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-- Capítulo 10: O Vazio da Casca --

Koll, Rainter e Lorena estão de frente para a saída da Arca, iluminados pelo vermelho emitido dos circuitos de mana, em um sinal de alerta pela futura exposição ao vácuo. Suas armaduras possuem aspectos diferentes, como a adaptação de proporções para encaixarem bem nos seus corpos distintos, mas não há só essa diferença natural, assim como apenas a do Koll tem manoplas negras, as demais possuem partes especialmente delas: a do robusto possui braços com o triplo de circuitos de mana espalhados, chegando a transparecer alguns pelas brechas das elevações dessas partes; na cintura da Lorena há compartimentos metálicos grandes, caixas que servem como bolsos, posicionados de forma que não atrapalham a movimentação.

— Que desconfortável... — comenta Rainter, o som soa pelo comunicador dos outros. Os dois na sala de controle também estão conectados a essa linha. — As armaduras que eu usava antes nem se comparam a ela nesse ponto.

— É apenas falta de costume, — diz Dorter — parte da prioridade na construção delas foi justamente para deixá-las confortáveis, afinal as viagens aqui fora já tinham sido previstas como de longa duração.

— Entendo... Acredito que essa sensação de desconforto está vindo do "cheiro" da mana. — Ele estende o braço direito, olhando a palma da mão virada. Uma imagem que é refletida na viseira. — Essa armadura está cheia da mana do senhor Lustrius, não sei se gosto disso.

— Pelos menos eu me sentiria seguro em saber que estou vestido com uma armadura feita por uma Entidade.

Rainter mexe os dedos, testando a flexibilidade da luva com partes metálicas. A saída do lugar começa a abrir.

— Que estranho... — fala Lorena.

— O que foi? — pergunta o robusto, virando a cabeça na direção dela.

— Conhecendo o Koll, tenho certeza que diria: "quis dizer 'fedor'", quando você falou sobre o cheiro da mana do pai dele.

— Mmm... Isso é verdade.

Koll não esboça reação sobre essa conversa, ficando imóvel enquanto olha para frente.

— É porque ele não está na mesma linha de comunicação que vocês — esclarece Dorter.

— Heh!? — A moça fica surpresa. — Por quê?!

— Como ele vai cobrir uma zona diferente da que vocês vão, pediu para não ficar na mesma linha de comunicação por questão de foco.

— Fala sério! — Um som de choro começa a soar, o que faz os dois na sala de controle se olharem com estranheza.

— Por que está chorando?

— É que eu estava tão animada para sair lá fora com o querido...

— Isso é motivo para ela chorar? — fala Zoque, estando fora do alcance do comunicador, direcionando essas palavras para Dorter.

— Sei lá.

— ...e por ser uma missão, ele não poderia deixar de conversar comigo — finaliza Lorena.

— Agora está explicado. — A dupla na sala de controle mexe a cabeça de baixo para cima, sentindo-se elucidados. — Ela estava esperando a missão por ser o tempo perfeito de assédio.

— Então era isso? Eu vejo.

— Seus desgraçados! Acham que eu sou uma pervertida?!

Eles ficam em silêncio por alguns segundos, falando em uníssono:

— Precisamos mesmo responder?

— Eu vou matar vocês quando essa missão acabar!!

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Do lado de fora, Koll caminha na direção oposta aos dois restantes, acontecendo da Lorena ser puxada para não ir o perturbar.

Uma névoa cobriu o ambiente, limitando o quanto a vista pode se estender, se somando ao escuro natural que já tinha esse papel.

— Esse é o tal sistema de defesa da Arca contra os insetos? — indaga Rainter.

— Sim, — confirma Dorter — foi desenvolvido após a absorção de muitos corpos. Ele está sendo gerado por alguns orbes de energia no alto, está afetando os monstros, mas em compensação confunde a precisão do radar.

— Então vamos ter que circular até encontrar os alvos.

— Isso. Matem todos.

— Entendido.

Algum tempo passa, a dupla continua caminhando, olhando frequentemente pelos lados na procura de qualquer coisa.

