-- Capítulo 29: Desastre Milagroso --
A chuva segue castigando a floresta com sua intensidade. Em muitas partes da Zona Neutra a guerra contra os invasores prossegue. Próximo do ninho das toupeiras, uma do tipo rei avança agressivamente sobre seus inimigos, com suas garras ela destroça todas as raposas e outras criaturas distintas em sua volta. Árvores destruídas desabam. Algumas toupeiras machos também lutam fervorosas pela defesa desse lugar.
Uma pisada forte soa pelo local, o que chama a atenção da toupeira rei para o causador do som. Um grande urso, do mesmo tipo que Polaris enfrentou, está de frente para o outro gigante no lugar. Os dois partem para cima um do outro, estrondos são emitidos pela colisão de seus corpos. Eles rolam pelo chão enquanto lutam brutalmente. Terra é expelida para os lados junto dos sons ferozes dos seres.
Na caverna dos esqueletos, muitos dos próprios vão sendo destruídos ao se chocarem com muita força em paredes. Um dos três ursos visíveis nessa perspectiva ruge ao mesmo tempo em que múltiplos raios avançam. As raposas e outros seres menores invadem o lugar impiedosamente. Com suas patas, um urso destroça alguns esqueletos nas paredes, o que chega até a rachar de leve pela força embutida no ato. Das sombras mais distantes, silhuetas altas se movem. Os olhos desses esqueletos robustos brilham de uma forma tenebrosa.
Em outra parte da floresta, os invasores partem do lugar que antes guerreavam. Estão espalhados pelo solo vários corpos de macacos, esses que foram derrotados de vez na guerra deste dia. O corpo de um corvo é balançado cruelmente pela raposa que o abocanhou em seu pescoço, até que finalmente seu corpo se parte em dois. A parte maior sai rolando pelo chão liberando sangue e penas. Alguns desses pássaros tentam perfurar os inimigos com seus movimentos ágeis, porém é inútil, as raposas os pegam com facilidade nas brechas de seus movimentos.
Na base dos perdidos, eles seguem lutando fervorosos. Com seus machados, Babuíno, Rogerinho e Bassara devastam tudo em volta como bárbaro, entretanto, está claro o forte desgaste que seus corpos sofreram no tempo até aqui. O escudo de Rol Bost teve a sua parte baixa quebrada e tem exposto muitas rachaduras pela sua madeira, mesmo assim, para o rapaz, só resta continuar se defendendo com o objeto nessa situação. Ele segue lutando agora com um porrete manchado de sangue. Notáveis marcas de feridas e sujeiras estão espalhadas pelos corpos dos indivíduos.
A chuva segue forte. Reforços inimigos chegam, com seus barulhos grotescos eles correm enlouquecidos em busca de suas vítimas. Mais restos de monstros são espalhados pelo ar, os movimentos de Babuíno com seu machado parecem imparáveis, porém, nem isso intimida as criaturas. Com o tempo, monstros vão grudando com suas presas pelos corpos dos Perdidos, como nas outras vezes que isso aconteceu, eles vão retirando as criaturas com pancadas rápidas de seus braços ou giros repentinos que fazem quando vão atacar algo próximo.
Uma raposa se movia rápido até ser esmagada pela perna de um ser robusto. Com um rugido alto, o urso anuncia a sua chegada, o que implanta certa tensão na expressão dos perdidos. Grandes problemas surgiram. Um dos monstros robustos dispara contra Rol Bost, que ainda está ocupado com outras criaturas, o que fez com que ele só pudesse observar o que vinha com seu semblante sendo tomando pelo pavor. O golpe que vai sendo projetado pelo urso passa arrastando pelo chão até finalmente explodir em seu alvo. Rol Bost havia tentando reagir pondo seu escudo acabado na frente da colisão, o fortalecendo com a concentração de sua aura azul, mas, não foi o suficiente. O vento explode pela força da ofensiva. O rapaz voa para bem longe. Criaturas menores também foram repelidas, pedaços de madeira flutuam.
— GAROTO!!! — grita Babuíno.
