-- Capítulo 6: Cobaias --
O cientista chega na sala de palestras, todos os indivíduos ali o encaram com uma expressão séria, entretanto, isso só dura um curto tempo. O homem carismático tropeça em uma inclinação do palco, na queda ele se choca de forma patética contra o solo. Todos os contratos que ele carregava se espalharam pelo lugar. Entretanto, ninguém ali riu de seu possível chefe, eles sabem bem que não podem fazer isso. Apesar de sua aparência ter ficado bagunçada, Paliste se levanta como se nada tivesse acontecido, com um sorriso ele pede os papéis para o guarda que os tinha reunidos rapidamente.
O próximo escolhido é chamado. Ele não é o nomeado como "Sayru". Com essa outra pessoa, o cientista sai do lugar.
— Não estou sentindo uma boa sensação. — fala Tobias.
— Deve ser sua barriga de novo. — responde Rogerinho.
— Pare de brincadeira, não é isso que eu quero dizer… O primeiro não voltou para essa sala depois do teste, o que pode significar duas coisas: Ele foi reprovado e foi embora, ou, ele foi aprovado e assim só sobra apenas 4 vagas agora. Sem o retorno dele, a gente não tem mais nenhuma estimativa do que é esse teste.
Nesse momento o ruivo, Sayru, chama a atenção deles e começa a comunicar algo com seus sinais.
— Hm… Você realmente sentiu isso? — indaga Tobias. Rogerinho fica perdido naquela conversa, pois ele não entende essa língua de sinais. — Entendo… Irmão, o Sayru disse que sentiu uma certa estática no cientista louco.
— Então isso quer dizer… — a expressão de Rogerinho indica seu entendimento sobre algo.
— Sim. É bem provável que o teste seja relacionado a IN ou EXT.
Após a conversa, o três começam a refletir sobre as possibilidades. Antes que pudessem pensar muito a fundo, o cientista abre a porta da sala e adentra no local. Dessa vez ele fica atento sobre a parte em que caiu antes.
— Vocês estão com sorte. — vai falando Paliste. — Até agora só tivemos grandes falhas, o que é uma lástima, entretanto, se continuar desse jeito, todos aqui poderão ter uma chance de conseguir o trabalho. Agora deixa eu ver qual será o próximo… (Que caligrafia difícil de entender…) Certo... Sayru, me acompanhe!
Ao escutar essas palavras, o jovem se ergue e depois desce as arquibancadas apressado.
— Manda ver! — torce Tobias. Rogerinho mostra seu apoio forçando os músculos de seu braço, talvez querendo dizer para o rapaz ser firme. O homem carismático junto do rapaz partem da sala.
Os degraus para o próximo andar têm pouca iluminação. As lentes do cientista, que sobe na frente de Sayru, brilham junto de sua expressão suspeita.
"O jeito dele não me soa promissor. Espero que ele não morra, esconder muito corpos vai acabar dando mais trabalho… De todo jeito, em algum momento as 'galinhas de ouro' vão aparecer, só preciso ser paciente."
Após alguns poucos minutos, os dois chegam ao destino.
"Posso dormir tranquilo hoje, afinal nenhum desses analfabetos parecem ter descoberto os termos ocultos na linguagem aplicada nas laudas do contrato. Contanto que nenhum cadáver tenha indícios da ligação com esse prédio, outras acusações poderão ser facilmente rebatidas. Como sempre, está tudo perfeito..." Ha Ha Ha! — Sayru toca no ombro do cientista, pois ele estava rindo enquanto segurava a maçaneta daquela entrada por vários segundos. Após ser surpreendido por esse ato, Paliste fica atordoado, pede desculpas de forma desengonçada e finalmente abre a porta.
O ruivo vai dando uma boa olhada pelo fundo lugar que foi revelado. Essa não é uma sala muito grande, um muro de vidro denso a corta no meio. Três cientistas no interior checam uma bola de cristal e algumas rochas no contorno dela que cintilam em tons distintos. Paliste guia o jovem até uma porta robusta que leva para dentro daquele espaço que o muro de vidro cerca, no interior, está um homem se apoiando na parede com os braços cruzados. Essa pessoa suspeita usa um grande capuz negro, que em suas bordas tem ornamentos dourados, apenas uma pequena parte de seu rosto moreno fica exposto. No outro extremo do lugar está um grande assento, esse móvel tem várias travas metálicas posicionadas para selar partes diferentes do corpo de quem a usar. O assento parece um objeto ligado a tortura, isso se não for realmente um.
