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Capítulo 1


A cruz de ouro polido reluzia com o reflexo do fogo das velas nos candelabros, iluminando sutilmente os cabelos negros de Soen. Nela, o homem esculpido sofria em silêncio, com uma expressão eternamente atormentada no rosto dourado.

Soen Blackthorn já havia ouvido canções religiosas o suficiente para uma vida inteira naquela noite, e quando a próxima começou em um soneto agudo que reverberava pesarosamente em sua cabeça, ele decidiu que seria preferível perfurar os próprios tímpanos com os dedos do que permanecer mais um minuto naquele salão.

O baile, dado em homenagem ao Papa George VI depois de seus supostos grandes feitos pela humanidade após seus novos decretos em nome da Única Fé, não era menos do que um trampolim social para aqueles que almejavam formar novas conexões e, portanto, havia durado mais do que o punhado de dias que os eventos formais obrigatórios geralmente duravam.

Uma quinzena de banquetes abundantes e espumantes caros distribuídos entre aristocratas fúteis enquanto a plebe de Etheia afundavam na merda junto com o resto do continente. Soen achava poético, apesar de não ser um grande apreciador de poesias.

Cansado como estava, só lhe restava ignorar toda aquela balbúrdia religiosa e voltar aos seus travesseiros macios no terceiro andar do palácio, onde o tédio era menos barulhento e as pedras tão frias quanto escuras clareavam os pensamentos, aguardando pelo dia em que pudesse colocar todas as suas peças em jogo e olhar tudo de cima.

Era uma pena, no entanto, que mesmo quando isso acontecesse, mesmo quando ele conquistasse sua coroa, ainda teria que suportar os idiotas bajuladores da Corte.

Havia limites para o que um rei poderia fazer, e eliminar todos aqueles que o aborreciam estava além deles. Principalmente se "todos" fossem metade da população de Etheia.

Claro, seria escandaloso se o herdeiro do trono se retirasse cedo e sem quaisquer explicações na última e mais importante noite de comemorações, antes mesmo de receber a bênção de George VI, mas Soen apostava que todos já estavam desapontados com a quantidade surpreendente de dias em que ele se manteve na linha.

Dando a eles o que tanto aguardavam, manteve seu melhor sorriso enquanto subia as escadas revestidas por um fino carpete vermelho até seus aposentos pessoais, trancando a porta maciça atrás de si para que o som das festividades não invadisse seu santuário.

Miau...

Ah, e lá estava ela novamente.

A gata preta que costumava fazer companhia a Soen na penumbra e sempre partia ao nascer do sol fitava-o no batente da varanda. Seus olhos amarelos brilhantes contrastavam com a pelagem quase totalmente negra, exceto pela pequena mancha branca entre os olhos que descia até o focinho, dando a impressão de uma pequena cruz invertida.

Sir Christian, como Soen havia afetuosamente batizado a felina em homenagem aos religiosos que adoravam o sinal da cruz e se esqueciam do homem pregado nela, começou suas visitas noturnas meses atrás, mas não fazia muito tempo que ele descobriu se tratar de uma fêmea.

Ela foi renomeada como Gin, a bebida favorita de Soen.

Ele sentia pena daquela criatura, agora que o novo decreto do Papa declarava que gatos eram servos das bruxas que serviam aos demônios, e, portanto, deveriam ser aniquilados. Ele nunca havia ouvido tanta merda sair da boca de um Papa, mesmo já tendo ouvido muitas.

Os gatos simplesmente não eram servos de ninguém. Não existia criatura mais livre vagando tão próximo dos humanos, e tampouco haveria qualquer resquício da maldade intencional e consciente das pessoas neles, que não passavam de caçadores hábeis e independentes.

Os homens não eram capazes de aceitar algo que estava fora de seu total controle. Seria parte da natureza humana corromper tudo o que toca e destruir aquilo que não pode ter?

Humanos. Cobertos de avareza, luxúria, gula, inveja, ganância, orgulho e ódio. Que matam, roubam e estupram. Movidos por interesses fúteis e cheios de egos vazios. Isso sim, para Soen, era uma coisa diabólica. Piores ou melhores, todas as pessoas falham, mentem e julgam.

E quanto mais Soen pensava sobre aquilo, mais tinha certeza de que a humanidade estava certa quando decidiu caminhar rumo ao inferno.

Refletindo sobre isso e afundando em ideias — muitas vezes contraditórias — ao longo dos anos, ele chegou à conclusão de que, se não havia nada de belo na raça humana e as próprias pessoas se sujavam cada dia mais em seus pecados, marchando direto para o inferno e deixando uma trilha de destruição para trás, quem melhor do que ele, um futuro rei e também humano, para acelerar o fim daquela marcha?

Se todos estavam condenados, como ele sabia que estavam, que encontrassem o sofrimento eterno com o mundo queimando às suas costas.

Sendo ele um homem como qualquer outro, Soen assumiria a sua humanidade e jogaria sujo como todos faziam.