O aldeão mais velho abre caminho com seu machado, destroçando sem distinção qualquer um no caminho. Depois de algum tempo, ele consegue alcançar o rapaz que estava caído no chão e prestes a ser atacado pelas criaturas menores. Após destroçar algumas e com um giro afugentar as que pretendiam pular em cima do jovem, Babuíno o pega com uma das mãos e com sua grande força o lança para a árvore que está o anão. O rapaz desacordado bate seu corpo de lado contra o galho, nesse instante Vasto o agarra e com certa dificuldade o deixa deitado em cima dessa parte da planta.
O urso avança contra Bassara, no trajeto ele "varre" o que seriam seus aliados. O aldeão respira fundo, sua aura começa a se mover agressiva por seu corpo, saindo do mesmo como múltiplos feixes de luz marrom com manchas brancas. O grande monstro o ataca, visando sua cabeça, mas, sem sucesso. Bassara desviou abaixando seu corpo. O aldeão pretendia aproveitar esse tempo para atacar, só que logo a realidade prova que isso não seria fácil. Com um olhar sanguinário, o urso já projeta outra ofensiva. Terra explode pelo impacto contra o solo, Bassara esquiva pulando para trás com uma expressão tensa.
O grande monstro segue perseguindo o aldeão, desferindo patadas que fazem as gotas da chuva serem repelidas de forma agressiva pelo local. Bassara parece irritado com todas as suas tentativas falhas de começar um ataque, pois, a agressividade do urso o fez continuar recuando sem outras opções de ações. O monstro tenta mordê-lo, mas Bassara esquiva se jogando para o lado, caindo assim em uma poça de lama. Quando o urso iria aproveitar a oportunidade para desferir um golpe fatal, sangue se espalha no ar depois de um barulho notável. Partículas e mechas de uma energia verde acompanharam o vermelho expelido. Rogerinho havia dado uma machadada no ombro da criatura por trás, o que causou uma ferida notável.
O homem de Ty pula para trás, evitando uma possível reação rápida do urso. Com a distração, Bassara aproveita e corta parte da barriga dele. Sangue é jorrado, o aldeão recua imediatamente após isso. A expressão do monstro parece se contorcer em mais raiva do que parecia esboçar antes, sem perder tempo, ele volta a perseguir Bassara. Quando consegue uma boa aproximação, a criatura se prepara para lançar outro golpe, entretanto, é interrompido por algo que acerta seu focinho e que em seguida sai rodopiando rápido pelo ar. O objeto arremessado aparenta ser a cabeça de uma raposa. Babuíno mandou seu apoio. Bassara aproveita a distração e o corta novamente pela barriga, só que dessa vez em um lado contrário. A criatura enfurecida tenta se jogar contra ele, seu rugido soa alto enquanto gotas de água são estouradas. Dois machados cobertos por auras distintas são balançados densamente pelo ar até finalmente perfuraram a carne do urso. Bastante sangue jorra.
A chuva segue forte em outra parte da base, é acompanhada agora pelos barulhos do urso furioso se mexendo bruscamente atrás de suas presas. Sons de machadadas sendo desferidas e sangue sendo expelido soam.
Depois de algum tempo, finalmente uma conclusão é alcançada. O barulho alto do urso colidindo sobre o solo é emitido. Voltando a uma perspectiva que mostre os indivíduos, eles estão em volta do corpo do grande monstro abatido. Uma grande poça de vermelho se forma pelo chão. Suas expressões estão tomadas por trevas, o estado de seus corpos demonstra o quanto o cansaço e desgaste físico havia os tomado.
Os monstros menores continuam avançando na direção dos perdidos, esses que reagem ao com golpes laterais em direções distintas. Muitas vísceras e sangue são espalhadas junto do vento agressivo criado. Apesar do grande cansaço que os três sentem, eles continuam inabaláveis com seus semblantes firmes.
Algum tempo passou. A chuva enfraqueceu. Na base, a luta prossegue, só que contra bem menos criaturas do que antes. Bassara acerta um chute poderoso para a frente que repele uma raposa. Babuíno mata mais alguns monstros com um corte lateral de seu machado. Por alguns segundos, os três no solo puderam respirar da batalha, entretanto, da escuridão da floresta logo surgem mais bestas. A luta continua. Fora as criaturas pequenas, alguns ursos também mostram-se das sombras, parecendo destruírem qualquer esperança com suas presenças.
— Droga! Quando o Polaris vai voltar?! — reclama Rogerinho, tendo sido afetado pela impressão perigosa dos ursos.
