-- Capítulo 4: Eficiência contra o Desastre --
O vácuo é tingido de vermelho.
Sangue parte devagar para o alto, formando laços gasosos, encobrindo o rosto do rapaz, que foi exposto ao espaço. A lanterna está próxima, flutuando em meio ao rubro enquanto ainda funciona, clareando parcialmente a situação embaixo.
— Koll?! — grita Dorter na sala de controle. — Está me ouvindo?! Ei!!
Nenhuma resposta é dada, causando-lhe pavor. Ele se levanta apressado da cadeira, indo no rumo da porta. Sua intenção é óbvia, a de ir para fora em busca do companheiro.
— Não ouse vir até aqui. — A voz do Koll soa, surpreendendo o homem ao ponto de fazê-lo congelar. O tom está diferente de antes, como se houvesse uma turbulência constante afetando-a. — A situação está sob controle.
Dorter corre e senta novamente à frente da esfera principal.
— O que aconteceu?!
Do lado de fora, a partir do solo rochoso, se estende um fio, não, muitos fios bem firmados, que brilham levemente em uma cor verde, não cedendo de forma alguma do solo mesmo com toda a força em que são puxados. Koll salta para trás, tomando um pouco de distância do braço do monstro que destruiu o elmo. Uma Aura verde o cobre, destacando a silhueta de seu corpo naquela realidade de trevas. Ele levanta um dos punhos cerrados para próximo do ombro e o demais para longe do corpo, sendo das pontas dos dedos de onde saem os fios.
O monstro está preso em uma postura de pós-golpe, suas articulações estão restringidas pelos fios, nos quais aplica constante esforço para se libertar, porém, o maior resultado que consegue é tremer sua pose. São dez as pontas presas no fundo do solo funcionando como suporte para a força do Koll manter o aperto dos fios sobre a criatura.
— Ele avançou do nada contra mim e conseguiu destruir o elmo.
— Hã? O elmo?! Não está tendo nenhum problema com a respiração?!
— Eu te disse que não há nada da qual minha Aura não possa me proteger.
— E-entendo... Que bom que você está bem, e pela forma em que está falando, "pegou" ele, não é?
— Naturalmente. Mas eu não esperava que ele seria tão rápido, acabei levando um corte no lado do rosto, o que não explica todo esse vermelho jorrando da armadura.
— Isso é uma substância especial que aumenta a resistência do equipamento. Note que ele tem uma cor mais clara que sangue.
A expressão do Koll fica mais séria ao ouvir essa resposta.
— Está insinuando que se não fosse por isso eu teria...?
— Provavelmente... — Ele expira forte. — Fique atento, esse não é um inimigo qualquer. Não vou mais surtar aqui, peço desculpas pela minha falta de controle.
— A Arca comentou algo sobre ele?
— Ela o marcou como um ponto de alta emissão de energia.
— Isso significa...
— Sim, traga-o!
Koll puxa mais seus braços, exercendo uma força maior sobre os fios, firmando os membros do monstro ao corpo, espremendo-o.
— Seu comunicador foi danificado?
— Creio que não. Quando falei mais cedo, não consegui ouvir minha voz, então embuti Aura no som.
— Ah! Isso explica essas alterações constantes na sua frequência. Nem fico impressionado, estou me "reacostumando" com você. Enfim, qual será seu plano de abate?
— "Abate"? Portanto, posso matar?
— Não quero que passe por riscos desnecessários, fica para sua decisão. E então? O que vai ser?
— Nada complicado. Vou esmagá-lo! — Seus músculos enrijecem, ele força mais ainda os fios, rachando algumas partes da carcaça da criatura. O chão sob os pés do rapaz quebra. "Ainda não é o suficiente para acabar com isso de uma vez. Em questão de força física do grupo, eu estou em segundo. Mesmo assim, ele está resistindo bem."
Um coração deformado, com conexões confusas cobrindo-o, começa a bater mais forte, brilhando em intenso amarelo a cada pulsação. O besouro é coberto por uma poderosa carga de energia, iluminando o local enquanto espalha estática pelo vácuo, vibrando a realidade com o poder.
Rochas quebram, as pontas dos fios saem do chão quase que juntas, anunciando a liberdade do monstro. No toque de uma das pernas no chão, a imagem do besouro se desfaz pela velocidade absurda em que avança, surgindo na frente do Koll com suas asas reluzentes abertas, lançando de imediato um golpe com seu braço que viaja pelo ar como um chicote, visando a cabeça exposta da presa; um sapato desliza pelas pedras, mudando suavemente a posição do corpo junto, fazendo o golpe do monstro encontrar apenas o nada.
"Isso não é Aura", considera Koll ao observar o ataque passando perto da sua face, vendo um rastro amarelo ser deixado pelo trajeto.
Notando o erro, a criatura gira o corpo para disparar outro golpe, que é mais uma vez evitado após um simples passo do rapaz. O besouro acelera, balançando com mais força nas ofensivas seguintes, pressionando a presa, que tem que dar passos e inclinadas maiores com o tronco para conseguir esquivar dos ataques em sequência, sumindo e reaparecendo constantemente pelas mudanças súbitas.
Koll acerta um soco no lado do corpo do monstro, estourando uma energia verde no impacto enquanto afunda seu punho por lá.
"Rígido."
A criatura ignora a pancada, prosseguindo em atacar a presa com todas suas forças, indo de um lado para outro na perseguição, deixando grandes marcas que engolem as partículas verdes.