— Agora algumas explicações. — fala o homem carismático. — O teste se baseia em basicamente avaliarmos como seu corpo reage a certa quantidade de EXT. Se o resultado for ruim em uma, usaremos outras frequências para checar se bate "positivo". Mas fique tranquilo, as travas na cadeira só servem para os possíveis espasmos de seu próprio corpo não te machucarem.
Após escutar tudo isso, Sayru esboça uma certa preocupação em seu semblante, pois ele havia notado o perigo que ronda esse lugar.
— Você tem a determinação para participar? Ou não? Só lembrando que o pagamento é bem gordo. É provável que você nunca mais tenha uma chance dessa na vida. — finaliza o cientista, com uma clara malícia em seu tom.
"Como sempre ele fala tudo isso de novo." pensa o encapuzado. "Seria bem mais fácil fazer os testes com alguém desmaiado. Mesmo assim, esse louco prefere que todos sofram os testes acordados e que escolham participar só depois dessa conversa… Esse cara é um maldito sadista podre até os ossos."
Para certa surpresa de todos, Sayru sem hesitar se jogou no assento. A imagem das duas crianças que ele acolhe em sua casa passam na sua mente, uma determinação inabalável está clara em seu rosto.
— Muito bom! — comenta Paliste.
"Droga… Jovem idiota... lidar com 'esse tipo' faz o pagamento não valer a pena… Pelo jeito também não vou dormir bem essa noite."
A travas vão sendo fixadas pelos membros de Sayru, quando tudo fica pronto, o encapuzado começa a gerar uma forte energia entre as palmas de suas mãos e dedos próximos. A luz vai engolindo a imagem tensa do rapaz.
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De volta para a sala de palestras, todos esperam o retorno do cientista. Alguns, ao tentarem sair, recebem um aviso em volume alto do segurança:
— Qualquer um que sair desse lugar será eliminado do teste no mesmo momento! — ao ouvirem isso, eles voltam desanimados para seus lugares.
— Droga... Eu já estava pensando em sair para procurar algum reprovado. Mas já que não é uma opção, teremos que fazer um plano só com nossas especulações. — explica Tobias.
— Ei, irmão. Você acha que o Sayru vai ficar bem?
— Ah, sobre isso…
Agora na sala de testes, os cientistas estão embasbacados com o que veem. No interior da bola de cristal, brilha uma cor pura de tons derivados do amarelo e branco. As travas do assento estão quebradas e seu espaço de repouso completamente destruído. Próximo do que era antes um móvel, lá está ele em pé, com todo o resplendor de uma poderosa aura elétrica. Uma forte energia dourada cobre Sayru nesse momento, deixando até o próprio bastante surpreso.
— Incrível… "Retiro o que disse antes antes. Hoje fez valer a pena todo o trabalho amaldiçoado que já fiz." pensa o encapuzado.
Sayru observa seus membros cobertos por todo aquele poder. Tobias continua a resposta que dizia para seu irmão:
— ...Sim, ele vai. Foi o mudinho que notou aquela "estática" mais cedo, isso indica que ele tem aptidão para usar EXT ou IN. Talvez ninguém aqui tenha mais chance de continuar bem tanto quanto ele. — Rogerinho fica surpreso com o raciocínio.
— Incrível, irmão. Como sempre você é muito inteligente!
— Eu sei que sou. — responde com seu nariz empinado e um sorriso fechado.
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Algumas horas se passaram, Sayru agora espera sentando em um sofá no andar de baixo daquela recepção. Ele tem alguns curativos espalhados pelo seu corpo, sua memória vai o relembrando do que aconteceu após o teste:
— Você provou ser um espécime excelente, Sayru. — vai falando Paliste em sua lembrança. — Como o prometido, iremos te pagar as 5 moedas de ouro. Já se sente como alguém rico? Há! Você não deveria ficar tão animado só com essa mixaria, afinal ainda vai ganhar bem mais com o decorrer dos próximos experimentos. Ah, e claro! Relaxe, nenhum desses "próximos" serão perigosos, pode ir dormir calmo.
As memórias acabam. Os sons de alguém em específico descendo os degraus ecoa, esse é Tobias, o rapaz se levanta para o receber melhor, mas fica surpreso com a situação dele. Tal está usando um capuz largo, nas partes abertas dessa peça é visível faixas enroladas por volta de seu corpo. Sayru comunica algo com seus gestos.
— Ah, aí está você. Sabíamos que ficaria bem...
O ruivo o ajuda a se sentar.