Os três se preparam para a vinda dos monstros, tomando posturas parcialmente baixas. Rol Bost segue desacordado no galho, o anão próximo e Sayru observam a situação com bastante nervosismo.
"Eu deveria ir para conseguir algum tempo?" pensa Vasto.
Neste momento "aquilo" finalmente se rompe. A parede de rochas citadas tantas vezes antes, finalmente... estourou. Uma quantidade gigantesca de água começa a ser expelida de uma barragem natural.
Os monstros seguem rápido em frente, os ursos também o fazem, só que mais devagar. O barulho de uma quantidade massiva de água se aproximando chega aos ouvidos do anão, lhe causando uma profunda surpresa.
— O-O quê!? — Vasto olha para os três no solo e logo age. — EI!! SUBAM NAS ÁRVORES!! AGORA!!! — como o esperado, o trio o olha com estranheza. — VÃO!! — apesar da relutância, eles o fazem, tendo sido Rogerinho o último a se mover. Eles sabem bem que o anão não emitiria um aviso sem um bom motivo. Com seus machados, os três conseguem driblar alguns monstros e escalar cada um alguma árvore próxima.
Sayru é o único que tem o vislumbre da cena seguinte, ao longe, mais alto do que qualquer árvore, uma enorme onda despenca contra a Zona Neutra. Os ursos tentam derrubar as árvores as balançando, mas, após um tempo são interrompidos. A água instantaneamente atravessa a base com bastante força. Troncos e outras coisas vão sendo carregadas pelo "rio" formado. Os restos mortais de muitos monstros podem estão espalhados pelo líquido. O chão não é mais visível. Todos os perdidos observam embasbacados o momento. Vasto parece ser o mais pensativo.
"'Impossível'. Isso resume como eu responderia se alguém me contasse uma história com o que está acontecendo agora." o anão interliga alguns dos cintos que usou para guardar as poções, em seguida ele enrola o resultado pelo corpo de Rol Bost, como uma garantia de que ele não iria cair. Subitamente o anão percebe algo, isso fica claro em sua expressão. — O rio!... "Deve ser isso. Para o leste e norte da Zona Neutra existem subidas bastante estendidas. Já ouvir falar que algumas grandes nascentes desse reino começam de lugares altos. Um rio devia passar por alguma represa natural que finalmente cedeu... Mesmo assim, essa situação ainda parece impossível! Está me dizendo que isso é um milagre?! Que um maldito milagre aconteceu."
Um dos ursos surge de uma parte das águas. Ele ainda segura a árvore que Rogerinho está, o que obviamente o surpreendeu. O monstro começa a escalar a madeira, com certa lerdeza, mas aos poucos ele consegue subir. A criatura continua escalando, ou continuaria. Repentinamente surge do rio um enorme monstro, um maior e mais tenebroso que os próprios ursos. Com sua boca, repleta de dentes pontiagudos, ele morde o monstro terrestre e em seguida o carrega para o fundo dessas águas. Uma quietude momentânea toma o lugar. Rogerinho mantém uma expressão chamativa com seus olhos bastante abertos. Todos foram surpreendidos pela cena. Aos poucos, outros desses bizarros tubarões se revelam por estarem abocanhando as carnes espalhadas pelo "rio".
"Foram eles!" o anão teve a luz necessária para concluir sua teoria. "Essas coisas foram tão atiçadas pela névoa espessa da Onda que destruíram a barragem com seus corpos! Só pode ter sido isso!"
Rogerinho ainda parece bastante surpreso, sua expressão treme, mesmo assim ele tenta se focar na situação.
"Maldição! Essas coisas parecem com aquela que devorou o Gei!"
O volume de água começa a diminuir, levando consigo as tenebrosas criaturas. Em uma parte fora da Zona Neutra, a água que vaza da barragem vai sendo desviada por um outro caminho natural, livrando assim essas terras da influência desse líquido.
O rio temporário se desfez de vez, deixando a base dos perdidos em um desastre, mas, em um desastre melhor do que seria se tivessem continuado enfrentando aquela horda de monstros. Aos poucos os indivíduos vão descendo das árvores, menos Sayru e Rol Bost, que precisam de ajuda para isso. O ambiente todo está marcado pela recente passagem densa da água, dificilmente este lugar poderia ser reconhecido como o que viviam.
