-- Capítulo 28: 2° Onda --
Mais rachaduras se formam na parede de rochas.
Apesar das muitas nuvens negras irem se formando no céu, o sol consegue começar a iluminar toda a Zona Neutra nessa manhã. Assim como na vez anterior, em um dia do mesmo tipo, a névoa se concentra densamente em volta da barreira.
Sim, hoje é o dia da segunda Onda.
Os monstros amorfos berram eufóricos na escuridão, o brilho de seus olhos se movendo é algo tenebroso.
— A nossa situação é horrível, outra vez estamos na merda. — fala Vasto, ele se ergue da postura caída que mantinha para focar sua audição nos arredores. Ele olha para o horizonte enquanto a luz do sol que passa pelos galhos cobre sua face. — Mas nada fora do esperado. Como da última vez, vamos dar um jeito nessa porcaria!
— Sim! — respondem os perdidos em uníssono, suas roupas robustas de couro e seus equipamentos balançam pelo grupo ter começado a se mover pelo lugar.
Fazendo uma comparação com a primeira Onda, nessa todos parecem mais imponentes e bem preparados, tanto em mentalidade, como nas armas e objetos que carregam consigo.
O único que não participará do combate será Sayru, que está no topo de uma árvore bastante alta, em algum galho por ali. O rapaz observa os arredores sentado, sua expressão tensa demonstra o quanto parece nervoso com a situação, mas, dessa vez só resta para ele torcer pela vitória e bem estar de seus aliados.
Os indivíduos se espalham em volta do espaço que fica a base, não existem cercas para os proteger. Vasto volta a colocar seu ouvido próximo do solo, e então, finalmente acontece. A barreira começa a ser rasgada por algumas bestas. Como na outra vez, apenas poucas espécies em específico conseguem partir a parede de luz, como se suas garras por coincidência fossem compatíveis nesse dia para isso. Com violência, buracos vão sendo abertos na proteção da Zona Neutra, uma algazarra bestial e a névoa adentram repentinamente. Raios cortam a floresta em grande velocidade.
— COMEÇOU!!! — alerta o anão. Os perdidos se movem apressados pelo local, seus pés colidem densamente contra o solo.
Um machado é fincado no tronco de uma árvore, Babuíno se puxa para cima usando ele e, com seu outro braço, carrega Vasto por sua cintura como uma criança.
— Você é um pouco pesado! — comenta o aldeão.
— Eu tinha bem mais peso antes de parar nessa floresta. De toda forma, espero nunca me lembrar dessa vergonha de agora.
— Hahaha! Não seja chato!
Enquanto ainda se puxa pelo braço que segura o cabo do machado, Babuíno começa a projetar um arremesso. Vasto é jogado para um galho que se localiza alguns metros de onde o aldeão está. Com certa dificuldade, o anão se agarra e se estabiliza em cima da madeira. Babuíno segue escalando a árvore, ele também ficará por lá para seguir com a estratégia que planejaram contra essa Onda. Em um galho perto deles tem uma sacola espessa repleta de rochas.
Polaris sai em carreira para longe da base, mas nenhum de seus companheiros estranha esse ato. É algo combinado. Com uma velocidade notável, ele corta a mata com eficiência. Uma memória é revivida em sua cabeça:
— ...Nessa Onda, você pode fazer algo por nós? — pergunta o anão para o espadachim. Nesse tempo era noite, o grupo parecia se preparar para o combate perto de uma fogueira. Bastante papelada foi espalhada pelo chão. — Quero que faça os monstros maiores caírem nas armadilhas. Na última Onda, só um quarto de nossas defesas foram ativadas. Você é o único forte daqui o suficiente para isso. E então... aceita o desafio?
— Não precisava nem perguntar. Eu farei isso!
— Ótimo... Faça o seu jogo com eles! E se a situação ficar difícil, volte para a base.
— Certo.
A memória acaba, Polaris segue correndo pela mata. Seu cabelo longo vai balançando para trás, sua expressão se mantém determinada.
— Tem alguns chegando pelo norte! — avisa o anão para os indivíduos no solo.
— Certo! — Bassara, Rogerinho e Rol Bost se preparam com suas armas para a vinda dos inimigos. Uma leve surpresa toma seus rostos ao verem os vultos brilhando ao longe.
"Irritantes, já me deram dor de cabeça, essas..." pensa Vasto. Em outro canto da mata, Polaris também é surpreendido pela chegada dos seres brilhantes. "...raposas."
