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-- Capítulo 4: Pilhagem --

Na calmaria, o à volta seguia preguiçoso, pois tudo era branco. Os horizontes eram brancos. As pontas do para-sol balançavam com a brisa, objeto responsável por sombrear a pequena área de lazer; abaixo havia uma mesa redonda e duas cadeiras feitas do mesmo material claro.

— Cansado? — perguntou o homem ao lado da mesa, pondo um bule por lá. — Que tal um pouco de café?

Sentado à frente estava Karlos, cabisbaixo. Seu sangue deslizava pela cadeira e alcançava o piso branco, formando uma poça. A condição de destroçado do manto negro e os ferimentos por seu corpo eram os mesmos do último combate.

O bule soltava pequenas nuvens de vapor da ponta.

— Imagino que isso doa. — O desconhecido segurava a xícara e via o reflexo obscuro da sua máscara no líquido. Suas roupas eram de um chapéu, terno, calças e sapatos sociais, novamente, todos brancos. Ele dobrou as pernas e disse: — Esforçado como sempre, seu ímpeto grita radiante. Bem, não que isso importe em frente ao fim.

No chão liso, o rapaz via seu reflexo como se fosse em um espelho.

— Mas cara, esse lugar continua sem graça. — Ao empurrar a ponta baixa da máscara e a afastar, tomou um gole do café. — Ora! O gosto não é ruim.

— Eu morri?... — Karlos pegou em sua barriga e, ao levantar a mão, viu que a palma estava manchada por um rubro intenso.

— Hm... Suas palavras saíram sem abalo, imagino que seja um sinal de que todos os seus órgãos estão funcionando perfeitamente, não concorda?

— Mas tanto sangue...

O homem colocou a xícara na mesa, saiu da postura relaxada em que mantinha as pernas para inclinar-se e sustentar o queixo com as mãos entrelaçadas. Dos buracos torcidos dos seus olhos saiam pequenas chamas azuis que iam na direção da brisa.

— Então sangrar é um problema?

Karlos não respondeu, anestesiado com essa situação.

— Infelizmente me falta conhecimento em medicina, sou incapaz de julgar sua situação e estabelecer uma resposta que o esclareça sobre seu caso. Oh! não! Sou um inútil! — fingiu angústia ao erguer as palmas abertas, logo voltando ao normal: — Então, nesse caso, por que deixar de ir perguntar aos seus companheiros?

Ao ouvir essas palavras, o rapaz teve uma injeção de ânimo que deu novas cores a sua expressão vazia. Ele levantou o rosto e, com os olhos tremendo em atordoamento, encarou o desconhecido.

— Consegue ouvir os gritos, não é? — O tom do homem pesou mais.

Karlos levantou-se da cadeira. As roupas e feridas haviam se recuperado assim como seu semblante. O chão da sala estava seco — um espelho acinzentado que seguia imaculado.

— Uma pena que esse seja o fim do cafezinho. — O espadachim desfazia-se em sua frente como uma miragem carregada pela brisa. — Até mais, rapaz.

O rapaz tentou estender a mão em um último gesto, mas foi quando sumiu.

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Seus olhos abriram em meio a uma tempestade de estouros amarelos enquanto ouvia frases do tipo: "Continuem! Não deixem a chama apagar!", "Ataquem como se ele fosse um desgraçado que chutou suas mães!" ou "Maldito! Toma isso, isso e isso!".

Karlos, nesse momento, era impiedosamente apedrejado pelo seu grupo. Os chamar de companheiros nesse ponto era inadequado, pois pareciam muito empolgados em lançar pedra por pedra e, quando acabava o estoque nas mãos, abaixavam e pegavam mais do monte.

— O-o quê?! — O rapaz começou a se debater no chão em protesto a dor, fazendo poses desconcertantes em uma tentativa de defesa.

— Ele acordou!! — comemorou André, o primeiro a parar de atacar por perceber a situação. Mas foi rápido para o sorriso do seu rosto sumir, percebendo que os homens continuavam a atacar animados. — Ei! Ele já voltou! Se controlem!

Alguns param, outros não. Os que continuavam esboçavam um grande sorriso hostil ou um mau olhado que desvalorizava o alvo, semelhantes sobre as veias inchadas pelo rosto.

— Finalmente a chance de dar uma lição nesse pivete! — disse Gregório.

— Quem é o fracote agora?! — disse Alexandro.

Bastard! Eu te dei aquela bomba de fumaça para garantir sua fuga, como ousa macular o meu plano perfeito?! — disse Armstrong.

— Pessoal...! — André estava com uma cara de choro por saber que não poderia conter os três, eram complicados demais para isso.

