-- Capítulo 19: Antes da Tempestade --
Sayru e Tobias pegam água com seus baldes. Após certo tempo, eles vão fazendo a rota para retornar a base.
Não tão longe, barulhos de galhos sendo mexidos soam até eles. Uma toupeira macho está fazendo uma ronda por ali. Apesar de terem notado a criatura, os dois homens de Ty não ficam tensos, claro, tomam a devida cautela, mas, não parecem estarem nervosos como estariam se essa fosse uma de suas primeiras missões. O ruivo tira uma pedra de sua sacola, Tobias toma certa distância do rapaz, para não atrapalhar seu disparo.
Uma rajada energética, de tom amarelo, corta o ar em uma velocidade assombrosa. Quando o projétil se choca contra o tronco de uma árvore, o rachando, ele ricocheteia para o solo, o que causa uma pequena explosão de terra ali. A toupeira tem seu foco tomado pela distração, ele corre para investigar a causa do alto barulho. Depois de caminharem com cautela por alguns segundos, o mudo e Tobias partem dali com movimentos ágeis. Pela forma que fazem isso, aparentemente ambos têm um costume para lidar com esse tipo de situação.
Durante esses 30 dias, os perdidos aprenderam a manipular os sentidos dos monstros.
Ao chegarem na base com os baldes, os dois avistam Rogerinho e Polaris, que estão trabalhando em algumas armas improvisadas, da mesma maneira que o anão fazia antes. Bassara e Babuíno, não tão distantes, trabalham nas carnes de toupeiras e outras criaturas, as fatiando. Pela quantidade de embalagens de folhas específicas que estão empilhadas próximas, logo os aldeões iriam guardar esses alimentos para conservar.
— Voltaram rápido. — comenta Polaris, com um pouco do seu antigo tom de humor. — Se batessem esse tempo na caça, provavelmente teriam algumas espécies em risco de extinção por essas bandas.
— Não me diga... que isso foi uma piada? — questiona Rogerinho, desanimado por a ter escutado. Sayru faz alguns gestos, ele esboça um sorriso fechado em seu rosto, nada muito grande.
— O mudinho deu nota 5 pra essa. — fala Tobias.
— Me sinto honrado, normalmente minhas piadas não passam nem do 2! Hahaha!
A dupla termina de fixar os fortes laços que apertam as partes desse machado.
— Vasto está acordado? — indaga Tobias.
— Sim. Ele está na tenda. — responde Polaris.
— Certo, ele ainda deve estar atordoado pelas mudanças que o tempo trouxe, e também pela proximidade da Onda.
— É. Temos que explicar para ele o que aconteceu nesses 30 dias. Principalmente sobre seu novo "sistema de armadilhas".
— Haha... Só quero ver a cara dele quando souber. Espere, primeiro vou depositar a água.
Dentro da tenda, o anão está deitado de cara pra cima, com uma expressão cômica de surpresa.
— Hã? Novo "sistema de armadilhas"?
Tobias e Polaris entram na tenda após levantarem o pano que forma a porta, em seguida, sentam por ali.
— E aí, se sente melhor? — pergunta Polaris.
— Vou me forçar a ficar. Mais importante, qual é a desse novo "sistema de armadilha?"
— Ah, é verdade. Já tinha até esquecido o quão boa é sua audição. Explique Tobias, afinal você é o responsável por isso.
— Bem, basicamente... — Tobias pega uma pele que estava guardada ali perto, em seguida, ele a abre pelo chão, o que revela sua utilidade. Ela tem um mapa grande de toda zona neutra desenhado em sua superfície por tinta negra. Há vários pequenos círculos espalhados por ele, principalmente perto da base. — O novo sistema é isso. Analisei os desenhos de como você as tinha espalhado antes, cheguei em uma conclusão de que ficaria melhor estrategicamente assim. Por isso mandei desfazer algumas de suas armadilhas e fazer outras em posições melhores.
Um silêncio toma o lugar por alguns segundos, até o anão soltar um "A-ah!". Ele fica embasbacado pelo o que foi dito, Tobias e Polaris se esforçam para não rirem da expressão de Vasto, que nesse momento os olha de forma torta com suas pálpebras bem abertas.
— Hahaha... Sua cara está ótima, Pol. — fala Ririn de forma inesperada. Ela está deitada não muito longe de Vasto, ainda praticamente no mesmo estado ruim de antes, mas, pelo menos se encontra consciente faz alguns dias.
— Ei! Não se empolgue muito! — Polaris se aproxima dela e coloca sua mão na borda de sua cabeça. — Haha... Calma, calma.
— Vamos, pare com isso! Não sou mais uma criança. — nesse momento, Polaris esfrega a cabeça dela em um sinal de carinho, o que balança partes de seus cabelos e a faz expôr um leve sorriso.
"Realmente parece bom..." pensa o anão. "Tem essa que ele colocou bem no meio dessas quatro grandes árvores, que é onde alguns animais peçonhentos costumam passar. Não tinha me tocado nisso, mesmo sendo óbvio." Haha! Nada mal, garoto!
— Agradeço, mas isso não foi lá grande coisa se comparar com o que Polaris fez.
