I
O navio negreiro corta o Oceano Atlântico com uma velocidade imperiosa. Os africanos estão amontoados no porão do navio, iguais a lixos trazidos pelo mar.
Um convés feito para comportar os mantimentos e derivados, espaço somente para isso, tem mais de seiscentas pessoas vindas da costa da África acorrentadas umas as outras e por cima de outras.
A viagem já dura dias. Da cidade Luanda, na Angola, até as praias do nordeste dura em média 50 dias. Serão mais 5 dias até desembarcarem no mais recente Porto no nordeste do Brasil, chamado Porto das Galinhas.
O Porto tem esse nome, porque na chegada dos navios negreiros, os africanos trazidos escravizados são anunciados como "as galinhas trazidas das angolas".
No porão do navio uma jovem mulher, rainha nas suas terras, alterna sua viagem entre ficar em pé e de cócoras. A rainha N'Ayvilla, filha do rei que sucedeu, chamado rei Adisa, que significa "aquele que ensinará."
E de fato o rei Adisa ensinou ao seus súditos a entender as estações dos anos, os tipos de ventos, a caçar qualquer animal de qualquer tamanho, matemática, álgebra, matar e diplomacia.
O poderio bélico do rei Adisa o fazia ser temido, inclusive por ter um exército feminino criado a pedido das mulheres da tribo que ficaram viúvas.
A guerra por expansão do território era normal. No ataque ou na defesa as baixas eram inúmeras. E as mulheres que perderam seus amantes ou maridos, pensando nas crianças e na defesa do legado deixado pelos mortos, se organizaram e trocaram as panelas de barro ou de raiz, por flechas, lanças e facões.
As viuvas da tribo Lilunga se auto-intitularam KORBELLE, que significava "A morte que desfila". O pequeno exército mortal e feroz não conhecia limites, quando se tratava de proteger.
As Korbelles eram 100% eficazes nas suas ações.
O grupo "A morte que desfila" não chegavam a 100 mulheres. E muitas das nações circunvizinhas acreditavam que se o povo Lilunga tivessem mais mil Korbelles na tribo, o rei Adisa teria dominado todo o continente africano.
N'Ayvilla foi enviada aos sete anos, pelo seu pai, para ser um Korbelle. Com a morte natural do rei, sua filha única assume o trono.
O reinado da primeira Korbelle no poder dura 15 anos, até a chegada dos mercenários com seus exércitos cheios de rifles e pólvoras.
Quem pensa que a vitória foi rápida, se engana. Os mercenários só venceram, mesmo com maior número, por causa da tribo Gonzas.
O rei Xafaro, do alto da sua ganância e do seu orgulho de homem ferido, traiu a nação Lilunga.
Vestindo o casaco feito de pele de onça que estava no trono da rainha N'Ayvilla, o rei Xafaro deixa escapar um sorriso vilanesco, pelo canto da boca, quando a rainha da tribo Lilunga passa escravizada a poucos metros de si.
A rainha N'Aydilla enquanto era levada acorrentada numa tora de madeira, como um animal caçado, e com sua cidade ardendo em chamas atrás de si, fez o rei Xafaro entender que ele nunca mais teria uma noite de paz quando olhou bem dentro dos olhos dele.
O coração do rei Xafaro bateu em descompasso quando sentiu o ódio de N'Ayvilla percorrendo-lhe a espinha.
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