— Que silêncio terrível... — Lorena sente as trevas atrás de suas costas formarem mãos e garras que se mexem de um lado para o outro tentando agarrá-la. — É um terror completamente reverso do que uma noite de tempestade passa. É quieto, mas denso, como se fosse nos engolir para um abismo sem volta.

— Também não estou interessado em viver por aqui. — diz Rainter. Eles estão em uma subida, havendo algumas rochas no caminho que o obriga a usar as mãos para retirá-las.

— E pensar que o querido passou muitas horas aqui fora sem qualquer companhia. Você deveria ter me acordado antes, Dorter.

— Bem, não sei se conta — fala o próprio. — Eu conseguia falar com ele pelo comunicador nessas explorações, mas, sempre tive a impressão de que não precisava de nada disso.

— Concordo — diz o robusto. — Desde antigamente ele é auto suficiente.

— Sim, sim... — Lorena anda com os braços alongados por detrás da cabeça, em um ritmo lento questionável em contraste a seriedade da missão. — Ei! Rainter. A luta entre vocês foi equilibrada, para não dizer que você estava com a vantagem. Ficou tão mais forte assim nesses anos?

— Naturalmente eu não fiquei estagnado, mas há algo errado em sua avaliação.

— Eh? Como assim?

— Eu estava lutando contra um Koll fora de forma, um bem estranho.

— Está falando sério?...

— Sim... Vocês me chamam de "o mais forte" com a inclusão de "fisicamente", afinal não podem me chamar disso sem a segunda parte depois "daquele" duelo contra ele. Eu fui destruído naquele dia.

— Onde você quer chegar?

— Ele tem tudo que eu não tenho, características que são minhas fraquezas. Acha mesmo que eu poderia tê-lo alcançado depois de poucos anos? Com todo aquele empenho dele?

— Mesmo que diga isso... Eu não sei.

Os olhos do Rainter fecham por alguns instantes.

— O que eu quero dizer é que o Koll está sem ímpeto. Está vazio.

— Hã!? Como isso seria possível?!

— Não é algo inesperado, Lorena. Se esqueceu do porquê ele luta?

— N-não... Ele luta apenas para-

— Sim... O único propósito de ele ter desenvolvido tanta a sua força...

Fios banhados de Aura cortam o vácuo até se enrolarem pelos pescoços dos besouros, rasgando-os com um apertar súbito. Koll prossegue caminhando, puxando de volta os fios para dentro da manopla, ignorando nisto, os restos mortais espalhados à volta.

— ...foi para matar o pai dele. É um poder construído por um ódio descomunal e sem fim.

— Então...! Ele está agora sem um propósito?!...

— É. Como uma casca inconsequente, vagando na procura da morte.

— Isso é horrível...

— Você já tinha noção disso, não é, Dorter?

— Sim... — No painel mostra que a "Linha 1" está desativada quando ele fala. — Mas não suponho que ele esteja tão ruim por causa disso.

— Argh! Estou preocupada! Não é melhor deixá-lo na Arca e só nós fazermos as missões?

— Não seja idiota, Lorena. Você o conhece bem o suficiente para saber que é impossível para ele aceitar uma coisa dessa. Não precisa se preocupar, passei algumas impressões com aquele combate, será o suficiente.

— Isso não me parece algo sólido...

— Não tem que ser. Lorena, humanos não são frágeis. Quando perdem um propósito, estão abertos para um novo. É por esse processo que ele está passando, e é por isso que não há necessidade de se preocupar. Afinal, se tratando de passar rápido de uma fase ruim, não existe ninguém mais veloz que o Koll. Ele não é chamado de "o caçador mais forte" à toa, e, diferente de mim, não há inclusões após "o mais forte".

Mais tempo se passou. Os dois se deparam com a silhueta de um dos besouros vagando pelo lugar.

— ...Sim, é esse o alvo — diz Dorter. — Acabem com ele.

— Entendido. — Rainter pula para o final dessa descida, se aproximando do monstro. Logo a moça o acompanha, estando um pouco atrás.

Da perspectiva do besouro, tudo à volta está coberto por uma névoa vermelha, independente de qual lado escolha, não há nada como uma saída desse mundo de confusão; entretanto, algo diferente dos arredores é notado por seus olhos: duas silhuetas humanas, tendo formas rubras mais intensas que a da névoa, achegando-se a dele.

