16
O Dom Eduardo ao ver a presença de Josias na sua Biblioteca, joga a taça de cristal com dois dedos de vinho no chão.
— A desgraça me acompanha há muitos anos. — O Dom vira-se encarando Josias. Olavo não levanta seus olhos para encarar o patrão. — Por que o tudo para alguns é o nada outros? Por que não se fazem mais bons executores como antes?
— Não sei dizer, meu senhor. — Responde Josias.
— Não te perguntei nada. — A voz do homem tem um misto de português de Portugal com o leste europeu. E o desprezo no som da voz, incomoda até a Olavo, mesmo a resposta ríspida não tenha sido dirigida para ele. — Você nunca teria inteligência suficiente para responder coisa alguma, Quasímodo.
— Obrigado, meu senhor. — Josias agradece mesmo sem saber que foi chamado pelo nome do personagem principal do livro de Victor Hugo, O Corcunda de Notre-Dame. — Mas, não tenho boas notícias para vossa senhoria.
— Mais um barco que não chegou ao porto, correto?
O silêncio de Josias é entendido como um "Sim". O Dom Eduardo continua:
— Depois de um ano, pagando rios de dinheiro, ninguém consegue pegar aquela negrinha. Como pode isso Olavo? — Dom Eduardo suspira exalando raiva. — Há um ano que vim para esse fim de mundo com um simples propósito de matar a negrinha. E cá estou, falando com com tolos.
Dom Eduardo, senta numa poltrona de tecido acetinado com flores bordadas. Cruzando as pernas estende sua mão direita para uma caixa de madeira quadrada e pega um charuto cubano.
Do bolso esquerdo da lapela do seu blaser branco, tira uma faca que lembra mais um estilete e corta fora com extrema facilidade uma das pontas do charuto e começa a cerimônia de acender e tragar... sucessivos gestos de acende fósforo, traga charuto e apaga fósforo.
Aquele ritual trazia um êxtase para o Dom Eduardo tão grande, que Josias se perguntava se ele estaria vendo uma comida exótica ou uma linda dançarina do Clube 600.
— Qual é o nome da rapariga?
— Korbelle, meu senhor.
— Korbelle... exatamente. Como um barco gigante igual ao Orgulho dos Mares, sumiu já no fio do horizonte a cerca de um ano? — Dom Eduardo traga o charuto. — Ninguém sabe responder. — Vou te dizer o que ela faz. — Nova baforada e um tempo olhando perdido para a lareira. — Ela afunda todos eles.
Josias e Olavo se entreolham.
— Mas, por que ela faria isso? São milhares de moedas de ouro na profundeza do mar.
— E por que não? É exatamente isso ignóbil Caroço, que diferencia as pessoas que ficarão na história daquelas iguais a você que morrerão na sarjeta. Na míngua... um zero à esquerda.
Os olhos de Olavo se deliciam com aquelas palavras. Uma coisa que ninguém poderia ignorar, e na verdade nunca ignorou, era como o Dom Eduardo sabia humilhar uma pessoa.
— Me deixem sozinho. Logo terei resposta à minha carta e minhas orações terão sido ouvidas. Você sabe o que é uma cadeia alimentar, Caroço?
— Não, meu senhor. O ignóbil Caroço jamais teria sua sapiência em saber o que porventura seria isso.
— Exatamente isso Caroço... quem nasceu para ser fiasco nunca será fidalgo.
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