-- Capítulo 21: Ofuscante Família --
Muito sangue, cabeças e membros dos monstros viajam em lentidão pelo ar. Uma aura verde se desmancha como vapor. Tobias é o causador dessa devastação, ele está com o corpo avantajado para a frente devido uma estocada que tinha desferido com sua lança. Seu poder destrutivo havia aumentado drasticamente desde que começou a manipular o núcleo de mana.
Com o tempo de volta ao normal, Tobias balança sua lança mais duas vezes, dessa forma matando um grande número de toupeiras e serpentes em seu caminho. O vento, oriundo desses movimentos, ruge por todo o local.
Tobias avança pela multidão de criaturas com uma expressão séria. Ele está sujo de terra e do sangue dos monstros, assim como também devem estar os outros perdidos. Mas neste momento, considerar isso é algo fútil. Tobias esmaga a cabeça de uma cobra com uma pisada e, com mais um balanço, destroça uma outra grande quantidade de toupeiras próximas. Às partes dos monstros se espalham pelo ar enquanto o homem de Ty visualiza toda a situação com o cabo de sua arma virada de lado por trás de suas costas. Ele a segura só com uma mão, como se fosse uma postura de base para seu estilo.
A lança parte uma toupeira ao meio, em outro momento, é arrastada pelo solo para ir fatiando várias cobras que iam na direção do usuário. Uma forte poeira baixa é expelida por onde o objeto passa. A lança empala, em uma única estocada, outros monstros como um espeto. Tobias segue lutando com tudo o que pode naquela vastidão de inimigos, só que eles nunca parecem ter fim. O cabo da lança quebra, mesmo tendo sido fortalecido pela aura verde até aqui. Uma serpente morde a panturrilha do homem, logo outras da mesma espécie também se aproximam rapidamente e fazem o mesmo.
"Suas malditas!" Tobias saca suas facas de pedras, que mais parecem punhais polidos, e corta os monstros com bastante destreza, como se estivesse usando canivetes. Algumas cabeças de serpentes seguem presas em seu corpo, mas ele não teria tempo para as tirar, as forças inimigas não iriam o permitir esboçar qualquer abertura. "Isso me lembra de quando eu vivia naquele lugar abandonado até por Deus. Tinha que carregar alguma arma comigo querendo ou não. Pelo meu próprio bem, e do meu irmão." se recorda ao mesmo tempo em que perfura as toupeiras que se aproximam.
O homem de Ty segue lutando, a batalha nunca parece acabar. O tempo passa, ele continua matando os monstros, mas, apesar da facilidade que têm nisso, os números inimigos parecem infinitos da sua perspectiva. Feridas vão surgindo por seu corpo à medida que os segundos (ou eram minutos?) vão desaparecendo. Toupeiras cortam sua carne com suas garras, serpentes o mordem e, mesmo sem ter a certeza de que os ataques que levou estavam envenenados ou não, ele segue os ignorando, pois não tem outra escolha além dessa nessa guerra.
Devido ao cansaço que vai aumentando com o tempo, Tobias se move escutando sua respiração densa de cansaço, seus batimentos cardíacos vão soando alto para seus ouvidos. Com um rugido, ele vai matando mais e mais criaturas, suas facas já foram perdidas a muito tempo, então nesse momento, só lhe resta amassar os monstros com suas próprias mãos.
Tobias ameaça cair para a frente, só que, com uma perna, ele se sustenta em uma posição mais inclinada. Ele range os dentes em esforço e raiva. Uma toupeira corre até ele mesmo sendo fuzilada por seus olhos furiosos. Antes que o próprio Tobias pudesse fazer algo, um projétil estoura a cabeça do monstro, deixando pelo seu trajeto uma listra de luz amarela que fica marcada no ar. O corpo da criatura tomba e, com seu barulho, o homem de Ty desperta seus sensos sobre o mundo em volta. A batalha havia acabado.
Enquanto ajeita sua postura, Tobias vê seus companheiros. Tudo há volta no chão se resume a corpos, membros e sangue do que eram os monstros. Os perdidos, apesar de vitoriosos, estão acabados. Suas roupas estão rasgadas, estão todos sujos e várias feridas "superficiais" se espalham por seus corpos. Um cansaço poderoso toma a todos. Rogerinho se aproxima de seu irmão com passos desanimados, provavelmente para checar se ele está bem. Quando se aproxima o suficiente, Tobias desfere alguns tapas leves nas costas dele ao mesmo tempo em que esboça um sorriso fechado de satisfação. Em sequência, com um se apoiando em parte no ombro do outro, eles vão se reunir com o restante do grupo.