A mesma espécie de raposas que um dia quase mataram o anão, agora avançam em busca da destruição do grupo de Perdidos. Polaris segue em frente rápido mesmo notando a aproximação de seus inimigos em seu caminho. Repentinamente os monstros se dividem, como se buscassem cercar o homem. Duas raposas deixaram uma espécie de "V" ao contrário com os brilhos remanescentes por onde passaram. Só que antes que pudessem fazer algo, uma surpresa surge na frente de um desses seres, isso é o próprio Polaris, em sua grande velocidade ele já havia se aproximado bastante dela. O espadachim desfere um poderoso soco na cabeça do monstro, um estrondo junto de barulhos grotescos soam. As partes da cabeça da criatura flutuam no ar junto do sangue e as chamas do aventureiro, tendo até um olho flutuando no meio desses pedaços.
A raposa viva late enfurecida para Polaris, logo em seguida ela avança contra ele. Quando ela salta atrás de seu pescoço, ele desaparece de sua vista, em seguida uma mão segura por baixo seu pescoço e nesse curto tempo ele desloca o osso desse membro com um movimento de torção. Ainda com a criatura no ar, o espadachim se move um pouco para atrás da retaguarda do inimigo e desfere um murro coberto por chamas em seu corpo, o estourando e repelindo os restos na direção oposta. Sua postura no desfecho da ação lembra algo uma arte marcial como o karatê. Sem perder tempo, o homem dispara em carreira desse local, não demonstrando nenhum abalo com tudo o que ocorreu.
Na base, alguns raios passam raspando nos corpos dos Perdidos que lutam no solo. Sangue esguicha uma única vez de seus novos ferimentos. Um braço robusto projeta um poderoso arremesso, vento e uma aura marrom com traços brancos o rondam. Babuíno lança uma rocha contra uma das raposas, com o impacto, o chão explode e terra é jogada para cima. Apesar da velocidade do ataque, a raposa alvo consegue desviar com um pulo, só que parte de seu corpo é tomada pela terra, a distraindo. Quando a criatura nota, ele está na sua frente, Rogerinho, emite uma forte intenção assassina enquanto libera uma ofensiva. Seu machado e corpo estão cobertos pelo poder do núcleo de mana, fazendo sua silhueta e seu olhar serem tingidos por uma cor verde. A raposa é partida em duas com o golpe da arma.
Um raio avança contra Bassara, ele não consegue o evitar. Uma ferida surge em seu ombro. Outras duas raposas se lançam sobre ele, e o mesmo resultado acontece. A expressão do homem está oculta em sombras. Outro raio se lança sobre ele, confiante de que causaria mais dano, a criatura vê a paisagem se distorcendo pela velocidade em que se aproxima do aldeão, mas, a última coisa que o monstro pode visualizar foi de apenas um súbito punho em sua frente. A cabeça da raposa é esmagada e afundada em seu corpo que agora se tornou dilatado. Sangue mancha uma parte do rosto de Bassara, que olha sério o que era o monstro. Uma aura igual a de seu parente cobre seu corpo. As outras raposas avançam contra ele, porém, nenhuma obtém resultado, uma por uma vão sendo destroçadas pelos ataques brutais com sua arma.
Um raio é desviado por um escudo quadrado de madeira, uma lança empunhada no outro braço espanta a raposa que ameaçou o atacar. Rol Bost, com bastante dificuldades, se defende das criaturas. Uma leve aura azul está espalhada por seu corpo. Como o esperado, ele parece ter uma expressão apavorada enquanto se defende dos monstros. Estilhaços pequenos de madeira são jogados para o ar a defesa que faz. O chão explode, uma rocha jogada por Babuíno devasta uma das raposas próximas. Rol Bost bate seu escudo contra a cabeça de uma perto, a deixando tonta. Logo uma pedra também estoura essa criatura, terra vai para cima e os restos mortais são engolidos por ela.
Em certo momento, o pescoço de Rol Bost parece um alvo fácil para um dos monstros que se aproxima. Um raio avança com o único propósito de ceifar a vida do rapaz. Tudo parece branco em volta do dois, partículas negras se movem lentamente no ar. A raposa pula, com isso chegando cada vez mais próximo do pescoço de Rol Bost. Babuíno e Vasto têm seus semblantes afetados ao notarem o perigo que o rapaz corre, mas, é impossível o avisarem a tempo. Uma gota de água cai sobre o chão, isso parece ecoar na mente do rapaz, o fazendo abrir mais os olhos pela surpresa. Começou a chover na Zona Neutra. Sangue esguicha. Gotas de água colidem lateralmente contra a cabeça do rapaz, sua expressão demonstra bastante da tensão que sente. Com sua lança, Rol Bost perfurou a criatura, a mantendo empalada no ar.