— Hm? — Vasto fica surpreso com essa fala.
Polaris volta para onde estava sentado.
— "O que eu fiz?" Hm... Apesar de ainda ter estado bastante fraco na primeira semana que você apagou, decidi tomar a dianteira no quesito poder "militar". Estive ensinando o básico de luta para todos, e de como treinar seus corpos para isso. Mesmo artes marciais não sendo exatamente o mais prático contra monstros, em certas situações podem chegar a calhar.
— Interessante... Isso é uma notícia boa.
— Tobias falou de forma humilde agora pouco, dizendo que "não foi lá grande coisa se comparar comigo", mas, na verdade foi esse cara o que interpretou melhor os desenhos que você deixou. Por causa dele, o grupo pôde construir de forma eficiente todos os equipamentos que você rabiscou.
— É, só que —, retruca o homem de Ty —, foi você que desenvolveu melhor nossas estratégias de batalhas contra cada tipo de monstro e de como ir se aprofundando nos minis biomas dessa floresta...
— Por que não se beijam logo? — propõe o anão.
Ririn abre bem os olhos e deixa escapar um "uoh!" em surpresa sobre a fala. Os dois homens riem em uníssono.
— Em todo caso, nossas melhorias são apenas por causa de seus ensinamentos, senhor Vasto. — ressalta Polaris.
— É claro! Eu disse que iria ensinar vocês a como sobreviver nessa mata! Ha! ha! ha! Não precisa me elogiar, sei que sou incrível!
"Apesar de falar dessa forma..." pensa Tobias. "Você deixou anotações e desenhos para nós de tudo o que sabia sobre a zona neutra, obviamente, foi por considerar o caso de alguma coisa ruim acontecesse com você... Ou melhor, no caso de sua morte."
— Vou querer dar uma olhada de perto nessas "melhorias" que fizeram.
— Sim, só que você tem que descansar por agora.
— Que frescura... Apenas me deixe ir pra fora de uma vez.
— "Terá mais utilidade se focar na sua recuperação", não acha? — diz Polaris com tom irônico.
— Tch! Não use minha fala contra mim. (...) Certo, vou dormir. Me deixem em paz neste tempo, senão eu mato vocês. — O anão aponta para Ririn. — Isso vale para você também!
— Eh? Eu?
Polaris se levanta com um sorriso leve e em seguida sai da tenda após se despedir com um aceno para Ririn.
"Rioul, você ficaria com inveja de ver o quanto ele é realmente maneiro pessoalmente." pensa.
Faltam poucos dias para a Onda.
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Na manhã do dia seguinte, Vasto sai da tenda e se move com a ajuda de um bastão. Após comer algo com os perdidos, ele vai com Tobias, Babuíno e Bassara para dar uma olhada nas novas armadilhas. Os dois últimos foram com o propósito de escoltá-los. Durante a ronda pelos minis biomas da zona neutra, o homem de Ty vai mostrando os mecanismos das novas armadilhas para o anão. Dependendo do local, elas variam em método de como pegar o azarado que as ativar. A maior parte das novas armadilhas é subterrânea, porém, existem outras com funcionamento em árvores, arbustos e rochas. Todas no geral também parecem ter uma armação mais complexa do que antes.
A mente genial de Tobias elevou as defesas da base para um outro nível, um superior.
Os 4 indivíduos passaram horas viajando pela floresta enquanto revisam as armadilhas. Apesar de seu feito, Tobias sabe que ainda é um amador no assunto, então quer a opinião de Vasto sobre todos os mecanismos criados. O anão olha de perto todas as peças que as formam, pelo seu olhar, não parece haver nada de errado, só aconteceu de uma vez o anão sem querer ativar uma delas, o que fez um tronco quase arrancar a cabeça de Bassara, que ficou atordoado pelo quase toque da madeira em seu rosto. Fora esse pequeno acidente, tudo parece certo. Com Vasto no time, foi fácil evitarem monstros enquanto transitavam, devido a boa audição dele.
Ao voltar para a base, o anão foi descansar um pouco, contra sua vontade. Durante a noite, Polaris, junto de Rol Bost, conversam sobre algumas coisas com o anão, provavelmente sobre as artes marciais que o espadachim estava ensinando. Como Rol Bost era um membro de seu grupo de aventureiros, ele é o que mais tem experiência com esses ensinamentos. Com movimentos cômicos, os dois vão representando para o anão certos ataques contra monstros específicos, como as toupeiras. Polaris dá uma forte chave de fenda no pescoço Rol Bost com seu braço, mas parece esquecer de afrouxar o aperto depois.
E assim acabou a vida deste jovem, que partiu "dessa" para uma "melhor", ou, ao menos teria sido assim se Vasto não tivesse apontado para sua condição, o que fez Polaris notar o que está fazendo de errado.
Ainda nesta mesma noite, Vasto reflete em sua cama na tenda. Ririn dorme profundamente, próximo dela tem uma vasilha com água e outras com medicamentos, que em uma emergência, podem ser necessários para a tratar.