Na manhã seguinte, o sol acordou Soen com um soco ardente no rosto.

O gato maldito dera um jeito de abrir as persianas antes de voltar para o beco imundo de onde havia saído, e agora uma faixa de luz dourada iluminava seu rosto sonolento e irritadiço.

Gatos são, no fim das contas, uns merdinhas desgraçados, Soen pensou enquanto cobria os olhos escuros com o dorso da mão.

"Não seja tão rude", uma voz estranhamente familiar entoou em sua mente.

A princípio, ele não sabia de onde o som vinha, mas tinha certeza de que não se tratava de um pensamento espontâneo, já que não era sua voz, e sim a de outrem. Mas Soen não precisou se dar ao trabalho de procurar a origem daqueles pensamentos invasores, já que era fácil notar a enorme criatura empoleirada em sua escrivaninha.

A aparência dele fez Soen arquear uma sobrancelha.

Seus olhos não eram humanos, mas sim duas esferas brilhantes em um tom azul cristalino, as pupilas contraídas no formato de fendas negras como olhos felinos. As orelhas, pontiagudas e longas, estavam apenas parcialmente ocultas pelos longos fios de seu cabelo branco.

"Você não está sonhando."

— Mas que diabos? — Soen chutou os cobertores, curioso, mas permaneceu na cama.

"Eu também não sou o Diabo", ele sorriu de um jeito que pareceu bastante diabólico, revelando incisivos afiados.

As palavras surgiam na cabeça de Soen sem que aquela coisa sequer abrisse os lábios. Como se ele pudesse derramar seus pensamentos na mente dos humanos e então puxar as respostas de volta.

Mas Soen devolveu o sorriso torto. Ele sabia quem era aquele, e realmente não tinha nada a ver com o Diabo.

— Então você é o gato que vem me atormentando ultimamente, Yen.

Yenned pareceu se livrar de uma tensão que antes não era possível notar em seus músculos, provavelmente por ter sido reconhecido ou talvez pelo fato de Soen não ter gritado e chamado os guardas.

— Bem — disse ele, finalmente falando com a boca. — É surpreendente que tenha me reconhecido tão facilmente. Mas sim, primo, venho buscar por sua ajuda.

Soen gargalhou em alto e bom som.

— E o que te faz pensar que eu estou disposto a ajudar? Só pela sua aparência, você já seria torturado por dias, esquartejado e depois queimado em praça pública. Ainda mais se soubessem que você pode se transformar completamente em um gato. Seus restos carbonizados seriam despejados em uma caixa de acácia com uma cruz entalhada em cada extremidade, e então trancados em um cofre para nunca mais serem vistos. E eu não estou afim de morrer de qualquer coisa que não seja digna de um rei.

— Além de me reconhecer, descobriu tão facilmente sobre eu me transformar em um gato? Vejo que você continua muito bom nesse jogo, pois fui muito cuidadoso — Yenned sorriu. — Mas, de qualquer forma, você vai ter que me ajudar. Existem mais chances de ser queimado em praça pública se não o fizer.

— Você é péssimo em ser discreto, primo Yen — Soen comentou brevemente. — Mas diga, estou curioso. Por que eu seria queimado?

Yenned se ajeitou em cima da escrivaninha.

— Vou começar do começo, lhe contando o que está acontecendo aqui em Etheia.

— Eu não estou nem um pouco interessado em saber o que ocorre no reino de meu estimado pai, primo Yen — ele se espreguiçou entre os travesseiros. — Por que você está com essa cara horrível?

Verdade seja dita, Soen não tinha interesse sobre aquilo também. Mas talvez fosse hora de colocar suas peças em jogo, afinal. E se algo havia feito aquilo com o príncipe Yenned Vineyard, bem, poderia acontecer com o herdeiro do trono também.

Além disso, seu primo de primeiro grau era um cavaleiro hábil, que liderava vitórias grandiosas em pequenas batalhas e destroçava os inimigos com sua espada. Era, indiscutivelmente, alguém de confiança do rei Othail.

Yen era perspicaz, honesto e confiável, o que atraía aliados ao seu redor. Isso seria um problema, se ele resolvesse se interpor entre Soen e o trono.

A não ser, é claro, que Soen o transformasse em uma de suas peças no tabuleiro.

Yenned era o décimo primeiro na linha de sucessão ao trono, enquanto Soen era o primeiro, pois seu irmão mais velho falecera em um acidente muitos anos atrás. Ainda assim, ele sempre achou que Yen poderia eliminar todos e tomar o trono para si quando quisesse.

Ele tinha 22 anos e sua estatura física superava em muito a de Soen, que já completara 18 anos, embora sua altura e porte físico costumassem ser invejáveis. Esse era um dos vários motivos pelos quais o herdeiro do trono não gostava de Yenned: seu primo poderia cortá-lo ao meio facilmente e sabia disso, mesmo com todo o treino diário de Soen com a espada desde os seis anos de idade.

