-- Capítulo 1: A Alma Sobrevivente --
Do fundo da névoa que acoberta o ambiente, um indivíduo surge atravessando-a pelas bordas de um rio, com o líquido o cobrindo até a altura do cotovelo, caminhando à frente, apesar de mais parecer estar se jogando nesse sentido. Ele finalmente chega a margem de terra, onde desaba de uma vez, manchando a areia de sangue. O que resta do seu braço direito ainda não foi tratado. Mesmo estando exausto, ele se força a levantar, nesse processo, sacando sua espada curta da bainha.
"Contive o máximo de sangue que pude com IN, mas, esse toco restante só vai me atrapalhar...", pensa.
O barulho de carne sendo cortada soa, mais vermelho mancha a terra. O anão, com seu braço restante, retira o peitoral da armadura e, de uma bolsa oculta por lá, pegando um rolo de ataduras e um frasco cheio de líquido verde. Ele derrama o remédio sobre o ferimento, estremecendo ao sentir uma ardência igual lava deslizando pela carne; a amputação é coberta pelas faixas.
"Maldição... Ao menos a partir de agora aquelas coisas vão ter menos para morder." O anão olha os arredores. "Chega de enrolar, hora de ir."
Ao se levantar, ele bate nas roupas para tirar o excesso de areia sobre o corpo, fazendo o mesmo com seus cabelos grisalhos, que estão caídos, mal chegando à altura do pescoço. Seu rosto é um pouco enrugado, sempre mantendo uma expressão séria, carregado de uma barba curta. Sem o peitoral, sua camisa amarrada fica exposta, ao menos, o que resta dela.
O anão volta a andar, emitindo ruídos metálicos, vindos do que ainda lhe há de equipamento.
"Não posso perder mais tempo aqui. Se eu vacilar, aqueles desprezíveis vão me achar a qualquer instante."
Suas sobrancelhas se levantam quando nota algo, sua mão saca a espada num instante, subindo-a, fatiando um projétil que quase acerta sua cabeça; as fatias formadas prosseguem, explodindo o solo.
A partir da névoa no alto, um pássaro aparece num voo rasante acima do rio. Seu pescoço é largo, ajudando-o a ter uma altura de quase dois metros. O anão estala a língua em desaprovação.
"Esse é um dos mais irritantes. Ou melhor..." Outros dois da mesma espécie surgem, formando aberturas na névoa. Eles soltam gritos agudos, formando uma barulheira sem fim. "...alguns dos mais."
O anão dispara, correndo mata adentro. Os pássaros vão atrás, inflando seus pescoços finos para uma proporção arredondada dezenas de vezes maior. Apesar dos seus tamanhos, desviar das árvores no trajeto se torna fácil com seus giros repentinos.
Usando a pressão acumulada nas gargantas, as criaturas disparam balas de muco contra o anão. Das três atiradas, uma ele corta ao meio, na seguinte, esquiva inclinando a cabeça à frente, na terceira, tira os pés do caminho com um pulo. O chão explode continuamente, levantando pilares de terra.
As criaturas enchem seus pescoços novamente, encarando o alvo enquanto preparam os novos projéteis. O anão pula em arbustos grossos, desviando dos tiros. Na continuidade da fuga, árvores e rochas são usadas como escudos, indicando a chegada em uma área mais densa da floresta. A presa olha para o horizonte, buscando uma direção para seguir nessa noite repleta de trevas; as lembranças dos sons que seus companheiros emitiram nas mortes veem a sua mente, perturbando-a.
"A ficha ainda não caiu... Idiotas, como puderam morrer?"
O anão chega a uma área com menos vegetação e, devido à escuridão, ele não nota o perigo iminente à frente; subitamente o anão despenca para um abismo, evitando por acidente outros projéteis. Sua vista agora só enxerga a vastidão de rochas que compõem um muro; o vento balança seu cabelo, sua expressão está embasbacada.
Antes que fosse tarde demais, ele digere a situação, reagindo ao novo problema. O anão segura em uma pedra, parando a queda. Seu corpo balança um pouco para os lados, derrubando poeira para o fundo do abismo.
Os pássaros berram enfurecidos, girando no alto como abutres; projéteis são expelidos, acobertando a parede e a presa com as nuvens formadas pelos estouros. Os ataques continuam, dificultando a respiração do anão, enchendo suas vestimentas com os fragmentos rochosos.
"E pior, deixam o papel de resolver toda essa merda... para mim?! Eu deveria mesmo me preocupar em vingá-los?"
Os monstros perdem a paciência com a falta de resultados, investindo no rumo do anão, que segue segurando a espada curta na mesma mão que o sustenta. Quando as aves estão próximas o suficiente para o destroçar, ele reage com um impulso e, no meio de um giro, finca a lâmina no pescoço de uma das criaturas, a forçando a carregá-lo junto no voo.
Devido ao atordoamento do ferimento, o pássaro está prestes a colidir com força no muro; o anão pula para as rochas no caminho, se salvando do impacto. A pancada desacorda a criatura, que desaparece ao cair no abismo.
O anão encara os dois inimigos restantes, que não se intimidam, lançando gritos antes de se lançarem contra ele. A espada é deixada para cair em sua boca, usando as pernas para subir pelas rochas e, quando uma das aves passa perto, salta nela, se agarrando em seu tronco.
Estresse preenche o monstro pelo passageiro indesejado grudado a ele, fazendo-o usar seu bico para o atacar, como a estocada de uma lança; antes que pudesse rasgar as costas do anão, o mesmo se solta dele e, com a distância que ganha, se segura perto do rabo.
Devido à busca desenfreada pela presa, o pássaro esquece dos arredores, lascando-se contra uma parede enquanto subia, quase derrubando o anão, que não o solta sobre nenhuma circunstância.