"Boa, garoto!" pensa Vasto. "E não é que até um medroso como você consegue se tentar!"
O rapaz força um giro no cabo da lança, o que forma quase uma espiral no tronco do monstro pela torção. Um barulho grotesco soa. Com sucesso, Rol Bost matou a raposa.
A batalha segue por um bom tempo, outras criaturas ágeis além das raposas vão chegando no ambiente. A cabana e o local onde fica a fogueira foram devastados. Os inimigos se espalham aos montes pelo lugar. Sayru segura firme nas bordas do galho em que está, ele segue observando nervoso tudo o que acontece. Se fosse considerar o que o ruivo poderia estar pensando nesse momento, isso provavelmente seria algo relacionado ao seu senso de dever. Mas ele não pode ajudar, seria inútil. Essa verdade é o que o segura ali.
Restos mortais de monstros voam para todos os lados, Bassara, Babuíno e Rol Bost lutam furiosos. Encobertos em suas auras eles avançam destruindo tudo no caminho, mesmo que no processo se desgastem cada vez mais. A sacola que guardava as pedras está vazia, um machado é retirado do tronco da árvore. Babuíno pula sobre os monstros com sua mana ativa, bastante poeira é levantada. O aldeão mais velho estraçalha uma grande quantidade de inimigos com um único balanço de seu machado, um sorriso intimidador se espalha largo em seu rosto. Vasto arremessa sua última poção, encerrando dessa forma sua participação no combate.
"Se tivesse sido essa a primeira Onda, definitivamente estaríamos mortos." considera o anão. "Vocês agora estão prontos... Prontos para desafiar a floresta como verdadeiros homens." a lança de Rol Bost se parte em duas, com a estaca que restou ele a finca no pescoço de um monstro que está próximo. A luta brutal na base prossegue. "Tobias, na conversa de uma noite qualquer, você propôs que déssemos o nome de A Floresta do Céu de Trevas para esse lugar amaldiçoado. Sinceramente, que título estranho. Até na sonoridade. Mas, se é assim... Enquanto a floresta é "as trevas", nós somos as irritantes estrelas que quase não brilham no seu céu. Contra toda essa escuridão somos nulos, desprezíveis... Porém, até sermos engolidos de vez pelas trevas, vamos encher o saco dessa desgraçada!" Vasto olha irritado para a situação, ranger os dentes em frustração é só o que lhe resta para fazer. Assim como Sayru, seus serviços não são mais úteis agora. " Então, seus desgraçados! Não percam! Vamos ser malditos vagalumes até o fim!"
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Em outro lugar da floresta, uma grande quantidade de corpos está espalhada por muitos lugares. Repentinamente algumas criaturas caem em um buraco oculto, com isso, todas são perfuradas por várias estacas ali. Apesar do grande estrago que fez, Polaris parece praticamente ileso, tendo apenas poucas marcas de sujeiras por seu corpo. Algumas raposas o perseguem enquanto ele se move com passos para trás em uma velocidade espantosa, ele encara de frente os seres. Partículas de suas chamas se espalham.
A chuva segue impiedosa, parecendo se fortalecer à medida que o tempo passa. Polaris acerta um chute na cabeça da primeira raposa, a estourando, em seguida ele toma uma postura, semelhante com uma das mais comuns no karatê, e acerta as costelas da outra criatura que vinha. Com um ataque oriundo de um giro, ele arregaça a raposa que ia o atacar pelas costas. A água se choca forte contra seu corpo. Quando o homem percebe, uma silhueta monstruosa se levanta ao seu lado. Os olhos do monstro cintilam em vermelho no escuro. Um medonho e, bastante robusto urso, é a nova ameaça que surgiu. Sua intenção assassina se espalha forte pelo local.
O espadachim sem hesitar saca sua espada, sendo essa a primeira vez que o faz nesse dia. O urso levanta a pata e desfere uma poderosíssima pancada contra o homem, mas ele consegue esquivar com eficiência. A terra explode pela colisão, manchando ambos com bastante lama e, por coincidência, uma parte dela atingiu os olhos de Polaris, o fazendo perder o foco por um instante. Como a besta que é, o urso não perde essa oportunidade. Com uma expressão tingida por uma forte obscuridade, que causaria temores em qualquer um que tivesse o infeliz momento de observar seu rosto, o urso desfere outro golpe com sua força colossal. A pata dele corta o ar estourando as várias gotas no caminho, encurtando cada vez mais a distância até o espadachim. A resposta foi instantânea, mesmo sem ter a visão para o ajudar, Polaris desvia se abaixando. O forte vento criado faz a água ser repelida de forma louca pelo local.