Se tivesse que matar Yen sozinho, Soen teria problemas. Era melhor mantê-lo ao seu lado por enquanto. Ainda mais se ele lhe devesse um favor tão grande quanto sua vida.

"Céus! É esse o tipo de coisa perturbada que você pensa o tempo todo?", Yenned balançou negativamente a cabeça meio humana e meio felina.

— Inferno. Pare de me interromper enquanto penso.

— Você deveria me dizer para não ler seus pensamentos. Seria mais conveniente não deixar que eu soubesse sobre suas intenções de me matar — ele respondeu em voz alta.

Soen descartou aquelas palavras com um aceno de mão. Ele sabia melhor do que ninguém que aquilo era irrelevante. Yenned era o tipo de pessoa que podia dizer o que você estava pensando apenas com um olhar. Ele sempre soube o que passava pela cabeça de todos, mas ao mesmo tempo era uma pessoa imprevisível e difícil de ler, o que o tornava um pé no saco o tempo todo.

— Como você consegue entrar na minha cabeça? — Soen indagou. — Já não basta sua aparência bizarra; você também gosta de usar bruxaria para invadir a privacidade alheia?

— Eu vim até você justamente por causa disso, caso não tenha notado — Yen soou mais rude do que geralmente se permitia. — É magia sim, mas não é intencional. Pelo que eu descobri, alguém da Única Fé está usando esse tipo de maldição. Eu deduzi que fosse com o objetivo de se apossar do trono de Etheia, o que significa que em breve nossos tios, primos e até você estarão amaldiçoados como eu.

Yenned pulou da escrivaninha, encarando Soen de perto enquanto prosseguia.

— E como você é o mais próximo da linhagem de sucessão, eu vigiei as redondezas para buscar qualquer movimentação suspeita. Já que não notei nada até agora, eu decidi falar com você, porque é possível que tentem te eliminar de maneira convencional, se é que você me entende. Acredito, sendo sincero, que esta maldição deveria ter caído sobre você, Soen, considerando a minha distância e a sua proximidade com o direito ao trono. Mas aparentemente alguma coisa lhe protegeu, e a maldição procurou o príncipe azarado mais próximo do palácio e de você, já que uma vez lançada, ela precisava atingir alguém.

— Hum — Soen emitiu um bocejo longo. — Então já vieram direto para o sucessor do trono.

— Exatamente. Uma bruxa na Cidade Baixa me ajudou a tirar tais conclusões e algumas outras.

— Isso explica o decreto de ontem, sobre os gatos. Não seria cômico se o estimado príncipe Yenned morresse para um camponês com um forcado por causa dessa ordem de eliminação geral dos gatos em todo o continente e que, originalmente, tinha como alvo o herdeiro desse chiqueiro abençoado? — ele pensou em voz alta. — Tem alguma ideia de quem fez isso? Vou cortar-lhe a cabeça agora mesmo.

— Soen, a bruxa na Cidade Baixa me disse que se o objetivo da maldição era te atingir, ela provavelmente não o afetou porque já deve haver algum feitiço muito pior em você.

Soen resistiu à vontade de revirar os olhos para seu primo. — Responda logo o que perguntei.

E, pela primeira vez na vida, ele conseguiu ver claramente o que Yen estava pensando.

Soen curvou os lábios em um sorriso amargo. — Então o rei Othail decidiu se livrar de mim por baixo dos panos usando bruxaria. Que vergonhoso.

Yenned não disse nada.

— Não julgo meu pai por me querer morto, mas é burrice matar o único herdeiro legítimo do trono — ele prosseguiu. — Quem sabe que tipo de escória apareceria para reivindicar tal posição caso algo repentinamente acontecesse com o rei.

— Você não será mais o único — Yen disse lentamente. — Em breve, seu pai irá se casar novamente. Será com a filha mais velha da casa Harshel, pelo que eu soube. Uma nova rainha...

— E um novo herdeiro — Soen completou.

— Suponho que você deveria estar morto até lá.

Soen deixou que uma gargalhada curta escapasse pela garganta. — Vou matar ele antes, primo.

Não seria difícil para ele, emocionalmente falando, se livrar de seu próprio pai. Os dois sempre se odiaram até os ossos, e o passatempo favorito do rei era tentar se livrar de Soen incriminando-o por mortes alheias.

Ele estava correto até certo ponto. Seu filho incendiou muitos servos e até mesmo aristocratas menos importantes por diversão. Mas Soen não se considerava responsável pela morte de sua mãe, que perdeu a vida durante o parto.

Ele também não se culpava pela morte de todas as esposas seguintes do rei, que sempre acabavam adoecendo e muitos diziam ser culpa do príncipe herdeiro.

O rei de Etheia também culparia Soen por sua própria morte, no fim das contas, e ele pretendia se certificar de que fosse, de fato, sua responsabilidade.

— O que você está planejando fazer? — Yenned perguntou, mesmo já sabendo a resposta através dos pensamentos de Soen.

— Eu vou visitar uma bruxa — ele sorriu sem mostrar os dentes.

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