O sol brilha radiante até ser engolido por algumas nuvens. Sayru cai de bunda para o chão com a cabeça baixa, exausto pela grande quantidade de arremessos que fez. Polaris impede sua possível queda se apoiando em seu porrete manchado de sangue. Sua respiração parece a mais densa de todos do grupo, afinal ele lutou sem estar recuperado totalmente de suas feridas antigas. Rol Bost não parece tão mal, Babuíno e Bassara obviamente estão cansados, mas, são os que estão em melhor condição entre os Perdidos atualmente.
Vasto está de forma inacreditável ainda em pé, no absoluto limite de suas forças. Fazia poucos dias que ele tinha acordado de seu estado em coma, de certa forma, era um milagre por si só ele ter tido forças pra se movimentar tanto durante este dia.
O anão foca em sua audição, ele não ouve nenhuma criatura próxima. Observando mais longe, ele nota que ainda está acontecendo combates em outras partes da Zona Neutra, porém, os barulhos emitidos não são tão altos, o que indica a proximidade de um fim. Indo mais longe ainda com seu sentido, Vasto checa os limites da fronteira com a floresta externa. Muitas criaturas enlouquecidas ainda estão nas bordas da barreira, mas não existem mais indícios de falhas na proteção destas terras, o que significa que o ponto final da Onda já havia passado.
A névoa que tinha vazado finalmente chega até o local da base dos perdidos. A tenda, mesmo estando toda furada, ainda se mantém de pé. Um ar mais sombrio tomou o lugar. Os perdidos ficam em alerta pela nova tensão. Só Tobias havia quebrado todas as suas armas, porém, a situação dos outros não é exatamente melhor, os equipamentos que ainda existem com os outros estão bastante desgastados. Tendo dilacerado tanta carne e ossos, é de certa forma estranho ver que ainda existe utilidade em suas armas, talvez seja devido ao uso do fortalecimento de suas manas sobre elas.
"Independente de onde eu observe com minha audição... Não ouço mais nada. A luta realmente acabou." pensa Vasto. "Mas... O que é essa má sensação que sinto? É normal a névoa de fora seguir aqui dentro por mais algum tempo depois de qualquer Onda, entretanto, sinto dessa vez uma impressão ruim nela. Muito mais do que o 'normal'."
Devido ao cansaço de usar tanto sua audição, a consciência do anão fica ofuscada, o fazendo cair para a frente, só que ele impede uma queda total com o apoio de seus joelhos. Os perdidos seguem atentos, mas parece ser em vão. Nada está acontecendo. Os olhos de Vasto vão se fechando e seu corpo vai deslizando de vez para os solo.
— Ei! Você tá bem?! — indaga Rol Bost, ele vai se aproximando para olhar a situação do anão.
Em uma visão toda negra, repentinamente surge uma rachadura branca junto de um ruído. Vasto abre seus olhos em surpresa, sua cara está colada de lado para o chão. Seus ouvidos captaram algo.
— SAIAM!! — grita enquanto levanta apressado. Todos se viram surpresos para o anão, esse que está em pé pela ajuda de Rol Bost. — SAIAM DAQUI!!!
Antes que pudessem reagir, o chão explode. Bastante terra e parte dos Perdidos é jogada com força para todos os lados. O desacordado Vasto e Rol Bost caem rolando, Polaris também despenca desmaiado por outro lado.
Em meio à poeira erguida, não demora para surgir a grande silhueta do causador do desastre. O ar vibra com a alta impressão assassina que essa criatura libera, o que implanta um forte nervosismo na surpresa dos indivíduos que sobraram. Sayru tenta pegar alguma pedra de sua sacola, porém, não tem mais nada lá. Todas haviam caído no tempo em que ele tinha sido jogado por certa distância.
Os olhos tenebrosos da criatura brilham, seu corpo desaba de sua postura levantada. Seus sons e a silhueta de seus dentes revelam de vez a sua aparência. É um ser vivo semelhante à uma anaconda, seu corpo é enorme, sendo bem mais robusta e maior do que as maiores anacondas catalogadas no Brasil. O eco do som de sua língua vibra as almas de todos que a escutam. Sua pele parece robusta, com uma coloração negra com manchas verdes, que aumentam ainda mais sua impressão perigosa à medida que a névoa se dissipa.