"Como eu fui tolo. Eu pensei que 'já era' apenas por ter os olhado ontem, mas veja, o mundo não gira em volta de mim. Apenas com a direção que mostrei, eles avançaram para um novo patamar... Não irei ter mais nenhum receio sobre a Onda. Se ela vier e nos devastar... que seja!" Vasto levanta seu punho. " Vamos ter lutado com tudo até o fim. Como verdadeiros homens devem fazer. É com essa loucura que temos que encarar a floresta. Podemos ser dizimados, mas nesse caso, por que não fazer este lugar amaldiçoado se borrar só de se 'recordar' da nossa marca? Ha! Isso soa bem, cambada. Vamos com tudo!"
A grande lua cintila de forma bela no céu.
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Logo cedo no outro dia, Vasto agora está fuçando no estoque de pedras do grupo. Ele vai às olhando uma por uma, jogando para longe as que não parecem boas. Sayru se assusta com uma pedra que cai próximo de seu pé enquanto ele está virado para outra direção. Em certo momento, o anão faz uma expressão de surpresa e depois seu semblante toma um aspecto sério. Uma rocha em específico havia chamado sua atenção.
— O que foi, senhor Vasto? — indaga Polaris, que o estava observando, talvez para aprender mais sobre os gêneros de pedras que ele sempre usou na construção de armas.
O anão repara uma lasca pequena em uma parte aleatória dessa rocha cinza, aparentemente, composta de um minério diferente, de tom verde. Ele coloca a pedra no chão, em seguida, ele desfere um potente soco que a destrói. Polaris fica embasbacado com a cena.
— O que está fazendo?! Não se esforce tanto!
Vasto não responde, parece muito focado em mexer nos pedaços da rocha no chão. Após poucos segundos, seus olhos se abrem em surpresa, indicando que sua impressão está certa. Nas mãos do anão se encontra uma pequena e esférica rocha de tom verde escuro, com uma circunferência negra em seu núcleo.
— Isso é... o que estou pensando que é?! — pergunta o espadachim de forma exaltada.
— Sim, maldição!
Uma corrente de IN passa por um nervo do braço do anão até a rocha, neste instante, o minério começa a brilhar. Uma energia de cor verde clara começa a ser liberada dela com uma textura semelhante há um denso vapor, mas, cintilante pelo poder condensado.
— Temos um núcleo de mana em mãos! — anuncia o anão com um sorriso.
Ao notarem a situação, os outros indivíduos se aproximam para checar o que está acontecendo.
— Uoh! Um núcleo de mana! — ressalta Rogerinho. Todos encaram com espanto o objeto.
Vasto joga a joia para trás, mais especificamente, para Polaris.
— Você é o que sabe controlar melhor a mana aqui. É melhor que ela fique com você. — fala o anão. O espadachim segue surpreso por alguns segundos, só que após olhar um pouco para o minério brilhante, sua expressão se desanima. Ele fecha a mão que tem a joia, em seguida, a joga para Tobias. — Ainda vai demorar para eu ficar bom dos meus ferimentos. Não consigo nem usar minha própria mana direito ainda, então é melhor que o núcleo fique com Tobias. Ele é o que controla melhor a mana depois de mim.
Um sorriso se abre no rosto do anão.
— Então está certo. É só que, talvez você nunca mais tenha a chance de ter um núcleo de mana na vida. — fala com ar zombeteiro. Polaris sente o efeito nessas palavras nesse instante. Ele fecha a cara em decepção de uma maneira engraçada.
— Eu cheguei a ver os cientistas usando essas joias, mas nunca tinha tocado em uma... — comenta Tobias.
— É impressionante de perto, irmão... — diz Rogerinho.
— Tudo bem, farei bom uso disso! — Tobias fecha a mão que tem a joia de forma firme.
— Esse é o espírito. — fala Vasto ao mesmo tempo em que se levanta.
Com seu bastão, o anão segue na direção da tenda. O grupo segue impressionado com a joia.
"Essa foi uma bela surpresa. Nossas chances melhoraram bastante com isso." pensa.
Ao entrar na tenda, o semblante de Vasto fica bastante tenso.
— Cha... me... ele... pra... mim... — sussurra Ririn em um péssimo estado.
Apesar da felicidade desta manhã, algumas trevas ocultas logo surgiram para destruir este ar animado, como um verdadeiro indício de uma catástrofe chegando.
Durante este dia, o grupo se manteve bastante preocupado com a moça.
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Dias se passaram. O sol vai surgindo lentamente para ir iluminando toda a zona neutra. A neblina está muito densa em suas bordas, quase vazando para seu interior. No meio de sua escuridão existem vários pares de olhos brilhando.
O dia da Onda chegou.
A luz solar cobre a base dos perdidos. Armas e roupas de couros de pessoas distintas vão sendo cobertas pelo brilho. Um machado é posicionado em um ombro. Algumas pedras são retiradas da sacola do mudo por uma mão, a dele próprio. Dentes ficam cerrados a mostra pela determinação contra a tensão no ar.
Dessa perspectiva, os perdidos estão espalhados de costas pelo local da base, cada um com os melhores equipamento que poderia ter.
O momento do combate contra a 1° Onda... finalmente, chegou.
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