, e eu precisava manter o foco.
Finalmente, Levi se voltou para a mesa, pegando alguns papéis e revisando-os com a mesma precisão que mantinha em sua postura.
— Vai passar a noite aqui me olhando? — perguntou com um toque de ironia. Eu poderia, queria responder sim, mas ele simplesmente mandou:
— Saia, Moreau.
— Sim, comandante. — Respondi, levantando-me para sair.
Enquanto me dirigia para a porta, sentia o peso das emoções não expressas, uma tensão crescente que se misturava com a necessidade urgente de encontrar uma solução para a situação que enfrentávamos. Levi permanecia lá, uma constante imperturbável, enquanto eu saía para lidar com o que estava por vir, carregando comigo uma sensação de inquietação e uma preocupação que se tornava cada vez mais difícil de ignorar.
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