Carne é cortada, sangue esguicha uma única vez antes de sair de uma forma mais controlada. Polaris está com um braço erguido, em sua mão se encontra a espada dada pela sua companheira. O homem segue mantendo um semblante sério, com todas as emoções controladas na medida certa, o que o dá uma estranha serenidade. Uma gota se espalha ao colidir com a ponta da lâmina. A ferida causada no urso é superficial. O monstro logo dispara furioso contra Polaris, abaixando seu corpo como se fosse agarrá-lo ou mordê-lo. Uma poça é espalhada por uma pisada. Com um movimento preciso, que pega apenas de raspão em seu alvo, algo intencional nesse caso, a pupila de um dos olhos da criatura é cortada. Uma luz laranja reluz do machucado, um de mesmo tom que os movimentos do espadachim geram, principalmente os intensos que sua lâmina esboça.
Novos ferimentos, que brilham na cor das chamas, surgem pelo corpo do urso. Sangue vai para o ar. A cada ataque falho do monstro, novos cortes são desferidos de forma violenta por seu corpo. Apesar dessa clara vantagem na luta, a expressão de Polaris se torna nebulosa. Ele parece ter desgosto de como a situação progride. O espadachim começa a se lembrar em flashs do monstro magrelo que havia devastado seu grupo meses atrás.
"Isso não vai funcionar. Com esse estilo delicado, eu não poderei ganhar dele."
Subitamente o espadachim para de se mover. Com sua expressão tomada por sombras, ele aguarda a chegada do horripilante urso. Com a mesma face diabólica de antes, o monstro desfere uma fortíssima pancada contra o espadachim, que dessa vez realmente o acerta, com tudo. Suas garras cortam a carne e rasgam o couro como se fossem papel, as gotas da chuva caem em lentidão. O corpo de Polaris é arremessado violentamente pelo ar, até quicar de maneira violenta com sua cabeça batendo no chão. Após isso ele rola rápido e de modo doloroso pelo solo. A chuva logo engoliria aquele "cadáver", ou ao menos, é o que poderia pensar que faria. A mão do espadachim é usada como apoio para o próprio começar a se levantar. O urso ruge alto na direção do homem.
"Não fique se achando, seu desgraçado!" sangue escorre da boca de Polaris para o solo. Sua face ainda não parece visível. "Eu poderia ter te levado para uma armadilha quando quisesse... Só que isso não importa mais. Mesmo se eu te matasse com a minha mente fraca de antes, logo eu morreria no futuro sem concluir meu objetivo." o espadachim está quase completamente de pé, seu peitoral foi marcado pelos largos cortes feitos pelas garras do urso. A parte da frente de suas vestimentas superiores se tornou trapos. "Mas agora é diferente. Farei ser diferente."
O urso dispara em carreira para finalizar Polaris, esse que aguarda sua chegada finalmente em pé, com sangue vazando de muitas partes de seu corpo. O homem levanta alto seu braço com a espada, essa que ele não largou mesmo depois da queda violenta que teve. Seus músculos enrijecem junto de sua aura que cintila em chamas vigorosas que nem a chuva poderia as afetar. Só que de repente a expressão de Polaris se torna fria, seus olhos agora expostos perderam a força, sua aura se desfez. Apenas sua postura segue firme. Um silêncio toma o local, as gotas de chuva continuam caindo em meio ao fundo branco. E então aconteceu. Quando o monstro ia arrancar a cabeça do espadachim com uma mordida, um vulto laranja, que cria um som marcante, passa por dentro da cabeça do urso, o cortando como se fosse nada. A expressão de Polaris havia voltado a vida com um olhar intenso de fúria.
A partir da cabeça do monstro é jorrado bastante sangue que queima em um denso laranja. O enorme corpo do urso despenca ao lado do espadachim, que nem se mexe. Um tremor foi causado com sua colisão sobre o solo.
"Está feito..." Polaris começa a caminhar, sua vista se distorce a cada passo, mesmo assim, ele continua seguindo em frente. "Cumprirei minha palavra... eu voltarei..."
A vista do espadachim demonstra sua queda repentina. Tudo fica negro com o som da batida de seu corpo no solo enlameado.
Polaris havia passado a limiar de seu auge, se superando completamente. Após seu grande apoio nesses tempos com os Perdidos, o espadachim se vai sem nenhuma despedida, para um lugar bem distante.
Partículas de chamas no ar são apagadas pela água.
A chuva segue forte. Mais rachaduras surgem no muro de rochas, até que repentinamente ele cede. Com a recente abertura, rajadas de água jorram.
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