Após firmar as pernas e ter a espada na mão, ele a balança, rasgando a asa do monstro; a criatura perde a habilidade de voo e despenca para o abismo com o anão junto. Seus pés batem na criatura, um salto que o joga para o pássaro próximo, o agarrando antes que tomasse distância.
O anão inclina uma das pernas para trás, liberando um chute nas costelas da ave, quebrando-as no soar de um estrondo. O pássaro sai agonizando da fenda, voando alto, cada vez mais próximo do céu. Ele se aproxima da cabeça do monstro, usando a lâmina para perfurar o pescoço, forçando-a para o lado por segundos, quebrando o osso, e por fim, decepando-a.
A parte cortada gira rápido, expelindo muito sangue. A expressão furiosa do anão é tingida de vermelho, perdendo a visão no primeiro momento.
— Suas bolas de penas desgraçadas! Tiveram o que mereceram!
Ele fica emburrado por alguns segundos, sentindo o vento bater sobre ele durante a queda.
"Teria sido bem mais fácil se eu ainda tivesse a minha Ordelix."
Sua vista se direciona ao céu, que está tomado por densas trevas, tampando os horizontes.
— Tudo bem, seus eternos incompetentes! Eu aceito essa maldita missão!
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O anão acorda de repente, se erguendo para observar os arredores. Há muitos galhos caídos no chão, vindas de uma árvore que amorteceu sua queda.
"O quanto eu dormi?! Ainda está escuro, então provavelmente não foi por muito tempo."
Rosnados soam desde bem longe até seus ouvidos.
"Maldição, os reforços da Onda estão chegando... Não posso perder mais tempo aqui."
O anão pega sua espada curta do solo e foge dali o mais rápido que pode. Após correr por muitos minutos, ele chega em uma parede alta, uma coberta de vinhas. Enquanto a escala, constantemente ataques oriundos de monstros — uma variedade de espécies — são soltos de longas distâncias contra ele. Venenos jorrados desintegram parte de videiras próximas, pedras são estouradas no muro, projéteis pequenos, frequentes, acertam e perfuram as suas rochas.
Mesmo com o anão subindo em uma velocidade notável pelo auxílio das vinhas, uma fração desses ataques o ferem e, o resplendor no final do muro, também não é amistoso. No topo estão vários lobos com rostos deformados, sendo altos, babando no aguardo da presa. Uma parcela das criaturas chegam a empurrar companheiros queda abaixo devido à ansiedade de querer ficar na frente. Um dos lobos cai com a boca aberta na direção do anão, que firma suas pernas nas vinhas, acertando a cara do monstro com o lado contrário da manopla, amassando a cabeça dele enquanto estoura os dentes.
O movimento tem um preço, o anão perde o equilíbrio. Antes que se concretizasse a pior situação, com a ajuda das pernas, ele se lança de frente contra o muro, perfurando uma rocha com os dedos da mão, firmando-se.
Ao estar próximo o suficiente do topo, a presa se joga contra os lobos; a matilha ataca sem piedade, e ele faz o mesmo. Os monstros rasgam sua carne, o seu semblante se torce em ira, uma usada para cultivar seu ímpeto para seguir destroçando alguns deles.
Uma orquestra perturbadora de barulhos é tocada na floresta durante toda a noite.
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Quantos dias se passaram? é algo difícil de estimar. Uma caverna, é onde está o anão; iluminada por uma fogueira. Ele não tem mais a parte inferior da armadura, lhe restando, atualmente, apenas a manopla e espada curta, que está desgastada. Por estar sem sua camisa, várias cicatrizes recentes ficam expostas pelo seu tronco.
Muitos ossos são apertados com cordas negras, feitas de algum material coletado nesses dias. Ao finalizar, o anão veste esse colete improvisado e o ajusta, mexendo nos laços. Depois, retira a peça e costura uma camada de couro robusto à volta, concluindo o trabalho. Uma pausa é feita, um tempo que usa para comer frutas com formas peculiares, arrotando ao terminar a refeição.
O anão amassa algumas plantas diferentes entre si, as triturando na água com outros ingredientes. Após isso ele toma um pouco do líquido, mas acaba cuspindo por repúdio ao gosto, decidindo derramar o resto na lâmina da arma, que, em seguida, é esfregada em uma rocha laranja, que ao entrar em contato com o metal, faz o mesmo ter um aspecto brilhante de igual cor.
"Aquele 'alquimistazinho' irritante... Não é por frescura que ele amava tanto seu trabalho. Eu até acharia isso divertido, se não fosse tão maçante lembrar de todos os passos das receitas que ele obrigou o resto de 'nós' a aprender."
Ele começa a se lembrar de alguns movimentos — em batalhas distintas — do antigo companheiro, que nessa época aparentava ser magro. Na memória, esse homem veste uma armadura leve e luta com uma espada reluzente, que a cada confronto brilha em cores e aura com texturas diferentes entre si.
"Apesar de não ter muita força, ele era letal com sua vasta gama de venenos excêntricos que aplicava nas lâminas. Pensei que seria ele a fugir em uma situação daquela, mas, o covarde acabou sendo eu. 'Minha família' iria rolar de rir se soubessem disso..."
O anão pega tudo do que vai precisar.
"O que estou pensando? A minha família, na verdade..."
Barulhos soam do corredor escuro à frente. Aranhas gigantes se aproximam pelas paredes.
"...sempre foram eles."
O anão toma uma postura firme, mostrando a ponta da lâmina reluzente para as criaturas...
— Pode vir com tudo, floresta maldita! Eu! Vasto Krol! NÃO VOU SUCUMBIR AQUI!!!
...e, sem saber se teria um amanhã, ele avança para cima dos monstros.
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