A chuva parou.
— Bem... Vamos ter uma trabalheira esses dias. — anuncia o anão. Rogerinho se joga sentado para o chão. Depois de algumas horas, os perdidos finalmente podem descansar.
A Onda acabou. Mas, mal sabem eles que o perigo não.
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Em outra espaço da Zona Neutra, um vulto se move pelas árvores. Após alguns pulos, "isso" cessa seus movimentos. Mesmo encoberto pelas sombras dos galhos, esse ser pode ser reconhecido. Esse monstro é o mesmo que matou o membro dos Uivos de Lobos que havia ficado para proteger as carroças no lado de fora da floresta. Seu corpo é medonho, tendo uma forma que lembra parcialmente algo humanoide. Sua altura é de 1,60m, mas acaba que ele sempre se mantém em uma postura baixa compacta, mesmo quando salta para outras árvores, como faz agora. Seus membros parecem bastante inchados, como se ele fosse obeso. Quando ele pula, seus pés fazem o vento explodir de alguma forma, o que o dá forças para seguir no ar na direção que deseja. A cabeça da criatura é totalmente redonda, não parecendo ter algo como uma expressão.
Após pousar em mais uma árvore, aquilo abre... o seu bizarro, e único olho. Mesmo no escuro, seu branco e íris negra curvada para baixo não parecem serem afetados por isso, mantendo a vivacidade das cores. Na mente da criatura, o que ela observa, mesmo estando muito longe, são imagens da situação na caverna de esqueletos. A única coisa que a criatura visualiza nesse lugar, que por sinal não parece ter sido tocado pela água do rio temporário, é a cena de alguns corpos de ursos sendo arrastados para as absolutas sombras. Sangue está espalhado pelas rochas.
O monstro volta a saltar por algum tempo, dessa vez parando para checar o local onde fica o ninho das toupeiras. Infelizmente, elas foram massacradas. A água havia enchido totalmente o buraco que é a entrada de onde moravam. O estado da grama e árvores em volta demonstra a desolação nova do lugar. Alguns movimentos suspeitos são feitos no fundo daquele líquido, as sombras de algumas criaturas se aprofundam em sua nova casa.
A criatura se move novamente pelos galhos, chegando finalmente em uma distância que pode agir, mesmo que ela ainda esteja muito distante de onde "eles" estão. Ao abrir seu olho tenebroso, a criatura visualiza de modo nítido o que seriam suas vítimas, sim, os perdidos. Após os observar por um tempo, eles que parecem tentar relaxar depois do longo dia que tiveram, o monstro começa a preparar seu ataque. A cabeça da criatura começa a inchar bastante, o passo necessário para dar toda a força gigantesca que seus projéteis têm, esses que conseguiram o feito de abater o aventureiro que estava na carroça e seus cavalos mesmo todos eles estando a quilômetros da floresta naquele tempo.
— Algum problema, anão? — indaga Babuíno. Vasto parece focado em alguma coisa fora do local de onde estão, a posição de seus olhos indica isso.
— Não mais. — responde com um leve sorriso ao mesmo tempo que fecha seus olhos. — Agora descansem, se morrerem ou se lesionarem por terem se esforçado demais depois da Onda, eu os amaldiçoarei para sempre.
— Haha! Certo, certo. Não se preocupe.
Um sangue negro jorra para a frente, mais especificamente, o sangue do monstro. O líquido também vaza por buracos que surgiram em sua cabeça. Roupas de couro balançam levemente. Polaris está atrás da criatura com sua espada atravessando o peitoral dela. Apesar de todo o dano que sofreu e ter desmaiado, o espadachim conseguiu sobreviver. A esperança dos perdidos segue firme em pé. Ele vai levantando a lâmina, com isso, cortando a criatura até seu último centímetro possível nessa direção. Mais sangue é expelido para todas as direções. Antes de ter sido partido em dois, o olho do ser tremia em espanto pelo ferimento sofrido, esse que ele não conseguiu reagir. Partículas de chamas se espalham pelo ar.
— Ufa... Hoje foi cansativo. Espero que possam perdoar o meu sumiço, pessoal. — fala Polaris com uma expressão calma, mas, manchada de sangue.
O sol brilha forte no céu.
E assim se encerra a segunda Onda, tendo como resultado, uma vitória completa dos Perdidos.
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