O rapaz levanta o pescoço, virando-se para o lado, abaixando, inclinando-se para trás e frente... Sempre evitando o contato por milímetros. O notável nas esquivas é que sua imagem sempre surge com as mãos em posições estranhas, em alguns momentos mantendo os dedos abertos e em outros mantendo os punhos cerrados.
Após vários desvios ele encaixa um soco no que corresponde ao plexo solar do monstro, voltando a atacar depois de mais esquivas, sucedendo de mirar sempre por partes distintas do tronco inimigo.
"Talvez aqui", diz para si mesmo ao atingir a barriga do besouro, evitando em seguida outro balanço. Seus ataques causaram um efeito irrelevante sobre a criatura, deixando marcas pelas áreas acertadas. "Também não é lá... Mas já deu, estou ficando sem paciência."
Koll para de se mover, aceitando o destino de ter a cabeça arrancada pela pata do monstro; ou não, um fio fincado no chão atinge o limite da distância em que pode ser puxado, travando o braço da criatura; o besouro tenta atacar com os demais braços, que também estão sobre a mesma prisão, parando no meio do caminho. Comparando há mais cedo, a criatura está muito mais enrolada pelos fios.
"Você é pelo menos duas vezes mais rápido do que eu, mas sabe o porquê de ainda sim não conseguir me acertar nenhuma vez?" O rapaz abre a postura, arqueando o braço, usando-o para socar o monstro. "A diferença do nosso jogo de pernas é o como o da terra para o céu."
Ele bate de novo, envergando a criatura pelo lado.
"E ainda se jogou de bom grado nos meus fios, me deixando amarrá-los à vontade por seu corpo." Koll o acerta mais uma vez. "Tch! É um maldito idiota?!"
Depois de mais socos inefetivos, ele percebe o que procura ao acertar onde equivale às costelas da esquerda.
"Aqui."
O besouro esboça uma reação descontrolada devido ao estresse de ser contido, liberando bastante energia do corpo, estremecendo a forma do local, fazendo o rapaz recuar com um salto. As pontas de alguns fios saem das rochas, a criatura investe no rumo dele com os olhos cintilando.
Faíscas verdes são liberadas no começo do desembainhar de uma espada, sendo geradas em maior número no retirar restante da arma. Koll se cobre mais densamente com a Aura, que não se movimenta de forma agressiva como a energia latente do besouro, pelo contrário, é calma, como vento.
O rapaz fica com a espada virada na altura da cabeça, penetrando a criatura, sendo pelo lugar em que confirmou algo, perfurando por lá o coração do besouro, causando um estouro de luz.
Apesar do dano, a criatura segue balançando os braços em conjunto, parados subitamente ao se distanciarem, contidos pelos fios, que se entrelaçam mais por todos os membros, não permitindo que o usuário seja tocado independente do quanto o besouro lute. A intensidade da energia que o cobre diminui bastante, falhando às vezes até chegar em um nível não tão hostil.
— Não pensei que fosse achar um coração em algo semelhante a um inseto. Bem, que seja...
Koll gira o corpo, impulsionando um chute, acertando a cabeça do besouro, lançando-o sobre o solo, o que destrói as rochas do lugar, levantando a maioria para o vácuo enquanto ofuscadas por um brilho verde da Aura.
— Está me ouvindo?! — indaga Dorter.
— Estou, porém, antes estava focado. Se disse algo nesse tempo, eu não ouvi.
— Tudo bem, queria só checar seu estado. Como está indo aí?
— Hã? Não é óbvio? — Ele pisa sobre a cabeça da criatura e remexe o sapato por lá em um sinal de desdém, estando atualmente de pé acima do cadáver com uma das manoplas puxando os fios, aumentando o aperto sobre tal. — O alvo foi capturado.
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— Ele pesa muito? — pergunta Dorter. Ele está mais tranquilo, tomando a água de outra jarra já que a anterior caiu.
— Não pesa mais que o Rainter.
— Ha ha ha! Esse seria um feito difícil até para um monstro conseguir. Ah! É mesmo! Como está sua respiração? Afinal faz um tempo que você não tem acesso ao ar.
— A Aura está servindo como um bom substituto, não é como se fosse a primeira vez que tenho que depender dela para isso. Devo aguentar uns dois dias nesse estado.
— Essa é uma estimativa bem corajosa... — Em estranheza ele sobe a sobrancelha e desce a outra.
— Oh! Está quase na hora.
— Do quê?
— Pelos meus cálculos, está quase na hora de sermos expostos à luz de um dos sóis, fechando assim o ciclo de um dia desse lugar girando sobre si.
— Entendo.
— Como não há lua, estive pensando se deveria separar ou não um horário como noite e...
Algum tempo se passa, como no previsto, uma forte luz solar adentra naquele orifício do asteroide, limpando-o de toda a escuridão massiva, acobertando-o no seu resplendor. A Arca está em uma posição consideravelmente funda, ainda sim a luz consegue alcançá-la junto dos arredores, dando as rochas e a ela um aspecto dourado ofuscante, um mundo de luz, divino.
Não tão distante da Arca está Koll, carregando o corpo em um dos ombros, também sendo encoberto por todo aquele clarão.
— Que paisagem nojenta.
— Seu... Como pode dizer isso? Tenho certeza que alguns matariam para poder ter essa vista.
— Muita luminosidade me irrita.
— Ficou ao menos surpreso?
— Com um idiota igual você fazendo cálculos? Bastante. Cem anos fazem milagres. Pode se gabar de ter me feito assumir isso pelo restante da sua vida.
— Eu estava falando da paisagem, seu desgraçado!
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