A anaconda começa a encarar fixamente Tobias. A expressão do monstro se intensifica com sombras em sua vista, seus olhos seguem cintilando levemente, isso junto dos desenhos em sua pele, a faz causar uma impressão mais demoníaca ainda para o homem. Um poderoso medo percorre Tobias como um forte calafrio, suor escorre de sua expressão apavorada. Após poucos segundos, o monstro termina sua análise e avança para um ataque. Um que visa Tobias. O lugar em que o perdido está explode com o poderoso bote desferido pela criatura. Gotas de sangue voam pelo ar. A partir da nuvem de poeira criada, logo surge Tobias com uma expressão tensa. Ele desviou da ofensiva com um salto para o lado. O sangue que está no ar provém de suas feridas das lutas anteriores.
A criatura vai se organizando do forte movimento que tinha feito, os desenhos em sua pele vão passando enquanto se mexe, causando assim um efeito quase hipnótico. No momento que Tobias estabiliza sua postura pelo pouso conturbado de seu pulo, a anaconda avança novamente contra ele. A expressão assustada do homem é engolida pela nuvem de poeira que o novo impacto de bote no solo gerou. O Homem de Ty toma distância, novamente ele conseguiu desviar por um triz.
"Qual o problema dessa coisa?! Ela não faz nenhum barulho!" pensa Tobias, só que mal havia ressaltado isso em sua mente e sua vista nota algo. Um líquido gosmento está espalhado pelo corpo da anaconda, com propriedades e efeitos provavelmente diferentes de qualquer coisa já estudada. Mas, para o homem de Ty, a visão disso foi o suficiente para responder sua pergunta.
Um feixe de luz amarela corta o ar, Sayru disparou sua ajuda. O projétil acerta a anaconda, perfurando sua carne até ficar preso por lá. O ruivo sente como se um raio passasse por seu cotovelo, suas articulações estão no limite, o fazendo esboçar uma densa expressão de dor. A criatura balança seu corpo em agonia pelo dano que levou. Tobias aproveita a distração e tenta tomar mais distância, porém, a anaconda ao notar continua imediatamente sua perseguição.
Babuíno fortalece seus músculos e arremessa seu machado. A arma rodopia no ar em alta velocidade até rasgar a carne do monstro no exato instante que ele lançou outro ataque contra Tobias. Bastante poeira é levantada outra vez.
Tobias escapa de novo da ofensiva do monstro, só que dessa vez suas vestimentas parecem mais rasgada do que antes, um indício do quão próximo os ataques passaram por seu corpo.
Talvez por um acidente, ou, talvez devido ao seu cansaço acumulado, mas isso foi o suficiente para a perseguição chegar em um fim. Tobias pisa em falso. E, ainda próximo do monstro, o homem de Ty cai. Ao notar o erro fatal que tinha sido isso, sua expressão se molda em pavor. A anaconda levanta alto sua cabeça, e encara novamente de forma tenebrosa a sua presa.
Tobias se arrasta para trás enquanto olha a criatura, fez isso até um barulho tomar sua atenção. São passos, passos da corrida de seus aliados que chegam para o ajudar. Em contraste a escuridão de antes, o fundo do ambiente se torna branco. O homem de Ty, ou melhor, o jovem de Ty parece ter ficado mais novo. O garoto Tobias está estirado ao chão junto de seu irmão, ambos parecem feridos como se tivessem acabado de apanhar. Ninguém os ajudou mesmo nesse estado lamentável. Essa solidão o fez escurecer com as sombras, mantendo apenas os seus olhos em claro. Na sua versão atual, Tobias escuta os sons de pisadas, essas que o fazem recuperar sua cor. Os indivíduos acordados, fora Sayru, passam por ele em carreira até o inimigo em uma cena lenta. Tobias só consegue observar tudo ainda surpreso, seu irmão vai se movendo determinado, assim como os outros também estão.