Para seu alívio, o barulho estridente do disparo de arma os fez parar. Eles se viraram desconcertados, então se deram conta do Dante com a pistola para o alto e, claro, do buraco chamuscado no teto.

— É o suficiente — falou o policial. — Desperdiçar muitas pedras de cura é algo que iria tirar meu sono de noite. Se ele já acordou revigorado, é o bastante; mais do que o necessário causaria uma overdose.

— E o que há de mal com isso? Tch! — Gregório e os outros se afastaram, sendo ele o único descontente.

Karlos se jogou à frente e ficou de frente para o solo. Desorientado, estava repleto da energia dos cristais que se espalharam por sua pele como várias linhas amarelas, essas que eram consumidas por suas chamas verdes. Ele tossiu um pouco; a cor havia voltado a sua pele, enfim longe da palidez mórbida.

Ao levantar o rosto, o espadachim viu a mão estendida do Dante e parte dos companheiros à volta o olhando com sorrisos animados. Quando aceitou a ajuda e foi erguido, olhou com estranheza para a situação e comentou:

— Nem eu esperava escapar dessa... Ou talvez isso seja um delírio.

— Bem-vindo de volta, garoto! — anunciou Silva para ele, dando um tapa forte em suas costas.

O grupo se amontoava sob o rapaz e comemorava. Dante assistia, satisfeito.

No dia seguinte — quando o brilho voltou a transbordar das janelas — todos se dividiram pela torre. Armados e em mini grupos, começaram de verdade a varredura por ela.

Caixas e armas eram levadas e empilhadas no maior salão. Dessa vez não aconteceram encontros com soldados residuais e, pela quantidade pequena de pessoas, levaram-se horas para a maioria dos andares ser verificado.

Dante e Karlos caminhavam por um corredor.

— Você realmente se tornou um monstro — falou o policial. — Precisando de tantas pedras para ser curado... Isso é proporcional ao quando suas chamas se fortaleceram.

— Creio que a maioria foi usada em vão naquele apedramento.

— Hahaha!

— Enfim... ouvi a história. Valeu por fazer os outros me ajudarem.

— Era o natural, vou me sentir mal se for elogiado toda vez que fizer algo ético.

— Entendo. Mesmo assim... — O rapaz tocou seu próprio rosto impassível, a frieza estava preenchida nos olhos, mas ao contrário do que demonstrava, disse: — Estou aliviado por ainda estar vivo. Que irônico.

Pelo restante do caminho, Dante prosseguiu em silêncio.

Ao abrirem a porta de uma sala, a dupla primeiro bisbilhotou se havia inimigos e, com conclusão de que não, entraram.

— Demos sorte, é um dos depósitos — disse Dante, se aproximando da primeira fileira de caixas. No fundo, viu alguns estandartes de armas e partes de armaduras. — Para aquela quantidade de soldados sumir sem receio, deviam estar mesmo desmoralizados com a morte do nobre.

— Preocupado? — Karlos usou sua katana para marcar um "x" na porta de madeira, em seguida adentrou para pegar uma das caixas maiores.

— Naturalmente. Nunca deixamos tantos escaparem, certamente vamos pagar por isso mais tarde.

— Talvez.

De volta ao corredor, ambos levavam as primeiras caixas.

— Já acharam alguma relíquia? — perguntou o rapaz.

— Não, mas quem sabe nos andares mais embaixo. Também não encontramos nenhuma bomba. Teremos que formular a próxima invasão sem elas.

— E o mais importante?

— Essa é a parte boa, haha! Nunca encontramos antes tanta comida, água, armas, armaduras e pedras de cura. Escolher essa torre provou ser algo certo, vamos poder ficar um bom tempo aqui.

— Ótimo. Só temos que nos apressar em chamar o pessoal de fora e montar as defesas contra invasões.

— Já mandei uma divisão para buscá-los.

— O quê?! Por que não me mandou junto para escoltá-los?

— Você sabe o porquê. Enquanto ainda tem tempo, apenas ajude com o transporte. Se alguma coisa acontecer o responsável pela vigia vai avisar.

— Entendo... Certo.

Era em um salão espaçoso que a pilhagem ia sendo despejada. Mesmo que o lugar tivesse o dobro do tamanho do lugar em que o teto desabou, mal foi necessário algumas horas para que boa parte do seu espaço fosse usado. Barris, caixas e armas eram organizados pelos lados, empoeirando o tapete amarrotado que cobria todo o piso.

— Sr. Dante! — chamou André ao vê-lo, o responsável por anotar e comandar a organização dos itens pelo local. — É impressionante!