— Esse teste foi um absurdo! Agora sei que os boatos sobre aquele homem são verdades. Se eu não tivesse mentalizado desde mais cedo uma imagem de proteção contra EXT ou IN, talvez minha mana não tivesse me protegido direito… e eu teria…
Fica claro no céu os indícios da noite se formando.
— Após passar no teste, eles te fizeram responder várias perguntas como: "Qual o seu endereço?" ou "Como são seus parentes?" — Sayru faz um gesto de sim com a cabeça. — Entendo. Fique atento, é bem provável que eles vão mandar pessoas para confirmar isso… Apesar do bom pagamento, meio que viramos refém desse lugar. — Tobias olha de maneira profunda para o teto. — Mas para sairmos dessas nossas vidas de merdas, vamos precisar aceitar os riscos. "Um salto para muito longe sempre tem o risco de destruir as pernas." Ou algo assim.
Durante a hora seguinte, em momentos diferentes, surgiram apenas duas pessoas ligadas ao teste. Nenhum outro participante apareceu por esse caminho. Obviamente Tobias falou com esses dois, nessas conversas ele fazia gestos indicando a altura do seu irmão enquanto também ia descrevendo outros aspectos dele. Porém, no final das contas, esses indivíduos apenas balançaram suas cabeças em um "não", eles não reconheciam a pessoa citada.
A preocupação de Tobias fica cada vez mais gigante a cada passar de minutos, Sayru observa isso com certa apreensão.
Barulhos de pessoas ecoam dos degraus, a atenção dos dois jovens é tomada instantemente por isso. E lá está ele, apesar de está quase tão acabado quanto seu irmão, Rogerinho passou no teste e agora se aproxima deles. Ele descia com a ajuda de um segurança, após isso ele recebeu uma muleta para seguir sozinho. Usando essa ferramenta ele vai chegando perto dos dois que o aguardam.
— Você quase me mata do coração! — fala Tobias.
— Hahaha! Deu tudo certo, então pode ficar tranquilo. Em todo caso… hehehe Estamos com uma boa grana agora. — um largo sorriso se forma no rosto de Rogerinho. O ruivo diz algo com seus sinais.
— Realmente… Temos que tomar cuidado na volta pra casa. — concorda Tobias.
Já tarde da noite, os três caminharam juntos até certo ponto, lá eles se despedem e depois tomam seus rumos. Ao chegar em casa, Sayru encontra os garotos dormindo, próximo deles está uma carta, provavelmente escrita pela mesma senhora do outro dia. O rapaz esboça um sorriso ao ler o conteúdo, em seguida ele puxa seu colchão e depois praticamente desmaia nele. Um bom descanso seria necessário, afinal, a partir de um dia próximo, ele iria trabalhar de forma frequente como uma cobaia para os cientistas.
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Semanas se passaram. Sayru e seus afilhados agora desfrutam de um café da manhã requintado. Eles agora moram em uma casa bem feita, mas não luxuosa. Após terminarem de comer, o rapaz pega seu casaco e abre a porta, os guris já com seus uniformes chegam em carreira até ele. Com passos calmos, todos ele caminham para fora. Suas vestimentas estão melhores do que a de tempos atrás, um reflexo da grande evolução financeira do ruivo.
O dia prossegue, Sayru chega ao prédio em que trabalha, depois de se apresentar a recepcionista ele pôde subir sem problemas.
Em uma sala especial, os experimentos começam. O rapaz é analisado por vários orbes que reagem com cores diferentes dependendo do que é aplicado sobre ele. Às vezes cabos são ligados ao seu corpo e descarregam energias peculiares e distintas, tanto em suas formas como em cores. Em outros casos, essas forças são soltas por equipamentos das paredes. Esse tratamento se prolonga por todo o dia, ou melhor, por todos os dias de experimentos. De vez em quando acontece às troca de turnos entre as cobaias. Às vezes os testes são aplicados com alguns ou todos eles juntos. Essa rotina continua por meses, em todos os casos, os resultados sempre são capturados e analisados pelos cientistas do local. Fica escancarado que Paliste é o chefe do projeto.
Apesar de ser raro, em certos dias aparecia no fundo da sala o encapuzado, o mesmo homem dos testes de aptidão, que aparece nesse lugar com o único propósito de observar os envolvidos nas experiências.
Mais meses desaparecem, os cientistas agora estão fazendo uma festa para comemorar algo. Em algum canto deste lugar, Sayru, Tobias e Rogerinho aproveitam para se encherem de comida.
— Segundo eles, amanhã vai ser o nosso último teste. O projeto está praticamente concluído. — informa Tobias.