O coração da criatura bate forte, uma energia amarela irradia do corpo; as asas abrem. Ao sentirem a vibração no ar, a dupla abre a postura para caso seja necessária uma movimentação ágil. Neste ponto, eles notaram que todos os avisos sobre esses besouros não eram exageros, focando-se por completo na situação.

A passagem da névoa fica densa, o besouro toca a pata no chão, voando como uma bala, estourando uma rocha com a colisão descontrolada do seu corpo. Ele foi no rumo errado, os dois aos quais devia ter atacado estavam na direção lateral a escolhida, por culpa de uma falta momentânea de nitidez no sentido que o conecta ao mundo. A névoa está no auge do efeito.

Rainter e Lorena estão pasmos, congelados de surpresa pela velocidade demonstrada do inimigo, voltando a realidade com um movimento brusco dele que os imergem em alerta. A criatura levanta, se energizando novamente para outra investida. O inseto se dispara, chocando de frente contra uma pedra no caminho, uma que não quebra com o choque; o robusto é quem segura a rocha à frente do monstro, fortalecendo-a com sua Aura azul, firmado com as pernas, resistindo ao empurrão.

Lorena avança pelo lado, quase toda inclinada na direção do chão, empunhando uma espada curta com a mão virada. Ela se lança sobre o alvo através de um salto, perfurando a brecha no pescoço dele com a arma, se afastando em sequência com outro pulo, deixando o inimigo se debatendo sem tê-la no alcance.

Aproveitando que o besouro está parcialmente preso na rocha, Rainter a empurra para prensá-lo sobre o chão, usando o próprio corpo por cima como um lacre. Depois de algum tempo, um líquido amarelo se espalha pelas bordas da pedra, indicando o fim do confronto.

— Estão ouvindo?! — pergunta Dorter.

— Claramente, — responde o robusto — a caça acabou.

— Ótimo. Os dois estão bem?

— Sim, nenhum ferimento.

— Isso me deixa aliviado. O que acharam desse inimigo? Terão que enfrentar bem mais deles daqui pra frente.

— Bem... — Ele suspira. — Estou aliviado por essa névoa existir, não teríamos saído ilesos de não fosse por ela.

— E pensar que o querido estava caçando essas coisas sozinho — comenta Lorena. — Aquela velocidade não foi brincadeira, a falta de Aura nele também dificultou uma previsão na movimentação ou de simplesmente sentir sua existência... Terrível! Que criatura terrível.

— Concordo. — Dorter coça a bochecha com o indicador. — Fui outro que tomei um susto mesmo sendo pela visão de um golem, o caso do Koll provavelmente foi o pior. Mas depois de tantas caças ele já consegue lidar com um grupo de cinco sem qualquer problema, então acredito que seja uma questão de vocês também se acostumarem pela experiência.

— Só espero não morrer nesse processo. — Rainter começa a caminhar, se direcionando para onde notou o aspecto de uma silhueta passando.

— Vocês dominaram as botas de gravidade com menos tempo que o Koll, potencial não deve faltar. Só que tudo bem se não quiserem participar dessas missões, ninguém irá perturbá-los por não quererem arriscar a vida.

— Não diga nada desnecessário, Dorter — adverte Lorena. — Esse tipo de situação não é diferente daquele tempo em que acompanhávamos o Koll pela floresta. Não tínhamos noção se teríamos um amanhã tentando acompanhar o ritmo louco dele naquelas caçadas. Eram absurdos os inimigos e o ambiente que ele nos colocava para enfrentar...

A dupla caminha no rumo do próximo alvo. Rainter saca os dois machados de cabos curtos que estão em suas costas, refletindo no metal o brilho da lanterna. Lorena pega nos compartimentos da cintura algumas lâminas de tipos diferentes, como agulhas e facas, mantendo-as por entre os dedos.

— ...Vai ser a mesma coisa. Não... aqui pode ser até mais fácil. Em todo caso, o objetivo ainda é o mesmo. Matar tudo o que se move.

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