A anaconda desfere um bote poderoso contra o grupo, mas não acerta nenhum, sua cabeça se chocou apenas contra o solo, o que arremessou os Perdidos para os lados devido a explosão. Babuíno e Rol Bost se chocam dolorosamente sobre o solo, mas Bassara e Rogerinho conseguem se equilibrar enquanto seus pés se arrastam pelo chão e suas posturas se mantém baixas. Após se erguerem, eles partem para cima da anaconda ainda com seus machados em mãos. Os golpes das armas cortam a carne do monstro, um feixe de luz amarelo acerta sua cara. Os perdidos conseguem buscam um grande êxito nesse conjunto de ataques.
Com os ferimentos severos que acaba de levar, a criatura se contorce bastante. Rogerinho consegue retirar seu machado para evitar contato com o ser, mas Bassara não consegue a tempo. A anaconda enlouquecida o acerta com uma cabeçada que o arremessa para longe. Seu corpo quica pelo solo de modo brutal até colidir contra a tenda, a destruindo e sumindo em seu interior.
Babuíno e Rol Bost ainda se recuperam de como foram arremessados, Sayru, com uma expressão dolorosa, procura desesperado outra pedra pelo solo. Os olhos de Tobias se arregalam pelo abalo que tem ao captar algo com sua visão. A cobra nesse momento está de frente para Rogerinho, que está indefeso contra qualquer ataque.
Os músculos do monstro se movimentam, ela começa a projetar seu bote, para Rogerinho, só lhe resta observar desesperado a imagem diabólica da criatura com a boca totalmente aberta em sua direção. Antes que a criatura pudesse seguir muito, nesse mesmo instante, Tobias a acerta no corpo com um poderoso soco. Vento explode da área de colisão junto de um brilho verde, Rogerinho fica bastante surpreso com o feito. Mas, a pancada que ele deu não foi tão eficiente assim.
O monstro balança seu corpo pela porrada que levou, o punho de Tobias sangra enquanto sua expressão fica ocultada quase toda pelas sombras. Apenas seus olhos determinados estão expostos. O homem de Ty cerra seus dentes e junta suas forças para gritar. O som percorre todo o lugar:
— Grr! VOCÊ PODE MUITO MAIS QUE ISSO!!! IRMÃO, SEJA FORTE!!! — com uma expressão entristecida, ele dá uma última olhada em seu eterno aliado de mesmo sangue, um que nunca o deixou sozinho.
A anaconda libera um bote, um que não falha. O corpo de Tobias é jogado brutalmente contra o solo pela cabeça do monstro que o morde em seu tronco. O chão se racha, blocos de terra sobem. O homem de Ty não teve sua cabeça abocanhada, então é visível para o exterior a cena em que ele cospe sangue pelos danos que levou da forte colisão. Sua aura verde ainda brilha, resistindo o máximo que contra tudo isso. Mas, não é a mordida de uma anaconda que é realmente o mais mortal. Quando o corpo da criatura começa a se mover de certa maneira, Rogerinho pega seu machado, se levanta e corre na direção dela com uma expressão sofrida, porém, da sua perspectiva, o monstro parece estar tão longe, um mundo branco interminável está em seu caminho, o permitindo apenas enxergar o que vinha a seguir.
A anaconda vai se enrolando em volta de Tobias, o mesmo enrijece seus músculos da forma que pode com sua mana. Em seu último momento exposto para o exterior, o homem de Ty mostra um sorriso. As bordas de sua boca estão manchadas com seu próprio sangue, seus olhos estão cobertos pela escuridão. Tobias pode ver claramente todos os perdidos reunidos de frente, como uma emocionante pintura.
"Então isso é uma família...? Até que esse tempo vivendo aqui não foi tão ruim..." pensa. Ele começa a se lembrar de sua esposa, seu belo rosto está nítido agora, com um glorioso sorriso estampado. "Não queria te dar um trabalho tão difícil, irmão... Mas quando sair dessa floresta, pode falar com ela por mim?"
O corpo da anaconda se aperta de uma vez, fazendo um som horrível de ossos quebrando soar pelo lugar.
Folhas voam para o céu em uma corrente de vento.
O barulho de antes parece ter quebrado a mente de Rogerinho, sua expressão desesperada vai se moldando em uma fúria absoluta. Após uma pisada forte no chão, o homem libera um golpe com sua arma. Só que é em vão. Com o contato, o cabo do machado quebra, devido a isso, a parte que mantinha seu fio sai rodando pelo ar para cima... bem alto.
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