— Bem, vou sentir falta do pagamento! Hahaha! — fala Rogerinho. Em seguida os três esboçam alguns sorrisos desanimados. O ruivo diz algo com seus gestos.
— Você tem razão… Ao buscar algum novo emprego, a parte "já trabalhei na Mansão de Tecnologia" vai dá um bom peso a mais no currículo. — concorda o de cabelo escuro com o que foi dito por Sayru. — Isso é bom. Nossas vidas serão melhores a partir daqui.
E com o olhar profundo dessa pessoa para o céu, essa noite acaba.
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No outro dia, às cinco cobaias vão subindo por muitos andares. O caminhado de seus sapatos distintos são a única coisa visível neste tempo.
— Vocês deveriam ter bebido com a gente ontem! Estava bom demais a cerveja que trouxeram e... — vai tagarelando Rogerinho para as duas pessoas mais deslocadas.
— Ei, irmão. Eles não estão interessados nisso, os deixem em paz. — interrompe Tobias. — E também estamos quase chegando lá em cima, vamos nos concentrar.
Ao chegarem mais próximos dos últimos degraus para o terraço, o vasto azul com nuvens toma a atenção daqueles indivíduos. Uma grande vista da cidade é exposta para todos.
— Caramba… Acho que consigo ver até minha casa daqui. — comenta Tobias.
Essa magnífica paisagem prova o valor daquela cidade como a capital avançada que é. Se comparada com outras terras que ainda abrigam um modelo arcaico, praticamente em nível medieval, fica mais do que óbvio sua superioridade.
Naquele terraço estão alguns cientistas, ao lado desse grupo está uma máquina de metal com grandes cabos ligados a todas suas bordas. Nela também está equipado um espelho redondo de 8 metros de altura, posicionado perfeitamente em pé.
— Bom dia, meus amados experimentos. — diz Paliste. Isso deixa alguns dos 5 com sinais de repulsa dele. — Hoje o que vocês vão fazer será bem simples. Terão apenas que ficar de pé no espaço da máquina e, durante o processo que iremos aplicar, todos devem controlar suas manas ou EXTs nas medidas que lhes foram passadas antes.
Sem muita opção, eles vão para lá e se ajeitam em alguns cantos do solo da máquina. Ao lado deles está o espelho imponente refletindo suas imagens.
— Ligando suprimentos de mana. — informa um dos cientistas que manipula uma bola de cristal. Nesse momento, os cabos ligados ao aparelho começam a brilhar em uma mistura de cores, toda essa energia vai se concentrando no alto do vidro do aparelho. Os 5 homens mantém semblantes sérios, sem falhas eles começam a emitir algumas leves auras em volta de seus corpos, algumas praticamente transparentes.
— Níveis ideais atingidos. — informa o mesmo de antes. Um sorriso medonho se forma no rosto do antes carismático.
— DISPARAR!! — grita Paliste.
E assim acontece, de uma perspectiva lenta, uma forte rajada de energia oriunda do espelho vai desfazendo todas as formas das cobaias. A última expressão visível deles é a de Sayru, que está completamente tingida por uma forte preocupação. Na cabeça do rapaz, a única coisa em que ele pode visualizar neste instante é a imagem dos dois guris que cuida.
A rajada de luz corta o vasto céu em uma velocidade praticamente instantânea, sumindo sem deixar nenhum rastro dos que desfez ou de si mesma.
— A transferência parece ter sido um sucesso. — fala Paliste.
Em um desenho na mesa próxima dos cientistas, os mesmo que agora tentam observam qualquer sinal de seus trabalhos no ar, tem escrito o título: "Projeto de Teletransporte". E a arte retratada nele é a de um mapa com uma listra vermelha, que corta da capital Ty até a capital de outro reino próximo. Porém, em certa parte daquele caminho retratado no risco, está a circunferência de uma floresta, uma bastante indesejável.
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As nuvens de trevas repentinamente se contorcem para o formato de uma grande parede. De forma súbita, a rajada de energía se choca contra ela. Um forte clarão cobre todo o alto da mata, a capa que escondia a aparência do ambiente para o exterior se desfaz em uma velocidade absurda. Mas, após um curto tempo, a pancada de mana acaba, tendo sido anulada por aquele grande obstáculo. Lá do céu vão caindo cinco pessoas para o interior desse lugar, sim, para o profundo dessa floresta maligna.
Sayru estende seu braço, como se tentasse agarrar o pouco do sol visível, só que, é em vão, pois assim como os outros, sua imagem some com a queda de seu corpo na flora amaldiçoada.
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