— O que foi? — O policial colocou a sua caixa em um canto apropriado.

— Só agora já juntamos 248 espadas e 113 machados!

— Fiquei sabendo que seriam bons números, mas sem lanças? Isso é uma pena.

— Realmente, estão em falta.

— Alguma peculiaridade nos equipamentos?

— Nenhuma. O Silva e Alexandro disseram que o formato delas é simples, não deve demorar para nos acostumar.

— Certo. Obrigado por tomar conta da contagem, André, depois conversaremos sobre o ouro. E Fique de olho para que os mais feridos e as mulheres não se esforcem demais.

— Claro! Irei ficar de o...! Ei! Karlos! Sem exagerar!

O espadachim ficou desanimado após levar para o lado uma caixa maior que seu corpo. André continuou:

— Depois vai reclamar por desmaiar em algum lugar que ninguém te achou!

— Eu não faria isso... Desde quando se tornou uma mãe? — retrucou o espadachim.

— Ora seu...! — Ele avançou e pulou sobre Karlos, torturando-o com um mata-leão.

Ao se dar conta da situação, Kaira correu para tentar separar os dois, mas André continuava furioso mesmo que o espadachim pedisse clemência. Os outros no lugar não conseguiram deixar de rir com a dupla.

Dante expôs um sorriso modesto e, aproveitando a situação, abandonou o salão. Karlos por notou essa saída.

Do lado de fora, por uma janela baixa, o policial olhava a paisagem enquanto o vento batia sobre sua face.

— Muito preocupado, então? — disse Karlos, aproximando-se em passos curtos.

Só depois de alguns segundos de silêncio a resposta veio:

— Algo assim.

O rapaz também olhou pela janela, seu semblante ficou sério ao ficar diante daquela vista, intimidado. As nuvens amareladas circulavam como vermes, o chão desértico tinha a areia castigada pelos fortes ventos e, ao longe — enquanto refletia o sol nos muros dourados — estava uma grande torre.

— Esses dois anos passaram voando... O inevitável dia de enfrentarmos o rei se aproxima. — Cansado do vento batendo em seu rosto, Dante se virou e apoiou as costas no muro.

— Será como sempre. Quando esse dia chegar, cumprirei meu dever. — Karlos via o afora com a mesma seriedade.

— Por quê?

— Porque sou a vanguarda, porque sou a espada da humanidade.

— Sabia que diria isso. — Apoiou a nuca na parede e olhou para o alto. — Ter que comandar até garotos e mulheres em um cenário de guerra... aqui realmente deve ser o inferno.

— Dante, os levarei a vitória a qualquer custo. — O rapaz sacou sua katana e, sem hostilidade, a apontou para Dante. — Então me use com sabedoria, confio em você.

— Claro, darei meu melhor. Agora guarda isso antes que alguém entenda errado e diga que você é o assassino entre nós.

— Tch! Nem comente desse bastardo. — Ele embainhou rapidamente a espada. — Se eu achar o desgraçado, parto o pescoço dele.

— Eu também... Mudando de assunto, Karlos. Você não está muito despreocupado?

— Como assim?

— Agora pouco fui avisado que o restante das pessoas chegaram.

— O quê?! Então...?!

— Sim, nossa retaguarda chegou junto, tenho até que falar com o Ritsu. Sua garota deve tá te procurando.

— Fala sério, não... não estou preparado.

Já desconcertado, Karlos foi marretado pelo grito seguinte:

— Onde você tá?!! — O barulho da corrida dela também chegou aos seus ouvidos.

— Droga!

O espadachim ia correr, porém em poucos passos desmaiou subitamente, surpreendendo o policial.

— Ei! — Ao se dar conta da situação, desistiu da ideia de ajudar e coçou a cabeça. — Que momento conveniente para o efeito retardado da cura, hahaha!

Ele se aproximou e começou a carregá-lo com o apoio do ombro.

"Descanse bem, garoto. Vejo você daqui uns dias", pensou.

O olhar do rapaz fechou-se com a visão de uma silhueta feminina aproximando-se rapidamente à frente.

Tudo escuro.

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Tudo claro.

De volta ao mundo branco, Karlos ficou surpreso. Sentado na cadeira adiante — servido com seu café — estava o homem mascarado.

— Voltou rápido, hein? — disse ele ao pôr a xícara na mesa. — Fico feliz com tantas visitas, mas tá na sua cara a ansiedade em voltar.

Sua risada soou.

— Bem, vai demorar, então que tal um café? Tenha paciência; depois, só depois, você poderá ir atacar as torres.

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